sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

IRBEM: Pesquisa de bem estar é um patrimônio da cidade de São Paulo a ser melhor explorado por governos, empresas e sociedade

Uma importante ação para transitarmos para uma sociedade sustentável é desenvolvermos ferramentas para medir e controlar os reais avanços alcançados.

Há muito o PIB e depois o IDH deixaram de cumprir totalmente com o objetivo de detectar os avanços e progressos. Claro que eles ainda cumprem um papel importante, mas não são capazes de integrar outras dimensões que reflitam os verdadeiros anseios de uma sociedade.

São Paulo já tem os indicadores da cidade que mostram a realidade de todas as subprefeituras, o que permite identificar os indicadores de cada área e se promessas políticas foram efetivamente cumpridas.

Outra importante ferramenta é o IRBEM (Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município), experiência inédita no mundo, que nos permite conhecer a percepção dos paulistanos para a qualidade de vida da cidade. A pesquisa trabalha com indicadores que refletem de maneira bastante ampla a percepção das pessoas para o que é qualidade de vida.

O processo de construção dos indicadores com a participação efetiva da população elegendo os pontos que consideram mais importantes é sem dúvida, uma de suas grandes virtudes.

Essas informações valiosas servem de orientação para ações de governos, empresas e organizações da sociedade civil. Mas o problema é se apropriar dessas informações e coloca-las em prática. É preciso que esses dados sensibilizem os principais atores capazes de implementar movimentos transformadores, mas que nem sempre estão abertos a mudança. A cultura usual de tomada de decisões é pessoal ou de pequenos grupos o que, via de regra, não atende as necessidades da sociedade como um todo.

Enquete revela melhora na percepção do paulistano, mas os índices permanecem abaixo da média

São Paulo ainda é uma cidade que oferece uma baixa qualidade de vida, mas ao mesmo tempo dá sinais de melhorar lentamente, segundo a percepção de seus habitantes. Isso é o que mostrou a pesquisa do IRBEM (Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município), divulgada ontem pela Rede Nossa São Paulo. Foram analisadas 25 áreas com 169 itens avaliados que analisam o nível de satisfação da população com os temas e aspectos mais citados como importantes para a qualidade de vida e o bem-estar na cidade.

Apesar dessa pequena melhora é importante destacar que a maior parte, ou seja, 73% dos itens avaliados estão abaixo da média de 5,5 pontos numa escala que vai de 1 a 10. A qualidade de vida para a população de São Paulo ainda está longe de ser satisfatória.

A qualidade de vida melhorou levemente para 34% dos entrevistados e de forma significativa para 13%. Segundo a enquete, que tem uma margem de erro de três pontos percentuais, 6% dos entrevistados acreditam que a qualidade de vida em 2010 piorou ligeiramente e 3% afirmaram que piorou muito. Enquanto, 44% consideram que as condições de vida na cidade permanecem estáveis.

A pesquisa apontou que 51% dos habitantes da cidade de São Paulo, deixariam a cidade se tivessem oportunidade. Já 48% não querem sair da capital, enquanto 1% não responderam. Os dados registraram uma ligeira melhora em comparação à pesquisa de 2009 quando 57% dos entrevistados gostariam de deixar a cidade.

Dos diversos itens abordados na pesquisa que vão das relações afetivas, passando pelas questões de segurança, transporte, saúde, habitação, consumo, meio ambiente e trabalho até a utilização dos serviços públicos, entre outros, os que merecem as melhores notas de satisfação, são as que podemos chamar de pessoais e que envolvem a relação com a família e amigos, a espiritualidade e a carreira profissional.

Por exemplo, nos itens referentes ao trabalho, a perspectiva de futuro, crescimento e carreira (passou de 6,5 em 2009 para 6,7 em 2010); condições de trabalho (manteve o índice de 6,3) e oportunidades de formação profissional (de 5,7 para 5,8) todos acima da média. Um bom sinal para as nossas empresas na relação com seus profissionais. Ainda na área do trabalho, uma pequena oscilação para baixo pode ser observado no item, equilíbrio entre trabalho e vida pessoal que caiu de 6.4 para 6.3 em relação à pesquisa de 2009.


