quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Por que ainda acredito em Papai Noel

Maurício Gomide Martins*

Durante toda a minha vida acreditei e continuo acreditando na existência de Papai Noel, o bom velhinho. Aquele que vive numa casinha acolhedora assentada em meio às neves dos países nórdicos. Emprega seu tempo todo fabricando, com a maior boa vontade e prazer, brinquedos para as crianças do mundo. Sabe de suas responsabilidades para o final de cada ano e as cumpre com rigor. Nessa época, sai em seu majestático trenó, arrastado pelas sempre fortes, fieis e dedicadas renas na sua viagem pelo globo, semeando alegria e felicidade para os infantes.

Muitas pessoas me perguntam como sou capaz de ser simplório durante tão longo tempo. Respondo que o bom velhinho existe mesmo, pois não há motivo para não existir alguém inteiramente dedicado a fazer brotar a felicidade na alma das cândidas crianças, sejam elas americanas, iraquianas ou afegãs, todas iguais. Já notaram o quanto é sincero e transparente um bebê nas suas expressões faciais? E segue assim enquanto estiver ligado ao círculo familiar. Merece, por isso, ser protegido com afeto e amor pelos pais, até que a força da correnteza social individualista o arranque dali para engrossar seu caudal coletivo, padronizado nos moldes desejados pelo sistema do ganha-ganha.

Todos nós deveríamos acreditar nas boas virtudes do Papai Noel e fazê-las prosperar contra as violências incrustadas na sociedade. As pessoas, em geral, desconhecem o prazer e conforto que me proporciona a fé inabalável na existência do Papai Noel. É de admirar a presteza e satisfação com que o bom velhinho exerce sua função inteiramente gratuita. Conta ele com apenas aquele antigo trenó e indômitas renas que nunca se cansam. Nunca fez acordos espúrios com políticos, sistemas econômicos e jamais praticou a corrupção ou utilizou sua imagem imaculada para outros fins que não fosse o bem. Ele é o baluarte de esperança de todas as futuras gerações.

Eu tenho que acreditar naquela valorosa e perfeita obra celeste, pois a criança que ainda habita meu ser tem todas as condições necessárias para viver num mundo de bondade, solidariedade, honestidade, sinceridade, amor, pureza, autenticidade de sentimentos e senso de justiça e gratidão, principalmente para com nossa mãe Terra que nos fornece todos os recursos necessários à vida; a minha e a de toda a biodiversidade.

Hoje aquele fantástico sonho infantil, que se tornou um ideal, está inteiramente transformado e descaracterizado pelos danosos interesses religiosos e comerciais. As renas foram substituídas por imensos aviões cargueiros; apareceram milhares de falsos Papais Noéis que nada têm a oferecer, senão o estímulo ao consumo. Papai Noel, nesta atual civilização, é uma imagem utilizada como instrumento para arrancar da alma dos incautos todas as formas de desejos de bens materiais. Os brinquedos de outrora, inocentes mas poderosos, que mexiam com a imaginação

infantil, foram expulsos de suas mentes e substituídos por outros modernos, monstruosos, que geram e exigem sentimentos de posse, poder, ganância e violência.

Essa onda insensível e arrasadora que varre, por igual, as mentes das crianças e adultos e que descaracteriza os autênticos valores da racionalidade humana, encontra no verdadeiro Papal Noel a resistência indômita e o abrigo seguro para os que não se conformam com a escravidão mental.

Não obstante o desvirtuamento e exploração mercantil que fazem desse heróico ancião, eu insisto em continuar acreditando no bom velhinho porque nele está a boa e justa causa, sintetizada na honestidade, sinceridade e justiça e que um dia há de suplantar as atuais adversidades.

Neste mundo de tanta hipocrisia, falsidade e destruição de valores, alguém tem que se opor a essa avalanche.

E esse alguém só pode ser o bom e suave velhinho, o verdadeiro Papai Noel da reminiscência de todos nós.

* Maurício Gomide Martins, 82 anos, ambientalista e articulista do EcoDebate, residente em Belo Horizonte(MG), depois de aposentado como auditor do Banco do Brasil, já escreveu três livros. Um de crônicas chamado “Crônicas Ezkizitaz”, onde perfila questões diversas sob uma óptica filosófica. O outro, intitulado “Nas Pegadas da Vida”, é um ensaio que constrói uma conjectura sobre a identidade da Vida. E o último, chamado “Agora ou Nunca Mais”, sob o gênero “romance de tese”, onde aborda a questão ambiental sob uma visão extremamente real e indica o único caminho a seguir para a salvação da humanidade.

Nota: o livro “Agora ou Nunca Mais“, está disponível para acesso integral, gratuito e no formato PDF, clicando aqui.

Fonte: Mercado Ético

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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Rio se espelha em Londres para promover olimpíada sustentável

Londres será a cidade sede da próxima olimpíada e os organizadores estão levando a sustentabilidade a sério em toda a estrutura do evento esportivo. Como o Rio de Janeiro em breve passará pela mesma experiência dos londrinos, as duas metrópoles aproveitaram para trocar experiências e estudar projetos de desenvolvimento sustentável. Além do esporte, as duas cidades têm outra coisa em comum, os problemas com a urbanização. A capital inglesa sofreu com a revolução industrial e os cariocas sofrem com a intensa densidade populacional. Diante desses obstáculos é preciso pensar em estruturas esportivas, mas também considerar os benefícios e melhorias que elas poderão trazer para a população local em longo prazo.

Dan Epstein, chefe inglês de Desenvolvimento Sustentável e Regeneração, explicou que os estádios e demais lugares de competição construídos em Londres poderão ser reciclados após a olimpíada. Exemplo disso é o ginásio que receberá os jogos de basquete, que foi projetado para receber dez mil pessoas, porém sua estrutura pode ser desmontada e reerguida em qualquer
outro lugar.
Outras construções foram projetadas com a possibilidade de redução na capacidade de lugares. Para que sejam adaptados a competições menores. No entanto, mesmo com todo o planejamento que vem sendo feito há anos, os altos valores gastos com as obras britânicas ainda geram muitas críticas.

O custo estimado para as construções é de R$ 26 bilhões. Considerando o fato de que o país ainda passa por uma crise econômica, os críticos aproveitaram para recriminar os valores absurdos que serão gastos para adaptar as estruturas no período pós-olímpico, que podem chegar a 90% do custo de toda a construção.
Os investimentos londrinos, no entanto, não serão usados apenas para a construção das arenas. Os britânicos planejam melhorar a estrutura de energia e transporte na região da vila olímpica. Além disso, os prédios que abrigarão os atletas durante o evento foram construídos no leste de Londres, uma região pouco habitada e com estrutura deficitária, com o intuito de revitalizar e valorizar a área.

A região será equipada com infraestrutura, que vai desde cabos elétricos até pontes e passarelas. A parte boa dessa reestruturação é que após a olimpíada parte da vila será transformada em moradia popular. A área recebeu um centro de energia e 16 quilômetros de tubulação para prover calefação emitindo metade do carbono em relação aos padrões tradicionais.

Os intercâmbios Londres-Rio serviram para que a cidade brasileira definisse metas sustentáveis desde o planejamento das estruturas. O embaixador britânico em Brasília, Alan Charlton, explicou que é importante considerar a sustentabilidade desde o primeiro minuto, pois não é possível adicioná-la depois. “Por isso é importante fazer isso agora no Rio de Janeiro, antes de construir mais para os jogos de 2016”, finalizou o embaixador.

Fonte: Movimento Nossa São Paulo, com informações da Folha

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segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

2010 foi bom para o desenvolvimento sustentável?

Por Paulo Itacarambi

Lendo as manchetes dos principais jornais, neste final de ano, temos a impressão de que nada mudou de fato. No entanto, fazendo uma avaliação mais profunda e menos apressada, podemos verificar que há, sim, o que comemorar em alguns temas muito importantes para a sociedade sustentável que queremos construir.


No que se refere ao meio ambiente, por exemplo, um dos fatos mais relevantes deste final de ano foi a entrada em vigor, em 10 de dezembro último, do decreto 7390/2010, que regulamenta a Política Nacional de Mudanças do Clima. O decreto estabelece que o Brasil deve chegar a 2020 emitindo, no máximo, 2,06 bilhões de toneladas de carbono por ano e informando o estágio de cumprimento dessa meta, por meio do relatório anual de emissões do país. Com a regulamentação dessa política, o Brasil se torna o primeiro país em desenvolvimento a estabelecer um limite para os seus níveis de emissões.

Vale lembrar que a meta estabelecida em lei e regulamentada por esse decreto é voluntária. Cada setor da economia terá que apresentar um plano de ações até o final de 2011. Os planos serão revisados a cada três anos e poderão servir de base para um mercado nacional de crédito de carbono. Dessa forma, os setores que conseguirem emitir abaixo da meta estipulada poderão vender créditos para os que tiverem mais dificuldade em reduzir suas emissões.

A meta voluntária assumida pelo governo brasileiro representa uma vitória para as empresas reunidas no Fórum Clima, as quais, em 2009, lançaram a Carta Aberta ao Brasil sobre Mudanças Climáticas. Neste documento, elas assumiram voluntariamente o compromisso de reduzir suas emissões de gases de efeito estufa e incentivaram o governo brasileiro a fazer o mesmo. Um pouco antes da COP 15, em Copenhague, o presidente Lula anunciou as metas de redução para o país: entre 36 e 38% das emissões previstas até 2020.

No fim de 2009, o presidente sancionou a Política Nacional de Mudanças do Clima, que estabelece não só as metas de redução, mas uma agenda de redução para os diversos setores da economia. Este ano, foi a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, quem anunciou, em Cancún, durante a COP 16, a regulamentação dessa política, por meio do decreto 7390/2010.

Com o sucesso da iniciativa sobre a redução de carbono, as empresas resolveram agir, também voluntariamente, em outro tema estratégico para o desenvolvimento sustentável: a proteção da biodiversidade no país. Assim, em 23 de setembro, pouco antes da 10ª. Conferência das Nações Unidas sobre Biodiversidade (COP 10), as empresas Alcoa, CPFL, Natura, Philips, Vale e WalMart lançaram o Movimento Empresarial pela Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade (MEB), com apoio de várias entidades – o Ethos, a Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje), o Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV (GVCes), a Conservação Internacional (CI), o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), o Instituto Akatu, o Instituto de Pesquisas Ecológicas (Ipê), a União para o Biocomércio Ético (UEBT) e a WWF-Brasil.

O MEB publicou a Carta Empresarial pela Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade, na qual os signatários se comprometem, entre outras ações, a adotar, em suas estratégias e nas das respectivas cadeias de valor, os princípios e objetivos definidos na Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) das Nações Unidas e a contribuir para o estabelecimento de metas nacionais de preservação e uso sustentável da biodiversidade.

Na luta anticorrupção, a participação das empresas também foi decisiva para os avanços que a sociedade obteve em 2010. Foi um ano eleitoral e a sociedade brasileira mobilizou-se pelas candidaturas “ficha limpa”. Primeiro, com a aprovação da Lei da Ficha Limpa, projeto que surgiu principalmente da iniciativa do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) e da Articulação Brasileira contra a Corrupção e a Impunidade (Abracci), que recolheram 1,3 milhão de assinaturas em favor do projeto de lei encaminhado ao Congresso. Como se sabe, a Lei da Ficha Limpa impede a candidatura de políticos condenados pela Justiça em decisão colegiada. Em que pesem as decisões judiciais em favor de alguns políticos, essa lei “pegou” e deve incentivar o cidadão a escolher melhor os seus representantes no Congresso Nacional.

