sexta-feira, 15 de abril de 2011

Saiba como ajudar a proposta de emenda constitucional que prevê a obrigatoriedade do Programa de Metas para os governos Federal, Estaduais e Municipais

A Rede Nossa São Paulo, rede apartidária que congrega aproximadamente 650 organizações da sociedade civil, apresentou no dia 6 de abril uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que prevê a obrigatoriedade do Programa de Metas para os governos federal, estaduais e municipais. A ideia é repetir nacionalmente a experiência pioneira lançada em São Paulo, que é um marco na história da democracia brasileira. O programa de metas foi apresentado pela Prefeitura municipal de São Paulo, em 31 de março de 2009, em cumprimento à Emenda 30 à Lei Orgânica do Município, que foi aprovada por unanimidade na Câmara Municipal graças à mobilização da Rede Nossa São Paulo.

De acordo com a Proposta de Emenda Constitucional, o Presidente da República, os Governadores de Estados e os Prefeitos, eleitos ou reeleitos, apresentarão à sociedade civil e ao Poder Legislativo competente o Programa de Metas e Prioridades de sua gestão, até noventa dias após a respectiva posse, que discriminará expressamente: as ações estratégicas, os indicadores de desempenho e as metas quantitativas e qualitativas para cada um dos setores da Administração Pública direta e indireta por unidades regionais de planejamento e desenvolvimento, observando, no mínimo, os objetivos, diretrizes, ações, programas e intervenções estratégicas e outros conteúdos conexos, apresentados como propostas da campanha eleitoral devidamente registradas no órgão eleitoral competente. Ainda de acordo com a proposta, o Poder Executivo divulgará amplamente até 30 de abril, 31 de agosto e 31 de dezembro de cada ano os relatórios quadrimestrais de desempenho da execução do Programa de Metas e Prioridades.

Esta proposta de lei destina-se a estimular a melhoria da gestão pública e a permitir à população melhor avaliação e o controle das ações, obras e serviços realizados pelo Poder Executivo nos diferentes entes federativos da nação brasileira.

Clique aqui para acessar a íntegra da PEC

Você também pode ajudar nessa causa!

Ações de mobilização
1) Multiplique o abaixo-assinado em apoio à proposta em seu mailing, site, mala-direta, intranet, boletins, informativos e redes sociais (facebook, twitter, etc);

2) Divulgue em seu site/blog os seguintes links:
Para divulgar o abaixo-assinado:
http://www.nossasaopaulo.org.br/abaixo-assinado-programa-de-metas/
Para baixar os banners + links para reprodução nos sites:
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Para reprodução nas redes sociais:
Facebook – apoie a causa acessando o link abaixo:
http://www.causes.com/causes/603538-programa-de-metas-para-todo-o-pa-s?recruiter_id=174452828

Twitter - reproduza o link abaixo em seu twitter: “Participe e divulgue o abaixo-assinado em favor da proposta que prevê Programa de Metas nacional http://bit.ly/fqrurC #programademetas”

O abaixo-assinado será entregue nos dias 25, 26 e 27 de abril às lideranças partidárias no Congresso Nacional.

É importante que tenhamos o maior número de apoios até a data de entrega da proposta em Brasília. Por isso, solicitamos o seu apoio nesta mobilização.

Veja quem já assinou.

Para esclarecer eventuais dúvidas, por favor, entre em contato com Zuleica Goulart, pelo e-mail zuleica@isps.org.br, ou ainda pelos telefones (11) 3894.2400. Esclarecimento em relação à reprodução dos links, por favor, entre em contato com Guilherme Norberto pelo e-mail guilherme@isps.org.br

Este é o início para uma nova cultura democrática e participativa no país! Participe e divulgue!

Obrigada.

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quinta-feira, 14 de abril de 2011

Sustentabilidade e neuroplasticidade do cérebro

A cena se dá em um shopping qualquer: uma moça passeia pelas vitrines. Repentinamente, sua expressão se transforma em um misto de alegria e desejo: “eu preciso comprar este sapato”.