Em relação aos itens ligados ao consumo, a pesquisa constatou que está havendo uma progressiva conscientização das pessoas em relação a pesquisa realizada em 2009. O incentivo ao consumo moderado e sustentável (passando de 5.1 para 5.5); a durabilidade cultural e material dos produtos (de 5,1 para 5,4); o respeito ao direito do consumidor (de 5,0 para 5,3) e a informação disponível sobre o impacto ambiental dos produtos e empresas (de 4,9 para 5,3). Esses itens em crescimento, apesar de ainda estarem abaixo da média de 5,5 pontos estabelecida pela pesquisa, devem ser observados com bastante atenção. A contribuição das empresas para que esses números possam crescer com maior rapidez nos próximos anos será decisiva. As empresas só têm a ganhar aumentando a transparência e a qualidade das informações e fabricando produtos com maior durabilidade, eficiência e de menor impacto ambiental. Os consumidores, como demostram na pesquisa, tenderão a dar respostas positivas a essas ações.

O paulistano também está mais consciente em relação a sua responsabilidade ambiental (passou de 6,2 para 6,5). E a sua percepção é que a cidade está melhor no quesito ambiental como na coleta seletiva (5,3 para 5,9) e na revitalização e conservação de parques, praças e
várzeas existentes (4,8 para 5,1). Houve melhora, mas insuficiente para atingir um grau satisfatório na qualidade do ar (3,7 para 4,0); despoluição e preservação de rios, lagos e represas (3,7 para 3,9) e um item que registrou evolução, mas com certeza teria um resultado diferente caso fosse realizada nos últimos dias: manutenção de bueiros e galerias e controle de enchentes (passou de 4,0 para 4,4). Como a pesquisa foi feita no final do ano passado antes das enchentes deste ano, o resultado tem explicação.

O lado mais negativo da percepção das pessoas como já havia sido observado no ano anterior, estão nos relativos à transparência e a honestidade dos governantes e das instituições. Apesar de uma ligeira melhora em relação à pesquisa anterior, Ministério Público, Subprefeituras, Prefeitura de São Paulo, Tribunal de Contas e a Câmara Municipal, seguem não sendo confiáveis por metade ou mais dos paulistanos.

Por fim, o item Transparência e Participação Política trás outros resultados preocupantes, pois revela desconhecimento das pessoas ou até mesmo desinteresse em participar dos assuntos ligados à vida pública e a democracia participativa: forma de participação na escolha dos subprefeitos (de 3,4 para 3,6); participação popular em conselhos das subprefeituras (3,3 para 3,5) e acompanhamento das ações dos políticos eleitos (2,8 para 3,1). Alguns desses aspectos podem estar ligados a um grande ceticismo em relação as nossas autoridades públicas que receberam baixíssimas avaliações: a transparência dos gastos e investimentos públicos (2,7 para 3,0); a punição à corrupção (2,6 para 3,0) e a honestidade dos governantes (de 2,3 para 2,7).

Ao invés de causar susto ou perplexidade, fundamental é mirar o futuro, se debruçar sobre os números e se espelhar no que o próprio IRBEM tem como objetivo, ou seja, promover o conhecimento sobre os fatores mais importantes para o bem-estar das pessoas e dar oportunidade para que os gestores públicos, empresas e sociedade civil orientem suas ações para melhorar a qualidade de vida da população.

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quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Desafios das empresas em uma economia inclusiva

A mobilidade social vivida pelo país nos últimos anos foi responsável, segundo pesquisa divulgada pela Fundação Getúlio Vargas em setembro do ano passado, pelo deslocamento de 29 milhões de brasileiros das classes D e E para a classe C, no período de 2003 a 2009, o que trouxe grandes desafios para incorporar essas pessoas no mercado de consumo e, ao mesmo tempo, alterar o comportamento dos consumidores para reduzir o impacto ambiental.

E, é bom ressaltar, esse é um ótimo desafio, já que a classe C, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), atingiu a marca de 50% da população brasileira, com 95 milhões de pessoas, no final de 2009, e ainda está em processo de crescimento. Nas projeções apresentadas na semana passada pelo Ministério da Fazenda à presidenta Dilma Roussef, até 2014 a classe C deverá atingir 56% dos brasileiros, chegando à expressiva marca de 113 milhões de pessoas.

Portanto, essa expressiva alteração no tecido social brasileiro leva-nos a importantes reflexões sobre a resposta que as empresas têm dado à nova realidade.

Uma pesquisa realizada pelo Instituto Data Popular e publicada pela Folha de S. Paulo na primeira semana de janeiro constatou que existe nas empresas uma grande dificuldade, e até mesmo preconceito, em atender os consumidores de baixa renda. Isso declarado por sete em cada dez executivos consultados.

