sexta-feira, 18 de março de 2011

A destruição no Japão: as análises econômicas da catástrofe causam indignação

Os terremotos, a tsunami e a catástrofe nuclear afetam milhões de pessoas no Japão e terão impacto longo sobre o bem estar da população japonesa, mas Banco Mundial prevê queda limitada no PIB japonês, que é de cinco trilhões de dólares. E o economista Paul Krugman considera que a economia global pode até crescer e sair da recessão, por causa destas tragédias. Ele lembra que a 2ª. Guerra acabou com a crise de 1929.

Estas constatações levantam novamente a pergunta: para que serve o PIB? Qual a contribuição para a melhoria do bem estar das pessoas? E, afinal, a economia existe para nos servir ou nós é que servimos aos interesses econômicos?


Análise do mercado:

o PIB do Japão não vai cair...


Nem bem os terremotos haviam cessado e os analistas do Banco Mundial já vinham a público com suas previsões. Na segunda-feira, quando os japoneses ainda acordavam do pesadelo do final de semana, o economista-chefe do Banco Mundial, Justin Lin, deu uma entrevista na Universidade de Johanesburgo, na África do Sul, dizendo que: “Haverá perda do PIB, mas, de acordo com nossas estimativas, ela não será tão grande. E,também, com a reconstrução, eles podem aumentar a taxa de crescimento do país após seis meses”.

...e o de outros países vai subir
Na terça-feira, em artigo divulgado mundialmente por vários veículos de comunição, o economista Paul Krugman afirmou que, afinal, “a vida e os negócios continuam”. Por isso, a catástrofe japonesa pode acabar por incentivar o crescimento das economias de outros países. Por um bom tempo, o Japão precisará importar capitais e outras mercadorias, estimulando as indústrias de outros países e a recuperação de algumas moedas, já que bembém a taxa de juros internacional pode subir.

"Por mais doído que seja", diz Krugman, "é a vida seguindo seu curso".

Se ele e o Banco Mundial tentaram “acalmar” os mercados, aparentemente não funcionou, pois a semana registrou a maior fuga de capitais do Japão já registrada pela bolsa de Tóquio. Isto é, quando a economia japonesa mais precisaria de recursos para poder funcionar com eficiência mínima, o dinheiro “sumiu” – indo para os mercados promissores? - prometendo “voltar” quando a reconstrução, que deverá levar no mínimo cinco anos, estiver em andamento.

A economia existe para nos servir ou estamos servindo a ela?

De qualquer forma, o ponto a ressaltar é o seguinte: milhões de famílias perderam bens e entes queridos, empresas viraram escombros, um número ainda desconhecido de pessoas está sem emprego, o país quase em colapso energético e o PIB não vai cair muito. Então, para que ele serve? A quem ele serve? Vale a pena refletir sobre estas perguntas, por que o destino de nossa espécie pode estar nas respostas adequadas que dermos a elas.

O que é o PIB?

O PIB, Produto Interno Bruto, representa a soma representa a soma (em valores monetários) de todos os bens e serviços finais produzidos numa determinada região (quer seja, países, estados, cidades), durante um período determinado (mês, trimestre, ano, etc). Ele é, portanto, uma medida apenas financeira que não leva em conta fatores como: danos ambientais; diferenças na distribuição de renda, origem; natureza e qualidade dos bens e serviços finais; atividades produtivas informais, como trabalho doméstico e trabalho voluntário.

Por isso, um país pode ter um PIB alto, mas a sociedade ser desigual e a população não necessariamente desfrutar de um bom nível de vida e de bem estar. Ou, o PIB pode cair e as condições de vida dos cidadãos, melhorar.

Esta medida foi desenvolvida pelo economista Simon Kuznets e passou a ser utilizada como indicador geral de crescimento econômico após a 2ª. Guerra, para que fosse possível comparar o desempenho dos diversos países por um só parâmetro.