Graças também à mobilização, o MCCE e a Abracci criaram o portal Ficha Limpa, que funcionou durante toda a campanha eleitoral do primeiro turno, no qual os candidatos à presidência da República, Senado e Câmara dos Deputados puderam voluntariamente se cadastrar e informar as doações e os gastos de campanha. Apenas 77 candidatos (um à presidência, oito ao Senado e 68 a deputado federal) se inscreveram e atualizaram as informações semanalmente, como pedia o regulamento do portal. No entanto, em 65 dias de funcionamento, até 1º. de outubro, dia das eleições do primeiro turno, foram recebidas 470.775 visitas e 2.846.000 page views. A média diária de acessos ao site, na última semana antes do primeiro turno, ultrapassou 15 mil acessos por dia, mostrando aos candidatos que a sociedade está atenta ao financiamento de campanha. Pode ser um bom indício de que pretende acompanhar melhor a atuação dos parlamentares no Congresso.

A luta anticorrupção ainda teve alguns marcos importantes neste final de ano. Em 9 de dezembro, Dia Internacional de Combate à Corrupção, foi lançada uma iniciativa de e para empresas que fará avançar a integridade e a luta anticorrupção no mercado e nas relações com o setor público. É o Cadastro Empresa Pró-Ética, que avalia e divulga as empresas voluntariamente engajadas na construção de um ambiente de integridade e confiança nas relações comerciais, inclusive naquelas que envolvem o setor público.

Enfim, 2010 foi um ano de estabelecimento de alguns marcos importantes que vão servir de referência para a mobilização das empresas e da sociedade em 2011. Por isso, desejamos a todos um Natal de muita paz, pois a cidadania avançou.

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sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Consumo, responsabilidade social empresarial e direitos humanos

Os resultados de algumas pesquisas sobre desenvolvimento sustentável, consumo consciente e direitos humanos divulgadas durante o ano permitem desenhar um cenário interessante a respeito do comportamento das empresas e dos cidadãos brasileiros.

Uma pesquisa feita pelo Ministério do Meio Ambiente e pela Walmart constatou que o cidadão brasileiro quer conhecer mais sobre sustentabilidade, mas ainda está pouco disponível para mudar o comportamento. Preocupa-se com questões como o desperdício de água e outros recursos naturais, mas ainda não consegue relacioná-las com os problemas do bairro ou da cidade onde mora. Este mesmo estudo informa, no entanto, que para 59% das pessoas ouvidas, a preservação dos recursos naturais deve estar acima das preocupações com a economia.

No último dia 14, foi lançada a pesquisa Ethos-Akatu sobre “Responsabilidade Social Empresarial: Percepção do Consumidor Brasileiro – 2010” confirma alguns dados do estudo do Ministério do Meio Ambiente.

Os comportamentos considerados sustentáveis que têm mais adesão do consumidor são aqueles que mexem diretamente no orçamento doméstico: apagar a luz em ambientes vazios, fechar a torneira enquanto escova os dentes e o chuveiro, enquanto toma banho, e assim por diante. Este consumidor tem alta expectativa na ação do Estado e também na atuação das empresas. Ele quer que o Estado obrigue as empresas a atuar de maneira a ajudar a construir uma sociedade melhor e que as empresas adotem ações responsáveis que beneficiem a sociedade, mesmo que elas não estejam previstas em lei.

A pesquisa Ethos-Akatu mostrou também que existe uma diferença entre as prioridades dos consumidores e as práticas das empresas. Por exemplo: 80% dos consumidores valorizam as práticas relativas às relações do trabalho, principalmente àquelas que promovam a diversidade de gênero e raça, bem como a igualdade de oportunidades e de salários. Estas práticas são prioritárias para 44% das empresas ouvidas no levantamento Ethos-Akatu. Há, neste ponto, uma falta de sintonia entre o consumidor e a empresa que pode ser mais profunda do que mostram os números citados. O consumo ainda não se integrou à cidadania. Ou seja, a empresa tem uma estratégia para “vender” seus produtos, que tem mudado para ir ao encontro da “nova classe média”. Para este consumidor é também cidadão e trabalhador que não se sente “identificado” com os valores e princípios da empresa.

Por quê?

Citando outra pesquisa, poderíamos tentar esboçar uma explicação para esta falta de sintonia entre consumidor e empresa. O “Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas do Brasil – 2010”, mostra que a inclusão de negros, mulheres e pessoas com deficiência no quadro funcional das empresas progride lentamente. O cenário ainda é de desigualdade nas grandes empresas do país que, teoricamente, detêm os melhores empregos.

A proporção de negros nas companhias aumentou de 25%, em 2007, para 31%. Os funcionários brancos passaram de 73% para 67%. No cargos de direção, 5,3% dos executivos são negros, diante de 3,5% verificados em 2007. No entanto, os diretores brancos ainda são 93,3%. Nos cargos de gerência e de supervisão, a proporção de negros é de 13,2% e de 25,6%, respectivamente.

A desigualdade aumenta quando se trata da mulher negra. 9,3% no quadro funcional, 5,6% na supervisão, 2,1% na gerência e 0,5% no quadro executivo mostram uma disparidade abissal entre a participação delas na composição da população brasileira: elas são 50,1% do total de mulheres presentes na população brasileira, ou 25,6% de toda a população do país.

Em outra categoria, apenas 1,5% do quadro de funcionários das empresas é compostos por pessoas com deficiência

Em relação às mulheres, a presença feminina aumentou nos cargos de diretoria, passando de 11,5% para 13,7%, mas diminuiu no quadro funcional geral, de 35% para 33,1%.

De acordo com o Instituto Norberto Bobbio, entidade promotora dos direitos humanos nas empresas, atos de racismo e de discriminação contra mulheres e pessoas com deficiência ainda fazem parte do cotidiano de muitas empresas. Num levantamento realizado pela entidade, 31% de funcionários de médias e grandes empresas do Rio e de São Paulo declararam que há chefes de que tratam os funcionários de maneira desrespeitosa; 11% sabem de casos de preconceito contra negros, mulheres, homossexuais e idosos no ambiente de trabalho. O desrespeito ocorre mais com funcionários de menor remuneração, justamente aqueles que compõem a “nova classe média” emergente, que está dominando o consumo no Brasil, atualmente. Estas atitudes também mostram que a desigualdade da sociedade é reproduzida no ambiente de trabalho.

A gestão socialmente responsável não pode mais separar consumo de cidadania, se quiser realmente contribuir para o desenvolvimento sustentável.

Adotar a diversidade como fator crítico de sucesso é questão de vontade política. Quem já fez ensina: estabeleça metas para cada segmento. Não se distraia. Em cinco anos, as disparidades diminuirão muito e até podem acabar.

O Brasil caminha para ser a quinta economia global. Não pode permanecer como uma das sociedades mais desiguais do mundo. A promoção da diversidade nas empresas é um passo decisivo para o desenvolvimento econômico andar junto com o progresso social.

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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Excesso de iluminação das cidades agrava poluição do ar, diz estudo

Uma pesquisa divulgada na última semana pela Administração Oceanográfica e Atmosférica dos EUA (NOAA, na sigla em inglês) mostra que a poluição luminosa das grandes cidades pode aumentar os níveis de poluentes na atmosfera. As informações são da BBC Brasil.

O estudo foi apresentado durante a reunião da União Geofísica Americana, em São Francisco, e mostrou que a claridade que é lançada para o céu interfere em reações químicas que ocorrem durante a noite e ajudam a limpar o ar da fumaça dos carros e fábricas.

Essas substâncias poluentes jogadas na atmosfera formam uma mistura de moléculas que a natureza tenta eliminar. Para isso, ela utiliza o óxido de nitrogênio, que quebra esses elementos químicos.

Caso não sejam destruídas, essas substâncias formam poluição e ozônio, que transformam o ar da cidade em algo irritante para as vias respiratórias.

O problema, segundo os estudiosos, é que essa “limpeza” acontece durante a noite, já que o óxido de nitrogênio é destruído pela luz do Sol.

A nova pesquisa aponta que a energia de luzes que ficam acesas durante toda a noite nos grandes centros urbanos está eliminando a substância da atmosfera.
Apesar de serem até 10 mil vezes mais fracas do que o Sol, as luzes artificiais podem causar sérios danos à atmosfera, afirmam os pesquisadores.

“Nossos primeiros resultados indicam que as luzes podem desacelerar a limpeza noturna em até 7% e elas também podem aumentar em até 5% os (elementos) químicos iniciais para poluição por ozônio no dia seguinte”, afirmou Harald Stark, do NOAA, à BBC.

Ele informou ainda que serão necessários novos estudos para quantificar os índices de ozônio que poderão estar no ar no dia seguinte. “Este trabalho será importante, pois muitas cidades estão perto de seus limites regulatórios em termos de níveis de ozônio. Então, até mesmo uma mudança pequena pode ser importante”, afirmou o cientista.

Soluções
Para limitar os impactos do efeito, Stark recomenda a substituição das lâmpadas utilizadas na iluminação pública das grandes cidades. A maioria utilizar lâmpadas de vapor de sódio ou halógenas.

A tecnologia mais indicada são luzes vermelhas, que afetam menos o óxido de nitrogênio. O problema, segundo Stark, é que poucas autoridades aceitariam utilizar esse modelos de lâmpadas na iluminação das cidades.

Uma alternativa mais simples e viável seria adequar a iluminação pública para mantê-la voltada para o chão. A prática é indicada por ativistas, que defendem que assim é possível evitar que o brilho das lâmpadas apague a luz das estrelas.

“Este efeito é mais grave no alto, no ar, do que diretamente no chão. Então, se você conseguir manter a luz apontada para baixo e não a quer refletida nos céus, para partes mais altas da atmosfera, então você certamente terá um efeito muito menor”, disse Stark.

Perigos da poluição luminosa
Essa não é a primeira vez que a poluição causada pelo excesso de luz é apontada como vilã do meio ambiente. Outros estudos já revelaram que o fenômeno pode trazer diversos problemas para a saúde dos seres humanos e ainda causar um desequilíbrio da flora a fauna local.

Estudos apontam que a exposição à luz durante a noite pode aumentar o risco de desenvolvimento de alguns tipos de câncer, como o de mama, além de prejudicar a qualidade do sono das pessoas, levando ao estresse, insônia e outros transtornos. Motoristas podem ter sua capacidade visual reduzida por alterações bruscas de ambientes claros para escuros e vice-versa.

O excesso de iluminação noturna também pode afetar a reprodução, migração e comunicação de espécies, como aves e répteis diurnos, que caçam somente durante a noite. A iluminação artificial nas praias também pode ocasionar a desorientação de filhotes de tartarugas marinhas ao saírem dos ninhos.

Até as plantas sofrem com o fenômeno. Pesquisas mostram que algumas espécies não florescem se a duração da noite é mais curta do que o período normal, enquanto outras florescem prematuramente.

Fonte: EcoD, via Mercado Ético

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quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

O que o consumidor pensa sobre Responsabilidade Social Empresarial?

