sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Onde tudo começou

Muita gente pergunta: de onde veio a ideia da gestão sustentável?

De várias iniciativas ocorridas ainda nos anos 1980, depois genericamente denominadas “movimento da qualidade”. Vivíamos o período da abertura comercial e da terceirização. Em busca de competitividade para a indústria nacional, as empresas entenderam que eficiência só seria alcançada “em cadeia”.

Muitos destes programas partiam do básico: como formalizar um negócio, calendário de impostos e taxas, estratégias de marketing e vendas. Depois vieram os seminários e orientação para automação em processos, redução de custos e capacitação dos funcionários das PMEs.

Os resultados positivos apareceram rapidamente, na forma de melhoria nos produtos e serviços fornecidos, na produtividade, no incremento dos negócios e no desenvolvimento regional.

O mais antigo e contínuo programa de qualificação de fornecedores é aquele mantido pelo governo do Espírito Santo e pela indústria metal-mecânica local. Por causa desta persistência, em treze anos o setor subiu de 1% para 40% na participação na aquisição de bens e serviços feitos pelas grandes companhias instaladas no Estado. A iniciativa partiu da Aracruz, hoje Fibria, estimulada pela necessidade de obter a certificação ISO 9001. A empresa havia terceirizado várias etapas do processo produtivo e precisava uniformizar todos os procedimentos para obter o certificado da norma, uma exigência dos clientes internacionais. Pouco depois, Petrobras, Vale, CST e Belgo Mineira (hoje Arcelor Mittal) aderiram à iniciativa e criaram o Programa Integrado de Desenvolvimento e Qualificação de Fornecedores (Prodfor) para capacitar PMEs nos requisitos da norma 9001 mais itens relacionados à saúde e segurança n o trabalho. Hoje, o Prodfor reúne 480 empresas.

A partir deste exemplo, movimentos semelhantes surgiram em vários estados, em parcerias com entidades como o SEBRAE, com federações de indústria, governos estaduais e/ou federal.

Hoje, a maioria dos estados brasileiros possui seus programas de desenvolvimento de fornecedores. Graças a eles, Estados do norte-nordeste vêm obtendo expressivos índices de crescimento. As PMEs conseguem atender a demanda das grandes empresas que atuam nestas regiões. Com isso, garantem empregos, renda e desenvolvimento.

Vale e Petrobras, por exemplo, evoluíram para desenvolver programas específicos para os setores de mineração e de petróleo e gás.

Não é por acaso que as grandes empresas que começaram estes programas da qualidade também foram pioneiras no movimento da responsabilidade social empresarial e, atualmente, na disseminação da gestão para a sustentabilidade.

A Vale, por exemplo, encabeçou uma iniciativa a qual reuniram-se outras empresas nacionais, que, no período pré-Copenhague assumiram voluntariamente o compromisso de reduzir suas emissões de carbono, convidando o governo federal a adotar metas de redução de carbono para o país, o que, de fato, foi feito.

É sempre bom lembrar estes acontecimentos. O movimento da qualidade foi o primeiro que mobilizou as empresas para uma revisão de suas práticas. Os problemas da época não foram superadas e a eles podemos agregar o desafio do século 21 que é construir uma economia de baixo carbono que promova a inclusão social, o equilíbrio ambiental, com negócios feitos em bases éticas e transparentes.

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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

ISO 26000 vem aí!

Depois de cinco anos de árduos trabalhos, a norma ISO 26000 será publicada ainda em 2010. Quase 80% dos votantes aprovaram o conteúdo final que define responsabilidade social como a responsabilidade de uma organização pelos impactos de suas decisões e atividades na sociedade e no meio ambiente. A norma também ressalta que, por meio de um comportamento ético e transparente, a organização deve contribuir para o desenvolvimento sustentável e o bem-estar da sociedade. Para tanto, deve levar em consideração a legislação vigente no país onde atua, as expectativas das partes interessadas e ser consistente com as normas internacionais de comportamento.

Em maio, uma última reunião do grupo de trabalho internacional fará os últimos pequenos ajustes no conteúdo e, em setembro, o texto final será lançado. A partir de então, a norma já poderá ser aplicada nos negócios, no Estado e nas organizações da sociedade civil.

Os trabalhos para a construção desta norma começaram em 2005, reunindo praticamente todos os setores da sociedade (governos, ONGs, empresas, sindicatos, consumidores) e ampla participação de pessoas e organizações de todos os continentes – no total, mais de 400 envolvidos de 78 países - durante os cinco anos de discussão. A publicação atrasou-se em função, justamente, no número de participantes envolvidos na construção da norma. As decisões eram adotadas por consenso, isto é, quando todos os participantes de uma rodada de discussões estavam de acordo.

O Brasil liderou o processo internacional de constituição da norma ISO 26000, com participação ativa de empresas brasileiras. Elas formaram um Grupo de Trabalho junto com o Instituto Ethos, que foi responsável por inúmeras sugestões incorporadas no texto final aprovado recentemente. Como exemplo, a inclusão dos “stakeholders” (partes interessadas) na definição da Responsabilidade Social; a própria definição de stakeholders que a norma traz; o conceito de esfera de influência, como área de impacto da atividade da organização, indo além da sua própria cadeia produtiva.

