quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Por que ainda acredito em Papai Noel

Maurício Gomide Martins*

Durante toda a minha vida acreditei e continuo acreditando na existência de Papai Noel, o bom velhinho. Aquele que vive numa casinha acolhedora assentada em meio às neves dos países nórdicos. Emprega seu tempo todo fabricando, com a maior boa vontade e prazer, brinquedos para as crianças do mundo. Sabe de suas responsabilidades para o final de cada ano e as cumpre com rigor. Nessa época, sai em seu majestático trenó, arrastado pelas sempre fortes, fieis e dedicadas renas na sua viagem pelo globo, semeando alegria e felicidade para os infantes.

Muitas pessoas me perguntam como sou capaz de ser simplório durante tão longo tempo. Respondo que o bom velhinho existe mesmo, pois não há motivo para não existir alguém inteiramente dedicado a fazer brotar a felicidade na alma das cândidas crianças, sejam elas americanas, iraquianas ou afegãs, todas iguais. Já notaram o quanto é sincero e transparente um bebê nas suas expressões faciais? E segue assim enquanto estiver ligado ao círculo familiar. Merece, por isso, ser protegido com afeto e amor pelos pais, até que a força da correnteza social individualista o arranque dali para engrossar seu caudal coletivo, padronizado nos moldes desejados pelo sistema do ganha-ganha.

Todos nós deveríamos acreditar nas boas virtudes do Papai Noel e fazê-las prosperar contra as violências incrustadas na sociedade. As pessoas, em geral, desconhecem o prazer e conforto que me proporciona a fé inabalável na existência do Papai Noel. É de admirar a presteza e satisfação com que o bom velhinho exerce sua função inteiramente gratuita. Conta ele com apenas aquele antigo trenó e indômitas renas que nunca se cansam. Nunca fez acordos espúrios com políticos, sistemas econômicos e jamais praticou a corrupção ou utilizou sua imagem imaculada para outros fins que não fosse o bem. Ele é o baluarte de esperança de todas as futuras gerações.

Eu tenho que acreditar naquela valorosa e perfeita obra celeste, pois a criança que ainda habita meu ser tem todas as condições necessárias para viver num mundo de bondade, solidariedade, honestidade, sinceridade, amor, pureza, autenticidade de sentimentos e senso de justiça e gratidão, principalmente para com nossa mãe Terra que nos fornece todos os recursos necessários à vida; a minha e a de toda a biodiversidade.

Hoje aquele fantástico sonho infantil, que se tornou um ideal, está inteiramente transformado e descaracterizado pelos danosos interesses religiosos e comerciais. As renas foram substituídas por imensos aviões cargueiros; apareceram milhares de falsos Papais Noéis que nada têm a oferecer, senão o estímulo ao consumo. Papai Noel, nesta atual civilização, é uma imagem utilizada como instrumento para arrancar da alma dos incautos todas as formas de desejos de bens materiais. Os brinquedos de outrora, inocentes mas poderosos, que mexiam com a imaginação

infantil, foram expulsos de suas mentes e substituídos por outros modernos, monstruosos, que geram e exigem sentimentos de posse, poder, ganância e violência.

Essa onda insensível e arrasadora que varre, por igual, as mentes das crianças e adultos e que descaracteriza os autênticos valores da racionalidade humana, encontra no verdadeiro Papal Noel a resistência indômita e o abrigo seguro para os que não se conformam com a escravidão mental.

Não obstante o desvirtuamento e exploração mercantil que fazem desse heróico ancião, eu insisto em continuar acreditando no bom velhinho porque nele está a boa e justa causa, sintetizada na honestidade, sinceridade e justiça e que um dia há de suplantar as atuais adversidades.

Neste mundo de tanta hipocrisia, falsidade e destruição de valores, alguém tem que se opor a essa avalanche.

E esse alguém só pode ser o bom e suave velhinho, o verdadeiro Papai Noel da reminiscência de todos nós.

* Maurício Gomide Martins, 82 anos, ambientalista e articulista do EcoDebate, residente em Belo Horizonte(MG), depois de aposentado como auditor do Banco do Brasil, já escreveu três livros. Um de crônicas chamado “Crônicas Ezkizitaz”, onde perfila questões diversas sob uma óptica filosófica. O outro, intitulado “Nas Pegadas da Vida”, é um ensaio que constrói uma conjectura sobre a identidade da Vida. E o último, chamado “Agora ou Nunca Mais”, sob o gênero “romance de tese”, onde aborda a questão ambiental sob uma visão extremamente real e indica o único caminho a seguir para a salvação da humanidade.

