sexta-feira, 27 de agosto de 2010

“Novos critérios socioambientais do IFC”

O International Finance Corporation é um ramo do Banco Mundial que oferece financiamentos, consultoria, seguros e outros serviços financeiros para o desenvolvimento do setor privado de países emergentes. Desde os anos 1990, a entidade vem elaborando guias de orientação para investimentos com critérios sociais e ambientais, com objetivo de desenvolver negócios que respeitem as regras trabalhistas e o meio ambiente. Em 2003, o IFC e os dez maiores bancos privados do mundo reuniram estes critérios já utilizados pelo IFC e lançaram os Princípios do Equador, diretrizes socioambientais que os bancos podem aderir voluntariamente e usar para conceder crédito a empresas.


Em 2006, o próprio IFC juntou todos os guias de orientação desenvolvidos a partir dos anos 1990 e criou os seus próprios critérios socioambientais, num processo que a entidade reconhece como a primeira revisão destas diretrizes.

No entanto, em quatro anos, o cenário global mudou muito e uma revisão está sendo feita este ano para dar conta destas transformações. As principais alterações que estão sendo incluídas nestas diretrizes dizem respeito aos temas de mudanças climáticas, direitos humanos e transparência das informações sobre os projetos financiados.

Em relação às mudanças climáticas, o IFC vai incluir as emissões de carbono da empresa e da cadeia produtiva entre os critérios de concessão de crédito. O IFC também não vai mais permitir a compensação de emissões. Para ter o financiamento, o cliente precisará comprovar que as emissões foram reduzidas pela adoção de tecnologias de baixo carbono. A entidade adotará ainda medições de eficiência no uso de energia, água e recursos naturais, bem como de outros impactos socioambientais (contaminação de solos e da água, acesso à posse da terra por populações tradicionais). Todas estas diretrizes serão aplicadas no projeto e na cadeia produtiva, em todo o chamado “ciclo de vida do produto”, englobando desde o próprio desenho do projeto até a comercialização dos produtos e serviços dele originados.

Em relação aos direitos humanos, o tema será transversal a todos os critérios. Não serão concedidos créditos a projetos que estiverem com brechas, em qualquer fase, em aspectos relativos a direitos trabalhistas, direitos civis, direitos sobre posse da terra, de povos indígenas, de patrimônio cultural e de preservação de modos de vida tradicionais, entre outros itens.

No quesito transparência, o IFC terá de divulgar os projetos por 60 dias, para consulta pública, antes de aprová-los. Também precisará tornar público o resultado do monitoramento periódico.

Estes novos padrões são muito importantes para a construção de uma nova economia verde, inclusiva e responsável. Em primeiro lugar, porque vão promover um impacto direto nos projetos financiados pelo próprio IFC, com reflexos diretos da cadeia produtiva deles, nas comunidades e na sociedade, contribuindo para disseminar a sustentabilidade nos negócios em variados setores da economia. Com isso, também induz mudanças mais amplas e profundas no mercado, servindo de exemplo para que outros setores, inclusive o financeiro, também adotem diretrizes semelhantes nos seus negócios.

No caso das instituições financeiras, uma boa idéia seria a inclusão imediata, nos Princípios do Equador, da divulgação pública das avaliações que as entidades signatárias fazem dos projetos financiados. Por enquanto, a informação pública se restringe às análises de risco do projeto.

No ano fiscal de 2010, o IFC aprovou 18 bilhões de dólares em financiamentos, dos quais 1,5 bilhão veio ao Brasil, a maior parte para financiar exportações – 787 milhões de dólares.

Divulgado na Rádio CBN no dia 27 de agosto de 2010.

Leia Mais?

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Usuários do Twitter protestam contra as queimadas

Por Redação Amazônia.org.br

Campanha utiliza a tag chegadequeimadas para chamar atenção ao problema.

Foi lançada nesta quanta-feira (25) uma campanha pelos usuários do Twitter que pede medidas do governo para que as queimadas que acontecem no país cheguem ao fim. Segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, esse ano, o estrago provocado pelas queimadas pode ser maior que em 2007, quando houve o maior número de incêndios dos últimos cinco anos.

A situação mais crítica ocorre no Tocantins, onde as queimadas já destruíram 216 mil hectares do Parque Nacional do Araguaia. O instituto também considera crítica a situação no sul do Pará e em Rondônia. Além da destruição das florestas, as queimadas trazem prejuízos sociais e econômicos. Os aeroportos de Rondônia e Acre ficaram fechados por vários dias, por falta de visibilidade ocasionada pela fumaça. O tráfego nas estradas também foi afetado, principalmente no período noturno.