Foi lançada ontem em São Paulo a pesquisa nacional “Responsabilidade Social das Empresas: percepção do consumidor brasileiro”, um levantamento nacional que traz dados sobre valores e comportamentos do consumidor frente ao Consumo Consciente, além de percepções e expectativas sobre a Responsabilidade Social Empresarial. Esta pesquisa foi realizada por iniciativa dos institutos Akatu e Ethos, com patrocínio de Bradesco, Faber Castell, Santander e Walmart e executada pela GfK.

A pesquisa ouviu 1.100 pessoas no Brasil e apresenta números comentados sobre comportamento e expectativas do consumidor. Desde 2003, o Akatu tem monitorado a evolução do comportamento dos consumidores, dividindo-os em quatro categorias de acordo com o maior ou menor grau de consciência em seu consumo. As quatro categorias são: indiferentes, iniciantes, engajados e conscientes. A distribuição por categoria é feita a partir da análise de 13 comportamentos de consumo que também são divididos em quatro segmentos: economia, planejamento, compras sustentáveis e reciclagem.

Entre outras conclusões, o novo estudo aponta que:

Quanto à segmentação dos consumidores pelo grau de adesão ao consumo consciente:

- O percentual de consumidores conscientes manteve-se estável em 5% do total. No entanto, com o crescimento populacional dos últimos 4 anos, a manutenção da porcentagem significou um acréscimo de 500 mil novos “consumidores conscientes” no mercado.

- O percentual dos consumidores “indiferentes”, que adotam até 4 comportamentos conscientes, aumentou entre 2006 (ano da última pesquisa) e 2010, indo de 25% para 37%.

- Somando os percentuais dos “engajados” e dos “conscientes”, temos que 3 em cada 10 consumidores já adotam mais de 8 comportamentos de consumo consciente.

Quanto à adesão aos comportamentos de consumo consciente:

- Os comportamentos ligados à Economia ainda são aqueles com mais altas porcentagens de adesão, passando dos 60%, em média. No entanto, a pesquisa registrou queda na adesão a eles, entre 2006 e 2010. Por exemplo: em 2006, 77% dos consumidores afirmavam que evitavam deixar luz acesa em ambientes desocupados; em 2010, 69% disseram praticar este comportamento.

- Os comportamentos ligados à Planejamento conseguem adesão de 40% dos consumidores, em média. Todavia, diminuiu a adesão a alguns comportamentos, entre as duas pesquisas. “Planejar compra de alimentos”, por exemplo, caiu de 55% para 48% entre 2006 e 2010.

- Os comportamentos de Reciclagem e Compras Sustentáveis que, em tese, exigem nível maior de reflexão e, portanto, mudança de hábitos, estão na faixa dos 30% de adesão. No entanto, são os grupos que mantiveram a estabilidade nos dois períodos.

- Não diferenças significativas de comportamento entre homens e mulheres nem entre regiões do país.

- Há diferenças de comportamento entre classes sociais, idade e escolaridade. Os consumidores menos conscientes tendem a ser mais jovens, com menos escolaridade e das classes C e D. Os mais conscientes, por sua vez, têm mais de 45 anos, instrução universitária e pertencem às classes A e B.

- Outro dado interessante: 70% dos que buscam informação sobre responsabilidade social têm acesso à internet.

Pelas informações acima, temos um perfil de consumo no Brasil que é o seguinte: o consumidor “médio” é ainda “indiferente” ao consumo consciente, de classe C e jovem. Quais as expectativas que ele tem em relação ao papel das empresas?

Este consumidor tem altas expectativas sobre o papel no Estado como regulador das atitudes das empresas:

- Nove em cada dez consumidores acreditam que as empresas devem desenvolver ações além do que está estabelecido na legislação.

- 63% acham que o governo deveria obrigar as empresas a tornar a sociedade um lugar melhor para todos.

- 62% pensam que os cidadãos deveriam pressionar os políticos pela criação de leis que obriguem as empresas a fornecer instruções claras sobre uso e descarte dos produtos.

Mas, este consumidor também acredita na força da sua mobilização

- 62% pensam ser importante que cada consumidor pressione as empresas para evitar danos ao meio ambiente.

Entre os pontos importantes para que o consumidor considere a empresa como sendo socialmente responsável estão:

- Relações do Trabalho (com 80% de respostas), destacando-se políticas de valorização da diversidade e promoção da equidade, como por exemplo, contratação e capacitação de mulheres, negros, pessoas com deficiência; dar igualdade de oportunidades; acabar com as diferenças de salários e benefícios, não utilizar trabalho infantil ou análogo à escravidão, etc).

- Relações com o consumidor ( 69% das respostas), com destaque para a proteção e saúde doconsumidor ou cliente.

Também são consideradas importantes pelo consumidor as práticas anti-corrupção e a manutenção de programas de alfabetização.

Quase metade não acredita nas informações prestadas pelas empresas. Por quê?

A verdade é que o consumidor sente falta de referências e indicadores confiáveis que “comprovem” para o consumo ( não para órgãos fiscalizadores ou auditores) o comportamento socialmente responsável das empresas. Por enquanto, este consumidor não consegue separar o que é mera declaração ou “marketing” verde de comportamento socialmente responsável de fato, internalizado na gestão e no planejamento estratégico do negócio.

Como a empresa pode então tornar-se mais confiável aos olho do consumidor?

Uma das maneiras é estabelecer compromissos claros, com metas, objetivos e prazos bem definidos, e prestação de contas periódicas. Isto vai exigir da gestão um pensamento de longo prazo e de vanguarda, com investimento em práticas que produzam resultados que sejam percebidos e avaliados positivamente pela sociedade. Ao agir assim, a empresa estará sendo protagonista na construção construir o mercado e a economia do futuro, contribuindo para também elevar o patamar do mercado.

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terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Seguir ou liderar?

A julgar pelo boom de sites que prometem conectar quem quer mudar o estado de coisas com organizações e projetos equipados para fazê-lo, o mundo vai parecer um lugar bem diferente – mais justo e menos desigual – em pouco tempo. Será?



Foto de "MailChimp" via Flickr
A estréia do site Jumo no início de dezembro atraiu tantos internautas que sobrecarregou seus servidores. Criado por Chris Hughes, um dos fundadores do Facebook, o novo site se propõe a ajudar as pessoas a encontrar e avaliar organizações sem fins lucrativos ou entidades de caridade. A partir das informações disponíveis, o usuário escolhe quais organizações quer “seguir”, passa a receber artigos jornalísticos, mensagens do Twitter ou vídeos do YouTube sobre elas, e pode apoiá-las doando dinheiro, tempo ou suas habilidades.

A figura de Hughes por trás a nova empreitada acrescentou ao frisson da estréia. Além de ajudar a fundar a rede social mais usada do mundo, ele coordenou a campanha online que elegeu Barack Obama em 2008. Mas, apesar da popularidade logo de cara, Jumo está longe de ser uma novidade: há vários sites que prometem conectar o cidadão comum com causas e organizações que precisam de apoio.

O Sparked se auto-intitula uma “rede de microvoluntariado”, explicando que se trata de “voluntariado para pessoas ocupadas”. Por meio do site, profissionais oferecem seus préstimos de graça para, online, ajudar organizações sem fins lucrativos e de caridade com serviços de design, marketing, estratégia, relações com a mídia, entre outros. As organizações apresentam desafios e os voluntários as ajudam a superá-los de acordo com sua especialidade.

Com a premissa de que não é preciso ser Bill Gates para praticar filantropia, o Citizen Effect conecta cidadãos com comunidades que precisam de apoio para seus projetos. “Procuramos pessoas que não querem apenas dar $50, mas querem juntar seus amigos, família e rede social para levantar $ 1.000 ou $ 5.000 ou $ 10.000 e ter um impacto real e significativo nas vidas de uma comunidade em necessidade”, diz o site.

No site Idealist.org, o usuário pode procurar oportunidades de voluntariado, buscar apoiadores para uma ideia ou projeto filantrópico, procurar emprego no terceiro setor ou recrutar pessoas para trabalhar. O site afirma possuir mais de um milhão de usuários.

Para quem já faz sua parte, o site myImpact.org oferece a possibilidade de registrar todas as suas boas ações para inspirar outras pessoas. A ideia é promover o espírito competitivo para ver quem pode fazer mais, além de reforçar para voluntários e doadores a ideia de que pequenas ações, somadas, fazem a diferença.

No Brasil, alguns sites como filantropia.org, voluntários.com.br e Voluntários em Ação conectam quem quer contribuir com organizações e projetos que precisam de ajuda.

No caso do Jumo, se a intenção é juntar as boas ações com o compartilhamento peculiar a às redes sociais – tornando-se a rede social com objetivos sociais –, o desafio será fazer os usuários irem além de apertar o botão “curtir”.

Fonte: Página 22

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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Luta anti-corrupção mostra avanços no Dia Internacional de Combate à Corrupção

Em 9 de dezembro comemorou-se o Dia Internacional de Combate à Corrupção. A data foi estabelecida em 2003 porque foi nesse dia que governos de diversos países assinaram, na cidade de Mérida, no México, a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, assumindo o compromisso de fortalecer a cooperação internacional para ampliar a prevenção e o combate à corrupção no mundo.

Como parte das comemorações, foi lançado no Brasil o Cadastro Nacional de Empresas Comprometidas com a Ética e a Integridade – Cadastro Empresa Pró-Ética –, uma iniciativa da Controladoria-Geral da União (CGU) e do Instituto Ethos que avalia e divulga as empresas voluntariamente engajadas na construção de um ambiente de integridade e confiança nas relações comerciais, inclusive naquelas que envolvem o setor público.

Esse cadastro dará visibilidade às empresas que têm compromissos e práticas de integridade e ações de prevenção da corrupção. Ao aderir ao ele, a organização assume o compromisso público e voluntário, perante o governo e a sociedade, de adotar medidas para prevenir e combater a corrupção dentro de sua instituição, em favor da ética nos negócios.

A adesão ao cadastro não traz vantagens financeiras, como desconto de impostos. A empresa que resolver aderir, no entanto, estará marcando uma posição decidida contra a corrupção e a favor da integridade e da transparência nas relações com o mercado, com a sociedade e com o setor público.

O cadastramento é gratuito e feito on-line pelo site www.cgu.gov.br/empresaproetica/, por meio do preenchimento do formulário de adesão e das respostas a um questionário qualitativo, que vai avaliar o estágio atual da empresa em relação a alguns temas importantes para a ética e para a integridade nos negócios. As empresas precisam responder perguntas sobre temas como Medidas de Ética e Conduta (por exemplo: “A alta direção está comprometida com a ética e a integridade e se envolve em ações da empresa relacionadas ao tema?) ou Controle Interno (“A empresa possui um sistema que identifica a origem das receitas?”), entre outros.

Trata-se de uma iniciativa importante porque, graças a esse cadastro, será possível dar visibilidade e valorizar as empresas que se destacam pela conduta ética. Até agora, no âmbito do governo, só havia “cadastros negativos”, de empresas devedoras ou que fraudaram a lei. Esta mudança de atitude da CGU vai contribuir para que a sociedade preste atenção naquelas companhias que se sobressaem positivamente.

Ainda no dia 9, em Brasília, foi celebrado um acordo de cooperação entre a CGU, o Instituto Ethos e o Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea) que envolve os profissionais e seus órgãos de classe no combate à corrupção e promoção da ética e da transparência.