Nota: o livro “Agora ou Nunca Mais“, está disponível para acesso integral, gratuito e no formato PDF, clicando aqui.

Fonte: Mercado Ético

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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Rio se espelha em Londres para promover olimpíada sustentável

Londres será a cidade sede da próxima olimpíada e os organizadores estão levando a sustentabilidade a sério em toda a estrutura do evento esportivo. Como o Rio de Janeiro em breve passará pela mesma experiência dos londrinos, as duas metrópoles aproveitaram para trocar experiências e estudar projetos de desenvolvimento sustentável. Além do esporte, as duas cidades têm outra coisa em comum, os problemas com a urbanização. A capital inglesa sofreu com a revolução industrial e os cariocas sofrem com a intensa densidade populacional. Diante desses obstáculos é preciso pensar em estruturas esportivas, mas também considerar os benefícios e melhorias que elas poderão trazer para a população local em longo prazo.

Dan Epstein, chefe inglês de Desenvolvimento Sustentável e Regeneração, explicou que os estádios e demais lugares de competição construídos em Londres poderão ser reciclados após a olimpíada. Exemplo disso é o ginásio que receberá os jogos de basquete, que foi projetado para receber dez mil pessoas, porém sua estrutura pode ser desmontada e reerguida em qualquer
outro lugar.
Outras construções foram projetadas com a possibilidade de redução na capacidade de lugares. Para que sejam adaptados a competições menores. No entanto, mesmo com todo o planejamento que vem sendo feito há anos, os altos valores gastos com as obras britânicas ainda geram muitas críticas.

O custo estimado para as construções é de R$ 26 bilhões. Considerando o fato de que o país ainda passa por uma crise econômica, os críticos aproveitaram para recriminar os valores absurdos que serão gastos para adaptar as estruturas no período pós-olímpico, que podem chegar a 90% do custo de toda a construção.
Os investimentos londrinos, no entanto, não serão usados apenas para a construção das arenas. Os britânicos planejam melhorar a estrutura de energia e transporte na região da vila olímpica. Além disso, os prédios que abrigarão os atletas durante o evento foram construídos no leste de Londres, uma região pouco habitada e com estrutura deficitária, com o intuito de revitalizar e valorizar a área.

A região será equipada com infraestrutura, que vai desde cabos elétricos até pontes e passarelas. A parte boa dessa reestruturação é que após a olimpíada parte da vila será transformada em moradia popular. A área recebeu um centro de energia e 16 quilômetros de tubulação para prover calefação emitindo metade do carbono em relação aos padrões tradicionais.

Os intercâmbios Londres-Rio serviram para que a cidade brasileira definisse metas sustentáveis desde o planejamento das estruturas. O embaixador britânico em Brasília, Alan Charlton, explicou que é importante considerar a sustentabilidade desde o primeiro minuto, pois não é possível adicioná-la depois. “Por isso é importante fazer isso agora no Rio de Janeiro, antes de construir mais para os jogos de 2016”, finalizou o embaixador.

Fonte: Movimento Nossa São Paulo, com informações da Folha

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segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

2010 foi bom para o desenvolvimento sustentável?

Por Paulo Itacarambi

Lendo as manchetes dos principais jornais, neste final de ano, temos a impressão de que nada mudou de fato. No entanto, fazendo uma avaliação mais profunda e menos apressada, podemos verificar que há, sim, o que comemorar em alguns temas muito importantes para a sociedade sustentável que queremos construir.


No que se refere ao meio ambiente, por exemplo, um dos fatos mais relevantes deste final de ano foi a entrada em vigor, em 10 de dezembro último, do decreto 7390/2010, que regulamenta a Política Nacional de Mudanças do Clima. O decreto estabelece que o Brasil deve chegar a 2020 emitindo, no máximo, 2,06 bilhões de toneladas de carbono por ano e informando o estágio de cumprimento dessa meta, por meio do relatório anual de emissões do país. Com a regulamentação dessa política, o Brasil se torna o primeiro país em desenvolvimento a estabelecer um limite para os seus níveis de emissões.

Vale lembrar que a meta estabelecida em lei e regulamentada por esse decreto é voluntária. Cada setor da economia terá que apresentar um plano de ações até o final de 2011. Os planos serão revisados a cada três anos e poderão servir de base para um mercado nacional de crédito de carbono. Dessa forma, os setores que conseguirem emitir abaixo da meta estipulada poderão vender créditos para os que tiverem mais dificuldade em reduzir suas emissões.