Em função dos incêndios que se alastram por causa da seca, 100 casas foram destruídas pelo fogo em Marcelândia (MT). No mesmo Estado dois trabalhadores da Usina Pantanal, na zona rural de Jaciara, morreram em um acidente durante uma queima de cana-de-açúcar. Uma das vítimas morreu no local. O outro trabalhador no Hospital e Pronto-Socorro Municipal de Cuiabá.

Em Rondônia os ribeirinhos estão com dificuldades para navegarem no Rio Madeira, já que além da baixa do rio, ocasionada pelo período de seca, a visibilidade é praticamente zero. Na região urbana a cidade está tomada por neblina, e a fumaça, em certos momentos chega a tomar conta das residências. Os atendimentos nos postos de saúde e nas policlínicas aumentaram substancialmente: apenas no Hospital Infantil Cosme e Damião, o atendimento a crianças que apresentam problemas respiratórios subiu 70%.

O ambientalista e diretor da Amigos da Terra - Amazônia Brasileira afirmou em seu microblog que os "gastos com doença respiratória, mortes e acidentes são pagos por todos nós. #chegadequeimadas é economia".

Limpando o terreno

Durante o período de seca na Amazônia, os produtores rurais ateiam fogo em seus terrenos para renovar o cultivo, seja de agricultura, pasto ou para a pecuária. Esses incêndios avançam sobre as florestas, e por isso os Estados costumam proibir as queimadas durante este período. A prática, no entanto, continua sendo utilizada.

Para participar da campanha use a tag chegadequeimadas em seu twitter. Participe!
(Envolverde/Amazônia.org.br)

Leia Mais?

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Pesquisa de saúde da Phillips pode apontar caminhos de políticas públicas

No comentário de segunda-feira (23/08), ressaltamos como as demandas da sociedade começam a integrar o planejamento estratégico das empresas, num movimento que o autor do artigo comentado, o professor Ricardo Abramovay, chamou de “governança não estatal dirigida pelo mercado”. Trata-se de um movimento que está criando um conjunto de normas e valores aos quais as empresas aderem crescentemente, de maneira voluntária. Com isso, contribuem para que a própria sociedade se conscientize mais a respeito das políticas que devem cobrar dos órgãos públicos e dos governos. Vamos comentar hoje uma iniciativa da Phillips que mostra como as preocupações da sociedade civil podem interferir no próprio planejamento desta multinacional.

O Phillips Center para Saúde e Bem Estar e o Instituto Ipsos estão realizando um projeto de pesquisa global em 23 países para entender melhor o que seus consumidores no mundo pensam sobre saúde e bem estar. Trata-se do Phillips Index 2010, que está sendo realizado nos EUA, Reino Unido, China, França, Espanha, Holanda, Bélgica e Brasil, entre outros países.

A Phillips promove esta pesquisa porque tem interesse em fomentar o debate sobre estes temas; entende que a sociedade precisa se envolver nessa discussão para apontar caminhos tanto para as políticas oficiais de saúde e bem estar, quanto para o mercado. Por meio desta pesquisa, a Phillips também quer reposicionar-se no mercado, buscando reconhecimento como empresa de saúde e bem-estar, fornecedora de soluções para cuidados com a saúde, eficiência energética e estilo de vida.

Vamos a alguns resultados:

De maneira geral, comparando Brasil, EUA, China, Espanha, França, Holanda e Bélgica, os americanos são os que se sentem melhor em relação a sua saúde e bem-estar. 74% disseram ter um sentimento bom em relação a estes fatores. Os brasileiros vêm a seguir, com 71%, tendo na sequência espanhóis e belgas (70%), franceses (68%) e holandeses (67%). Apenas 34% dos chineses disseram ter uma sensação boa sobre sua saúde e bem estar.

Estas porcentagens, no entanto, entram em contradição com as respostas dadas a respeito de qualidade do sono, estresse e sobrepeso. Os americanos são os que se consideram mais estressados (79%), seguidos pelos chineses (69%) e belgas (61%). Os brasileiros estão entre os povos que se consideram menos estressados (36%), ficando atrás dos espanhóis (35%).

