sexta-feira, 18 de março de 2011

A destruição no Japão: as análises econômicas da catástrofe causam indignação

Os terremotos, a tsunami e a catástrofe nuclear afetam milhões de pessoas no Japão e terão impacto longo sobre o bem estar da população japonesa, mas Banco Mundial prevê queda limitada no PIB japonês, que é de cinco trilhões de dólares. E o economista Paul Krugman considera que a economia global pode até crescer e sair da recessão, por causa destas tragédias. Ele lembra que a 2ª. Guerra acabou com a crise de 1929.

Estas constatações levantam novamente a pergunta: para que serve o PIB? Qual a contribuição para a melhoria do bem estar das pessoas? E, afinal, a economia existe para nos servir ou nós é que servimos aos interesses econômicos?


Análise do mercado:

o PIB do Japão não vai cair...


Nem bem os terremotos haviam cessado e os analistas do Banco Mundial já vinham a público com suas previsões. Na segunda-feira, quando os japoneses ainda acordavam do pesadelo do final de semana, o economista-chefe do Banco Mundial, Justin Lin, deu uma entrevista na Universidade de Johanesburgo, na África do Sul, dizendo que: “Haverá perda do PIB, mas, de acordo com nossas estimativas, ela não será tão grande. E,também, com a reconstrução, eles podem aumentar a taxa de crescimento do país após seis meses”.

...e o de outros países vai subir
Na terça-feira, em artigo divulgado mundialmente por vários veículos de comunição, o economista Paul Krugman afirmou que, afinal, “a vida e os negócios continuam”. Por isso, a catástrofe japonesa pode acabar por incentivar o crescimento das economias de outros países. Por um bom tempo, o Japão precisará importar capitais e outras mercadorias, estimulando as indústrias de outros países e a recuperação de algumas moedas, já que bembém a taxa de juros internacional pode subir.

"Por mais doído que seja", diz Krugman, "é a vida seguindo seu curso".

Se ele e o Banco Mundial tentaram “acalmar” os mercados, aparentemente não funcionou, pois a semana registrou a maior fuga de capitais do Japão já registrada pela bolsa de Tóquio. Isto é, quando a economia japonesa mais precisaria de recursos para poder funcionar com eficiência mínima, o dinheiro “sumiu” – indo para os mercados promissores? - prometendo “voltar” quando a reconstrução, que deverá levar no mínimo cinco anos, estiver em andamento.

A economia existe para nos servir ou estamos servindo a ela?

De qualquer forma, o ponto a ressaltar é o seguinte: milhões de famílias perderam bens e entes queridos, empresas viraram escombros, um número ainda desconhecido de pessoas está sem emprego, o país quase em colapso energético e o PIB não vai cair muito. Então, para que ele serve? A quem ele serve? Vale a pena refletir sobre estas perguntas, por que o destino de nossa espécie pode estar nas respostas adequadas que dermos a elas.

O que é o PIB?

O PIB, Produto Interno Bruto, representa a soma representa a soma (em valores monetários) de todos os bens e serviços finais produzidos numa determinada região (quer seja, países, estados, cidades), durante um período determinado (mês, trimestre, ano, etc). Ele é, portanto, uma medida apenas financeira que não leva em conta fatores como: danos ambientais; diferenças na distribuição de renda, origem; natureza e qualidade dos bens e serviços finais; atividades produtivas informais, como trabalho doméstico e trabalho voluntário.

Por isso, um país pode ter um PIB alto, mas a sociedade ser desigual e a população não necessariamente desfrutar de um bom nível de vida e de bem estar. Ou, o PIB pode cair e as condições de vida dos cidadãos, melhorar.

Esta medida foi desenvolvida pelo economista Simon Kuznets e passou a ser utilizada como indicador geral de crescimento econômico após a 2ª. Guerra, para que fosse possível comparar o desempenho dos diversos países por um só parâmetro.

Para seu próprio criador, o PIB tinha limitações sérias, justamente por não poder avaliar o “bem estar” de uma nação, como os cidadãos se sentiam em relação aos bens e serviços que lhe eram oferecidos. Mas, as contestações começaram a ficar mais consistentes na Cúpula da Terra da Organização das Nações Unidas (ONU) no Rio de Janeiro, em 1992, e também ficaram evidentes na conferência do Parlamento Europeu sobre o tema "Considerando a natureza", em 1995. Em novembro de 2007, o Parlamento Europeu abordou novamente o assunto e o presidente da União Européia, José Manuel Barroso, deu a tônica em um debate sobre o tema "Mais além do PIB" perante quase 700 parlamentares.

Novo PIB – Comissão Sarkozy

O PIB não mede o real estado das nações, por isso, as sociedades buscam alternativas ao PIB, no intuito de saberem para onde devem ir.

Uma destas alternativas é o estudo que a Comissão Stiglitz-Sen desenvolveu. Também conhecida como Comissão Sarkozy, porque foi idealizada pelo presidente francês Nicolas Sarkozy, ela reuniu 27 membros, entre os mais renomados economistas e especialistas do mundo, que foram divididos em três grupos. Um grupo analisou os problemas clássicos do PIB; outro, questões de sustentabilidade; e outro, qualidade de vida, que envolve uma discussão mais subjetiva sobre “felicidade”.

A idéia não é “acabar” com o PIB, mas agregar a ele outros indicadores para a “riqueza das nações”, citando Adam Smith. Para o economista José Eli da Veiga, num futuro próximo haverá três indicadores para medir o desempenho de um país; o financeiro (PIB tradicional), o social e o ambiental. Então, vamos ter países (ou estados, ou cidades) que, em determinando período apresentarão bom desempenho financeiro, mas terão passivos ambientais e sociais a enfrentar. Então, este não é um país “bem resolvido”. Juntar os três índices num só ainda é ambição para um futuro distante, num outro mundo possível.

E daí?

A economia mundial gera recursos suficientes para acabar com a fome e a miséria a devastação ambiental e a corrupção. No entanto, tais recursos nunca são diretamente direcionados a estes fins. Por quê? Por que nunca se olhou para a fome da África como oportunidade? E por que a tragédia no Japão pode até fazer o crescimento econômico aumentar? Porque as decisões estão amarradas aos parâmetros do PIB. Precisamos encontrar uma nova forma de fazer a contabilidade das nações, de modo que o crescimento econômico passe a servir o “bem estar” da sociedade. O relatório da Comissão Sarkozy sugere alguns caminhos para se chegar a este objetivo:

- avaliação líquida e não bruta das atividades econômicas, de modo que extração de recursos naturais e impactos ambientais sejam levados em conta.

- inclusão de atividades fora do mercado na contabilidade nacional

- considerar atividades domésticas e levar em conta o padrão de vida das pessoas, por meio da avaliação de oito critérios: saúde, educação, condições de trabalho (incluindo tempo de deslocamento, lazer e moradia), influência política e governança, convívio (possibilidades de conexões sociais), condições ambientais, insegurança pessoal (criminalidade, acidentes e desastres naturais), e insegurança econômica (desemprego, seguro-saúde, aposentadoria e pensões).

A verdadeira riqueza e o progresso das nações não podem ser quantificados apenas em dinheiro. A tragédia do Japão vem ratificar esta certeza. Precisamos de outra economia e, para isso, de novos indicadores que nos ajudem a construí-la.

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