Neste acordo, as três entidades se comprometem a realizar pesquisas e estudos sobre o fenômeno da corrupção em obras públicas, bem como instrumentos e técnicas que contribuam para a prevenção e o combate de práticas ilegais ou anti-éticas no âmbito das licitações, contratações e execuções de obras públicas. O acordo também prevê: o desenvolvimento de ações integradas que estimulem ainda mais a postura ética do profissional de engenharia e arquitetura; a capacitação, mobilização e engajamento das empresas atuantes no segmento de engenharia e arquitetura na adoção de medidas de ética e integridade corporativas, entre outros compromissos.

Esta iniciativa é pioneira no Brasil e pode influenciar mudanças não só no comportamento das empresas que participam de licitações e realizam obras públicas como também na própria legislação, já que são engenheiros e arquitetos que conhecem e executam os projetos.

A importância deste acordo CGU-Confea-Ethos foi corroborada neste mesmo evento, quando a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) apresentou o sumário do relatório sobre corrupção no Brasil. O documento atesta os avanços havidos na política brasileira de combate à corrupção e desvio de recursos, mas fez um alerta sobre a fragilidade dos contratos públicos, um dos pontos onde o acordo CGU-Confea-Ethos pretende atuar.

A OCDE também chamou a atenção para os riscos de irregularidades nas obras da Copa do Mundo de 2014 e nas Olimpíadas de 2016.

O texto deste sumário foi produzido a pedido da própria CGU. Além dos comentários já mencionados, a OCDE também critica a carta branca dada pelo Congresso, na Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2011, para que obras relacionadas a eventos esportivos descumpram a Lei de Licitações. O relatório de 83 páginas afirma que é preciso ficar vigilante às "operações de risco", ligadas à Copa e às Olimpíadas.

Justamente para enfrentar estes desafios, no dia 10 de dezembro, para buscar maior transparência e integridade nas obras de infraestrutura da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016, o Instituto Ethos lançou o projeto Jogos Limpos Dentro e Fora dos Estádios, com apoio da Siemens Integrity Initiative.

Esta iniciativa do Grupo Siemens é mundial e resulta de acordo com o Banco Mundial, que visa combater a corrupção por meio de ações coletivas, educação e treinamento. No Brasil, o projeto patrocinado é o “Jogos Limpos”.

Por meio de ações coletivas, monitoramento e controle social, o projeto Jogos Limpos almeja aumentar o nível de transparência e de controle social dos gastos públicos, bem como o nível de integridade nas relações entre os governos e o setor privado.

O engajamento de empresas, organizações da sociedade civil e órgãos de governo nas ações será feito por meio da promoção de quatro acordos de integridade em setores estratégicos, cujas demandas por obras e serviços serão ampliadas em função dos dois grandes eventos: construção civil, saúde, transporte e energia.

A iniciativa abrangerá as doze cidades-sede da Copa, incluindo o Rio de Janeiro, sede das Olimpíadas de 2016.

O projeto visa também a elaboração de indicadores de transparência, que servirão para orientar cidadãos e ONGs a respeito da conduta ética das empresas e do setor público em relação à legislação, bem como de informações sobre obras e equipamentos e dados sobre os compromissos dos acordos setoriais.

O projeto Jogos Limpos ainda prevê: ação específica voltada para as eleições municipais de 2012; desenvolvimento de ferramentas específicas, como uma página na internet, a publicação Jogo Limpo x Jogo Sujo, o guia Como Ler Contratos, um canal de denúncias e indicadores de transparência.

Ainda estão previstas, entre outras atividades, a realização de seminários nacionais e regionais sobre integridade e transparência e a mobilização em prol da aprovação dos projetos de lei “Acesso à Informação”, “Responsabilização de Pessoas Jurídicas por Atos de Corrupção” e ”Regulamentação do Lobby.

Entre as organizações já envolvidas estão as empresas e entidades signatárias do Pacto pela Integridade e Combate a Corrupção, as organizações da Rede Brasileira de Cidades Sustentáveis, o Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea) e os vários sindicatos ligados a ele.

O projeto Jogos Limpos contará também com o apoio do Pacto Global das Nações Unidas.

Enfim, se ainda há um longo caminho a percorrer até controlarmos a corrupção e o desvio de recursos, as atuais iniciativas mostram que a sociedade, os governos e as empresas estão no rumo certo e não pensam em parar até atingir o objetivo.

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sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

A COP 16 chega ao fim.

A 16ª. Conferência das Partes sobre Mudanças do Clima da ONU (COP 16) chega ao fim sem um acordo entre países para a redução de emissões. Mesmo assim, é possível fazermos um balanço positivo desta conferência. É que ficou claro, neste encontro, que os governos querem de fato chegar a um acordo. Mas o processo de diálogo e entendimento é longo. Nesse sentido, Cancún apresentou avanços em relação a Copenhague. Afinal, 194 países sentaram-se à mesa para tentar chegar a um consenso e isso representa um progresso, já que muitos governos não se comunicam fora da conferência do clima.

A COP 16 pode ser considerada um estágio muito importante de um processo global de diálogo e busca de consenso que deve culminar na Rio + 20, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Ela vai se realizar no Rio de Janeiro, em 2012, 20 anos depois da Conferência de 1992, e terá como missão renovar o compromisso dos líderes mundiais com o desenvolvimento sustentável do planeta.

De certo modo, as atenções mundiais já estão voltadas para 2012 e dá para sentir aqui em Cancún que cresce a expectativa de que “acordo mesmo”, só em 2012.

Quanto às empresas e ONGs, elas estavam do outro lado da cidade, na Cancún Messe, o pavilhão que abrigou as empresas e a sociedade civil organizada. Lá, também houve muitas discussões, mas neste caso elas avançaram para propostas concretas, sobre como tratar a água, por exemplo, ou como mudar a forma de consumo.

Um dos temas mais discutidos – e que constitui uma das preocupações centrais da sustentabilidade – foi a questão dos limites do planeta – como cuidar da água, da biodiversidade, das riquezas naturais, enfim, como fazer emergir uma nova ecnomia, verde e inclusiva, que encaminhe a refundação da nossa civilização em novas bases.

A contribuição brasileira

O Brasil sobressaiu-se por apresentar proposta concreta de redução de emissões. O decreto que regulamenta a Política Nacional de Mudanças do Clima, assinado ontem pelo presidente Lula, foi anunciado em Cancún pela ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, como um grande feito, graças às metas ousadas que propõe, como reduzir o desmatamento da Amazônia em 80% até 2020.

Por outro lado, vale ainda lembrar que as empresas brasileiras também são destaque, por apresentarem ao mundo a única iniciativa concreta de compromissos voluntários de redução de carbono, influenciando governos e políticas públicas e abrindo diálogo com todos os setores da sociedade. Estou me referindo ao Fórum Clima – Ação Empresarial sobre Mudanças Climáticas.

Mas, o Brasil promete ser o país para onde devem convergir esperanças e propostas sobre desenvolvimento sustentável, não só pela Rio + 20, como também um evento que vai marcar a união global pela sustentabilidade, num espaço em que todas as tendências da sociedade poderão se manifestar e propor ações concretas para uma sociedade mais justa e inclusiva, além de sustentável.

Por Jorge Abrahão, presidente do Instituto Ethos, de Cancún, México

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Instituto Ethos lança projeto Jogos Limpos para a Copa de 2014 e Olimpíadas de 2016

Nos próximos cinco anos, empresas, setor público e sociedade vão ser chamados a participar de ações e compromissos em favor da transparência e da integridade nas relações de mercado e com governos. O investimento previsto é de US$ 3 milhões e conta com apoio da Siemens Integrity Initiative.

São Paulo, dezembro de 2010 – Para buscar maior transparência e integridade nas obras de infraestrutura da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016, o Instituto Ethos lançou, no último dia 10 de dezembro, o projeto Jogos Limpos Dentro e Fora dos Estádios, com apoio da Siemens Integrity Initiative, um projeto mundial do Grupo Siemens, resultante de acordo com o Banco Mundial, que visa combater a corrupção por meio de ações coletivas, educação e treinamento.

Por meio de ações coletivas, monitoramento e controle social, o projeto Jogos Limpos almeja aumentar o nível de transparência e de controle social dos gastos públicos, bem como o nível de integridade nas relações entre os governos e o setor privado.
O engajamento de empresas, organizações da sociedade civil e órgãos de governo nas ações será feito por meio da promoção de quatro acordos de integridade em setores estratégicos, cujas demandas por obras e serviços serão ampliadas em função dos dois grandes eventos: Construção Civil, Saúde, Transporte e Energia.

A iniciativa abrangerá as doze cidades-sede da Copa, incluindo o Rio de Janeiro, sede das Olimpíadas de 2016. O projeto visa também a elaboração de indicadores de transparência, que servirão para orientar cidadãos e ONGs a respeito da conduta ética das empresas e do setor público em relação à legislação, bem como de informações sobre obras e equipamentos e dados sobre os compromissos dos acordos setoriais.

Prefeitos – O projeto Jogos Limpos ainda prevê ação específica voltada para as eleições municipais de 2012, articulando, nas cidades-sedes da Copa, compromissos de todos os candidatos com a prestação de contas, a transparência e o controle social sobre os orçamentos e os gastos dos municípios.

Para promover o exercício do controle social dos cidadãos e das ONGs sobre os gastos públicos e a conduta das empresas, o projeto Jogos Limpos vai desenvolver ferramentas como: uma página na internet; a publicação Jogo Limpo x Jogo Sujo; o guia Como Ler Contratos; um canal de denúncias; e indicadores de transparência.

Ainda estão previstas, entre outras atividades, a realização de seminários nacionais e regionais sobre integridade e transparência e a mobilização em prol da aprovação dos projetos de lei “Acesso à Informação” e “Responsabilização de Pessoas Jurídicas por Atos de Corrupção” e um terceiro, sobre a regulamentação do lobby.

O projeto Jogos Limpos, Dentro e Fora dos Estádios terá duração de cinco anos.

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quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Código Florestal: redes sociais contra votação do projeto

A tentativa de votação do substitutivo do Código Florestal (Projeto de Lei 1876/99), que ocorreu no dia 07, na Câmara, como noticiamos (Leia Código Florestal pode ser votado), deu início a uma grande mobilização nas redes sociais, organizada por importantes movimentos ambientais como o Greenpeace do Brasil, o ISA – Instituto Socioambiental e a WWF- Brasil. O intuito é suspender o pedido de regime de urgência para a pauta.

O efeito multiplicador dessa mobilização é grande e já contagia gestores da área ambiental e políticos e o tema promete esquentar os ânimos nos próximos dias. A Ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, em Cancún, onde participa da COP16, também afirmou estar surpresa e preocupada com a possibilidade da votação.

Entre as mensagens postadas no Twitter e no Facebook, há solicitações para que os internautas encaminhem e-mails para o presidente da Câmara, deputado Marco Maia (PT/RS). As mensagens também dão conta de que os movimentos estão alertas a manobras de ruralistas, que são a favor do texto do novo Código e que também será divulgada a lista dos deputados que, em 2010, foram a favor da votação.

Em agosto deste ano, uma comissão especial da Casa havia dado parecer favorável ao projeto. Já no dia 1º de dezembro, o deputado Sandro Mabel (PR-GO) pediu regime de urgência e colocou como argumento ‘a finalização favorável do relatório do parecer do deputado Aldo Rebelo e a relevância social da matéria’.