Para seu próprio criador, o PIB tinha limitações sérias, justamente por não poder avaliar o “bem estar” de uma nação, como os cidadãos se sentiam em relação aos bens e serviços que lhe eram oferecidos. Mas, as contestações começaram a ficar mais consistentes na Cúpula da Terra da Organização das Nações Unidas (ONU) no Rio de Janeiro, em 1992, e também ficaram evidentes na conferência do Parlamento Europeu sobre o tema "Considerando a natureza", em 1995. Em novembro de 2007, o Parlamento Europeu abordou novamente o assunto e o presidente da União Européia, José Manuel Barroso, deu a tônica em um debate sobre o tema "Mais além do PIB" perante quase 700 parlamentares.

Novo PIB – Comissão Sarkozy

O PIB não mede o real estado das nações, por isso, as sociedades buscam alternativas ao PIB, no intuito de saberem para onde devem ir.

Uma destas alternativas é o estudo que a Comissão Stiglitz-Sen desenvolveu. Também conhecida como Comissão Sarkozy, porque foi idealizada pelo presidente francês Nicolas Sarkozy, ela reuniu 27 membros, entre os mais renomados economistas e especialistas do mundo, que foram divididos em três grupos. Um grupo analisou os problemas clássicos do PIB; outro, questões de sustentabilidade; e outro, qualidade de vida, que envolve uma discussão mais subjetiva sobre “felicidade”.

A idéia não é “acabar” com o PIB, mas agregar a ele outros indicadores para a “riqueza das nações”, citando Adam Smith. Para o economista José Eli da Veiga, num futuro próximo haverá três indicadores para medir o desempenho de um país; o financeiro (PIB tradicional), o social e o ambiental. Então, vamos ter países (ou estados, ou cidades) que, em determinando período apresentarão bom desempenho financeiro, mas terão passivos ambientais e sociais a enfrentar. Então, este não é um país “bem resolvido”. Juntar os três índices num só ainda é ambição para um futuro distante, num outro mundo possível.

E daí?

A economia mundial gera recursos suficientes para acabar com a fome e a miséria a devastação ambiental e a corrupção. No entanto, tais recursos nunca são diretamente direcionados a estes fins. Por quê? Por que nunca se olhou para a fome da África como oportunidade? E por que a tragédia no Japão pode até fazer o crescimento econômico aumentar? Porque as decisões estão amarradas aos parâmetros do PIB. Precisamos encontrar uma nova forma de fazer a contabilidade das nações, de modo que o crescimento econômico passe a servir o “bem estar” da sociedade. O relatório da Comissão Sarkozy sugere alguns caminhos para se chegar a este objetivo:

- avaliação líquida e não bruta das atividades econômicas, de modo que extração de recursos naturais e impactos ambientais sejam levados em conta.

- inclusão de atividades fora do mercado na contabilidade nacional

- considerar atividades domésticas e levar em conta o padrão de vida das pessoas, por meio da avaliação de oito critérios: saúde, educação, condições de trabalho (incluindo tempo de deslocamento, lazer e moradia), influência política e governança, convívio (possibilidades de conexões sociais), condições ambientais, insegurança pessoal (criminalidade, acidentes e desastres naturais), e insegurança econômica (desemprego, seguro-saúde, aposentadoria e pensões).

A verdadeira riqueza e o progresso das nações não podem ser quantificados apenas em dinheiro. A tragédia do Japão vem ratificar esta certeza. Precisamos de outra economia e, para isso, de novos indicadores que nos ajudem a construí-la.

Leia Mais?

Projeto Jogos Limpos Dentro e Fora dos Estádios busca transparência e integridade para Copa do Mundo e Olimpíadas no Brasil

No dia 23 de março de 2011, o projeto Jogos Limpos Dentro e Fora dos Estádios apresenta o seu Comitê Nacional de Coordenação, composto por organizações que estão atuando na promoção de uma agenda pela integridade, transparência e legado socioambiental da realização dos megaeventos no Brasil.

O projeto Jogos Limpos conta com o apoio da Siemens Integrity Initiative e busca aumentar os níveis de transparência, integridade e controle social dos investimentos nas obras de infraestrutura da Copa de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016.