Esta necessidade premente não surge porque no seu armário não haja sapatos. Também não significa que esteja descalça. É só mais um. Mas se tornou necessário. Como consumidora responsável ela pode até investigar a origem do sapato, as políticas do fabricante, as crenças da loja, se a fatura do cartão de crédito aterroriza, lembra-se com compaixão dos que não têm sapatos para calçar, sonha com uma vida mais simples e descomplicada, mas nada disso impede que o ato da compra se consume. Talvez esta decisão da consumidora esteja muito mais condicionada do que podemos imaginar. Mas parece consciente, responsável e sustentável. Será?

Há inúmeras respostas para essa questão. Uma delas vem das neurociências. O fenômeno da plasticidade do cérebro corresponde à possibilidade dos neurônios transformarem sua forma ou função, de modo prolongado ou permanente, em decorrência de uma ação do ambiente externo, ou seja, das nossas experiências.


Em relação a uma cena em que ocorre um acidente de carro, podemos distinguir diferentes níveis de interação. O motorista do carro, por não usar o cinto de segurança, sofre uma fratura de crânio e perde tecido cerebral.
Provavelmente terá um longo processo de recuperação, com a gradativa, e possivelmente incompleta, restauração das funções atingidas. Alguém que passa pelo local no momento do acidente, se impressiona com a gravidade dos ferimentos do motorista e nunca mais se esquece da cena. Uma outra pessoa, lê a notícia sobre o que ocorreu com aquele motorista que não usava o cinto de segurança, e se convence de que é melhor passar a usá-lo.

Nestas três situações há um ponto em comum: o cérebro das três pessoas respondeu aos estímulos do ambiente externo. A primeira sofreu uma lesão. A testemunha teve uma forte impressão emocional. E a terceira pessoa modificou seu comportamento em função das informações a que teve acesso.

Este é o fenômeno da neuroplasticidade, a denominação das capacidades adaptativas do sistema nervoso, especialmente dos neurônios, às condições e experiências de cada indivíduo.

O sistema nervoso modifica sua organização estrutural e funcional em resposta às nossas experiências, desde lesões traumáticas destrutivas, até os processos de aprendizagem e memória. É um fenômeno constante e marcante, que ocorre em todos os momentos da nossa vida. Nada disso é novo, sempre ocorreu. Nova é a consciência a respeito desses processos que ocorrem em cada um de nós. E com isso, novas dimensões de responsabilidade consigo mesmo e com os outros.

Há várias formas de plasticidade, mas interessa-nos, neste momento, algumas daquelas relacionadas aos nossos hábitos, comportamentos, memória e aprendizagem.

O grau de plasticidade varia conforme a idade. No período de desenvolvimento o sistema nervoso é mais plástico, já que tudo está em construção. Na infância, há uma fase durante a qual a influência do ambiente é altamente relevante para o estabelecimento de características fisiológicas e psicológicas do indivíduo. São os chamados períodos críticos.

Na idade adulta, outros mecanismos entram em ação. De qualquer forma, sempre que falamos em plasticidade, estaremos nos referindo a um processo de modificação provocado no sistema nervoso de tal intensidade, que impressionou inclusive os primeiros neurocientistas que se dedicaram a estudar este assunto.

O que se sabe é que, em função das condições ambientais e das nossas próprias experiências, é possível provocar mudanças morfológicas: novos circuitos se formam pela alteração das fibras nervosas; novas configurações do neurônio; ou alteração do número de células de uma determinada região cerebral. Em outros casos, identificam-se correlatos funcionais, ou seja, a modificação das atividades sinápticas de um determinado circuito ou grupo de neurônios.

Ou seja, nossas experiências e interações com o mundo formatam nosso cérebro.

Exemplos da plasticidade sináptica são as decorrentes da teoria de Hebb. Na década de 40, antes mesmo que se tivesse certeza de que as sinapses existiam, este psicólogo canadense propôs uma teoria para a memória com base na plasticidade sináptica. Sua teoria permaneceu sem grande repercussão durante 30 anos, até que neurocientistas passaram a identificar fenômenos comportamentais e celulares que poderiam ser explicados por ela.

