sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Fórum Social Mundial abre neste domingo em Dacar

Começa neste domingo e prossegue até o dia 11 de fevereiro a edição centralizada do Fórum Social Mundial (FSM). Neste ano, o evento acontece em Dacar, no Senegal. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) confirmou sua participação e deve ser uma das estrelas do encontro na África. Lula irá acompanhado do ex-ministro Luiz Dulci e do ex-presidente do Sebrae Paulo Okamotto.

Em sua 11ª edição, o evento volta ao continente africano depois do encontro em Nairóbi, no Quênia, em 2007. No ano passado, o Fórum Social aconteceu de forma descentralizada. Uma das atividades ocorreu na Grande Porto Alegre e contou com a participação de Lula. Também está prevista a presença do presidente da Bolívia, Evo Morales, e da ex-presidenciável francesa Segolene Royal.

O governo federal já confirmou que irão ao Senegal os ministros Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral), que representará a presidente Dilma Rousseff (PT), Maria do Rosário (Direitos Humanos) e Luiza Bairros (Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial). A prefeitura de Porto Alegre e o governo do Estado, que trabalham para trazer de volta à Capital gaúcha o evento centralizado em 2013 e que farão atividades descentralizadas no ano que vem, também terão representantes em Dacar.

Pelo município, estarão presentes o secretário de Coordenação Política e Governança Local, Cezar Busatto; Filaman dos Santos (conselheira do Orçamento Participativo), José Ricardo Caporal (membro do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente), Nelcinda Aguirre (presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente) e Tatiane Ventura (membro do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente).

Força Sindical, CUT e outras entidades também integrarão a comitiva, que apresentará ao Comitê Internacional do FSM a Carta de Porto Alegre, documento assinado por diversas entidades da sociedade civil organizada defendendo a volta do evento ao solo gaúcho.

Após uma década, balanço é considerado positivo, mas futuro ainda gera controvérsia
Organizadores do Fórum Social Mundial avaliam que a vitória da esquerda em diversos países da América Latina nos últimos dez anos - além da eleição de Barack Obama nos Estados Unidos - foi influenciada pelos debates realizados ao longo da década sob o slogan de que "um outro mundo é possível", o lema do Fórum.

A ascensão de um operário, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ao cargo de presidente da República era uma das bandeiras da primeira edição do evento, que debutou em 25 de janeiro de 2001 em Porto Alegre. Hoje, o ex-mandatário brasileiro é considerado símbolo do Fórum Social e será a grande estrela da edição de 2011, em Dacar, no Senegal.

Porém, passada uma década desde que o debate se iniciou, a esquerda ainda diverge quando o assunto é ação: enquanto alguns defendem a autogestão, com diversos eixos de reivindicação, críticos creem que o movimento está perdendo a força, ao não participar como ator político nas instâncias decisórias.

A discussão não é nova e está explícita na inconformidade de um dos idealizadores do Fórum, o empresário Oded Grajew. "Depois desses dez anos, uma das nossas dificuldades é justamente explicar o que é o Fórum, inclusive para o público que o frequenta", lamenta Grajew, presidente emérito do Instituto Ethos.
Governador do Estado durante a realização das duas primeiras edições do Fórum Social na capital gaúcha, Olívio Dutra (PT) crê que a falta de influência direta nos centros de poder prejudica o movimento. "Vejo o Fórum Social Mundial numa espécie de crise. Claro que não é algo messiânico, mas, ao optar por não fazer política, ele perde sua força."

Mas, para Grajew, esta atitude cabe a um partido, e não a um movimento plural como o Fórum. Ao seu lado, está a cientista política Vanessa Marx, professora e pesquisadora da Ufrgs. "O Fórum não trabalha com modelos, não está no seu espírito ter uma receita de soluções. O movimento não vai deliberar sobre como isso tem que ser feito. Esta é uma expectativa que não deve ser incentivada", analisa Vanessa, que integrou durante sete anos o Conselho Internacional do Fórum.