Para acompanhar a tramitação do PL nº 1876/99, é só acessar o site da Câmara.

Fonte: Planeta Sustentável

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quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Dilemas e reflexões sobre a COP 16

Jorge Abrahão, direto de Cancún

Esta COP 16 está sendo um aprendizado para mim, em vários temas, não apenas sobre clima. O fluxo de informações é constante.

Uma das peculiaridades desta conferência é o choque, às vezes criativo, às vezes explosivo, entre as diferentes maneiras de abordar a realidade que os setores sociais aqui presentes têm. Vivemos os dilemas deste choque. Estes diferentes modos de pensar poderiam estar integrados, pois assim, avançaríamos mais rapidamente. Mas, a verdade é que nem mesmo o local escolhido pela ONU para a realização da COP 16 favorece a integração.

Cancún é uma extensa praia ocupada por enormes hotéis e resorts de luxo, muito afastados uns dos outros e todos bem longe do centro da cidade, onde mora a população local. É também um paraíso de consumo, e quando falamos de mudanças climáticas, precisamos pensar em mudanças de hábitos. .

A configuração geográfica da cidade parece que aprofundou as diferenças entre os diversos setores que deveriam dialogar. O Moon Palace, hotel oficial da COP 16, fica a 8 km de distância do Cancún Messe, onde as ONGs montaram sua exposição e as empresas apresentam seus projetos. Além disso, há encontros espalhados pelos hotéis da cidade. As pessoas circulam pelos diversos locais, mas não há atividades conjuntas – mesmo protestos, como em Copenhague – que ressaltem o que governos, empresas e ongs têm em comum.

Em Cancún, a distância geográfica é uma metáfora para a distância lógica entre as partes. Se quisermos sair daqui com alguns avanços em relação a Copenhague, temos realmente um longo caminho a percorrer, com os pés e com as cabeças.

Observo que os governos baseiam-se no princípio da soberania nacional para tomar decisões. Este princípio, construído ainda nos tempos de guerra fria, é francamente reativo e calcado no individualismo, na defesa e na desconfiança. Os governos estão pensando o SEU problema sem a generosidade de pensar o todo. No entanto, se os humanos dividiram a Terra em países, não temos como dividir a atmosfera que é de todos e está sendo poluída.

Empresas e ONGs respodem a este desafio global porque elas atuam globalmente; e, embora ainda não de forma integrada, têm feito pressão e provocado os governos a irem mais à frente do que poderíamos supor.

A própria ONU tem se utilizado da capacidade de pressão de ONGs e empresas para convencer governos a avançar nas negociações de alguns acordos.

É necessária a integração entre todas as partes e isto representa um desafio para empresas e ONGs que não estão habituadas a pensar e agir em grupo, de maneira coordenada.

Nesse sentido, a iniciativa brasileira do Fórum Clima torna-se cada vez mais importante e necessária. Como já comentei aqui, o Fórum Clima foi constituído por empresas que, em 2009, pouco antes da COP 15, assumiram voluntariamente metas de redução de carbono, anunciando publicamente este compromisso, por meio da Carta Aberta ao Brasil sobre Mudanças do Clima. Na mesma carta, os signatários incentivaram a que o governo brasileiro também adotasse metas de redução de emissões, dando exemplo a outros governos. Isto de fato ocorreu: o governo brasileiro anunciou metas de redução de carbono entre 36 e 38%, até 2020 e, em dezembro de 2009, sancionou a Política Nacional de Mudanças do Clima.

As empresas signatárias da Carta Aberta constituíram, então, o Fórum Clima, para monitorar suas próprias ações e contribuir com as políticas nacional e regionais do país.

Pelo que tenho verificado em Cancún, este é o único caso concreto de ação integrada sobre mudanças do clima, em que sociedade e empresas pressionam, o governo acata a pressão e o tema avança.

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terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Sustentabilidade e os modos à mesa

Para o sociólogo Claude Fischler, do Centro Edgard Morin da École de Hautes Etudes en Sciences Sociales, de Paris, não é por acaso que, durante milênios, comemos em grupo, seja como iguais ou como parte de uma hierarquia.

Esses encontros cumprem uma série de funções sociais, como a definição de quem pode ou não participar da refeição, a parte que cabe a cada comensal, a posição à mesa, a ordem em que cada um é servido. Essas funções estão presentes tanto em refeições mais elaboradas e rituais, como a cerimônia do chá japonesa, ou numa roda de amigos beliscando petiscos num boteco. As refeições também definem a passagem do tempo (as coisas acontecem antes ou depois do jantar) e o posicionamento de um indivíduo na sociedade (o uso dos talheres indica o grau de educação e o extrato social de origem).

Foto de Chris Makarsky via Flickr
Em contraste, quem come sozinho geralmente é visto como alguém solitário e incapaz de se relacionar. Para Fischler, que é assessor do Ministério Francês da Agricultura, é como se ele tivesse negada a sua condição humana. Quem come em restaurantes de fast food, na frente do computador ou com a orelha grudada ao celular não presta atenção ao que põe no prato. Também não está sujeito à pressão social que impõe uma boa dieta e modos à mesa. Tem mais chances de comer inadequadamente e, em decorrência, está mais propenso à obesidade e ao diabetes.

Fischler declarou recentemente, numa conferência, que o ato de comer sem reflexão ou rituais tira do alimento o seu sentido. “Somos o que comemos – o que somos se não sabemos o que comemos?”, pergunta o pesquisador. Não é de surpreender que um sociólogo francês, nascido na pátria do Slow Food, pense nesses termos. Mas suas idéias fazem eco em outras paragens.

A norte-americana Laurie David, produtora do filme “Uma Verdade Inconveniente”, que ganhou o Oscar em 2007, e uma militante conhecida pela luta anti-aquecimento global, tem levantado essas mesmas questões. Ela acaba de lançar “The Family Dinner: Great Ways to Connect With Your Kids, One Meal at a Time” (O Jantar de Família: Grandes Soluções para se Conectar com seus Filhos a cada Refeição), um livro que discute, justamente, a sustentabilidade da comensalidade.

Assim como Claude Fischler, ela insiste no papel civilizatório das refeições. Ela lembra, por exemplo, que à mesa melhoramos o nosso vocabulário e desenvolvemos a nossa capacidade de debater. “Tudo no nosso modo de vida atual dificulta a interação com o outro”, disse Laurie, recentemente, ao website Grist. “Por isso é essencial recriar o ritual de colocar a mesa. É assim que aprendemos a ouvir e a conversar. E, quem sabe, talvez você use esse espaço para discutir questões internacionais e para aprender a ter consciência social”.

Você está cansado de saber que uma dieta local, orgânica e vegetariana é mais sustentável para o planeta. Mas o que dizer dos seus hábitos à mesa? Será que o almoço improvisado em frente à televisão é pior do que a macarronada familiar de domingo de um ponto de vista socioambiental? Muita gente acha que sim.
Fonte: Página 22

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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

As mudanças do clima, os governos, as empresas e a sociedade

Mais uma Conferência das Partes sobre Mudanças do Clima está em andamento. Esta é a 16ª. e realiza-se em Cancún, no México. Estou participando pela primeira vez, como presidente do Instituto Ethos, cargo que assumi em 8 de novembro último. Cheguei no sábado, dia 4, e após fazer minha inscrição, fui dar um giro pelos locais dos eventos. Estive primeiro na Cancún Messe, um grande parque de exposições onde centenas de ONGs do mundo inteiro literalmente montam suas tendas e mostram suas ações e suas lutas. Em seguida, fui ao Moon Palace, o majestoso hotel onde está ocorrendo a COP 16 propriamente, ou seja, as plenárias com representantes de governos. Cheguei no exato momento da concorrida entrevista do embaixador Luiz Figueiredo, chefe da delegação brasileira. Ele reafirmou o compromisso do país em reduzir suas emissões, independente de metas internacionais. Mesmo assim, não conseguiu desfazer a impressão geral da imprensa de que a COP 16 não produzirá nenhum acordo de envergadura.

Ontem, junto com outros representantes do Ethos, participei do encontro de grandes empresas, chamado Encontro dos Negócios na COP 16. Companhias internacionais, inclusive brasileiras, se reuniram para mostrar ações em avanços em vários temas cruciais para as mudanças do clima, como logística, inovação e racionalização no uso de recursos naturais.

Com apenas este dia, pude tirar algumas conclusões: os governos não vão mesmo conseguir fechar um acordo mais amplo sobre o enfrentamento às mudanças climáticas. O álibi tem sido a crise econômica. A verdade é que os representantes de governos não conseguem pensar para além de suas fronteiras e no longo prazo. A visão continua imediatista e de curto prazo. Ainda não “caiu a ficha” de que os problemas do aquecimento global não vão respeitar a geografia. Sem esta consciência não haverá acordo possível.

Por outro lado, verifiquei a criatividade e o engajamento das iniciativas das ONGs, que mobilizam milhões de pessoas no mundo inteiro em favor da mudança no modelo de nossa civilização. Constatei também a pujança dos projetos empresariais que, embora busquem velocidade na aplicação das soluções encontradas, visam o longo prazo. Todavia, percebi que tanto ONGs quanto empresas apresentam o mesmo problema: suas ações ainda são individuais, não convergem para um mesmo ponto coletivo: a necessidade de mudar o padrão de produzir e consumir e de construir uma nova sociedade.

Este cenário, ao contrário do que possa parecer, não me faz pessimista em relação às perspectivas de avanço de uma economia focada no enfrentamento das conseqüências das mudanças do clima, chamada genericamente de “economia de baixo carbono”, mas que o Ethos prefere dar nome mais abrangente: “economia verde, inclusiva e responsável.

Sou otimista porque, em primeiro lugar, em que pese o imediatismo dos governos, sociedade civil e empresas avançam a passos largos em mobilização e inovação. Em segundo lugar, porque o Brasil cada vez mais se firma como o palco das ações mais importantes e decisivas para a tomada de decisões sobre o aquecimento global.

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sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Por que é importante a norma do Inmetro sobre processo produtivo sustentável

O Instituto Ethos tem sempre ressaltado que um dos aspectos mais importantes para a emergência da economia verde, inclusiva e responsável é o estabelecimento de condições favoráveis ao novo cenário, por meio de regulação e incentivos fiscais por parte do Estado.

O Brasil tem tido alguns avanços neste aspecto, com políticas públicas e leis que nos põem até mesmo na vanguarda da construção de uma economia de baixo carbono. Um dos exemplos é a Política Nacional de Mudanças do Clima, que estabelece metas para a redução das emissões de carbono. Outro exemplo é a Política Nacional de Resíduos Sólidos que formaliza o princípio da co-responsabilidade pela destinação correta dos resíduos. Tanto a meta de redução de carbono quanto o princípio da co-responsabilidade não estão configurados em lei na maioria dos países, mesmo naqueles onde a chamada “economia verde” encontra-se mais consolidada.

Agora mesmo, está em consulta pública, para sugestões e críticas da sociedade, a proposta de portaria Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) sobre “Requisitos Gerais para a sustentabilidade do processo produtivo”.

O Inmetro, uma autarquia federal vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, foi criado em 1973 para garantir que as medições e os produtos brasileiros estão em conformidade com as normas internacionais e nacionais, atendendo também a legislação. Ele não só realiza testes nos produtos, com estabelece normas e padrões que devem ser seguidos pela indústria nacional e participa de fóruns internacionais relacionados a metrologia , qualidade e acreditação.

