quarta-feira, 7 de abril de 2010

As indústrias fluminenses e a gestão ambiental

O Rio de Janeiro parou por causa das chuvas, assim como ocorreu com São Paulo, no início do ano. Está certo, caiu muita água, mas parece que, infelizmente, só este fato não explica o tamanho da catástrofe ocorrida. Os habitantes do Rio, de São Paulo e de outras grandes cidades no Brasil e no mundo estão sujeitos a sofrer muito mais, por conta de erros como a ocupação indiscriminada do solo, a falta de cobertura vegetal e o impacto das atividades econômicas que sobrecarregam ainda mais a já frágil infraestrutura urbana.

São tragédias anunciadas que continuarão a ocorrer se a sociedade, os governos e as empresas não reagirem a tempo. Principalmente as empresas, por se constituírem em uma das forças mais organizadas da sociedade, precisam assumir um papel protagonista na virada que precisamos dar em direção a uma economia verde, inclusiva e responsável.

Uma pesquisa da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro – Firjan – divulgou recentemente dá uma idéia de como anda a “consciência ambiental” das empresas fluminenses. Há avanços importantes a destacar e pontos de melhoria.

A pesquisa de gestão ambiental vem sendo realizada desde 2005 e tornou-se um instrumento importante de responsabilidade socioambiental das empresas associada, bem como um compromisso da Firjan. Em 2009, responderam o questionário 399 empresas, distribuídas de maneira equânime por porte e natureza da atividade.

O resultado mais significativo que esta pesquisa põe em evidência é que as empresas fluminenses têm consciência do impacto ambiental de suas atividades, porque todas elas souberam apontar quais os principais problemas que enfrentam na gestão ambiental. As respostas praticamente unânimes destacam: resíduos sólidos, uso intenso de energia elétrica ou combustível, ruídos e efluentes líquidos.

As empresas consultadas na pesquisa também foram unânimes em ressaltar que a dificuldade para a melhoria socioambiental não é a falta de recursos financeiros. As causas mais citadas foram: falta de consciência dos funcionários e da sociedade, bem como dificuldade para dar destino certo aos resíduos sólidos.

Outro aspecto interessante da pesquisa: as empresas estão preocupadas com a preservação ambiental por causa da imagem delas junto ao público e a responsabilidade social da companhia para com a sociedade. A adequação a legislação, motivo mais citado nas pesquisas anteriores, ficou como última das preocupações empresarias no que tange ao meio ambiente.

De acordo com esta pesquisa, 66% das empresas consultadas investiram na área ambiental em 2009 e 80% esperam investir em 2010, principalmente em fontes alternativas de energia e em eficiência no uso da água. Para tanto, elas estão estabelecendo metas de redução no uso de recursos naturais (e de combustíveis fósseis) e monitoramento destas metas. No entanto, somente 6,3 das empresas usam energia renovável, um percentual menor que em 2008, na casa dos 10%. Por que este recuo? Uma das explicações pode ser a oferta de energia mais barata vinda de usinas térmicas. Com a crise do ano passado, as empresas optaram por este recurso.

Esta pesquisa foi feita antes de o presidente Lula ter sancionado a Lei 12187 que institui o Programa Nacional de Mudanças do Clima. A lei estabelece as metas nacionais para redução das emissões de carbono, entre 36 e 39% até 2020; e, também, especifica uma série de tarefas, que precisam ser regulamentadas por decreto, para os diversos setores da economia.

Outra legislação recentemente aprovada é a que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, impondo responsabilidades para a toda a cadeia produtiva – inclusive os cidadãos – no gerenciamento e redução dos resíduos sólidos.

As empresas que atuam no Brasil, não apenas as do Estado do Rio de Janeiro, já têm uma agenda ambiental a seguir. Podem contribuir mobilizando a sociedade para a regulamentação da lei. Podem também avançar em alguns pontos, já adotando medidas que reduzam emissões e diminuam os resíduos sólidos.