As leituras sobre o papel do encontro são tão diversas quanto as entidades e organizações que o compõem. Debaixo do guarda-chuva do Fórum Social Mundial estão movimentos que eventualmente podem até ser antagônicos. Caso das feministas que defendem o aborto e alguns setores da Igreja Católica que sempre marcam presença no evento.

Ironicamente, um dos pontos de consenso entre os integrantes da organização do Fórum é uma das causas dessa dificuldade de construir um discurso comum: o respeito à diversidade de bandeiras.

"Dilma Rousseff (PT) é uma política absolutamente identificada com a causa do Fórum. Mas ela é sabidamente desenvolvimentista, acredita que a natureza está a serviço do bem-estar do trabalhador. E isso é amplamente criticado por grupos ambientalistas, que também integram o movimento", sintetiza outro integrante do grupo de organizadores pioneiros, o advogado Mauri Cruz, representante da Associação Brasileira de ONGs no comitê gaúcho do Fórum.

‘Força do FSM está na sua pluralidade'

A causa anticapitalista é o que une centenas de entidades e organizações não governamentais. Foi, inclusive, o fator que levou um grupo de representantes dos movimentos sociais a propor um encontro que confrontasse o Fórum Econômico de Davos no final dos anos 1990.

"Na época, o discurso e a política neoliberal eram dominantes, e nós representávamos um pensamento oposto a esse. Era uma necessidade debater alternativas em um encontro", rememora Olívio Dutra.

Os 20 mil ativistas que compareceram ao primeiro Fórum se multiplicaram. Em 2005, quando retornou à Capital gaúcha depois de passar pela Índia, o evento bateu o recorde de público, recebendo 150 mil participantes. E, com a chegada sistemática de novos grupos, outras propostas foram somadas ao caldeirão de ideias já existente. O que não preocupa Oded Grajew. "A força do Fórum nasce justamente da pluralidade e da diversidade que envolve."

Mesmo assim, alguns integrantes sentem falta de que o Fórum Social Mundial exerça pressão sobre os governantes comprometidos com o projeto. Os críticos do Fórum concordam que há avanços.
"A grande diferença da esquerda atual para aquela das Internacionais Comunistas é que hoje não existe um modelo único a ser seguido, como pregava Karl Marx", avalia o cientista político Paulo Moura, coordenador do curso de Ciências Sociais da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra). "Eles hoje seguem o jogo democrático e governam seguindo o caminho social-democrata."

Apesar de a esquerda ter ganhado terreno na América Latina desde que o Fórum começou a existir, o principal ponto positivo destacado pelos seus fundadores foi a formação de redes de cooperação internacionais nos mais diversos âmbitos.

"O maior êxito foi ter colocado em contato grupos que antes atuavam localmente", acredita a cientista política Vanessa Marx. "Independentemente de governos de esquerda ou direita, esse valores vão permanecer porque a população está consciente."
Mauri Cruz lembra o exemplo do Chile, onde, depois de um governo altamente popular comandado pela socialista Michelle Bachelet, a oposição venceu as eleições e empossou o representante da centro-direita Sebástian Piñera.

"Houve uma troca na orientação ideológica do governo. Mas a agenda não mudou em sua essência, não houve um enfrentamento. E é um dos países com maior histórico neoliberal."

Fonte: Nossa São Paulo / Jornal do Comércio

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Mais uma oportunidade no projeto Jogos Limpos

O projeto Jogos Limpos Dentro e Fora dos Estádios, desenvolvido pelo Instituto Ethos com o apoio da Siemens Integrity Inititative, está com mais uma oportunidade de trabalho aos profissionais graduados em Administração de Empresas, Economia ou Contabilidade.

Desta vez, o perfil da vaga é para coordenar, direcionar e acompanhar as atividades de prestação de contas e controladoria do projeto. Esse coordenador será responsável pela gestão de processos como fluxo de caixa, conciliação bancária, contas a pagar e departamento pessoal, além de atender e orientar aos colaboradores nas questões pertinentes à área administrativa e financeira, elaborar relatórios gerenciais, acompanhar a contabilidade e auditoria externa, dentre outras atividades.