A excelência dos serviços prestados é reconhecida internacionalmente. Assim, já se fazia necessária a participação do Inmetro do esforço que o país vem fazendo para construir um modelo de desenvolvimento sustentável. E o Inmetro o faz num momento muito importante e tratando de um tema crucial para o sucesso da economia verde: a produção sustentável. Sua introdução implica esforço tecnológico e de inovação sem precedentes, porque estamos falando de “reinventar” tudo o que hoje é produzido.

Ainda não existem normas internacionais que definam o que deve ser um processo produtivo sustentável. Mas há esforços para se chegar a isso, numa iniciativa chamada “processo de Marrakesh”, capitaneada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) , com a participação de diversos países, inclusive o Brasil.

Por isso, é elogiável a iniciativa do Inmetro de apresentar para consulta pública o texto de uma futura portaria definitiva a respeito da produção sustentável. Não vamos avançar no desenvolvimento sustentável se não estabelecermos definições, metas, indicadores e métricas a respeito do tema.
No entanto, a portaria merece alguns comentários e, embora o assunto pareça árido à primeira vista, é importante para o cidadão comum. A discussão sobre processo produtivo vai definir, em última instância, o que cada um de nós vai consumir nas próximas décadas.

Como já foi dito, a iniciativa de apresentar uma portaria sobre produção sustentável é bastante elogiável e demonstra que o governo está firme no caminho de regular as relações de mercado, entre outras, no sentido da sustentabilidade.

Por outro lado, é também importante ressaltar que tão importante quanto estabelecer a norma é o processo de construí-la. Ela precisa refletir as iniciativas que já existem na sociedade sobre mudanças do clima, tanto em nível nacional quanto internacional, integrando a legislação com o conhecimento acumulado. Se não for capaz de fazer isso, pode gerar resistência entre a indústria e na própria sociedade.

Uma sugestão que podemos dar é chamar a sociedade para aprofundar a discussão sobre a ISO 26000, dando continuidade internamente ao processo internacional liderado pela ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.
A ABNT é uma entidade civil, sem fins lucrativos, credenciada como único Fórum Nacional de Normalização, responsável pela elaboração das normas brasileiras de caráter voluntário. O INMETRO é um órgão governamental com a finalidade de formular e executar a política nacional de metrologia, normalização industrial e certificação de qualidade de produtos industriais. Por isso, se o Inmetro “assumisse” a ISO 26000 e tratasse de aplicá-la aos diversos campos de atuação da entidade, o Brasil poderia avançar não só na produção, mas também na gestão sustentável.

Justamente por não “traduzir” o conhecimento acumulado pela sociedade sobre os temas da sustentabilidade, esta portaria sobre processo produtivo sustentável traz requisitos muito gerais, que terminam por não definir o padrão de orientação que se espera de uma norma. Um exemplo é o critério que fala da contratação de trabalhadores locais para incentivar o desenvolvimento territorial. O texto não especifica qual a participação da mão de obra local no projeto, se a empresa deve fornecer treinamento, como deve comprovar as contratações e assim por diante. Do ponto de vista da sustentabilidade, o correto é definir parâmetros para a preservação e o uso sustentável dos recursos naturais. Não se trata de mera implicância semântica. Uma empresa pode fazer uso racional da água, reduzindo o consumo, e nem por isso fazê-lo de maneira sustentável. De mais a mais, a própria posição do governo brasileiro está mais avançada do que a proposta contida na Portaria, e foi ratificada na COP 10 da Biodiversidade, ocorrida em outubro em Nagoia.

O texto da portaria também não define claramente quais serão os critérios para medir e aferir os procedimentos. Quando propõe o rastreamento de todas as etapas do processo produtivo, não estabelece de forma clara como deve ser feito este rastreamento.

As alterações que precisam ser feitas não invalidam a iniciativa que é necessária para orientar a indústria na mudança de padrão de produção. No entanto, é urgente incorporar a participação da sociedade na definição da portaria, pois corre-se o risco de termos outra norma que não “pega”.

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quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

SP terá de cortar 28,6 milhões de toneladas de gases-estufa

Por Redação do Governo do Estado de São Paulo
Para cumprir lei estadual de mudanças climáticas, Estado precisa reduzir emissões principalmente no setor de energia e transportes.


Para cumprir a lei estadual de mudanças climáticas, São Paulo terá de reduzir em torno de 28,6 milhões de toneladas de gases que provocam o efeito estufa nos próximos dez anos. É o que aponta o primeiro inventário de emissões desses gases no Estado de São Paulo, divulgado ontem pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente (SMA) e pela Cetesb, a agência ambiental paulista. O levantamento - que servirá de base para a elaboração de metas para reduzir a produção de gases em cada um dos setores da economia - foi construído com informações de 20 relatórios que mapearam emissões em áreas como resíduos, agropecuária, transportes e indústria, entre outros.

Em 2005, ano-base para a elaboração da lei, São Paulo emitiu 143,4 milhões de toneladas de gases-estufa. Os dados apontam que o setor de energia, que abrange geração de energia e o uso de combustíveis, responde por 57% das emissões - um total de 81,2 milhões de toneladas de carbono. A produção agropecuária representa 20% das emissões, e mudanças no uso da terra e desmatamento respondem por 9% dos poluentes. Já as atividades industriais representam 8% das emissões e resíduos, que inclui gases como o metano de aterros sanitários, são 6%.

De acordo com Fernando Rei, presidente da Cetesb, o perfil das emissões do Estado de São Paulo é diferente do do território nacional. No País, o desmatamento responde por mais de 70% do total das emissões brasileiras. "Em São Paulo, o grande vilão é o setor de transportes. O desafio será reduzir essas emissões, o que implica em mudanças na logística de cargas e também de passageiros", diz.

As emissões do setor de transportes, que são contabilizadas dentro do relatório do setor de energia, são da ordem de 39,8 milhões de toneladas de carbono e representam mais do que a meta inteira de redução das emissões proposta para 2020. Segundo Rei, o objetivo da secretaria é que as metas específicas para transporte sejam negociadas junto com o setor.

"Isso vai demandar um esforço de política pública para incentivar, no transporte de cargas, o uso de ferrovias e hidrovias. E, no transporte de passageiros, incentivos à ampliação da rede metroviária e do transporte coletivo como um todo", diz Rei. "Sem o envolvimento do setor de transportes, a lei de mudanças climáticas corre o risco de não sair do papel", enfatiza.

Para Stela Goldenstein, ex-secretária de Meio Ambiente de São Paulo, será preciso um plano para tornar o setor de transportes mais sustentável. Ela faz parte de um comitê gestor criado pela secretaria para articular que a lei de mudanças climáticas seja cumprida. "O próximo passo é definir uma meta setorial."

Fósseis. Como o Estado antecipou em novembro, as emissões de gases de efeito estufa derivadas da queima de combustíveis fósseis, como o diesel e a gasolina, cresceram 39% entre 1990 e 2008, dado que compõe o inventário divulgado ontem. A contribuição do diesel no consumo paulista é da ordem de 15% do total de fontes de energia.

Fábio Feldmann, um dos responsáveis pelos programas que culminaram na lei estadual de mudanças climáticas, avalia que os dados do inventário sinalizam que há oportunidades para promover uma economia mais limpa no Estado, com incentivo às energias de origem renovável. "Mais cedo ou mais tarde teremos de caminhar para uma economia de baixo carbono. São Paulo avançou na criação da lei, que já está sendo copiada por Estados como o Espírito Santo. "

No entanto, alguns setores, como a indústria, se mostram reticentes a assumir metas. "É uma visão equivocada dizer que o Estado perde competitividade por causa da lei."

Para entender:

Dados são ponto de partida para metas setoriais

O inventário de emissões do Estado de São Paulo é o ponto de partida para que sejam detalhadas as metas que cada setor terá de se comprometer para o comprimento da lei estadual de mudanças climáticas, aprovada pela Assembleia Legislativa em outubro de 2009 e regulamentada por decreto neste ano.

A lei prevê que o Estado reduza suas emissões de gases que provocam o aquecimento global em 20% até 2020, com base nos dados de 2005, apresentados ontem.

Dividido em cinco grandes áreas - energia, agropecuária, indústria, mudanças no uso da terra e resíduos -, o inventário seguiu a metodologia de medição de gases de efeito estufa do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), grupo de cientistas das Nações Unidas que estudam o aquecimento global e a adaptação às mudanças climáticas.

O inventário ficará disponível para consulta pública no site da Secretaria de Estado de Meio Ambiente http;//www.ambiente.sp.gov.br até 31/12. De acordo com Fernando Rei, presidente da Cetesb, as metas de redução das emissões em cada uma das áreas serão negociadas junto aos setores.


Fonte: Envolverde/Governo do Estado de São Paulo

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quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

O Índice de Sustentabilidade Empresarial da BM&FBovespa

A BM&FBovespa, bolsa líder em úmero de transações na América Latina e uma das maiores do mundo em valor de mercado, criou o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) em 2005, com apoio financeiro do IFC, sigla em inglês para Corporação Financeira Internacional, braço do Banco Mundial para desenvolver o setor privado nos países emergentes.

O ISE foi criado para propiciar ao mercado investidor um mecanismo eficiente de seleção de empresas com desempenho diferenciado em questões ambientais, sociais e econômicas.

Partiu-se da idéia que que a inclusão de uma empresa em um índice de sustentabilidade estimularia a demanda por suas ações, aumentando seu valor de mercado, sua competitividade e sua reputação.

Para fazer um balanço dos cinco anos da iniciativa, o IFC encomendou um estudo para avaliar o impacto do índice sobre as práticas de sustentabilidade das empresas da carteira. Elas responderam um questionário online, passaram por entrevistas pessoais e por uma pesquisa documental de mais de 40 indicadores-chaves de desempenho ao longo do período. Para avaliar melhor o impacto, as empresas pesquisadas foram divididas em 4 grupos: 1 – empresas no ISE desde sua criação; 2 – empresas que eram membros, saíram e depois voltaram; 3 – empresas que saíram; 4 – empresas que nunca fizeram parte da carteira

A conclusão geral da pesquisa é que o ISE teve o papel de guia de referência para as práticas de sustentabilidade tanto das empresas da carteira quanto daquelas que nunca participaram do índice, seja para a iniciação, seja para a melhoria contínua delas.

Como resultado da participação no ISE, 86% das empresas do grupo 1 perceberam melhorias na governança e no desempenho ambiental; 57% notaram melhoria no desempenho social. Nos demais grupos, várias empresas notaram a importância de participar do processo de admissão no ISE, porque isto ajuda a perceber as suas limitações em relação às práticas de sustentabilidade. Entre os benefícios de participar listados pelas empresas, destacam-se a oportunidade de rever as próprias ações, gerando mais competitividade, e a satisfação de ser considerada uma empresa responsável.

64% das empresas do grupo 1 (que sempre fizeram parte do índice) que o ISE foi o fator mais importante no desenvolvimento de práticas de sustentabilidade ao longo de cinco anos.

Outro aspecto avaliado pelo estudo do IFC foi o chamado “investimento socialmente responsável” (ISR). Imediatamente após a introdução do ISE, novos fundos foram criados, mas, ao longo do período, o mercado ISR continuou controlado pelos dois fundos que existiam antes do ISE: o Ethical, do Santander, formado em 2001; e o fundo do Itaú.