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segunda-feira, 5 de abril de 2010

O que fazer com resíduos sólidos? A Fiat tem uma solução criativa e rentável.

Como afirma uma propaganda atualmente em cartaz, o que move o mundo são as perguntas. E, ao fazer esta pergunta à equipe de funcionários, ainda em 1998 – o que fazer com nossos resíduos sólidos? – a Fiat brasileira encontrou uma solução que, ao longo da década seguinte, provou ser um exemplo de prática de gestão sustentável que vem sendo adotada em outras unidades da própria empresa. Ela deveria ser copiada por outras indústrias. Como toda idéia genial, ela é bem simples.

Trata-se da Ilha Ecológica. Na verdade, um lugar definido na planta de Betim, Minas Gerais, para centralizar o encaminhamento de todos os resíduos gerados pelo processo produtivo. E não é pouca coisa. Por mês, são perto de 20 mil toneladas de madeira, papel e papelão, chapas de aço, cavaco de ferro fundido, plástico, isopor, lâmpadas fluorescentes e outros materiais que sobram da montagem dos carros. Na Ilha Ecológica, trinta funcionários separam estes resíduos recicláveis por categoria. Alguns itens são vendidos diretamente pela fábrica para a indústria recicladora. Outros, como papel e papelão, são entregues para cooperativas de catadores. A venda dos materiais rende para a Fiat cerca de 200 mil reais todo mês. Não é muito comparado ao total de vendas dos carros. Mas é um dado importante para mostrar que uma solução socioambiental também traz dinheiro.

Desde sua implantação, em 1998, a Ilha Ecológica já possibilitou a reciclagem de 16 mil toneladas de papel e papelão, evitando a derrubada de uma floresta com 320 mil árvores. Foram recolhidas e encaminhadas para reciclagem 5.480 toneladas de plásticos diversos e 1.625 toneladas de isopor, quantidades equivalentes à utilização de 71 toneladas de petróleo como matéria-prima. A Ilha ainda recolhe e encaminha para reciclagem 2,5 mil lâmpadas fluorescentes por mês.

Antes de introduzir este conceito na área de produção, a fábrica de Betim não sabia mais onde armazenar tantos resíduos. Assim, da necessidade nasceu a pergunta e a resposta. Hoje, a Ilha é tão importante para o planejamento estratégico que está recebendo melhorias, dentro do plano de expansão da planta de Betim, com ganhos no fluxo de materiais para reciclagem e maior capacidade de armazenagem.

A iniciativa da Ilha Ecológica é inovadora por também encontrar uma solução para o isopor. O que fazer com este material imprescindível para embalar os motores que vêm da Argentina? Se fosse armazenado, o isopor somaria, todo mês, dois e meio milhões de metros quadrados, quase a área total da fábrica de Betim. Ele não é um produto que interessa para a reciclagem, a menos que...seja desfeito em seus elementos. Aí, cada um deles, separado, encontra um nicho de mercado. Foi, então, o que a Fiat fez. Desenvolveu e instalou um equipamento que condensa o poliestireno, tornando-o 50 vezes menor do que o tamanho original. Com isso, ele se torna de novo matéria-prima para a indústria e a Fiat, então, pode comercializá-lo. O material entra na composição de caixas de CDs, saltos de sapatos, canaletas para fiação, réguas, canetas, juntas de dilatação para pisos, chaveiros e uma porção de outros itens.

A Ilha Ecológica é uma parte importante de um sistema maior, o Sistema de Gestão Ambiental da Fiat (SGA) que busca não apenas preservar o meio ambiente, mas diminuir as emissões do processo produtivo.

Com a instalação de estações de tratamento, há cinco anos, a Fiat também logrou reutilizar 92% dos efluentes do processo produtivo, economizando, no período, sete e meio bilhões de litros de água, suficientes para abastecer uma cidade de 100 mil habitantes. A montadora também é pioneira, no Brasil, em eliminar as emissões de solventes dos fornos de pintura, por meio de um processo de queima dos gases com solventes orgânicos que os transforma em gases inertes ao meio ambiente.

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