Os franceses lideram o grupo dos que consideram dormir mal (45%), seguido pelos belgas (40%), americanos (37%), brasileiros (36%). Holandeses (33%), chineses (30%) e espanhóis (20%).

Os brasileiros são os mais satisfeitos com sua saúde física, mas são os que menos se sentem responsáveis pela própria saúde e os que menos fazem exames gerais preventivos com médicos.

Os brasileiros (57% dos entrevistados) só procuram médico por causa de alguma condição pontual, uma ou duas vezes por ano. Agem assim porque pensam que a falta de serviços públicos básicos e de infraestrutura seja mais importante para as condições gerais de saúde do que a visita periódica ao médico. Entre os serviços que faltam, são citados coleta de lixo, segurança, qualidade das rodovias, acesso a serviços de saúde, bem como hospitais e escolas nas comunidades. Todos estes itens apareceram em mais de 80% das respostas.

Este estudo patrocinado pelo Phillips Center é, até o momento, único no país e na América Latina. O próximo (ou próxima) presidente terá importantes indicadores para orientar as políticas de saúde e de infraestrutura. E os dados não vêm de nenhum órgão oficial, mas de um centro de pesquisa empresarial que quer melhorar seus produtos, melhorando junto a vida das pessoas. Isto é o cerne da responsabilidade social empresarial e o caminho para o desenvolvimento sustentável.

Leia Mais?

terça-feira, 24 de agosto de 2010

IFC revisa critérios socioambientais para empréstimos a emergentes

O IFC está revisando seus critérios socioambientais para empréstimos ao setor privado em países emergentes. As novas exigências serão apresentadas no primeiro semestre de 2011, e deverão incluir aspectos desconsiderados hoje na análise para concessão de crédito, como emissões de gases-estufa e o impacto das atividades da empresa na cadeia produtiva. Essa é a primeira revisão feita pelo IFC desde 2006, quando o braço para investimentos do Banco Mundial criou seus padrões de performance social e ambiental. Recentemente, um balanço sobre os três primeiros anos da instituição já havia detectado brechas.

"O mundo mudou desde 2006 e precisamos nos adaptar às mudanças", afirmou Aaron Rosenberg, diretor de assuntos corporativos do IFC, em entrevista ao Valor. Também foram apontadas ambiguidade de linguagem e pouca clareza nas informações prestadas aos clientes sobre os padrões de performance socioambiental.

No último ano, o IFC foi alvo de fortes críticas de organizações ambientais por problemas na Ásia com o setor de óleo de palma (dendê), acusado de promover o desmatamento. E teve o primeiro caso, no Brasil, de uma empresa a devolver o empréstimo - o então frigorífico Bertin, adquirido pelo Grupo JBS, que obteve US$ 90 milhões para implantar um projeto de produção sustentável de carne em sua unidade de Marabá, Pará.

O contrato foi rompido após o Greenpeace e o Ministério Público Federal denunciarem o Bertin por contribuição para o desmatamento da Amazônia. Segundo fontes, financiar o projeto deixou o IFC em posição desconfortável. A instituição afirmou que os US$ 60 milhões que haviam sido liberados ao frigorífico já foram quitados.

Embora não tenham provocado a revisão dos padrões de performance socioambiental do IFC, que já era prevista, os escândalos influenciaram o debate e levaram à determinação de interromper os empréstimos ao setor de palma na Ásia. No Brasil, novos investimentos no setor agropecuário foram nulos no ano fiscal americano de 2010, encerrado em 30 de junho.

"Isso não está associado ao caso Bertin nem quer dizer que o setor agropecuário perdeu importância no Brasil. Estamos analisando novos projetos para este ano em soja, suínos e trading", afirmou Andrew Gunther, gerente-geral do IFC para o Brasil. Na opinião do executivo, o episódio foi positivo porque criou grupos de trabalho para discutir a sustentabilidade na Amazônia e levou a instituição de fomento a aprender mais sobre o setor. "Se quisermos fazer a diferença, teremos às vezes que trabalhar em projetos controversos", disse.

A revisão global dos padrões de performance socioambiental envolve uma miríade de grupos, de bancos multilaterais, instituições financeiras e agências da ONU a povos indígenas, ONGs ambientalistas, sindicatos e empresas. Também participam consultores do Brasil, Índia, Reino Unido, África do Sul, Malásia e Washington.