Iniciativa, boa comunicação oral e escrita, habilidade para negociação e consciência de valores éticos são umas das habilidades requeridas para o cargo.

O projeto Jogos Limpos busca maior transparência e integridade nas obras de infraestrutura da Copa de 2014 e da Olimpíada de 2016.

Para saber mais sobre a vaga e candidatar-se à mesma e às outras vagas do projeto (Coordenação geral e Coordenação de Comunicação), acesse o link Trabalhe Conosco, no site do Instituto Ethos (www.ethos.org.br), ou clique aqui.

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quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

ONU tira 2 mil empresas do Pacto Global

O Pacto Global, uma iniciativa das Nações Unidas, expulsou 2.048 de seus associados – equivalente a 25% do total de empresas, instituições e autarquias que publicamente prometeram defender os princípios de responsabilidade social propostos pela ONU. Dentre as descadastradas estão 72 brasileiras, a maior parte (17) do setor de mídia (agências de publicidade e de comunicação, jornais, rádios e TVs). O projeto conta agora com 6.066 adesões em 332 países; 369 são do Brasil.


Criado em 2000 pelo então secretário-geral da ONU Kofi Annan, e mantido por Ban Ki-moon, o Pacto Global tem como objetivo estimular a prática de responsabilidade social na iniciativa privada. Baseia-se em dez princípios relacionados a direitos humanos, trabalho, meio ambiente e combate à corrupção.

Não se trata de regras – a adesão é voluntária. As empresas ou instituições que quiserem aderir ao pacto precisam enviar uma carta à ONU e tornar público seu compromisso, divulgando-o internamente e na comunidade em que atuam. Depois, têm de apresentar anualmente um relatório apontando o que fazem para integrar os dez princípios à sua estratégia e às suas operações.

As Nações Unidas não fiscalizam as empresas, apenas cobram que divulguem os informes anuais. Se isso não for feito por dois anos consecutivos, a empresa é desligada. Por não cumprirem a tarefa é que os cerca de 2 mil membros foram expulsos – 200 no fim de 2010, após uma prazo dado pela coordenação do projeto para que os associados de países menos desenvolvidos enviassem sua prestação de contas.

“Estamos avançando em transparência”, afirma o chefe de Relatórios de Progressos do Escritório do Pacto Global, Jerome Lavigne-Delville. “Por um lado, estamos sendo mais severos na aplicação de nossas medidas de integridade, para assegurar que todas as empresas participantes divulguem informações sobre seu progresso, todo ano. Por outro, introduzimos uma plataforma que dá incentivos e reconhecimento para empresas de todos os níveis fazerem progressos significativos em direção a uma implementação ampla dos princípios em suas estratégias e operações”, declarou.

A plataforma cria categorias diferentes de participação no Pacto Global, segundo o nível de transparência e de implementação dos dez princípios: básico, intermediário e avançado. A expectativa é que essa medida estimule melhorias contínuas nas empresas e crie parâmetros de comparação entre associados de tamanhos, setores e regiões semelhantes.

Fonte: Mercado Ético / PNUD Brasil

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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Davos termina em clima de otimismo moderado

Fórum Global segue baseando análises com as lentes do século XX, mas China chama atenção de líderes para a produção de energias limpas

Instabilidade no Oriente Médio, eventos climáticos extremos e ameaças a produção de alimentos. Nada disso pareceu incomodar profundamente os líderes participantes da edição do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suiça.

O evento encerrado no domingo terminou com a certeza de que a economia já passou pelo seu pior momento e agora entrou num processo de retomada de crescimento global. O otimismo veio, principalmente, dos sinais positivos para a atividade econômica dos Estados Unidos e, claro, do desempenho dos emergentes que acumularam um crescimento de 45% nos últimos 5 anos, enquanto os países ricos tiveram um crescimento na ordem de 5% no mesmo período.

Sustentabilidade ainda em 2º plano

O otimismo das lideranças mundiais ofuscou as preocupações que levariam a uma discussão mais aprofundada sobre sustentabilidade. Apesar de citadas, questões como: esgotamento de recursos, crise na produção de alimentos e mudanças climáticas, estiveram sempre a margem nos principais encontros em Davos.