O Comitê Nacional de Coordenação do projeto tem o papel de orientar as atividades propostas e convergir agendas das demais iniciativas em andamento que tratam dos jogos, tais como impactos nas áreas de educação, políticas públicas de esporte, meio ambiente, trabalho decente e cidades sustentáveis. Estão confirmados para o evento os representantes do comitê: Izabela Moreira Corrêa (Controladoria-Geral da União - CGU), Glaucia Barros (Fundacão Avina), Aloísio Soares (Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia - Confea), Mauricio Broinizi Pereira (Rede Nossa São Paulo e Rede Social Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis), Raí Oliveira, Victor Barau e Daniela Castro (Atletas pela Cidadania), Bo Mathiasen (Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime - UNODC), Jorge Sanchez (Amarribo Brasil) e Paulo Itacarambi (Instituto Ethos). O Escritório do Pacto Global da ONU, o Conselho Brasileiro de Construção Sustentável e o Instituto Observatório Social também integram o Comitê Nacional de Coordenação.

SERVIÇO

O quê: Apresentação do projeto “Jogos Limpos Dentro e Fora dos Estádios”;
Quando: 23 de março de 2011;
Horário: Das 08h30 às 11h00;
Local: Sede da Fecomércio;
Endereço: Rua Doutor Plínio Barreto, 285, Bela Vista – São Paulo (SP);
Inscrições: Para inscrever-se, clique aqui.

Organizações do Comitê Nacional de Coordenação do projeto Jogos Limpos: Instituto Ethos, Atletas pela Cidadania, Controladoria-Geral da União - CGU, Fundação AVINA, rede Amarribo, Conselho Brasileiro de Construção Sustentável - CBCS, Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia – Confea, Rede Social Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis, Escritório das Nações Unidas para Drogas e Crime – UNODC, Central Única dos Trabalhadores – CUT e Instituto Observatório Social.

Leia Mais?

Que aprendizado a tragédia do Japão nos proporciona?

Uma cultura que realça valores como tradição, disciplina e solidariedade ajuda a proteger vidas e a construir uma sociedade sustentável.

Pode a cultura de um povo ajudá-lo a enfrentar tragédias, aprender com elas e superar os problemas? Sim, pode. É o que podemos depreender das sucessivas catástrofes que vêm atingindo o Japão desde a última sexta-feira (11/3).

O Japão, como boa parte do Extremo Oriente, está sujeito a terremotos e tsunâmis. Só para lembrar a história recente, um terremoto de 7,2 graus na escala Richter atingiu a cidade de Kobe, importante centro econômico japonês. Foi o primeiro a atingir maciçamente uma área urbana densamente povoada no país. O abalo durou 20 segundos, destruiu a infraestrutura da cidade, moradias, hospitais e escolas, matando 6.437 pessoas e deixando 222.127 desabrigados, que precisaram se refugiar em locais provisórios por um longo período, até suas casas serem reconstruídas.

A exatidão dos números mostra o cuidado com que o Estado japonês lida com a situação. E como aprende com elas. A tragédia de Kobe passou a fazer parte dos livros escolares e das aulas de todas as matérias curriculares, do ensino fundamental aos cursos universitários. Aos alunos das escolas fundamentais, os professores de cada matéria realçam como se deve reagir quando a terra tremer, onde buscar abrigo, a quem pedir socorro e como ajudar outras pessoas, caso não seja um dos atingidos. A mensagem que se pretende incutir em cada cidadão é a seguinte: não se pode evitar esses eventos naturais, mas é possível reduzir e até zerar as mortes e a destruição.

Essa lição foi assimilada tanto pelo Estado quanto pela sociedade japonesa e, pelos relatos que chegam até nós, vem sendo posta em prática na tragédia atual. Na sexta-feira, um tremor de 8,9 graus na escala Richter – o maior já registrado em 140 anos de medição no país –, com epicentro a 125 km da costa noroeste do Japão, provocou um tsunâmi e deslocou o eixo da Terra em 10 centímetros.