O período de consultas entrou na segunda fase e são esperadas mudanças importantes como a inclusão das mudanças climáticas. Entre as sugestões feitas, está a remoção da possibilidade de os clientes do IFC compensarem suas emissões de gases de feito estufa. Em vez disso, defendem a determinação de que sejam apresentadas opções para adoção de tecnologias de baixo carbono.

Além disso, tomadores de empréstimos deveriam quantificar emissões diretas e indiretas de projetos que provoquem mudança no uso da terra - responsabilidade que seria estendida também aos financiadores intermediários. A revisão contempla ainda aspectos como contaminação de solo e água e os desdobramentos legais desses tópicos. Consultores pediram também uma definição mais clara sobre a cadeia produtiva e suas responsabilidades.

Para Rosenberg, a introdução de novos padrões não deve tornar a análise dos empréstimos mais morosa. "Os novos padrões terão de ser incorporados ao longo do tempo e teremos de aumentar a assistência técnica a empresas e governos para que [as exigências] sejam atendidas", disse. O IFC aprovou US$ 18 bilhões no ano fiscal de 2010, sendo US$ 1,5 bilhão ao Brasil. A maior parte desse dinheiro - US$ 787 milhões - foi direcionada para o financiamento à exportação.

Fonte: Jornal Valor Econômico

Leia Mais?

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

“Como a sociedade civil está influenciando a governança das empresas e o mercado contemporâneo”

Um artigo do professor Ricardo Abramovay, publicado no jornal Valor da última sexta-feira, serviu de motivo para aprofundar uma reflexão que fazemos sempre aqui no Ethos: afinal, para que serve a Responsabilidade Social Empresarial?


Se ainda é difícil “medir” seus efeitos por meio de números e estatísticas tradicionais, é possível identificar mudanças na estratégia e na governança que têm a ver com a internalização dos princípios e valores da gestão socialmente responsável no planejamento das empresas com impactos praticamente imediatos no mercado.

O professor Abramovay chama este processo de “governança não estatal dirigida pelo mercado”. Trata-se de um movimento que cria um conjunto de normas e valores aos quais as empresas aderem voluntariamente e de forma crescente, a tal ponto que este conjunto começa a funcionar como parâmetro para todo um setor. A definição destes padrões, de forte cunho socioambiental e de integridade, tem a participação de organizações da sociedade civil que “fornecem” aos negócios critérios de avaliação para suas atividades que vão muito além do balanço contábil ou da remuneração aos acionistas.

Esta nova abordagem vem fazendo com que as empresas adotem vários indicadores como consumo de energia, emissões de carbono, impactos sobre biodiversidade e populações ao longo da cadeia de valor, etc. A transformação mais evidente, em nosso país, vem ocorrendo com as condições de funcionamento de mercado da commodities. Soja, carne, madeira, biocombustíveis e algodão, entre outros produtos, organizam-se com a participação crescente de ONGs em seu interior.

Exemplos desta influência da sociedade civil na governança: o Pacto Empresarial pela Erradicação do Trabalho Escravo e a Moratória da Soja, que põem em prática um sistema pelo qual as empresas participantes assumem voluntariamente o compromisso de não comprar produtos que venham de empresas condenadas pelo uso de mão de obra análoga à escravidão ( no caso do Pacto) ou de áreas recentemente desmatadas (no caso da Moratória).

Estas ações incentivaram o aprofundamento das discussões a respeito das questões socioambientais que desembocaram em outras iniciativas como a das Conexões Sustentáveis São Paulo – Amazônia, que instituiu pactos setoriais para a carne, a madeira e a soja pela preservação da floresta amazônica. A diferença desta em relação àquelas: a interação das empresas e das ONGs com o Estado em seus diversos níveis. No caso, a prefeitura de São Paulo e o governo do estado aprovaram algumas leis sobre comércio de madeira que privilegia, nas compras públicas, o produto certificado e vindo de áreas de manejo ou de reflorestamento.

Com outras iniciativas do gênero pipocando, vale a pergunta: estamos entrando numa nova era para a governança empresarial, onde a empresa assume cada vez mais compromissos com a sociedade e o meio ambiente e, junto com as organizações civis, propõem políticas públicas às diversas instâncias governamentais? E, se assim for, conseguirmos daí avançar na construção do modelo de desenvolvimento sustentável que queremos e precisamos? É nossa aspiração que sim.

Divulgado na Rádio CBN no dia 23 de agosto de 2010.

Leia Mais?