Os mais cautelosos quanto ao otimismo geral fizeram maiores referências a turbulência egípcia e ao atentado no metrô russo. Tais fatos foram considerados mais desestabilizadores à economia do que fatores ligados ao desenvolvimento sustentável, ou melhor, do desenvolvimento insustentável que ainda prevalece na visão econômica tradicional.

China líder da economia verde

Se as questões ligadas à sustentabilidade ainda não ocupam o lugar que merecem chamou muito a atenção de todos, o papel protagonista que a China vem exercendo em relação a economia verde. Christiana Figueres, presidente da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (UNFCCC) afirmou que a China está deixando todos os outros países do mundo para trás quando se fala em investimentos na área.

O país asiático investiu em energias limpas em 2010 o montante de US$ 5,11 bilhões. Segundo a Bloomberg New Energy Finance, essa quantia é de longe a maior entre todos os países. Hoje a China já é o maior receptor de recursos para projetos de energia renovável, tendo ultrapassado os Estados Unidos desde setembro do ano passado, segundo a empresa de consultoria Ernst & Young.

A atitude chinesa deve ser entendida, não como ações relacionadas pura e simplesmente ao enfrentamento do aquecimento global e mudanças climáticas, mas como estratégia necessária para evitar a escassez de energia e a manutenção de seu crescimento.

Atento a essa perspectiva impulso ao investimento em energias limpas, o secretário-geral da ONU Ban Ki-moon, anunciou que vai mudar a sua política de apoio ao combate às mudanças climáticas. A decisão noticiada pelo jornal inglês The Guardian revela o desgaste nos últimos tempos do secretário das Nações Unidas em buscar um acordo climático. Ele continuará apoiando um acordo global, mas vai concentrar esforços no suporte a ações que visem aumentar os investimentos em energias renováveis.

Se o Fórum foi capaz de discutir investimentos em energia renovável também é verdade que não se avançou muito no caminho do desenvolvimento sustentável. Mas haverá uma nova chance para se discutir o tema sustentabilidade. Em abril, será realizada a reunião latino-americana do Fórum, na cidade do Rio de Janeiro.

Quem sabe longe do frio, no país que ainda detêm o título de campeão no uso de energias limpas e a maior floresta tropical do planeta, sejam reunidas as condições para uma abordagem menos marginal e mais efetiva sobre os rumos para uma economia menos insustentável.

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terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Cidades brasileiras são as mais verdes da América Latina

No “Índice Latino-americano de Cidades Verdes”, o Brasil é exemplo! Entre os 17 municípios avaliados, Curitiba foi o que se saiu melhor e quatro, das cinco cidades que ficaram acima de média na avaliação, são brasileiras


Do México ao Chile, o Latin American Green City Index (ou Índice Latino-americano de Cidades Verdes, em tradução livre) analisou as 17 principais cidades da América Latina, para avaliar o grau de preocupação ambiental de cada uma delas e quem ficou em primeiro lugar no ranking foi o município brasileiro de Curitiba.

A capital paranaense foi a única, de todas as cidades avaliadas, classificada como “bem acima da média” pelos envolvidos na pesquisa, realizada pela Siemens. Segundo o documento, no enfrentamento dos desafios ambientais, nenhum outro município da América Latina adotou políticas integradas e de longo prazo tão eficientes quanto Curitiba – sobretudo na gestão de resíduos.

Abaixo da cidade paranaense, cinco municípios ficaram “acima da média”. Entre eles, quatro brasileiros: Belo Horizonte, Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo, que dividiram o pódio com o município de Bogotá, na Colômbia.

O Índice ainda classificou os municípios avaliados em outros três grupos:
– o das cidades que pontuaram “na média”, em que aparece Porto Alegre, que foi o município brasileiro que se saiu pior na avaliação;
– o das cidades que ficaram “abaixo da média”, que conta com Buenos Aires, na Argentina, e Montevidéu, no Uruguai, e
– o dos municípios que estão “bem abaixo da média”, como Guadalajara, no México, e Lima, no Peru.

