sexta-feira, 29 de abril de 2011

Termina hoje o maior Fórum Econômico Mundial da América Latina, no Rio de Janeiro

Encerra-se hoje, no Rio, o maior Fórum Econômico Mundial já realizado na América Latina. Segundo Marisol Argueta de Barillas, presidente do Fórum para a América Latina e o Caribe, a inscrição para o fórum precisou ser encerrada um mês antes do evento por conta da grande procura. Muitos países que não integram a América Latina enviaram representantes interessados na região. Somente a comitiva dos EUA teve 39 participantes no evento. Ao todo, 700 pessoas de 42 países marcaram presença no evento, mostrando a importância do continente e do Brasil no atual cenário internacional.

O tema central foi "Construindo a Plataforma para uma Década Latino-Americana", que teve desdobramentos em 29 painéis estruturados a partir de três vertentes básicas:

- Governança regional e internacional;
- Avanços em inovação e produtividade para o crescimento equitativo;
- Promoção de parcerias para o desenvolvimento sustentável

Ainda foram discutidos assuntos como: expansão e modernização da infraestrutura, avaliação de futuros riscos globais que podem afetar a região na próxima década, desenvolvimento do potencial da América Latina como fornecedor de alimentos e energia; e promoção de parcerias estratégicas com países asiáticos.

As opiniões divergiram sobre vários itens, mas concordaram em alguns pontos. Um deles é que a América Latina tem dois gargalos que precisa resolver com urgência se não quiser comprometer seu crescimento nos próximos anos. O maior deles é o da falta de qualidade da educação, principalmente de nível superior. Avanços em inovação e produtividade, fundamentais para a transição a uma economia inclusiva, verde e responsável, dependem de uma educação de alta qualidade. O empresário Roberto Teixeira da Costa, do Conselho de Empresários da América Latina, em uma frase, chegou ao cerne do problema educacional – e da solução para ele - no nosso continente. “O Ministério da Educação deveria ser mais importante que o Ministério da Fazenda”. De fato, estamos mais preocupados com medidas macroprudenciais e com a curva da inflação do que com as metas que temos de atingir para superarmos os ainda profundos ossos educacionais.

No caso brasileiro, a sugestão mais ouvida para solucionar este atraso educacional e tecnológico foi usar os royalties do pré sal para criar institutos de alto nível, principalmente em pesquisa e desenvolvimento de inovação.

Muitos participantes também se perguntam se o continente tem tempo de esperar uma geração para colher os resultados positivos das melhorias educacionais. Hoje, há milhões de latino-americanos na faixa dos 30 anos que precisam de incentivo para serem empreendedores. Governos – e empresas – precisam dar atenção a isso, pois o empreendedorismo é fundamental para a superação da pobreza, já que ele garante renda e trabalho, bem como distribui riqueza.

Outro tema bastante discutido foi como o investimento na educação das mulheres pode representar um caminho para a superação da miséria e, mais do que isso, para avançar a sociedade no rumo da sustentabilidade.

Um dado interessante, que não foi mencionado no Fórum, é que o Brasil perde 10% do PIB com a violência contra a mulher. O dado foi destacado pela corregedora nacional de Justiça, ministra Eliana Calmon, , durante palestra em homenagem ao Dia Internacional da Mulher na Câmara Municipal de Salvador (BA), realizada em março.

Segundo a ministra, a estimativa se refere aos gastos com o sistema de saúde no atendimento às vítimas, à movimentação do aparelho judicial e policial e à interrupção do trabalho das mulheres agredidas.

Leia Mais?

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Como empreender em um mundo melhor e lucrar com isso

(Conteúdo gentilmente cedido pelo SESI – Serviço Social da Indústria)
Carolina Romano, especial para o SESI


Há mais de uma década, o acadêmico indiano Coimbatore Krishnarao Prahalad ganhou a atenção do mundo com uma estratégia de combater a pobreza por meio do lucro. Sua teoria demonstrava que a somatória de tecnologia, expertise gerencial e capacidade de investimento seriam insuficientes para sanar as questões da miséria e da desigualdade social. Para ele, a chave desta transformação estaria na criação de produtos e serviços acessíveis às camadas carentes da população.

A ideia de Prahalad, de gerar riqueza na base da pirâmide, foi levada a cabo e teve sua continuidade e execução garantida pelo professor de economia bangalês, Muhammad Yunus, fundador do banco Grameen e ganhador do Prêmio Nobel da Paz. Yunus desenvolveu o inovador programa econômico do microcrédito, que consiste em emprestar capital para pessoas de baixíssima renda que não têm crédito junto aos bancos tradicionais e querem desenvolver seus pequenos empreendimentos.

O Grameen Bank (http://www.grameen-info.org/), aberto em 2006, conta com números impressionantes em sua curta trajetória: possui hoje 2.185 agências, cerca de 20 mil funcionários e o equivalente a aproximados US$ 6 bilhões em empréstimos concedidos.

Yunus representa de forma ilustre uma classe que vem ganhando importância e reconhecimento na economia mundial: a dos empreendedores sociais, pessoas capazes de criar novos modelos de negócios para fazer empresas prosperarem a serviço de uma causa social. Longe da imagem de filantropos idealistas, estes profissionais têm planos de negócio bem traçados, fazendo uso de linhas de financiamento e parcerias estratégicas com outras empresas e governos.