Atualmente a noção de memória se tornou muito mais complexa, mas os fenômenos descritos por Hebb podem ser identificados em diversas circunstâncias, e atualmente se tornou um modelo celular e molecular da memória. Trata-se dos fenômenos de habituação, sensibilização e condicionamento clássico.

A habituação ocorre quando a resposta ao estímulo diminui com a sua repetição, até que ele se torna inócuo. Leia-se rotina. Não importa o que aconteça, parece que nada muda.

A sensibilização é resultado de uma aprendizagem em que uma resposta aumenta quando precedida de algum sinal de aviso. Ou seja, é o oposto da habituação. Um estímulo muito forte faz o organismo reagir, e ele fica avisado que outros podem surgir – qualquer que seja o estímulo seguinte (mesmo que seja suave) provocará igual reação. Acho que todo mundo conhece este fenômeno, para o bem e para o mal.

O condicionamento clássico, análogo ao reflexo condicionado descrito por Pavlov, corresponde à associação de um estímulo forte a um único tipo de estímulo inócuo. Quando este último é aplicado sozinho, passa a ser eficaz em provocar a mesma resposta obtida em relação ao estímulo forte.

A plasticidade pode ser benéfica ou não. No final do século XX, os americanos Edward Taub e Michael Merzenich identificaram as causas do fenômeno denominado “membro fantasma”, causador de tanto sofrimento em pessoas que passam por algum tipo de amputação. Muitas dessas pessoas seguiam com a sensação de dor em um membro que não mais existia. Os tratamentos variavam, mas não surtiam efeito.

O que se identificou por meio de registro eletrofisiológico e imagens funcionais por ressonância magnética, é que parece existir uma forte correlação entre o grau de reorganização cortical após a amputação e a intensidade da dor fantasma – não se trata de um fruto da imaginação, e sim o produto de um cérebro que muda com a nova realidade, mas não esquece suas imagens passadas.

Também tem sido demonstrado através das técnicas de neuroimagem que mapeiam regiões funcionalmente ativas do cérebro, que as regiões lingüísticas de pessoas surdas que utilizam linguagem de sinais é bastante diferente em sua organização e extensão; que os cegos têm suas áreas visuais ativadas quando submetidos a estimulação auditiva e quando realizam leitura em Braille; e até que violinistas muito treinados desde a infância possuem maior representação cortical dos dedos da mão esquerda.

Diante dessas evidências, nos cabe indagar: que tipo de neuroplasticidade estamos provocando no nosso próprio cérebro e nos cérebros alheios? Estamos alertas sobre os estímulos aos quais somos submetidos e submetemos os outros de forma repetida e cotidiana? Temos tido responsabilidade sobre isso?

São questões relevantes, cujas respostas ainda estamos construindo. O fato de não sabermos responder deve impulsionar nossos esforços de compreensão, pois nossa sobrevivência futura depende da formulação e adaptação a um novo modo de ser e agir no mundo, ou seja, depende também de uma neuroplasticidade sustentável. Um fenômeno que, de forma invisível e quase imperceptível, vai formatando algumas dinâmicas entre cérebro, mente e consciência.

Consumo consciente deixa de ser somente uma questão de mapear impactos, reduzir custos, simplificar processos, respeitar a natureza. Inclui de fato a relação cérebro e consciência. Ninguém é sustentável sem conhecer as bases de seu processo decisório, sem saber dominar e transformar impulsos e hábitos arraigados até na nossa dinâmica biológica. Não será repetindo o mesmo cérebro de sempre que o mundo irá mudar.

Fonte: Mercado Ético/Blog da Regina Miglori

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quarta-feira, 13 de abril de 2011

A pegada ecológica de Campo Grande

Foi realizado hoje, na Faculdade de Economia e Administração da USP, um debate sobre a pegada ecológica das cidades brasileiras, apresentando o resultado do levantamento feito em Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, pioneira neste tipo de avaliação ambiental no Brasil.

