quarta-feira, 31 de março de 2010

Inovação e desenvolvimento sustentável

A economia de baixo carbono que está surgindo no horizonte tem um ponto em comum em todos os países: Quem sai na frente em inovação possivelmente vai ditar os caminhos da nova economia que está nascendo.

Qual a situação do Brasil nesta conjuntura?

O país tem vantagens competitivas importantes expressas no seu patrimônio natural e na sua riqueza social. Somos um povo criativo que sabe usar os recursos disponíveis para solucionar problemas. Faltam investimentos que transformem estas soluções em negócios que mudem o mundo.

Até pouco tempo, nem governos nem empresários davam a devida prioridade ao tema. Sempre vivemos de adaptar tecnologias “de fora”.

Só recentemente o governo destinou mais recursos às pesquisas, mas o investimento privado ainda não fez a sua parte que é aplicar recursos no desenvolvimento das inovações, replicando-as em nível de mercado.

Os desafios iminentes do aquecimento global põem na ordem do dia o investimento maciço no desenvolvimento de inovações não só tecnológicas, como também de processos, de relações sociais. Não é uma tarefa simples.

É importante que ganhe prioridade na sociedade brasileira a discussão de uma questão-chave: queremos continuar exportando commodities com sucesso, ou também nosso conhecimento e nossas inovações?

Para o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), inovação é, em última instância, a promotora do crescimento de longo prazo da economia e a garantia de sua competitividade em nível global. Por isso, deve estar no primeiro bloco de preocupações da sociedade, quando se fala em desenvolvimento e, principalmente, desenvolvimento sustentável.

Na última década, os governos ampliaram os incentivos à pesquisa de inovações, a ponto de hoje, já termos o mesmo patamar de investimento dos países ricos, ou seja, entre 0,6 e 0,7% do PIB. O gargalo começa quando se trata de desenvolvimento destas inovações. As empresas brasileiras não investem no desenvolvimento de inovações. Por isso, boa parte das pesquisas descansa nas gavetas dos pesquisadores.

Sem o apoio da iniciativa privada, não há inovação.

Um dos melhores exemplos de inovação brasileira que precisou de incentivo de governos e investimento privado é o etanol.

Ele surgiu como substituto da gasolina ainda na década de 1980, com o Proálcool. Ressurgiu no início do século 21 sem os problemas apontados no passado, tornando-se internacionalmente reconhecido como solução viável para substituir a gasolina, atraindo investidores e parceiros interessados em melhorar ainda mais o produto.

Um exemplo recente que pode ser a solução para o lixo urbano é o da biorrefinaria. Trata-se de um conceito desenvolvido por Daltro Pinatti, utilizado como sucesso na cidade de Lorena, no interior de São Paulo. A biorrefinaria ou refinaria de biomassa segue a mesma lógica de uma refinaria de petróleo. Só que, em vez de petróleo, as máquinas são alimentadas com lodo de esgoto, bagaço de cana, lixo urbano, casca de arroz e até pneus. Depois de “refinados” por processos termoquímicos, estes resíduos viram biogás, biocombustível e uma gama extensa de matérias-primas que vão de fertilizantes a insumos industriais.

A RM Materiais Refratários, em Lorena, usa a biorrefinaria, com resultados tão bons que a Senergen Energia Renovável, de São Paulo, investiu na empresa para ajudar a desenvolver e a comercializar a biorrefinaria.

Outra empresa que também adota o conceito é a Cetrel, fornecedora do Pólo Petroquímico de Camaçari. Esta empresa também está testando outra inovação: uma membrana que retém o dióxido de enxofre e o óxido de nitrogênio, dois gases do efeito estufa. Além de reduzir as emissões, as membranas vão permitir que se recupere o enxofre e o nitrogênio para outras aplicações.

O momento é de transição para uma nova economia de baixo carbono, mas que seja também inclusiva e responsável. Se o Brasil quiser ser protagonista, precisa de inovação e precisa das empresas, para não perder o bonde da história.

Há um “mar” de oportunidades escondido nos institutos de pesquisa, nas fundações que tratam de tecnologias sociais, nas universidades. Soluções criativas que vão alavancar negócios inclusivos, verdes e responsáveis.

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segunda-feira, 29 de março de 2010

A responsabilidade social nas universidades

Em 1998, quando o Instituto Ethos foi fundado, nem a expressão “responsabilidade social empresarial” existia. Pouco mais de uma década depois, a RSE já faz parte do vocabulário do cidadão comum, integra grades curriculares em universidades e é referência também para investidores, na hora de decidir sobre onde destinar seus recursos. No entanto, ainda há muito a avançar. A responsabilidade social empresarial não está, por exemplo, na gestão das universidades brasileiras, principalmente naquelas mantidas pela iniciativa privada. Por mais que estas entidades educacionais ofereçam até mesmo cursos avançados de gestão socialmente responsável, elas não internalizam estes princípios em suas próprias organizações.

Uma das conseqüências da dissonância entre discurso e prática é o trote violento. Todo início de ano letivo, somos brindados com um verdadeiro festival de horrores e de impunidade perpetrado contra jovens por outros jovens que já estão prestes a entrar na vida profissional. As reitorias e mesmo os conselhos destas universidades afirmam não “ter controle” sobre os estudantes. Assim, atentados à dignidades humana são perpetrados como se fossem simples brincadeiras inocentes. Um professor na Escola Superior de Agronomia Luís de Queiroz (ESALQ) da USP chegou a afirmar que muitas faculdades não tomam atitudes para abolir o trote violento porque consideram que ele “dá prestígio”. Ele ainda relata que, apesar das sindicâncias abertas nos casos que vazam para a imprensa, dificilmente alguém é punido.

Os gestores universitários deveriam perguntar-se: estamos formando um ser humano capaz de dar conta dos desafios do século 21? O jovem profissional que sai desta universidade tem valores positivos firmes? Sabe que suas decisões terão impactos profundos nas vidas de milhões de outras pessoas? Hoje, não basta ao jovem ter diploma universitário. É preciso ser uma pessoa ética, comprometida com o futuro do país e da humanidade.

Atingir resultados, hoje, não é mais passar um trator pela concorrência e pela comunidade. Lucro não é um fim em si, mas o objetivo que se atinge por meio do diálogo com as partes afetadas pelas ações das empresas.

Começar a gestão responsável é bem simples e gratuito. Basta responder os Indicadores Ethos que estão disponíveis no site www.ethos.org.br. A partir do diagnóstico, a universidade pode iniciar uma consulta a todos os públicos impactados por suas ações e, com eles, construir um planejamento estratégico em que haja, por exemplo, fomento de ações comunitárias desenvolvidas pelos próprios estudantes; incentivo à cultura da paz e da tolerância; respeito à diversidade e ao meio ambiente.

Hoje, o jovem vai à universidade para receber um pedaço de papel que, em tese, garante-lhe o ingresso nos melhores empregos do mercado. Nem sempre acredita nas habilidades e competências desenvolvidas nos anos de banco escolar. Com isso, não consegue avançar no mundo do trabalho, encarando desde muito cedo frustração e falta de horizontes.

O Brasil precisa crescer, mas não de qualquer jeito. Precisa de desenvolvimento sustentável e este depende tanto de formação técnica quanto de conduta ética.

As universidades precisam ser parte da solução, formando o ser humano do século 21. Mas precisam dar o exemplo. Adianta “ensinar” sem praticar a responsabilidade social empresarial?

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