Para chegar a esses resultados, a pesquisa avaliou oito aspectos, entre eles, transporte, resíduos, água, saneamento básico, qualidade do ar e governança ambiental. A intenção da iniciativa é conscientizar os governos e a própria sociedade civil a respeito da responsabilidade que possuem em ajudar no combate aos problemas ambientais e, assim, incentivar a criação de políticas de longo prazo que contribuam para essa luta.

Para “inspirar” esses municípios, o Índice ainda cita as melhores iniciativas verdes adotadas pelas cidades que mais pontuaram na pesquisa, para que essas ações possam ser copiadas pelos demais. Entre as práticas que aparecem como exemplo no documento está a Política Estadual de Mudanças Climáticas, de São Paulo, que prevê a redução de 30% das emissões de gases do efeito estufa até 2012, com base nos níveis de 2005 (para saber mais, leia Regulamentada Política Estadual de Mudanças Climáticas).

Veja o Índice Latino-americano de Cidades Verdes, na íntegra, em inglês.

Fonte: Planeta Sustentável

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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Desigualdade é fator que limita bem-estar da sociedade

O crescimento econômico já não pode ser o principal mecanismo para melhorar a qualidade de vida do ser humano

Muito já se discute sobre os limites do crescimento econômico em contraposição aos recursos oferecidos pelo planeta. Ao mesmo tempo que tirou milhões pessoas da pobreza, elevando-as ao patamar de consumidores, o ritmo incessante no aumento do PIB dos maiores países emergentes, nos últimos anos, também trouxe uma nova reflexão: será possível suportar o padrão de consumo das sociedades ricas ou é necessário criar um novo padrão?

Agora, outras discussões bastante pertinentes vêm juntar-se à primeira questão: padrão de consumo pode ser visto como sinônimo de qualidade de vida e bem-estar? É possível melhorar o bem-estar sem crescimento ou ampliar a qualidade de vida sem que isso represente aumento no consumo?

A lógica econômica sempre colocou o crescimento, com o conseqüente aumento de renda, como uma solução em si mesma para a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Mas uma série de economistas começa a discutir com mais profundidade a adoção de um modelo de desenvolvimento sustentável a ser levado em conta num futuro imediato.

Um exemplo desse movimento pode ser visto no livro O Que os Economistas Pensam sobre Sustentabilidade, organizado por Ricardo Arnt, que reúne depoimentos de 15 renomados economistas brasileiros e sua visão sobre o tema. Há entre eles o consenso de que é necessário ampliar e evoluir na qualidade dos debates sobre sustentabilidade e desenvolvimento sustentável.

Um dos economistas participantes do livro acaba de fazer uma interessante reflexão sobre o assunto. Em artigo publicado na última sexta-feira, no jornal Valor Econômico, André Lara Rezende coloca em xeque a visão tradicional da economia de que, se a economia crescesse e a renda aumentasse, todos os demais indicadores de bem-estar estariam contemplados. Segundo ele, para as pessoas de renda mais baixa, a equação crescimento econômico e qualidade de vida se harmoniza perfeitamente, já que a ausência de uma renda que poderíamos chamar de básica impossibilitaria garantir qualidade de vida e bem-estar. Mas, quando a renda passa a contemplar as necessidades básicas, seu aumento não irá significar automaticamente uma melhoria na qualidade de vida.

Para fazer essa afirmação, Lara Rezende baseou-se num estudo realizado por dois médicos infectologistas ingleses, Richard Wilkinson e Kate Pickett, que publicaram um livro intitulado Spirit Level. Para os autores, a partir de um determinado nível de renda, a redução das desigualdades contribui mais para o bem-estar geral do que o simples crescimento econômico. Até mesmo o aumento na expectativa de vida não mais ocorre a partir de um determinado nível de renda. Uma controversa equação que contrapõe renda e bem-estar.