A publicação e a vigência da norma ISO 26000 trarão importantes impactos para as empresas. Os mercados ficarão mais exigentes.

A norma será a referência mundial em responsabilidade social, portanto a base sobre a qual vão se apoiar os agentes econômicos e sociais para avaliar o comportamento de determinada empresa em quesitos como ética e transparência; público interno e impactos socioambientais, entre outros.

A ISO 26000 não será uma norma certificadora e sim orientadora. Mas seus critérios podem ser aplicados não apenas nas empresas, mas nos sindicatos, nas ONGs e nos órgãos de governos. Como instrumento de referência em gestão responsável, a norma poderia ser uma referência para incentivar o Estado a criar uma Lei de Responsabilidade Social reguladora de seus próprios órgãos.

O que a sustentabilidade tem a ver com Responsabilidade Social?

Uma organização responsável adota políticas de sustentabilidade e produz produtos e serviços sustentáveis. Quem não fizer isso será irresponsável para com a sociedade.

A sustentabilidade é o objetivo a atingir. Responsabilidade social é o caminho para chegar lá.

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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Presos e ex-presos podem ficar livres do preconceito?

Um desafio de políticas públicas que o Brasil ainda não enfrentou de verdade: a reinserção de presos e ex-presos no mercado de trabalho. E, no entanto, esta é uma tarefa urgente a ser encarada pelos governos, pelas empresas e pela sociedade.

Desigualdades sociais e má distribuição de renda alimentam as altas taxas de delinqüência e criminalidade em nosso país. Por isso, o sistema prisional brasileiro está no limite. Tem capacidade para abrigar 299 mil presos, mas acolhe, hoje, 470 mil pessoas, de acordo com o Departamento Penitenciário Nacional. 45% delas não têm o ensino fundamental completo. Este fato, agregado ao preconceito, torna a continuidade no crime a única “opção” para o ex-detento. Por isso, a taxa de reincidência criminal no país chega a 70%, uma das mais altas do mundo. Outro dado impressionante: há 550 mil mandatos de prisão a cumprir.

Os governos não avançam em políticas públicas de reinserção porque a sociedade ainda vê com preconceito esta alternativa, considerando-a um “desperdício” de dinheiro público. Mas desperdício é deixar como está. O crime custa muito dinheiro aos contribuintes.

Este cenário precisa mudar e depende, basicamente, de ações do Estado em conjunto com a iniciativa privada.

No final do ano passado, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e o Supremo Tribunal Federal (STF) lançaram a campanha “Começar de Novo” para sensibilizar a população para a necessidade da recolocação, no mercado de trabalho e na sociedade, do preso libertado após cumprimento da pena. E uma das primeiras ações para reintegrar egressos no mercado de trabalho veio do Ministério do Esporte. No início de janeiro, este ministério assinou um convênio com o STF e o Comitê Organizador da Copa do Mundo de 2014 para contratação de presos, ex-presos e adolescentes em conflito com a lei para obras e serviços nas 12 capitais brasileiras que vão sediar jogos. O SENAI também já se integrou ao Começar de Novo, fornecendo bolsas de estudo para presos e ex-presos. Em alguns estados, vai instalar escolas dentro dos presídios.

Agora, o governo de Goiás e a Hering firmaram parceria para a reinserção de presos em regime fechado. Nos presídios de Aparecida de Goiás, Anápolis e São Luís dos Montes Belos, 250 detentos trabalham em oficinas de costura e no manuseio e etiquetagem de peças de roupa fabricadas pela empresa. Cada preso recebe vinte reais por mil peças produzidas e um dia de redução da pena para cada três trabalhados.

Uma pequena construtora de Goiás, a JM Participações também emprega presidiários em regime semi-aberto na construção civil.

No Estado de São Paulo, desde o fim de 2009 o governo pode exigir de empresas que vencem licitações a contratação de até 5% de ex-detentos. O mesmo já ocorre também no Distrito Federal e no Espírito Santo.

Há as vantagens financeiras para as empresas: os presos não estão sujeitos ao regime de CLT; os encargos são normalmente pagos pelo Estado e o salário pode ser menor que o piso da categoria. Mas, estes benefícios sempre existiram na nossa legislação e nem por isso atraíram empresas. O que ocorre atualmente é a vontade política de governos, empresas e sociedade em enfrentar a violência e a criminalidade por meio da inclusão social pelo trabalho.

Alguns dados para reflexão:

A consultoria Kanitz Associados informa que empresas gastam 4 milhões de reais por ano com segurança patrimonial e pessoal dos executivos (330 mil reais por mês) e 5 mil por mês (e média) com ações voltadas para a comunidade.

A Receita Federal apurou que a doação média por brasileiro para filantropia não passa de 23 reais / ano.

O índice de reincidência no crime de ex-presos, no Brasil, de acordo com o Ministério da Justiça, é de 70%. Nas prisões, o índice de ociosidade ( de internos sem nenhuma atividade) é de 72%.

A população carcerária no Brasil é jovem: tem entre 18 e 29 anos (55%) e não tem o ensino fundamental completo (70%).

Dos 470 mil detidos, 121 mil cumprem pena por roubo, 59 mil por tráfico de entorpecentes, 56 mil por furto e 46 mil por homicídio


Por Cris Spera, do Instituto Ethos

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