A escolha da capital sul-mato-grossense como primeira cidade brasileira a desenvolver essa metodologia se deve a alguns fatores: Campo Grande é a capital do estado que abriga a maior parte do Pantanal, região com enorme riqueza ambiental e ao mesmo tempo ameaçada pela degradação provocada por alguns modos insustentáveis de consumo. Embora Campo Grande esteja na borda do Pantanal e não dentro dele, os impactos causados pelas escolhas de consumo dos moradores da cidade, assim como de outras partes do Brasil e do mundo, têm reflexos sobre a planície pantaneira.

Qual a importância desta informação para o desenvolvimento sustentável que queremos?

A pegada ecológica é uma metodologia usada para medir os “rastros” do consumo humano no planeta. Ela pode ser aplicada a países, cidades e pessoas e corresponde ao tamanho das áreas produtivas terrestres e marinhas necessárias para sustentar determinado estilo de vida. É uma forma de traduzir, em hectares, a extensão de território que uma pessoa ou uma sociedade utiliza para morar, se alimentar, se locomover, se vestir e consumir bens de consumo em geral.

Já existem duas outras “pegadas” que são utilizadas como medidas para verificar o impacto da atividade humana na natureza. A pioneira delas é a “pegada de carbono” que analisa a emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE) a partir de uma atividade ou processo produtivo. A “pegada hídrica”, por sua vez, estabelece o impacto de determinada atividade (produto, processo, serviço, cadeia produtiva inteira ou de uma simples pessoa) sobre os recursos hídricos diretos e indiretos, das regiões onde ela se localiza (ou habita, no caso de pessoas).

Assim,quando comemos um hambúrguer, por exemplo, estamos também consumindo 2.400 litros de água utilizados no processo produtivo do hambúrguer, desde o plantio do capim, dos cuidados e do abate do boi, do transporte da carne, da produção do hambúrguer, da sua distribuição, etc.

A “pegada ecológica” tem outra abrangência. Ela reflete o que se pode chamar de “contabilidade ambiental” que avalia a pressão do consumo humano sobre os recursos naturais. Ela tem uma medida própria – hectares globais (gha) – utilizada em todas as medições, de modo que é possível comparar as pegadas de países, de cidades, de pessoas, de empresas, e verificar se elas estão dentro da capacidade de recuperação ecológica do planeta, também chamada de “biocapacidade”. A relação ideal entre pegada ecológica e biocapacidade é de equilíbrio. Atualmente, há desequilíbrio. A pegada ecológica do planeta é de 2,7 gha por pessoas ; a biocapacidade disponível para cada ser humano é de 1,8 gha. Há, portanto um déficit ecológico de 0,9 gha. Isto significa que o consumo excede a capacidade regenerativa do planeta. Se não mudarmos os padrões de consumo, não teremos mais recursos naturais disponíveis para nos sustentar. Esta informação não é nova; ela é mais uma vez confirmada por outra metodologia, que usa cálculos e parâmetros diferentes, mas chega ao mesmo lugar: o planeta está exaurido.

O Brasil possui uma pegada ecológica de 2,9 gha por habitante, um pouco acima da pegada ecológica mundial. A pegada ecológica do estado de Mato Grosso do Sul é de 2,1 gha. A de Campo Grande, de 3,14 gha. A cidade tem um pouco menos de 800 mil habitantes. Se todas as pessoas do planeta consumissem como os moradores de Campo Grande, seriam necessários quase dois planetas para sustentar este estilo de vida.

A maior parte desta pegada está associada ao consumo de alimentos (45% dos 3,14 gha) e serviços (18%). Nestes itens, é interessante destacar que o alimento mais consumido é a carne e o serviço mais utilizado é o de restaurantes. O campo-grandense consome 90 kg de carne por ano, quando o consumo mundial médio é de um pouco mais de 78kg / ano per capita.

