quarta-feira, 7 de março de 2012

O papel social das mulheres no século XXI

Por Jorge Abrahão, presidente do Instituto Ethos

Amanhã, dia 8 de março, comemora-se o Dia Internacional da Mulher. É uma data marcada pelas conquistas sociais, políticas e econômicas das mulheres, mas também pelos preconceitos que ainda permanecem.

As últimas décadas do século XX foram marcadas por várias transformações na sociedade, nenhuma tão marcante quanto a chamada “revolução feminina”. Dos anos 1960 em diante, as mulheres deixaram de ser apenas donas de casa para ocuparem o protagonismo social, econômico e político. Foram à escola, ganharam qualificação, disputaram o mercado de trabalho e hoje ocupam posições que há poucos anos eram consideradas “masculinas”. No entanto, o preconceito ainda se manifesta, e de maneira violenta até. São as mulheres, ao lado das crianças, as maiores vítimas da violência doméstica.

No caso brasileiro, o rápido processo de urbanização que o país conheceu nos últimos 50 anos promoveu uma grande migração do campo para a cidade. Com ela, a afluência de mulheres ao mercado de trabalho, tanto como empregadas quanto como empreendedoras que geram emprego e renda para outras mulheres.

Participação no mercado de trabalho

Como mostra a edição de 2010 da pesquisa Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas do Brasil e Suas Ações Afirmativas, ainda é grande a desigualdade entre homens e mulheres nas maiores companhias do país. No quadro funcional dessas organizações, por exemplo, as mulheres possuem uma parcela de 33,1% dos postos de trabalho. A participação declina à medida que sobe o nível hierárquico.: 26,8% na supervisão; 22,1% na gerência; e 13,7% no executivo. Note-se que, de acordo com o Censo do IBGE de 2010, as mulheres têm um número de anos de estudo superior ao dos homens e são maioria entre os brasileiros que atingiram 11 anos de estudo.

No entanto, além da sub-representação nas empresas, as mulheres ainda enfrentam desigualdade salarial em relação aos homens, quando exercem o mesmo cargo com as mesmas funções.

Isonomia salarial

Esse problema, no entanto, pode estar com os dias contados. Ontem (6/3), a Câmara dos Deputados deu um passo importante em favor da isonomia salarial entre homens e mulheres. A Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado (CDH) aprovou, por unanimidade e em caráter terminativo, o PL nº. 130 /11. Esse projeto de lei acrescenta um parágrafo à Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) para determinar que considerar o sexo, a idade, a cor ou a situação familiar como variável determinante para fins de remuneração, formação profissional ou oportunidades de ascensão profissional importará ao empregador multa em favor do empregado correspondente a cinco vezes a diferença verificada em todo o período da contratação. O PL será transformado em lei e será mais uma importante ferramenta jurídica para garantir a igualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho.

Poder econômico
A equidade de gênero no mercado de trabalho é uma questão de justiça social. Mas não deixa de ser reflexo do “poder econômico” que elas vêm conquistando ao longo das últimas décadas.

Uma pesquisa realizada pelo Instituto Data Popular, divulgada também ontem, mostra que o número de empregos formais exercido por mulheres obteve um crescimento de 75% no ano passado. Para 2012, o estudo prevê que as brasileiras devem movimentar R$ 717 bilhões.

O estudo do Data Popular ressalta ainda que, como efeito dessa evolução econômica, o otimismo das mulheres é maior do que o dos homens. Ao comparar o momento atual com o ano passado, os homens se sentem mais infelizes. Mas a maior parte das mulheres acredita que o Brasil e o mundo vão melhorar em 2012, bem como a sua própria vida financeira, profissional e... amorosa.

Empreendedorismo

Talvez seja esse otimismo o impulsionador de outro comportamento da mulher brasileira, percebido por pesquisa: o empreendedorismo. Segundo levantamento realizado em diversos países pela consultoria Global Entrepreneurship Monitor (GEM), a mulher brasileira é hoje uma das que mais empreendem no mundo. Em 2011, entre os empreendedores iniciais, 50,7% eram homens e 49,3% mulheres, mantendo o equilíbrio entre gêneros no empreendedorismo nacional.

Somente em Gana o número de mulheres empreendedoras é maior do que o de homens. O Brasil ocupa a segunda posição, com 21,1 milhões de empreendedores, dos quais 10,7 milhões pertencem ao sexo masculino e 10,4 milhões ao feminino.

Quanto aos setores de atuação, as mulheres preferem, em 33% dos casos, atividades ligadas ao comércio varejista, com 20% no ramo da alimentação; 16% atuam em serviços domésticos(como empregadas ou como empreendedoras) e 12% na indústria de transformação.

Outras características do empreendedorismo feminino apontadas pelo estudo é que as mulheres têm melhor conhecimento do mercado, são mais preparadas, planejam melhor e sabem integrar melhor as atividades pessoais e profissionais, o que contribui para o maior sucesso dos empreendimentos liderados por mulheres.

Esse dia 8 de março pode, muito bem, representar a síntese da revolução feminina dos últimos 100 anos. Um movimento às vezes ruidoso, às vezes silencioso, que reposicionou a mulher na família, no trabalho e na sociedade. Com isso, família, trabalho e sociedade também mudaram e puseram na ordem do dia muitas perguntas que ainda não encontraram resposta:
- Como essa mulher se vê no atual momento político e econômico do país?
- Adiar o momento da maternidade para investir na carreira é uma boa opção?
- Com a vida profissional cada dia mais movimentada, dá tempo de cuidar da família e da saúde?
- Como essas novas empreendedoras se vêem e quais são suas perspectivas?

Que esse 8 de março impulsione essas discussões e coloque em foco projetos e programas que incentivem a promoção de uma sociedade cada vez mais igualitária e sustentável.

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