Essa conclusão parece bem interessante e podemos até mesmo constatar sua veracidade em uma situação vivida aqui no Brasil pelas nossas denominadas classes privilegiadas. Podemos observar pessoas vivendo em condomínios fechados, contratando seguranças privados, andando em carros blindados. Essa constante preocupação com a segurança estaria reduzindo o bem-estar proporcionado por uma boa renda.

Os médicos ingleses concluem em seu livro que a desigualdade de renda está diretamente associada à piora de indicadores de bem-estar e acaba por causar menor expectativa de vida, aumento na incidência de doenças, maior taxa de homicídios e até mesmo, dizem eles, um incremento da delinqüência juvenil e da gravidez adolescente.

Claro que os indicadores de bem-estar tendem a ser piores para os mais pobres, mas, quanto mais extremas forem as desigualdades, piores serão esses indicadores, e não apenas para os pobres, mas também para os ricos.

Portanto, como eles afirmam, a desigualdade social interfere diretamente no alcance da felicidade. Uma sociedade em que haja menos pobres será uma sociedade mais feliz. Simples assim!

O estudo conclui que a redução nos níveis de desigualdade melhora a vida dos mais pobres, obviamente, mas também contribui para melhorar a daqueles com renda mais alta. Pois proporciona, entre outros avanços, a diminuição dos conflitos e da tensão latente ocasionados por grandes diferenças sociais.

Essa análise vai ao encontro do que discutimos em 17/1, aqui mesmo, neste espaço da CBN, quando falamos da dificuldade das empresas em se comunicar com a nova classe média beneficiada pela migração social dos últimos anos no Brasil. Na ocasião, afirmamos que quebrar paradigmas, vencer preconceitos e buscar os caminhos de um desenvolvimento mais sustentável são bandeiras defensáveis do ponto de vista moral, mas também são condições sine qua non para o futuro dos negócios. São mudanças que beneficiam a todos, empresários, consumidores, enfim, todos os cidadãos brasileiros.

Longe de situar essa análise como um libelo anticapitalista ou até mesmo socialista, o que André Lara Rezende levanta em seu artigo é o limite de satisfação das pessoas proporcionada pelo crescimento econômico. Ele acredita ser possível transitar para uma sociedade menos consumista e mais igualitária sem com isso comprometer o dinamismo de uma economia de mercado ou interferir nas liberdades individuais.

O certo é que, se formos capazes de construir um mundo mais equilibrado, justo e sustentável do ponto de vista social e ambiental, com certeza teremos a chance de garantir uma melhor qualidade de vida para todos os habitantes do planeta.
Temos convicção que, se mais economistas participarem com seriedade do debate, colocando a sustentabilidade no centro das discussões, teremos um aumento significativo da massa crítica, o que será vital para encontrarmos bons caminhos que apontem para um futuro mais desejável.

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Fórum de Davos começa com olhos voltados para a Europa e EUA

Crise econômica que ainda afeta parte do mundo rico se contrapõe a realidade de crescimento dos países emergentes
A 41ª Edição do Fórum Econômico Mundial teve início na última quarta-feira, 26/01, como sempre na cidade de Davos, na Suíça. E o clima é de muitas incertezas diante de problemas, que não são de hoje, mas persistem em preocupar os mais importantes países do mundo, ou seja, dívidas impagáveis, desequilíbrio e guerra cambial, futuro da zona do euro e a desaceleração econômica dos Estados Unidos.

SINAIS OPOSTOS
Quanto à crise mundial alguns dos economistas mais conhecidos e com papéis importantes no cenário da análise econômica mundial inverteram sua percepção sobre o momento atual. O eterno pessimista, Nouriel Roubini, afirmou em Davos que o mundo está saindo da crise, mas chamou a atenção para futuros problemas na produção de alimentos. Enquanto o, se assim podemos chamar, otimista, Joseph Stiglitz, expôs sua preocupação quanto a um recrudescimento da crise econômica.