De posse deste perfil de classe de consumo, a sociedade civil organizada, as entidades de produtores rurais e de trabalhadores, a prefeitura, o governo estadual e mesmo a instância federal podem estudar ações para agregar valor à pecuária local, de modo a reduzir os impactos. Por “agregar valor”, entenda-se não apenas tornar a atividade mais ecoficiente, com redução per capita no consumo de recursos naturais. A pegada ecológica só será efetivamente menor se o “consumo absoluto” destes recursos for reduzido. Isto é: mesmo que cresça o número de cabeças de gado, o consumo geral de recursos naturais, diretos e indiretos, da atividade continue caindo. Não é tarefa fácil, mas é o desafio de sustentabilidade que temos pela frente, inclusive as empresas.

Não haverá atividade sustentável sem a redução absoluta no uso de recursos naturais em processos, produtos e serviços. Isto exige altas taxas de criatividade e de inovação em todos os níveis. Exige também mudança individual de comportamento, abertura para aceitar outros padrões consumo. Mas, não é disso que trata o desenvolvimento sustentável?

No site wwf.org.br/pegadaecologica, você pode calcular a sua pegada ecológica e, assim, mudar alguns hábitos de consumo para ajudar a cidade, o país e o planeta. Atitudes individuais são importantes para a transição a uma nova economia, inclusiva, verde e responsável. São as pessoas que mudam a cultura e o comportamento.

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terça-feira, 12 de abril de 2011

Novo desenvolvimento recicla velhas ideias

por Kanya D’Almeida, da IPS

A edição de 2011 do “Informe sobre o Desenvolvimento Mundial”, apresentado ontem, centra-se em como os conflitos interferem com o avanço em um planeta onde 1,5 bilhão de pessoas vivem em meio a uma violência incessante ou recorrente. No entanto, muitos economistas progressistas afirmam que o documento, elaborado anualmente pelo Banco Mundial, não se afasta muito das políticas neoliberais que mantêm um status quo mundial de desigualdade.

“Embora o Banco Mundial enfatize a necessidade de haver instituições mais fortes, esta retórica nem sempre segue em linha com as políticas reais”, disse à IPS o economista Mark Weisbrot, codiretor do Centro de Pesquisa em Economia e Política, com sede em Washington. “Na América Latina, por exemplo, muitos governos tentam fazer o correto, mas não têm a capacidade administrativa e isso é algo com que o Banco Mundial realmente pode contribuir”, acrescentou.


“O problema é que o Banco Mundial é parte de um consórcio com o Fundo Monetário Internacional, por isso geralmente acabam apoiando políticas que reduzem a capacidade dos governos, centrando-se na assistência do exterior”, afirmou Mark. “Embora concorde com a prioridade do Banco Mundial de se comprometer com a sociedade civil, é preciso que isto se combine com reformas econômicas mais amplas. Por exemplo, dos 51 países classificados há 40 anos como Menos Adiantados, apenas três progrediram. Isto mostra com que tipo de problema estrutural estamos tratando”, ressaltou o economista.

O relatório 2011, intitulado “Conflito, Segurança e Desenvolvimento”, é essencialmente criação do presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick. Nele são retomadas as ideias de um discurso que fez em 2008 no Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, intitulado “Estados Frágeis: Garantir o Desenvolvimento”.

Segundo o estudo apresentado ontem, as crianças que vivem em Estados frágeis têm o dobro de probabilidade de sofrer desnutrição e o triplo de abandonar os estudos. Nenhum país considerado “frágil” ou assolado pelos conflitos, cumpriu até agora um só dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, e a pobreza é 20% superior em países afetados por ciclos de violência. Para um país em desenvolvimento médio, os conflitos civis custam cerca de 30 anos de crescimento do produto interno bruto.

Todos estes são indicadores da necessidade de mudanças exaustivas no sistema mundial para superar as condições que prejudicam aproximadamente 17% da população do planeta.

Este ano, o informe do Banco adotou uma singular metodologia de compilação, priorizando os dados coletados em pesquisas locais e nacionais prévias, ao mesmo tempo em que tira suas próprias conclusões e faz recomendações. “Nos demos conta de que a comunidade internacional tem de fazer as coisas de modo diferente”, disse o codiretor do Estudo, Nigel Roberts, em entrevista coletiva dada sexta-feira em Washington.