As cidades de Fukushima, Miyaki, Iwate e Ibaraki foram atingidas em cheio pelas ondas de mais de 7 metros e pelos tremores. No entanto, quase 9 milhões de habitantes foram salvos pelas medidas preventivas e pela solidariedade dos habitantes que se prontificaram a receber em suas casas os concidadãos atingidos. Até agora, foram oficialmente contabilizadas 1.627 mortes, mas esse total pode chegar a 5.000. Há 450 mil desabrigados. O terremoto no Haiti, de 7 graus, matou 230 mil pessoas.

O que faz a diferença? Primeiro, instituições confiáveis aos olhos da sociedade. Assim, quando os alertas foram lançados pelos meios de comunicação, a população acreditou. Em segundo lugar, a solidariedade. De imediato, equipamentos públicos foram postos à disposição dos potenciais atingidos. E também as casas particulares de cidadãos desconhecidos, que se ofereceram para dar abrigo.

É de se notar ainda a disciplina e o planejamento. Entre o anúncio do tremor e a formação da primeira onda gigante que varreu Fukushima, passaram-se não mais do que 15 minutos. Esse tempo foi suficiente para a população ser alertada e procurar abrigo em construções de concreto ou em prédios acima de três andares. Moradores desses locais abriram suas portas a desconhecidos. Todos conhecem rotas seguras para chegar aos refúgios, as quais, prevendo-se desastres, são bem sinalizadas.

Todos os veículos de comunicação divulgam as áreas de risco e como evitá-las. E as autoridades também põem à disposição um site e um telefone (que funcionam) para pedidos de ajuda.

Ainda sobre a educação do povo, todos sabem que não podem acender fogo depois dos tremores, para não causar incêndios por causa dos vazamentos de gás, piorando a situação. Daí as notícias que lemos a respeito de pessoas que estão ao relento ou em casas sem eletricidade, num frio próximo a zero grau.

Outro dado interessante: quando o tremor ocorreu, centenas de milhares de pessoas usavam transporte público. Seguindo as orientações já conhecidas desde a escola, ficaram sentadas em seus lugares, esperando ordens de evacuação, sem ansiedade ou quebra-quebra. E, tirando o roubo de algumas centenas de bicicletas – o único meio de transporte na destruição que se verificou –, não houve outras ocorrências, como saques ou violência, a exemplo do que ocorreu durante os recentes terremotos no Haiti e no Chile.

Os desabrigados tampouco se sentem sozinhos. Passado o tremor, começam a distribuição de água, mantimentos e cobertores, e os donativos que chegam são rapidamente distribuídos por um sistema de logística específico.

Outra diferença importante no caso do Japão é a atitude dos políticos, do primeiro-ministro aos representantes municipais. Todos se preocupam em informar a população sobre a real extensão dos eventos e as medidas adotadas, ouvindo ao vivo críticas ou sugestões.
A primeira medida de reconstrução anunciada é o investimento em mais pesquisas tecnológicas para diminuir as perdas humanas e os prejuízos financeiros. A outra é rever as já rígidas normas de ocupação do solo e as regras sobre a qualidade das construções, com o intuito de deslocar as edificações (e as pessoas) para áreas consideradas mais seguras.

Nós, no Brasil, não temos terremotos, felizmente. Mas andamos sofrendo demais com as enchentes. Deveríamos ter a humildade oriental para assimilar o máximo possível dessas lições, a fim de evitar as tragédias anunciadas de todo verão.

Leia Mais?

quinta-feira, 17 de março de 2011

Fórum Clima discute agenda sobre mudanças climáticas

Seminário reuniu nesta terça-feira (15/3), em Brasília, empresas e governos para discutir o papel de cada um na redução dos gases de efeito estufa.