Segundo a pesquisa, esse preconceito deriva, como era de se esperar, da falta de conhecimento. Para 69% dos entrevistados, as áreas de marketing e propaganda, em geral, não demonstram estar preparadas para comunicar-se com esse público. Para os entrevistados, essas áreas, responsáveis pela divulgação das empresas e de seus produtos, pouco ou nada conhecem desse público de baixa renda.

Na verdade, os desafios das empresas podem ser desdobrados em cinco dimensões: a primeira faz referência ao constatado pela pesquisa, ou seja, o fato de as empresas nem sempre saberem se comunicar com esse público. Em alguns casos considera, de maneira equivocada, que são pessoas mais preocupadas com preços mais baixos do que com a qualidade dos produtos.

Em segundo lugar, as empresas, acostumadas com margens de lucro mais altas, têm dificuldade de se adaptar a uma redução dessas margens, pois ainda não percebem que seus resultados poderão vir de investimentos no aumento dos volumes comercializados.

O terceiro ponto refere-se à dificuldade em atender públicos com características diversas. Como atender públicos distintos no mesmo espaço? Como conciliar o atendimento das necessidades das classes A e B, por um lado, e da classe C, por outro?

Ações nesse sentido já existem, é bom ressaltar: Na matéria “Grifes ampliam mercado com segunda marca”, publicada pela Folha de S. Paulo, na última quinta-feira (13/01), estilistas e marcas mais famosas estão buscando atender o público de classe C com produtos de qualidade, mas com preços menores. Enfim, uma tentativa válida de atingir positivamente os integrantes dessa nova classe média.

Em relação ao quarto desafio, as empresas possuem também um papel importante no tocante à orientação dessas famílias que ingressam no mercado de consumo. Elas podem contribuir de maneira efetiva para conscientizar as pessoas para os seus atos de consumo adequados às suas reais necessidades. Ao fazer isso, a empresa contribuirá para colocar a economia nos trilhos da maior eficiência ambiental e social e irá estabelecer uma relação de confiança e respeito entre empresa e consumidor.

Por falar em confiança, esse é o quinto ponto que destacamos e que se insere nos desafios que as empresas precisam encarar com bastante seriedade. Os consumidores duvidam, muitas vezes, da credibilidade das empresas.

Foi essa a conclusão de outra pesquisa, intitulada Responsabilidade Social das Empresas: Percepção do Consumidor Brasileiro, produzida pelo Instituto Akatu e pelo Instituto Ethos e divulgada no ano passado. O relatório revelou que quase metade dos entrevistados não acredita nas informações prestadas pelas empresas. O consumidor sente falta de indicadores confiáveis que realmente comprovem o comportamento socialmente responsável delas.

As pesquisas acabam por concluir que a diversidade da gente brasileira, uma das maiores vantagens competitivas do país, ainda não é considerada fator estratégico pelas nossas empresas.

Esse cenário, em que aparecem claramente desconhecimento de um lado e desconfiança de outro pode e deve ser mudado com a máxima urgência. O empresariado brasileiro precisa estabelecer uma nova relação baseada na transparência. Precisa adotar compromissos claros, com metas, objetivos e prazos bem definidos, além da prestação de contas periódicas. É necessário também que as empresas estejam atentas e sensíveis aos novos tempos e, acima de tudo, que aprendam a ouvir e entender essa grande massa de consumidores/cidadãos.

Isso vai exigir da gestão um pensamento de longo prazo e de vanguarda, com investimento em práticas que produzam resultados que sejam percebidos e avaliados positivamente pela sociedade. A transparência nos negócios e uma comunicação de mão dupla que saiba o que dizer, mas também seja capaz de ouvir os consumidores de todas as faixas de renda, é um bom desafio em que todos ganham.

Essa adequação das empresas é urgente, pois, esperamos que a ascensão das faixas mais pobres da população seja uma tendência irreversível que garanta o sonhado fim da pobreza e o alcance de qualidade de vida para todos. Nos últimos anos assistimos a esse movimento de pessoas que antes mal consumiam para a sua própria sobrevivência e hoje já integram uma nova classe média, com poder de consumo e também ávida pela conquista de respeito e de seus direitos como cidadãos.

Quebrar paradigmas, vencer preconceitos e buscar os caminhos de um desenvolvimento mais sustentável são bandeiras defensáveis do ponto de vista moral, mas também condições sine qua non para o futuro dos negócios. São mudanças que beneficiam a todos: empresários, consumidores e, enfim, todos os cidadãos brasileiros.

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