quarta-feira, 14 de abril de 2010

O futuro está chegando a São Paulo?

Diversos meios de comunicação noticiaram hoje que a Prefeitura de São Paulo encomendou a Nissan Renault 50 carros elétricos que um modelo cujo lançamento mundial está previsto para o final do ano. Num primeiro momento, os veículos serão importados do Japão e irão para a frota da Companhia de Engenharia de Tráfego.

Este modelo tem autonomia de 160 quilômetros e o custo da recarga da bateria fica em torno de 3 dólares (mais ou menos 6 reais).

O carro elétrico é projeto antigo de muitos fabricantes. A maioria dos países com indústria automobilística já tentou desenvolver um modelo próprio, inclusive o Brasil. No entanto, eles nunca ultrapassaram a fase de protótipo.

Agora que problemas como poluição e qualidade de vida ganham outra dimensão na sociedade, em face das conseqüências das mudanças climáticas, o carro elétrico ganha as linhas de produção e, em breve, as ruas das cidades de todo o mundo.

A combustão dos veículos movidos a combustível fóssil não só eleva o nível dos gases de efeito estufa na atmosfera, como mata. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), treze mil pessoas morrem por ano, no Brasil, em conseqüência da poluição do ar. A mesma entidade alerta que a poluição mata nove pessoas por dia só na cidade de São Paulo.

O limite, para a qualidade do ar, de material poluidor inalável preconizado pela OMS é de 20 microgramas por m3. Em São Paulo, este índice é de 40 microgramas por m3; e no RJ, de 60 microgramas por m3, de acordo com levantamento da Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE). Estudos da Universidade de São Paulo revelam que 70% deste material é proveniente das emissões dos veículos, principalmente dos carros de passeio. Esta frota não para de crescer. Nos últimos dez anos, a população cresceu 16% e o número de veículos, 67%.

Com isso, circulam pela capital paulista, mais de seis milhões de veículos e mil novos modelos são incluídos a este contingente todos os dias.

Carlos Ghosn, CEO da montadora, ressalta que o carro elétrico precisa de incentivos, diretos ou indiretos, ao menos até a produção atingir entre 500 mil e um milhão de veículos anualmente. Sem isso, o preço da unidade fica muito acima do bolso do consumidor. O executivo também explica que para trazer uma linha de montagem de carros elétricos ao Brasil, é preciso haver mercado para no mínimo 50 mil unidades por ano. Hoje, estes modelos são fabricados apenas nos EUA, no Japão e na França.

Uma das maneiras de reduzir a poluição do ar é o carro elétrico. A prefeitura paulistana deu um primeiro passo, mas é bom lembrar que, entre as metas que assumiu até 2012, constam a redução de 30% das emissões de GEE; a substituição de 70% do troleibus por veículos mais novos e 25% da frota de ônibus por modelos menos poluidores; atingir 100% da frota com inspeção veicular; financiar 18 projetos com recursos da venda de créditos de carbono; e reduzir, a cada ano, 10% das ocorrências por infecção respiratória aguda.

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segunda-feira, 12 de abril de 2010

A tragédia de Niterói, a Política Nacional de Resíduos Sólidos e a Responsabilidade Social Empresarial

Quando o morro do Bumba veio abaixo, soterrando centenas de vidas, deixando outras centenas ao desabrigo e destruindo famílias e sonhos, alguém pensou que esta tragédia também tem a ver com o nosso modo de vida consumista? E que as empresas, além do poder público, também falharam em seu papel social?

A omissão do poder público é sempre mais fácil de detectar. O Morro do Bumba foi um lixão de 1970 a 1986. Com o saturamento da área, a prefeitura de Niterói passou a levar o lixo da cidade para um aterro em Duque de Caxias e proibiu a ocupação do local. Mas, como ocorre em toda a cidade brasileira, logo surgiram algumas casinhas de alvenaria que não foram retiradas. Com isso, outras casinhas foram sendo construídas e, num prazo muito curto, estava formada uma nova comunidade que começou a reivindicar melhorias urbanas, que foram chegando. Nada disso impediu o deslizamento, pela topografia do terreno. Outro lixão de Niterói, o São Lourenço, hoje é um bairro totalmente urbanizado e regularmente ocupado.