O Fórum Clima – Ação Empresarial sobre Mudanças Climáticas realizou nesta terça-feira (15/3), em Brasília, um seminário em que se discutiram as ações dos governos estaduais e federal para integrar as políticas locais com a Política Nacional sobre Mudanças do Clima (PNMC), bem como sobre o andamento dos planos setoriais, em que a contribuição das empresas é fundamental.

O encontro contou com a presença, entre outros, de Izabella Teixeira, ministra do Meio Ambiente, de Carlos Nobre, do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), e de representantes dos governos dos Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, de ONGs e de empresas participantes do Fórum Clima.

Seminários como este vêm sendo organizados periodicamente pelo Fórum Clima como maneira de verificar as ações já adotadas para atingir a meta de redução dos gases de efeito estufa, tanto na área governamental quanto nas empresas, e aprofundar as discussões sobre temas-chaves para o sucesso das políticas sobre mudanças do clima.

No final de 2009, durante um evento semelhante, as empresas do Fórum Clima lançaram a Carta Aberta ao Brasil sobre Mudanças Climáticas, em que sugeriam medidas para regulamentar a PNMC. A principal delas, que é integrar essa política com os diversos planos estaduais, foi discutida mais detalhadamente no seminário de ontem.

Tanto as empresas quanto os representantes dos governos estaduais e de órgãos federais concordam que é preciso haver consenso e integração de metas, de indicadores e de marcos regulatórios adotados por cidades, pelos Estados e pela União. Explicando: a lei federal se compromete com a redução de até 38% das emissões projetadas até 2020. As leis estaduais assumem redução sobre emissões passadas – no caso, de 2005. É preciso harmonizar o conceito sobre o qual se construirá a proposta definitiva de redução de carbono. As mudanças do clima têm uma característica: elas não se limitam a fronteiras. Por isso, mais do que nunca, os esforços precisam ser conjuntos e combinados.

Outro ponto ressaltado pelos presentes foi a necessidade de se desenvolverem tecnologias para ajudar não só na redução de carbono como também na transição para uma nova economia, que seja inclusiva, verde e responsável. O representante do MCT, Carlos Nobre, observou que, hoje, os temas de sustentabilidade e inovação estão inseridos na pauta do governo federal. E que o ministério, por meio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), vai apoiar as inovações que reduzam emissões e também contribuam para a transição da economia. Nobre vai mais longe: ele quer que o Brasil se transforme numa verdadeira “indústria de conhecimento” sobre sustentabilidade, calcada na riquíssima biodiversidade que possuímos.

A ministra Izabella Teixeira ressaltou, por sua vez, que o esforço de todos os engajados no movimento em prol da sustentabilidade é o de colocar o tema no centro do planejamento do país. Para isso, os governos e também as empresas precisam quebrar o paradigma de que respeito ao meio ambiente, inclusão social e crescimento econômico não andam juntos.

O seminário reforçou a confiança dos presentes de que o Brasil pode ter liderança internacional na construção de uma agenda pelo desenvolvimento sustentável. O setor privado brasileiro, todavia, precisa engajar-se mais, conscientizando-se de que só tem a ganhar se o Brasil realmente consolidar-se como líder global no tema.

Se ainda há uma “maioria silenciosa” que assiste a tudo e não age, é também verdade que um grupo considerável de empresas vem alavancando o processo no governo e na sociedade, o que demonstra ampla visão de longo prazo.

O Fórum Clima é um exemplo de como a iniciativa privada já contribuiu para o avanço do tema em nosso país. Constitui o grupo de trabalho criado para acompanhar os compromissos da Carta Aberta ao Brasil sobre Mudanças Climáticas. É composto por empresas e organizações que acreditam que o setor empresarial pode dar uma contribuição decisiva para que o mundo realize a necessária transição para uma economia de baixo carbono, aproveitando novas oportunidades de negócios e reduzindo significativamente os impactos negativos das mudanças climáticas sobre o planeta. O grupo conta com a participação de 17 empresas e duas organizações apoiadoras. O Instituto Ethos é responsável pela secretaria executiva do projeto.

