Em 1998, quando o Instituto Ethos foi fundado, nem a expressão “responsabilidade social empresarial” existia. Pouco mais de uma década depois, a RSE já faz parte do vocabulário do cidadão comum, integra grades curriculares em universidades e é referência também para investidores, na hora de decidir sobre onde destinar seus recursos. No entanto, ainda há muito a avançar. A responsabilidade social empresarial não está, por exemplo, na gestão das universidades brasileiras, principalmente naquelas mantidas pela iniciativa privada. Por mais que estas entidades educacionais ofereçam até mesmo cursos avançados de gestão socialmente responsável, elas não internalizam estes princípios em suas próprias organizações.
Uma das conseqüências da dissonância entre discurso e prática é o trote violento. Todo início de ano letivo, somos brindados com um verdadeiro festival de horrores e de impunidade perpetrado contra jovens por outros jovens que já estão prestes a entrar na vida profissional. As reitorias e mesmo os conselhos destas universidades afirmam não “ter controle” sobre os estudantes. Assim, atentados à dignidades humana são perpetrados como se fossem simples brincadeiras inocentes. Um professor na Escola Superior de Agronomia Luís de Queiroz (ESALQ) da USP chegou a afirmar que muitas faculdades não tomam atitudes para abolir o trote violento porque consideram que ele “dá prestígio”. Ele ainda relata que, apesar das sindicâncias abertas nos casos que vazam para a imprensa, dificilmente alguém é punido.
Os gestores universitários deveriam perguntar-se: estamos formando um ser humano capaz de dar conta dos desafios do século 21? O jovem profissional que sai desta universidade tem valores positivos firmes? Sabe que suas decisões terão impactos profundos nas vidas de milhões de outras pessoas? Hoje, não basta ao jovem ter diploma universitário. É preciso ser uma pessoa ética, comprometida com o futuro do país e da humanidade.
Atingir resultados, hoje, não é mais passar um trator pela concorrência e pela comunidade. Lucro não é um fim em si, mas o objetivo que se atinge por meio do diálogo com as partes afetadas pelas ações das empresas.
Começar a gestão responsável é bem simples e gratuito. Basta responder os Indicadores Ethos que estão disponíveis no site www.ethos.org.br. A partir do diagnóstico, a universidade pode iniciar uma consulta a todos os públicos impactados por suas ações e, com eles, construir um planejamento estratégico em que haja, por exemplo, fomento de ações comunitárias desenvolvidas pelos próprios estudantes; incentivo à cultura da paz e da tolerância; respeito à diversidade e ao meio ambiente.
Hoje, o jovem vai à universidade para receber um pedaço de papel que, em tese, garante-lhe o ingresso nos melhores empregos do mercado. Nem sempre acredita nas habilidades e competências desenvolvidas nos anos de banco escolar. Com isso, não consegue avançar no mundo do trabalho, encarando desde muito cedo frustração e falta de horizontes.
O Brasil precisa crescer, mas não de qualquer jeito. Precisa de desenvolvimento sustentável e este depende tanto de formação técnica quanto de conduta ética.
As universidades precisam ser parte da solução, formando o ser humano do século 21. Mas precisam dar o exemplo. Adianta “ensinar” sem praticar a responsabilidade social empresarial?
segunda-feira, 29 de março de 2010
A responsabilidade social nas universidades
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enquanto que os universidades quiserem apenas o dinheiro da mensalidade, nao adequando as estruturas físicas e um quadro de professores interessados em formar cidadãos, líderes e gestores, a juventude vai continuar indo pra faculdade porque é perto do bar, pra encontrar os amigos...
ResponderExcluirInfelizmente as faculdades tem ,em geral, a postura de que uma atitude que evite tais acontecimentos estão fora do alcance das mesmas.
ResponderExcluirEsta é uma postura fácil de se incorporar e muito irresponsável, levando em consideração que serão estes alunos que aplicam "brincadeiras" desumanas que carregarão o nome de sua instituição para sempre.
Eu tive a oportunidade de participar do trote solidário, em que doei sangue a um hospital. Infelizmente poucos colegas me acompanharam, pois estavam no bar da esquina dando/levando o trote tradicional.
O trote ainda é visto como um rito de passagem, e os calouros tem a ilusão de que esse teste os tornarão parte deste clã.
Uma triste imagem e pouca coragem, tanto dos alunos quanto da instituição.