“A violência do Século 21 é fraturada, intensa, complexa, está arraigada e é difícil de eliminar. Por isto, são necessários esforços nacionais, acima de soluções importadas do exterior; o conhecimento sobre como abordar a violência está nos profissionais locais, não nas agências ocidentais e nas instituições acadêmicas internacionais”, afirmou Nigel.

O informe enumera quatro pontos básicos que devem ser abordados com urgência se a intenção é frear os ciclos de violência e desejar um progresso duradouro nos Estados que por várias gerações sofre os efeitos do terrorismo, da repressão política e das injustiças econômicas.

Esses pontos são: melhorar a legitimidade institucional; investir em segurança civil, justiça e emprego; adotar um enfoque nacional-regional em várias pontas para conseguir a mudança, e ter consciência de um cenário mundial impreciso onde os países emergentes e as instituições regionais devem ser potencializados para desempenhar um papel muito mais importante na definição da agenda do Século 21.

“Pão e liberdade não são questões de e/ou. Cada elemento é requisito para que o outro exista e devemos promovê-los simultaneamente”, afirmou Justin Lin, primeiro-vice-presidente e primeiro economista do Banco Mundial. Omar Dahi, professor de Economia para o Desenvolvimento no Hampshire College, disse à IPS que “na última década, o Banco Mundial tentou reverter sua desastrosa posição neoliberal dos anos 1980 e 1990 centrando-se mais no desenvolvimento humano”. Porém, ainda não está claro “se abandonou o modelo neoliberal no plano macro, ao centrar-se na liberalização comercial e na dependência dos investimentos estrangeiros”, acrescentou.

“Este modelo já não é sustentável”, enfatizou Omar, que considera positivo que agora se volte a atenção para as instituições, em lugar de focar apenas na integração, “mas a criação de instituições é um processo difícil”, disse. “Destaco a necessidade de dar poder às cooperativas e entidades sindicais e camponesas mais do que às organizações não governamentais”, ressaltou.

Embora defenda apoio às instituições democráticas fortes, o “Informe sobre o Desenvolvimento Mundial 2011” não reconhece que o Conselho Executivo do Banco esteja dominado pelos cinco doadores mais ricos: Alemanha, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e Japão. “Este é o momento para que o próprio Banco Mundial se democratize para que os países em desenvolvimento possam ter maior ingerência em seu modo de operar. O Banco não pode impulsionar a boa governança quando é um exemplo de governança autoritária”, disse Omar à IPS.

Em resposta ao debate que o informe gera a propósito do terrorismo, Daniel Gorevan, porta-voz da Oxfam Internacional, declarou que o estudo não aborda “o impacto que pode ter a ajuda internacional centrada em objetivos militares ou de segurança no curto prazo na exacerbação da violência”. E acrescentou que “vivemos um preocupante aumento do grau da assistência militarizada ou politizada. Isso é problemático, especialmente se esta ajuda não aborda as causas de conflito e coloca em risco as vidas das comunidades ou dos trabalhadores humanitários”. Envolverde/IPS

Fonte: IPS/Envolverde

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segunda-feira, 11 de abril de 2011

O sutiã, a infância e a responsabilidade corporativa

por Jorge Abraão

Há alguns, uma polêmica invadiu os blogs e os tweeters brasileiros, repercutindo também nas mídias tradicionais: a venda de um sutiã com enchimento de espuma para meninas de 4 a 6 anos. Para torná-lo mais atraente, o sutiã vinha com personagens licenciados por uma companhia que é sinônimo de família e de confiança.

Embora o produto já estivesse esgotado nas lojas de São Paulo e do Rio, e tenha virado “febre” entre as meninas, os comentários nas redes e na imprensa eram indignados. Falou-se em “adultização” das crianças, em exploração precoce da sexualidade das meninas e até em irresponsabilidade das empresas que produzem e que comercializam o do produto.