A Carta Aberta ao Brasil sobre Mudanças Climáticas foi lançada em agosto de 2009 por lideranças empresariais que, por meio do documento, assumiam o compromisso voluntário de reduzir suas emissões de carbono até 2020 e incentivavam o governo federal a fazer o mesmo. Com isso, o Brasil foi um dos poucos países a assumir publicamente, na Conferência do Clima de Copenhague, a meta nacional de redução de carbono de 38%, até 2020.

Por Cristina Spera (Instituto Ethos)

Leia Mais?

segunda-feira, 14 de março de 2011

Entendendo a governança corporativa

É muito comum as empresas associarem a sustentabilidade à governança corporativa. Nos últimos anos ela ganhou projeção e entrou de vez no dicionário empresarial na medida em que escândalos contábeis viraram quase uma rotina. Mas afinal, qual o seu significado e por que a proximidade com a sustentabilidade?

Uma boa definição de governança corporativa é dada pelo IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa): “sistema pelo qual as organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre proprietários, conselho de administração, diretoria e órgãos de controle.” Traduzindo de forma simplista: é o conjunto de leis que regulamentam a forma de uma empresa ser administrada, fundamentando os princípios da transparência. Seria como o responsável por regras e procedimentos para a gestão das sociedades de capital aberto.

Entendamos a importância da governança: lembram-se do escândalo da Enron e da WorldCom, em 2001 ou 2002, se não me engano? O que aconteceu ali? Empresas de capital aberto são obrigadas a tornarem público seus relatórios financeiros. Executivos das empresas, com o objetivo de mostrar uma saúde financeira que não tinham, durante algum tempo divulgaram lucros fictícios para mostrarem perenidade nos negócios e assim manterem suas ações valorizadas.

As fraudes foram descobertas, o mercado ficou abalado, uma crise de confiança se instalou e vários culpados foram identificados, dentre contadores, escritórios de advocacia, instituições financeiras, empresas de auditoria e, é claro, os próprios executivos. Por conta do impacto negativo, em 2002 o governo americano aprovou a lei Sarbanes-Oaxley, exigindo ainda mais transparência na divulgação dos relatórios financeiros e punindo severamente os que cometessem infrações.

Mas voltando para relação da sustentabilidade e da governança corporativa. E quando uma empresa tem capital fechado? Como tratar da transparência em empresas que não são obrigadas a divulgarem seus balanços contábeis? Basta lembrarmos-nos do show de horror que são os relatórios de sustentabilidade, cuja publicação é voluntária e não auditada.

Não teria uma resposta pronta para dizer como uma empresa deve ser transparente quando ela não tem obrigação de ser. Isso vai muito mais dos valores corporativos do que um procedimento padrão. Mas de qualquer forma, independente da natureza societária, transparência é princípio básico de qualquer empresa que queira de dizer sustentável. Princípio básico, não a sustentabilidade inteira.

Vale lembrar que adotar os princípios da governança não quer dizer muita coisa para a sociedade como um todo, pois ela só trata de informações financeiras. Transparência vai muito além de colocar no site um relatório que pessoas leigas sequer entendem. Portanto, não se iludam quando aparecer grandes empresas falando que sua política de sustentabilidade é fazer uso de boas práticas de governança corporativa. Balela e greenwashing. Punam essas empresas. Governança corporativa é nada mais do que obrigação. E só.

Fonte: Blog Sustentabilidade Corporativa - Um olhar sustentável sobre o mundo empresarial

Leia Mais?

Erradicação da pobreza e vontade política das empresas

Por Sérgio Mindlin*

O governo federal tem como objetivo expresso erradicar a miséria do país e, por meio do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, está construindo um plano com políticas públicas especiais voltadas para mulheres e crianças. O foco será a ampliação da renda feminina, o aumento da oferta de serviços de públicos, como creches, pré-escola e postos de saúde, e a qualificação profissional e capacitação para o empreendedorismo.