OTIMISMO EM 2011
O temor de Stiglitz economista detentor do Prêmio Nobel não encontra abrigo na visão dos executivos mundiais. Na véspera da abertura da conferência, a PricewaterhouseCoopers divulgou pesquisa anual sobre a confiança de executivos no futuro da economia. 48% dos 1.201 CEOs consultados em 69 países declararam estar "muito confiantes" sobre crescimento de receitas nos próximos 12 meses --perto do nível de 50% atingido em janeiro de 2008 e bem acima da taxa de 31% vista há um ano. Os brasileiros estão entre os mais otimistas com índice de 68% entre aqueles que esperam contratar mais funcionários neste ano. Por outro lado, 63% dos executivos nacionais disseram temer o aumento de impostos.

EMERGENTES E A NOVA ORDEM MUNDIAL
O otimismo que reina nos países emergentes faz coro com o tema oficial da reunião deste ano, "Normas Compartilhadas para a Nova Realidade", que procura refletir um pouco a nova configuração do mundo com a inserção das potências econômicas emergentes em um lugar de destaque junto aos países desenvolvidos e que tradicionalmente ocupam uma posição de protagonismo nas relações internacionais.

Enquanto o chamado bloco de países ricos, tenta encontrar saídas para os seus sérios problemas econômicos, os países emergentes continuam a desenhar uma nova ordem mundial e a consolidar-se como protagonistas, com o óbvio destaque para o desempenho econômico dos BRICs, nos últimos anos.

Em Davos, os emergentes têm sua própria agenda. Entre elas, querem soluções para suavizar a política monetária dos países desenvolvidos que prejudicam as exportações do bloco e buscam o definitivo reconhecimento como potências econômicas.

MIOPIA PERSISTENTE
Todas essas questões e outras que ainda irão surgir nos debates e encontros das lideranças, apesar de lidarem com problemas reais, ainda tem como base uma ordem antiga e ultrapassada que a cada dia se mostra mais desconectada dos novos tempos.

Podemos considerar como a principal delas, uma visão estanque que considera a solução para problemas nacionais ou na melhor das hipóteses, a busca pelo atendimento pontual de questões ligadas a blocos econômicos.

O anseado protagonismo dos emergentes é apenas um dos muitos sinais de que o mundo vem passando por um processo acelerado de mudanças. A interdependência do planeta deveria ser levada em conta num cenário tão importante quanto o do Fórum de Davos. Pensar que o atendimento de reivindicações de alguns será benéfico para todo o conjunto de países do mundo é parte de uma visão que, no fim das contas, compromete toda a economia do planeta, inclusive, daqueles que se acharam contemplados a priore.

Um momento importante no qual esperamos que os participantes do fórum aproveitem para discutir e refletir a fundo, será o lançamento de uma rede de risco global para que empresas, governos e organizações sejam capazes de enfrentar em conjunto ameaças complexas. A criação dessa rede pode dar origem a um processo de tomada de decisões que envolvam soluções mais globais e menos regionais em todas as esferas das relações entre os países, inclusive, no enfrentamento das questões climáticas.

INSTABILIDADE SOCIAL E CRISE DE ALIMENTOS
Sem uma certeza de ter se livrado da pior crise desde o pós-guerra, o mundo e suas lideranças, ainda demonstram estarem caminhando sem uma direção certa e consistente. Em alguns aspectos, essa indefinição mostra-se perigosa, pois apresenta até mesmo uma tentativa de volta ao discurso neoliberal. O frouxo controle sobre o setor financeiro foi um dos principais pilares da crise que atingiu o mundo nos 3 últimos anos com as graves e conhecidas conseqüências.

Assim como é séria a discussão sobre crises que atingem países do bloco europeu incapazes de pagar suas dívidas, não se podem desconsiderar as crises provocadas pelo aumento no preço dos alimentos e o descontrole inflacionário, como já vem ocorrendo em vários países do mundo. O exemplo mais recente é o da Tunísia que graças a uma revolta geral provocou a queda de um regime que perdurava há 23 anos. Também não devem estar fora da agenda econômica dos países uma séria discussão sobre as mudanças climáticas, o uso racional da água e o investimento em energias limpas.

Ninguém espera do encontro de Davos a solução de todos os problemas atuais, mas que se dêem passos consistentes na direção de um cenário menos caótico e insustentável.

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