A pressão foi tanta que, na quinta-feira, as empresas retiraram o sutiã do mercado e enviaram notas à imprensa, avisando sobre esta retirada. Mas, até o momento, esta ação não foi suficiente para estancar o impacto negativo na reputação delas, já que a indignação continua país afora.

Uma psicóloga da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Maria Luiza Bustamante, chegou a afirmar que um produto deste tipo, necessário apenas para adultos, pode ser prejudicial à formação das crianças. Foi taxativa na sua avaliação: “trata-se de mais uma tentativa da indústria de ganhar dinheiro a qualquer preço, sem se importar com a saúde das crianças”.

É possível que a Promotoria da Infância e da Juventude venha a adotar alguma providência judicial sobre este fato, o que pode acarretar processo para as empresas implicadas.

Este fato nos faz refletir como cidadãos e como participantes do movimento brasileiro da responsabilidade social empresarial.

As perguntas que vêm à mente, a partir desse episódio, são: quais os limites da atuação das empresas em seus negócios? Eles estão evidentes, ou seja, são percebidos como “limites” por todos os “outros” agentes da sociedade? Se sim, o que levou duas corporações com ilibada reputação no mercado a avançar o sinal? O produto vinha sendo um sucesso de vendas, mas vai deixar um passivo na reputação de empresas solidamente posicionadas que será difícil de recuperar em curto prazo. Valeu, então, o lucro financeiro obtido?

Não temos respostas prontas, mas, podemos contribuir para a reflexão a partir de um ponto de vista da gestão socialmente responsável.

Decisões comerciais não devem se sobrepor a interesses da sociedade.

As empresas que estão no mercado só estão por causa de uma “licença para operar” formal e informal. Esta última é dada pela reputação que a empresa constrói ao longo do tempo, de modo que os cidadãos consideram-na importante para suas vidas. Esta importância informal vem se desdobrando, nos últimos tempos, nas diversas demandas “transversais” com as quais um negócio precisa lidar para continuar operando. Por isso, a gestão responsável baseia-se no “diálogo com as partes interessadas” : para entender quais são as demandas transversais e como incorporá-las na estratégia corporativa. Quando o diálogo é bem construído, os limites de cada parte são entendidos – é o que se chama de consenso. Deste consenso podem derivar medidas de autoregulação de empresas e setores e de políticas públicas que passam a ser cobradas dos governos, em suas diversas instâncias. Um bom exemplo de auto-regulação, na sociedade brasileira, é o Conar – Conselho de Autorregulação Publicitária, uma ong fundada em 1980 por entidades representativas das agências de publicidade, dos anunciantes e dos veículos de comunicação. Qualquer cidadão pode encaminhar uma queixa contra ações publicitárias à entidade. Mas ele próprio monitora os anúncios veiculados e, quando considera ser o caso, encaminha “recomendação” para retirar as campanhas do ar. E é atendido.

A existência do Conar demonstra que a sociedade brasileira é de criar e manter mecanismos de autorregulação, mas a discussão sobre o que regular e como ainda precisa ser aprofundada. Precisamos, nós, brasileiros, definir o que consideramos aceitável e o que consideramos inaceitável. Por exemplo: comentamos, na quarta-feira, que o brasileiro almeja a paz como valor para uma sociedade futura, lembram-se? Pois, se isso é mesmo verdade, será que devemos aceitar a proliferação sem critério de jogos e videogames violentos? Se queremos mesmo a paz, está certo presentearmos nossos filhos com armas de brinquedo? Se nos preocupamos com a formação moral de nossas crianças, aceitamos a pressão consumista deles e compramos o que nos solicitam (o sutiã em questão era um sucesso de vendas até ser retirado do mercado)? Estamos ensinando nossos filhos a guiarem-se pela vida por meio de valores como honestidade, orgulho, ou pelo sucesso a qualquer preço?

Hoje, vamos deixar mais perguntas que soluções. Mas talvez seja esta a lição que fica do episódio. Precisamos nos questionar profunda e insistentemente, como cidadãos, profissionais e empresários, a respeito das nossas atitudes e da conseqüência delas para o futuro de nossas crianças.

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