O Executivo reconhece nas mães, mais do que nos pais, a disposição e o compromisso de zelar pela educação dos filhos e pela manutenção da estrutura familiar. Assim, desde o governo Lula a mulher vem sendo a principal destinatária das políticas sociais e assistenciais. O dinheiro do Bolsa Família, o imóvel do Minha Casa, Minha Vida e o crédito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) ficam com as mulheres e ajudam a criar um ambiente mais favorável à mudança da condição feminina na sociedade brasileira.

Os programas especiais para erradicação da pobreza que o governo federal deve anunciar até maio vão aprofundar essa mudança e, certamente, terão efeitos também entre as camadas sociais que não são diretamente beneficiadas por essas políticas.

Na verdade, trata-se de reconhecer o que as estatísticas já apontam: nas últimas décadas, aumentou a participação da mulher em todos os âmbitos da sociedade. Ela vem ocupando mais espaço na política e na economia, tem mais anos de estudo que os homens, é maioria entre os universitários e, cada vez mais, tem a função de “chefe de família”. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 35% dos lares brasileiros, ou 21 milhões de famílias, são chefiados por mulheres, mesmo estando casadas. Aliás, 14% dos casais com ou sem filhos têm na mulher a principal referência, afirma o Ipea.

No mercado de trabalho, a participação feminina chegou a 56,2% em 2010, de acordo com dados divulgados no final de fevereiro pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Elas também possuem escolaridade maior que a dos homens. Entre a população economicamente ativa, 17,1% das mulheres possuem curso superior completo, contra 13% dos homens.

No entanto, como também revela a pesquisa do Dieese, as mulheres continuam ganhando menos do que os homens. Em média, elas recebem 75,7% do valor pago aos homens para exercerem as mesmas funções. Para os cargos que exigem nível superior, a diferença é ainda maior: elas ganham apenas 63,8% do salário pago a eles para as mesmas funções.

Se analisarmos o perfil hierárquico das 500 maiores empresas do país, vamos verificar outro paradoxo: o Brasil que elegeu uma mulher para o mais alto cargo executivo da República não tem representação feminina significativa no alto escalão de nenhuma grande empresa do país. De acordo com a edição de 2010 da pesquisa “Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas do Brasil e Suas Ações Afirmativas”, realizada pelo Instituto Ethos e pelo Ibope, as mulheres têm 31% de representação no quadro funcional, 26,8% em nível de supervisão, 22,1% na gerência e 13,7% no quadro executivo das grandes empresas.

Entre as 500 maiores, encontram-se algumas dezenas de empresas fortemente engajadas no movimento da responsabilidade social, com ações concretas para tornar os negócios parceiros do desenvolvimento sustentável no país. Mas a representação das mulheres em nível de comando ainda é mínima.

Tanto isso é verdade que, se pedirem para alguém citar uma mulher na presidência de uma grande empresa brasileira, quem seria lembrada? Talvez Luíza Helena Trajano, do Magazine Luíza, ou Maria Fernanda Ramos Coelho, da Caixa Econômica Federal. Há também Dilma Pena, da Sabesp, Anita Harley, das Casas Pernambucanas, e Anna Christina Ramos Saicali, da B2W, atualmente a maior empresa de comércio varejista on-line da América Latina, fruto da fusão entre a Americanas.com e a Submarino.com.

Como vimos, a agenda que o governo federal está estabelecendo para erradicar a pobreza será fundamentalmente feminina, com foco na transferência de renda e ampliação de oportunidades para as mulheres. Esta é a hora, então, de as empresas fazerem sua parte e, de uma vez por todas, terem como meta a equidade de gênero. Adotar esse princípio como fator crítico de sucesso é questão de vontade política da gestão, bem como de estabelecer metas e não se desviar delas.

O Brasil caminha para ser a quinta economia global. Não pode permanecer como uma das sociedades mais desiguais do mundo. A promoção da equidade nas empresas é um passo decisivo para o desenvolvimento econômico andar junto com o progresso social.

* Sérgio Mindlin é diretor-presidente da Fundação Telefônica e presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos.

Leia Mais?