segunda-feira, 23 de agosto de 2010

“Como a sociedade civil está influenciando a governança das empresas e o mercado contemporâneo”

Um artigo do professor Ricardo Abramovay, publicado no jornal Valor da última sexta-feira, serviu de motivo para aprofundar uma reflexão que fazemos sempre aqui no Ethos: afinal, para que serve a Responsabilidade Social Empresarial?


Se ainda é difícil “medir” seus efeitos por meio de números e estatísticas tradicionais, é possível identificar mudanças na estratégia e na governança que têm a ver com a internalização dos princípios e valores da gestão socialmente responsável no planejamento das empresas com impactos praticamente imediatos no mercado.

O professor Abramovay chama este processo de “governança não estatal dirigida pelo mercado”. Trata-se de um movimento que cria um conjunto de normas e valores aos quais as empresas aderem voluntariamente e de forma crescente, a tal ponto que este conjunto começa a funcionar como parâmetro para todo um setor. A definição destes padrões, de forte cunho socioambiental e de integridade, tem a participação de organizações da sociedade civil que “fornecem” aos negócios critérios de avaliação para suas atividades que vão muito além do balanço contábil ou da remuneração aos acionistas.

Esta nova abordagem vem fazendo com que as empresas adotem vários indicadores como consumo de energia, emissões de carbono, impactos sobre biodiversidade e populações ao longo da cadeia de valor, etc. A transformação mais evidente, em nosso país, vem ocorrendo com as condições de funcionamento de mercado da commodities. Soja, carne, madeira, biocombustíveis e algodão, entre outros produtos, organizam-se com a participação crescente de ONGs em seu interior.

Exemplos desta influência da sociedade civil na governança: o Pacto Empresarial pela Erradicação do Trabalho Escravo e a Moratória da Soja, que põem em prática um sistema pelo qual as empresas participantes assumem voluntariamente o compromisso de não comprar produtos que venham de empresas condenadas pelo uso de mão de obra análoga à escravidão ( no caso do Pacto) ou de áreas recentemente desmatadas (no caso da Moratória).

Estas ações incentivaram o aprofundamento das discussões a respeito das questões socioambientais que desembocaram em outras iniciativas como a das Conexões Sustentáveis São Paulo – Amazônia, que instituiu pactos setoriais para a carne, a madeira e a soja pela preservação da floresta amazônica. A diferença desta em relação àquelas: a interação das empresas e das ONGs com o Estado em seus diversos níveis. No caso, a prefeitura de São Paulo e o governo do estado aprovaram algumas leis sobre comércio de madeira que privilegia, nas compras públicas, o produto certificado e vindo de áreas de manejo ou de reflorestamento.

Com outras iniciativas do gênero pipocando, vale a pergunta: estamos entrando numa nova era para a governança empresarial, onde a empresa assume cada vez mais compromissos com a sociedade e o meio ambiente e, junto com as organizações civis, propõem políticas públicas às diversas instâncias governamentais? E, se assim for, conseguirmos daí avançar na construção do modelo de desenvolvimento sustentável que queremos e precisamos? É nossa aspiração que sim.

Divulgado na Rádio CBN no dia 23 de agosto de 2010.

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