A meta voluntária assumida pelo governo brasileiro representa uma vitória para as empresas reunidas no Fórum Clima, as quais, em 2009, lançaram a Carta Aberta ao Brasil sobre Mudanças Climáticas. Neste documento, elas assumiram voluntariamente o compromisso de reduzir suas emissões de gases de efeito estufa e incentivaram o governo brasileiro a fazer o mesmo. Um pouco antes da COP 15, em Copenhague, o presidente Lula anunciou as metas de redução para o país: entre 36 e 38% das emissões previstas até 2020.

No fim de 2009, o presidente sancionou a Política Nacional de Mudanças do Clima, que estabelece não só as metas de redução, mas uma agenda de redução para os diversos setores da economia. Este ano, foi a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, quem anunciou, em Cancún, durante a COP 16, a regulamentação dessa política, por meio do decreto 7390/2010.

Com o sucesso da iniciativa sobre a redução de carbono, as empresas resolveram agir, também voluntariamente, em outro tema estratégico para o desenvolvimento sustentável: a proteção da biodiversidade no país. Assim, em 23 de setembro, pouco antes da 10ª. Conferência das Nações Unidas sobre Biodiversidade (COP 10), as empresas Alcoa, CPFL, Natura, Philips, Vale e WalMart lançaram o Movimento Empresarial pela Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade (MEB), com apoio de várias entidades – o Ethos, a Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje), o Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV (GVCes), a Conservação Internacional (CI), o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), o Instituto Akatu, o Instituto de Pesquisas Ecológicas (Ipê), a União para o Biocomércio Ético (UEBT) e a WWF-Brasil.

O MEB publicou a Carta Empresarial pela Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade, na qual os signatários se comprometem, entre outras ações, a adotar, em suas estratégias e nas das respectivas cadeias de valor, os princípios e objetivos definidos na Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) das Nações Unidas e a contribuir para o estabelecimento de metas nacionais de preservação e uso sustentável da biodiversidade.

Na luta anticorrupção, a participação das empresas também foi decisiva para os avanços que a sociedade obteve em 2010. Foi um ano eleitoral e a sociedade brasileira mobilizou-se pelas candidaturas “ficha limpa”. Primeiro, com a aprovação da Lei da Ficha Limpa, projeto que surgiu principalmente da iniciativa do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) e da Articulação Brasileira contra a Corrupção e a Impunidade (Abracci), que recolheram 1,3 milhão de assinaturas em favor do projeto de lei encaminhado ao Congresso. Como se sabe, a Lei da Ficha Limpa impede a candidatura de políticos condenados pela Justiça em decisão colegiada. Em que pesem as decisões judiciais em favor de alguns políticos, essa lei “pegou” e deve incentivar o cidadão a escolher melhor os seus representantes no Congresso Nacional.

Graças também à mobilização, o MCCE e a Abracci criaram o portal Ficha Limpa, que funcionou durante toda a campanha eleitoral do primeiro turno, no qual os candidatos à presidência da República, Senado e Câmara dos Deputados puderam voluntariamente se cadastrar e informar as doações e os gastos de campanha. Apenas 77 candidatos (um à presidência, oito ao Senado e 68 a deputado federal) se inscreveram e atualizaram as informações semanalmente, como pedia o regulamento do portal. No entanto, em 65 dias de funcionamento, até 1º. de outubro, dia das eleições do primeiro turno, foram recebidas 470.775 visitas e 2.846.000 page views. A média diária de acessos ao site, na última semana antes do primeiro turno, ultrapassou 15 mil acessos por dia, mostrando aos candidatos que a sociedade está atenta ao financiamento de campanha. Pode ser um bom indício de que pretende acompanhar melhor a atuação dos parlamentares no Congresso.

A luta anticorrupção ainda teve alguns marcos importantes neste final de ano. Em 9 de dezembro, Dia Internacional de Combate à Corrupção, foi lançada uma iniciativa de e para empresas que fará avançar a integridade e a luta anticorrupção no mercado e nas relações com o setor público. É o Cadastro Empresa Pró-Ética, que avalia e divulga as empresas voluntariamente engajadas na construção de um ambiente de integridade e confiança nas relações comerciais, inclusive naquelas que envolvem o setor público.

Enfim, 2010 foi um ano de estabelecimento de alguns marcos importantes que vão servir de referência para a mobilização das empresas e da sociedade em 2011. Por isso, desejamos a todos um Natal de muita paz, pois a cidadania avançou.

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