Em outubro deste ano, havia 10 fundos de sustentabilidade no mercado brasileiro, gerindo 580 milhões de dólares. Os dois maiores, justamente o Ethical e o do Itaú, controlam 70% dos ativos.

No entanto, a pesquisa não encontrou evidências de que liquidez, acesso ao capital e preços de ações tenham sido impactados favoravelmente. Além disso, o estudo também verificou que a remoção de uma empresa do índice teve pouco ou nenhum impacto sobre o preço das ações, sua reputação ou suas práticas de sustentabilidade.

Isto não significa que as empresas não se beneficiem por serem socialmente responsáveis, sob a forma de acesso a mercados, a melhores preços, a menores custos, a melhor valor para seus ativos, a melhor reputação, a trabalhadores mais produtivos. Significa que este estudo não conseguiu evidências cabais para ligar tais melhorias a práticas de sustentabilidade.

O estudo do IFC conclui que tem sido confirmada a expectativa de que o ISE contribuiria para ampliar a conscientização sobre sustentabilidade e para melhorar as práticas empresariais. Todavia, para que este impacto aumente, é necessário que o ISE venha a influenciar o mercado financeiro.

Para tanto, o ISE estabeleceu cinco objetivos estratégicos a serem atingidos ao longo dos próximos cinco anos: ampliar a abertura de informações ao mercado; aumentar a participação das empresas no processo de seleção; aumentar o volume de recursos investidos e de produtos atrelados ao ISE, tornando-o benchmark de investimentos; fortalecer os canais de comunicação e diálogo com as partes interessadas; trabalhar pelo aperfeiçoamento do escopo e processos de elaboração dos questionários; (metodologia, processo de seleção de empresas, etc).

Até o momento, o ISE é o único índice construído com consulta e participação de vários segmentos da sociedade, não apenas os mercados.

Este ano, a carteira será composta por 38 empresas que somam um valor de mercado de 1,17 trilhão de reais. Isso equivale a 46,1% do valor de mercado de todas as companhias com ações negociadas na bolsa e representa um aumento de 60% em relação à carteira anterior. São seis as companhias estreantes: Vale, Santander, BicBanco, Anhanguera, Copasa e Ultrapar. Deixam o índice a Dasa e a Usiminas. Entre os setores da economia, ingressam no ISE pela primeira vez os segmentos de mineração, serviços educacionais e holdings diversificadas.

Até o momento, o ISE é o único índice construído com consulta e participação de vários segmentos da sociedade, não apenas os mercados.

Este ano, a carteira será composta por 38 empresas que somam um valor de mercado de 1,17 trilhão de reais. Isso equivale a 46,1% do valor de mercado de todas as companhias com ações negociadas na bolsa e representa um aumento de 60% em relação à carteira anterior. São seis as companhias estreantes: Vale, Santander, BicBanco, Anhanguera, Copasa e Ultrapar. Deixam o índice a Dasa e a Usiminas. Entre os setores da economia, ingressam no ISE pela primeira vez os segmentos de mineração, serviços educacionais e holdings diversificadas.

Neste ano, questões relacionadas a iniciativas das empresas no campo das mudanças climáticas foram inseridas no questionário do ISE, enviado a 182 empresas com as 200 ações mais líquidas. No entanto, apenas 53 delas responderam ao questionário, incluindo dez no processo pela primeira vez. Destas, 38 foram selecionadas e são: AES Tiete, Anhanguera, Bicbanco, Bradesco, Brasil, Braskem, BRFoods, Cemig, Cesp, Coelce, Copasa, Copel, CPFL Energia, Duratex, Eletrobras, Eletropaulo, Embraer, Energias BR, Even, Fibria, Gerdau, Gerdau Met, Inds Romi, Itausa, Itauunibanco, Light S/A, Natura, Redecard, Sabesp, Santander, Sulamérica, Suzano Papel, Telemar, Tim Art S/A, Tractebel, Ultrapar, Vale e Vivo.

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terça-feira, 30 de novembro de 2010

COP16 precisa lembrar dos maias

Marina Franco
A Chichen Itza, cidade arqueológica que é um dos símbolos do México e uma das novas 7 Maravilhas do Mundo, recebeu nesse final de semana, antes de a COP16 começar, a visita de um balão com a mensagem “Resgate o clima” e “Pare com o aquecimento global”. A manifestação foi feita pela ONG internacional Greenpeace para pressionar as delegações reunidas em Cacún com o objetivo de negociar sobre o clima da Terra, nesta COP que não empolga muito quanto a um acordo global definitivo – embora seja importante para outras questões (Leia A COP16 também não vai salvar o mundo (mas é importante!))

Com este protesto, o Greenpeace defende que todos levem a lição da história do povo indígena maia, que construiu Chichen Itza e a tinha como centro político e econômico. Ele passou por diversas secas na região, que impactaram partes da população, até o seu colapso definitivo. E apesar de toda a sua sofisticação matemática, astronômica e científica, o povo maia não pôde prever seu fim. Mas, como defende o Greenpeace, nós estamos prevendo o nosso fim e devemos trabalhar contra isso.

Já que podemos enxergar nosso futuro, há caminhos diferentes para escolher, como o das fontes de energia limpas e o de países acordados internacionalmente sobre as mudanças do clima. O Greenpeace pede que os países:
- reconheçam que seus cortes de emissão ainda não são suficiente;
- tomem decisões quanto a estrutura de um acordo;
- decidam como prever novos recursos para o desenvolvimento;
- ofereçam dinheiro para conter o desmatamento em países em desenvolvimento e
- acabem com as brechas de regras quanto às florestas e ao uso da terra, que podem aumentar as emissões dos industrializados.

Leia também:
Entenda a dinâmica da COP16, em Cancun
Lula não vai à COP16
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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Desentupindo canudos

O relato de uma série de boas experiências em todo o País contraria a percepção de que a esfera pública é um espaço avesso à inovação


 Mãe Canguru em Pernambuco, remédio em casa no Rio de Janeiro, mobilidade de moradores de favelas em Belo Horizonte, coleta seletiva em Londrina, formação de professores indígenas bilíngues no Acre.

Estas são apenas algumas das mais de 8 mil iniciativas inovadoras em gestão pública que fazem parte do banco de experiências acumuladas nos dez anos de vigência do Programa de Gestão Pública e Cidadania, desenvolvido entre 1996 e 2005 pelo Centro de Estudos em Administração Pública e Governo (Ceapg) da FGV-Eaesp. O programa do Ceapg de certa forma se contrapõe à percepção de que a gestão pública seria um espaço avesso à inovação, já que as trocas de governos trazem sempre novas prioridades e mudanças nas políticas públicas. Por isso, ganha importância a discussão sobre o próprio conceito de inovação e como ele se aplica na prática da gestão pública.

Fonte: Página 22


Roborocrático - criação de Sírio Braz

Para Ricardo Bresler, professor da FGV e membro da equipe do Ceapg, a inovação, neste caso, está intimamente relacionada ao processo de “desentupir canudos”. Ou seja, de criar espaços de convergência entre atores que estão buscando soluções comuns para os desafios apresentados em suas áreas de atuação.

Para materializar o conceito, ele cita o exemplo da Escola Família Agroindustrial de Turmalina, no Vale do Jequitinhonha, ao norte de Minas Gerais, uma das 20 ações inovadoras premiadas pelo Ceapg em 1999. O desafio, no caso, era o de assegurar o acesso das crianças das comunidades rurais à escola.

Como lembra o professor Bresler, havia duas distâncias a ser superadas: a primeira, óbvio, era a física, uma vez que as casas ficavam dispersas em uma área grande, o que praticamente inviabilizava um sistema de ônibus que buscasse e levasse diariamente as crianças a suas casas.

A outra era a distância “conceitual”, caracterizada pela necessidade de ministrar o “saber oficial”, traduzido em uma grade curricular típica de qualquer escola, sem perder de vista o “saber tradicional”, necessário para responder às necessidades práticas da comunidade localizada em uma zona rural.

A solução foi a de aplicar a “pedagogia da alternância”, segundo a qual as crianças ficavam 15 dias internadas na unidade escolar e nos outros 15 voltavam para suas casas, onde podiam ajudar seus pais, além de repassar as atividades desenvolvidas na escola e também de trazer tarefas para ser feitas com a ajuda da família. As crianças contavam com o professor para ministrar o saber oficial e também com um instrutor, algumas vezes sem ensino formal, mas que conhecia soluções concretas e práticas para os desafios que a comunidade enfrenta.

“Neste caso, o cano desentupido foi o da convergência entre os saberes oficial e tradicional, entre o professor formal e o instrutor que detém os conhecimentos imediatamente úteis para comunidade. Desse encontro surge um processo inovador que responde às necessidades daquela comunidade”, explica Bresler.

Outro exemplo de como o “desentupimento de canos” é um passo fundamental na inovação em gestão pública é o programa “Soros, Raízes e Rezas”, desenvolvido em Maranguape (CE), pela Secretaria Municipal de Saúde, e que foi um dos 20 premiados pelo Ceapg em 1999.

O objetivo era combater a desidratação infantil e a morte de crianças com menos de 1 ano por meio do reconhecimento da importância de uma convergência entre o saber oficial dos médicos e o tradicional das rezadeiras e benzedeiras.

Depois de implantado o programa, médicos e rezadeiras passaram a atuar de maneira coordenada na identificação dos casos de desidratação e na distribuição do soro caseiro. Para as rezadeiras, isso representou o reconhecimento de seu saber tradicional, antes visto como algo “folclórico”, mas que se tornou um elemento importante na política de saúde pública municipal.

Para os médicos, por sua vez, isso os levou a contar com mais respeito e reconhecimento por parte da comunidade. Para o sistema de saúde em si houve um aumento significativo na capilaridade do atendimento às famílias, já que as rezadeiras formam uma rede que abrange áreas do município aonde muitas vezes não chega o poder público.

Para Ricardo Bresler, o que propiciou a capacidade de “desentupir canudos“ e gerar convergências talvez tenham sido os elementos comuns mais evidentes nas mais de 8 mil experiências acumuladas pelo programa do Ceapg. Isso porque a inovação, tal como era entendida pelo programa, não tinha muito que ver com a percepção tradicional da existência de um “Professor Pardal” tirando do nada ideias luminosas e sem precedentes.

Ao contrário, Bresler evoca o conceito trabalhado pelo sociólogo francês Bruno Latour, para quem na maioria dos casos a inovação é fruto de um processo, de um trabalho coletivo e cultivado ao longo do tempo. Ele cita o exemplo do engenheiro alemão Rudolf Diesel, que, embora tenha dado nome ao motor a diesel, não foi o único responsável pelo seu desenvolvimento, o qual envolveu uma série de pessoas e seguiu o acúmulo de conhecimentos até aquele ponto. “A gente inova no espaço e no tempo de acordo com as condições que temos para isso”, diz.

Processos participativos
O consultor em processos participativos e um dos criadores do Movimento Marina Silva Eduardo Rombauer – que acumula mais de dez anos de experiência de trabalho com diversas áreas do governo, ajudando a montar processos de consulta participativa – ecoa esta visão. Para ele, é justamente a possibilidade de envolver as diversas partes interessadas nos processos de inovação um dos elementos que garantem a abrangência e a perenidade das políticas públicas e de gestão governamental.