Não quero aqui comentar os desmandos dos diversos governos que permitiram a ocupação de uma área totalmente inadequada para a construção de residências. Este aspecto vem sendo tratado pela imprensa. Quero, sim, ressaltar que as empresas e a sociedade também têm sua parcela de culpa, pela maneira com que se lidava e se lida com o lixo. Niterói chegou num ponto que não tem mais onde pôr seu lixo, situação idêntica a de muitos municípios brasileiros.

Outro dado sobre o Estado do Rio de Janeiro: o despejo de lixo (resíduos sólidos recicláveis) nos rios fluminenses é um dos maiores problemas da poluição do Estado. Segundo dados da Secretaria de Meio Ambiente do RJ, são retirados anualmente das lagoas, rios e canais do Estado, aproximadamente dois milhões de metros cúbicos de detritos. Entre o material recolhido, há móveis, pneus, toneladas de pet e embalagens longa vida e até mesmo carrocerias de automóveis.

Mais difícil do que retirar estes resíduos do meio ambiente é deixar que eles não cheguem até lá. Para tanto, a coleta seletiva e a reciclagem dos materiais são imprescindíveis.

O Diagnóstico do Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos, realizado pelo Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) e pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) revela que são recolhidos aproximadamente 50 milhões de toneladas / ano de resíduos pelos serviços de limpeza pública nos 5.564 municípios brasileiros. A Abrelpe calcula que 56% deste total vão para aterros sanitários e 44% vão para lixões ou aterros controlados.

O Brasil se destaca na reciclagem de alguns resíduos, como papel e papelão; alumínio e vidro. No entanto, algumas regiões do país ainda não possuem sequer serviço de limpeza urbana diário. É preciso corrigir estas defasagens, ampliando os pontos de coleta de reciclados e, com isso, avançar no tratamento dos resíduos e na reciclagem

A Política Nacional de Resíduos Sólidos, recentemente aprovada no Congresso, depois de 19 anos de tramitação, deve ser o impulso decisivo para a consolidação da reciclagem de resíduos sólidos como atividade econômica e como atitude de cidadania também, uma vez que estabelece o princípio da co-responsabilidade na geração do resíduo.

Iniciativas empresariais já existem desde o início dos anos 2000. Ações entre grandes redes de supermercados, fabricantes de embalagens e indústrias vêm buscando reforçar a participação da sociedade no processo e também promover a inclusão dos catadores na cadeia produtiva.

A mais recente ação foi lançada hoje pela Coca Cola, o Carrefour e a Tetra Pak. Dez lojas da rede, localizadas na capital e em Campinas vão receber embalagens de suco Del Valle trazidos pelos clientes. Para cada embalagem entregue, o consumidor terá 30 centavos de desconto na compra de outra embalagem de suco da marca.

Wal Mart e Pão de Açúcar também possuem iniciativas parecidas, não envolvendo desconto, mas visando educar o público para a importância da reciclagem e incluir os catadores na cadeia de valor das empresas, gerando renda e trabalho para as cooperativas e seus cooperados. E, lógico, diminuindo a pressão sobre os aterros. Só a Wal Mart recebe perto de 2 toneladas por mês de recicláveis em cada loja onda há ponto de coleta seletiva. A empresa possui 308 estações de reciclagem no Brasil, beneficiando 96 cooperativas e 2800 catadores cooperados. Em convênio com a Fundação Nestlé, tem um promoção em duas lojas Bom Preço, de Recife e Salvador. A cada cinco embalagens Nestlé entregues no quiosque da empresa, o cliente ganha uma revistinha de receitas.

O Pão de Açúcar possui:

110 Estações de Reciclagem em 31 municípios - 8 Estados + Distrito Federal

33 cooperativas beneficiadas

Volume: desde 2001 a fev/2010: 34 mil toneladas de materiais

Volume 2009: 7 mil toneladas

Volume de óleo coletado desde 2001: 309 mil litros

Volume 2009: 140 mil litros


Extra

78 Estações de Reciclagem em 27 municípios - 15 Estados + Distrito Federal

17 cooperativas beneficiadas

Volume: desde 2007 a fev/2010: mais de 1 mil toneladas de materiais

Volume 2009: 595 toneladas

Volume de óleo coletado desde 2008: 80 mil litros

Volume 2009: 24 mil litros

As três redes também comercializam sacolas retornáveis, para substituir as sacolas plásticas no acondicionamento das compras.

Isto prova que empresas, sociedade e governos trabalhando juntos podem zerar os resíduos despejados no meio ambiente e evitar tragédias como a do Morro do Bumba.

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