Segundo Rombauer, o “fazer juntos” é uma quebra no padrão de relações. Por isso mesmo, é um elemento fundamental na busca e implantação de qualquer solução inovadora, tanto no âmbito público quanto no privado.
“Isso é particularmente importante nas relações que se criam entre o Estado e a sociedade. É uma questão de gerar um processo no qual o objetivo principal está mais no diálogo e na busca e construção de convergências do que nos resultados em si. Porque aí se constroem as bases para mudanças mais permanentes.”

Para ele, a inovação na gestão pública tem um grande desafio, o de incluir a percepção dos processos, de captar o que existe de vivo e orgânico na construção das soluções que enfoquem no bem comum e que levem a uma participação ativa de todos os atores envolvidos. É por isso que, para Rombauer, quando se fala na replicação de soluções locais, especialmente em um país com a dimensão e complexidade como o Brasil, não se consegue escala se não houver processos envolvidos.

Ele defende que uma boa ideia, para ser replicada em escala, necessita de um processo fértil que permita ser compreendida. “Se a ideia estiver adequada ao nosso tempo, ela exige pessoas que tenham preparo e um coletivo que esteja desenvolvido para fazê-la vingar. Esta é a base para a inovação.”

Questão de decisão política
É da mesma opinião a jornalista e pesquisadora em disseminação de inovações Veronika Paulics, organizadora do livro 125 Dicas – Ideias para a ação municipal, editado pelo Instituto Pólis junto com o BNDES e distribuído em todos os municípios do País. Para ela, tanto na gestão pública quanto na empresarial, as inovações, uma vez implementadas, acabam puxando outras.

“É só ver o caso do sistema de esgoto, de como evoluiu de uma necessidade antiga de ter fossas para evitar contaminação, para o tratamento sistemático e até para a demanda atual por se reaproveitar a água.” Ela acredita que tudo o que tem a ver com a vida humana sempre consegue ter uma etapa seguinte, de redução de custo, melhora na forma de atendimento da demanda ou de ampliação do público beneficiado, por exemplo.

Veronika chama atenção para o fato de que os processos inovadores estão intimamente relacionados à forma como os gestores se relacionam com a sociedade e com os grupos de pressão. “Para muita gente, se temos um rol de ações inovadoras, tanto faz o partido, mas eu digo que não é bem assim. Como gestor, além de saber o que tenho de fazer, também preciso definir aonde quero chegar”, defende.

Ela usa o caso da merenda escolar regionalizada como exemplo para lembrar que a inovação não está apenas na decisão de comprar produtos da região, mas envolve também o tipo de produto que será comprado para alimentação das crianças. “É uma questão de escolha, uma decisão política: compro produtos mais baratos, porque são para alunos de escola pública, ou invisto um pouco mais em alimentos orgânicos, porque isso depois repercute para quem produz os orgânicos e para quem os consome?”

Talvez um exemplo do que dizem Veronika e Rombauer seja o do Programa Mãe Canguru [1], desenvolvido em Pernambuco e premiado pelo Ceapg em 1997. O método Canguru nasceu na Colômbia e promove o contato físico direto entre os pais e seus filhos recém-nascidos, em geral prematuros, para regular suas temperaturas corpóreas e aumentar suas chances de sobrevivência.

A ideia em si é simples. A inovação surgiu do fato de ter sido adotada como política pública, com um custo baixo e a participação dos próprios pais e de profissionais de saúde de diversas especialidades. “Essa foi uma ação com um grande impacto na qualidade de vida das famílias e que recebeu outros reconhecimentos, além do prêmio do Ceapg. Acabou virando um programa do Ministério da Saúde brasileiro e foi encampado pela Organização Mundial da Saúde, que o dissemina para todos os cantos.”

O fato é que trabalhos como o do Ceapg demonstram que existe uma enorme capacidade criativa Brasil afora. Mostram também que os processos de inovação concebidos e implementados com participação de diversos setores da sociedade têm mais possibilidades não apenas de ser implantados, mas de terem continuidade, independente da alternância de governos.

Mais dicas úteis para os administradores municipais podem ser acessadas no site do Instituto Pólis.
______________

Um Brasil que funciona
O Programa Gestão Pública e Cidadania foi lançado em 1996 pela FGV em parceria com a Fundação Ford. Logo depois recebeu apoio do BNDES. Nos dez anos que o programa durou, foram registradas mais de 8 mil experiências de inovação em gestão pública de todo o Brasil, nos âmbitos municipal, estadual e também de comunidades indígenas.


A cada ano, 20 dessas experiências eram reconhecidas por meio de um prêmio e de visibilidade, com a participação em publicações: Histórias de um Brasil Que Funciona e Vinte Experiências de Gestão Pública e Cidadania. Os pesquisadores do Ceapg estão agora fazendo um acompanhamento de algumas das iniciativas premiadas, mas todas elas estão disponíveis para consulta aqui.

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sexta-feira, 26 de novembro de 2010

O que os brasileiros pensam e sabem sobre sustentabilidade

Foi divulgado ontem, em São Paulo, o resultado da pesquisa “Sustentabilidade Aqui e Agora”, feita pelo Ministério do Meio Ambiente e pela Walmart Brasil, com apoio da Agência Envolverde e da Synovate Research.

A pesquisa nasceu do desejo conjunto da Walmart Brasil e do Ministério do Meio Ambiente de verificar se a campanha para redução do uso de sacolas plásticas tinha sido assimilada pelo consumidor. Afinal, é este consumidor – um cidadão comum – que define ou não a mudança de um hábito, quando não há lei estabelecendo uma obrigatoriedade ou proibição.

Uma pergunta básica serviu de “fio condutor” para o levantamento: O que você faria se acordasse amanhã e não existissem mais sacolas plásticas? A partir dela, foi sendo elaborado um questionário cujas respostas permitiram delinear um retrato sobre hábitos e comportamentos de consumo dos brasileiros. As perguntas foram tanto “diretas” – vc recicla seu lixo? – quanto “indiretas” – “o que é importante para sua felicidade atualmente? - Muitas foram reproduzidas da pesquisa “O que os brasileiros pensam do Meio Ambiente e da Sustentabilidade”, que o Ministério do Meio Ambiente faz desde 1991. Outras foram elaboradas para que as respostas pudessem orientar a regulação / aplicação da Lei Nacional de Resíduos Sólidos e do Plano Nacional de Produção e Consumo Sustentáveis. Tanto a Lei quanto o Plano postulam a responsabilidade compartilhada entre governos, setor produtivo e sociedade no gerenciamento dos resíduos e na mudança de padrões de produção e consumo.

Houve ainda um bloco de perguntas feitas para verificar o comportamento dos brasileiros em relação a uma série de temas da sustentabilidade. As respostas podem ajudar na formulação de políticas públicas ou privadas e também em programas educacionais diversos.

As capitais pesquisadas foram: Belém, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Fortaleza, Goiânia, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro.

Quanto às sacolas plásticas, 69% afirmaram que carregariam suas compras em sacos ou sacolas de outro material, se as plásticas deixassem de existir.

Com relação às demais perguntas, as respostas confirmam uma tendência já detectada em outras pesquisas (inclusive a realizada pelo Instituto Ethos e pelo Instituto Akatu – “Percepção da RSE pelo Consumidor Brasileiro”): o cidadão comum está mais preocupado em conhecer os temas da sustentabilidade do que propriamente em mudar o comportamento. O brasileiro exibe “preocupação” com a causa ambiental, mas não pensa que seja o principal problema do bairro, da cidade ou do país. Nas grandes cidades principalmente, onde hoje moram 75% da população brasileira, saúde e violência são indicadas como principais problemas urbanos (30% e 24% das respostas), mas nenhuma resposta considerou estes problemas relacionados com a degradação ambiental dos grandes centros urbanos.

No entanto, 9 em cada 10 pesquisados acreditam que “da forma como usamos a água, dentro de pouco tempo não teremos água para beber”. 25% dos entrevistados guarda lixo eletrônico em casa por não saber como descartá-lo. Apenas 1 em 5 acredita que “a preocupação com o meio ambiente no Brasil é exagerada”.

Dois dados importantes emergiram: 59% das pessoas que participaram da pesquisa acreditam que a preservação dos recursos naturais deve estar acima das questões relacionadas à economia. E também 59% não acreditam que os problemas ambientais podem ser solucionados com pequenas mudanças de hábitos. Para estes, só grandes transformações nos hábitos de consumo, transporte e alimentação podem realmente ajudar a manter o equilíbrio futuro. Mais: 85% dizem que “qualquer mudança do ser humano na natureza provavelmente vai piorar as coisas”.

63% dos respondentes elegeram a escola como a organização mais importante na educação ambiental; em seguida, com 58%, vem a comunidade, e com 43%, as igrejas. Partidos / governos e empresas vêm no fim da fila, com 36% e 27 %, respectivamente.

A pesquisa também mostrou hábitos em transformação: 45% evitaram jogar produtos tóxicos ou que agridam o meio ambiente no lixo comum; 41% consertaram algum produto quebrado para prolongar a vida útil; e 31% deixaram de comprar algum produto por informações contidas no rótulo.

De modo geral, as respostas às “perguntas indiretas” mostram o Brasil como uma sociedade com valores e esperança na humanidade. Tempo para ficar com a família e os amigos e fé na capacidade humana de superar obstáculos estão entre os principais valores para 44% dos respondentes. 25% das pessoas também gostariam de ter mais tempo e condições materiais para aprofundar os estudos e melhorar o desempenho profissional.

As respostas trazem um mundo de oportunidades para as empresas, principalmente as mais engajadas no movimento da responsabilidade social, fazerem avançar a agenda do desenvolvimento sustentável.

No âmbito empresarial, um dos fatores limitantes a este avanço tem sido justamente a falta de mecanismos de mercado que premiem ou punam os produtos e os comportamentos das empresas. Com isso, o consumidor não consegue diferenciar uma empresa responsável de outra que não está preocupada com os impactos da sua atividade, e não eleva o padrão de exigência. Esta falta de referências prejudica também as empresas que querem evoluir na gestão sustentável, uma vez que o comportamento mais responsável não é percebido como “valor” pelo mercado e pelos consumidores.

Esta consciência superficial do consumidor, trazida à tona por esta pesquisa Walmart-MMA demonstra algo que o Ethos já vem alertando a sociedade: o risco de mudar, não mudando nada.

Por isso, é urgente que as empresas mais engajadas na RSE criem referências para o mercado e a sociedade diferenciá-las e elevar o nível de exigência em relação às demais.

Como fazer isso?

As empresas precisam usar sua força para articular os diversos setores sociais em torno de uma agenda compromissos pelo desenvolvimento sustentável que: - promova cultura apoiada em valores humanistas, na democracia, no bem-estar e na qualidade vida.

- divulgue e dissemine a incorporação destes valores pela cidadania e pelo mercado.
- articule os vários segmentos sociais para a aprovação de políticas públicas que visem o desenvolvimento sustentável
- amplie os espaços de diálogo e negociação entre empresas, governos e sociedade civil

Já existe a percepção de que a sustentabilidade não é incompatível com o crescimento econômico. É preciso, no entanto, demonstrar que sem sustentabilidade não há crescimento econômico duradouro, nem no mercado, nem na sociedade. As empresas podem jogar um papel decisivo neste processo, ao assumirem a liderança e o protagonismo dele.

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