Apesar do assunto ser relativamente novo, a dinâmica social do mundo de hoje vem levando à transformação de conceitos políticos e econômicos que beneficiam o desenvolvimento socioambiental. As empresas começam a notar que este é um tema inerente ao mercado e,portanto, passam a implementar políticas acerca do assunto. “Em apenas uma década não se fará distinção entre um empreendimento social e um tradicional, porque essa será uma característica intrínseca a qualquer negócio”, preveem John e Pamela Elkington, especialistas em desenvolvimento sustentável e autores do livro “Empreendedores sociais: o exemplo incomum das pessoas que estão transformando o mundo” (Editora Campus/Elsevier – 242 páginas).

Os autores estudam exemplos de sucesso de empreendimentos sociais e ambientais pelo mundo, como o da rede americana de alimentos orgânicos Whole Foods Market (http://www.wholefoodsmarket.com/), fundada no começo da
década de 80, e que conta hoje com 200 lojas nos Estados Unidos e na Inglaterra, somando um faturamento de 4,7 bilhões de dólares por ano.

Segundo os Elkingtons, os empreendedores sociais podem ser divididos em três grupos distintos: os empreendimentos sem fins lucrativos, os negócios híbridos (geridos por doações, mas capazes de gerar alguma receita) e os que funcionam como empresas tradicionais, apresentando lucro.

Quem empreende por aqui
O Brasil vem se destacando mundialmente como um pólo de negócios sociais bem sucedidos. Pode-se dizer que o sucesso deste tipo de empreendimento está, não na maximização dos lucros, mas na combinação entre sustentabilidade econômica e potencialização do impacto social positivo pretendido pelo negócio.

O projeto do empreendedor e chef de cozinha David Hertz, a Gastromotiva (http://www.gastromotiva.org/), é exemplo desta nova fórmula que já está se mostrando viável e eficiente. David lidera um programa anual que capacita jovens de baixa renda a se tornarem chefs. O programa, que conta com patrocínio do banco JPMorgan e da Universidade Anhembi Morumbi, também ensina e incentiva os participantes a abrirem negócios gastronômicos em suas comunidades, promovendo o desenvolvimento local. A gastromotiva atua ainda em duas outras frentes para garantir sua sustentabilidade econômica: um serviço bufê-escola e a venda de produtos relacionados à cozinha. “Quanto mais serviço prestamos, mais jovens de baixa renda podemos capacitar. Isso que nos traz ganho também aumenta as chances desses jovens de empreender em suas próprias comunidades”, acredita Hertz. Hoje o bufê-escola já atende demandas de grande porte, vindas de empresas como Reebok, Editora Globo e Banco do Brasil. Até mesmo a recepção de Bill Clinton na edição brasileira do Ethanol Summit, que contou com a presença de 700 pessoas, foi feita pela Gastromotiva. Agora, Hertz espera aumentar as vendas e, consequentemente, ampliar também o impacto social positivo dessa iniciativa.

A atuação de David Hertz nos negócios sociais já começa a se configurar em uma nova rede mundial. “Estamos recebendo um estagiário dos EUA e outro de Cingapura. Tive uma estagiária por seis meses que agora está replicando o modelo da Gastromotiva na Indonésia”, alegra-se ele.

Mas quem comemora mesmo é o terceiro setor como um todo, que há tempos promove o conceito de empreendedorismo social no Brasil por meio de ONGs de atuação internacional. A Artemisia (http://www.artemisia.org.br/), por exemplo, organização não governamental que está no país desde 2004, tem como papel capacitar empreendedores e estudantes em negócios sociais. Além de facilitar o acesso ao conhecimento necessário para esse tipo de empreitada, a instituição apoia financeiramente projetos em que acredita. No Brasil, já são 19.

Segundo Fábio Santiago, diretor-executivo da Artemisia Brasil, o plano de negócio desses novos empreendimentos deve considerar a inovação no sentido de contribuir para a inclusão social e para a melhoria da qualidade de vida das pessoas. “Inovação para nós é, por exemplo, oferecer produtos e serviços já existentes a pessoas que não teriam acesso a eles, atuando na reconstrução de toda a cadeia de produção e distribuição para que o resultado se torne verdadeiramente acessível”, explica.

Esse também é o ideal da rede de distribuição de produtos orgânicos Sementes de Paz(www.sementesdepaz.org), que tem como base os princípios da Economia Solidária e do Comércio Justo. A rede aproxima os produtores dos consumidores,comercializando cestas de alimentos orgânicos produzidos nos arredores de São Paulo.

A Sementes de Paz pratica o que o movimento do Comércio Justo define como preço justo. Isso quer dizer que o produtor fica com 60% do valor final da venda. As entregas são feitas semanalmente em núcleos de distribuição geridos pelos próprios compradores que, garantem, pagam preços mais baixos que os dos supermercados. Além disso, os consumidores da rede têm o hábito de se encontrar para compartilhar ideias sobre os resultados, a expansão dos negócios e o modelo de gestão dos núcleos. Também vale se divertir e trocar uma ou outra receita.

Para a Ashoka (http://www.ashoka.org.br/), outra ONG de atuação internacional e protagonista no fomento do terceiro setor no Brasil, o empreendedorismo social é a mais poderosa força transformadora da sociedade. Os empreendedores sociais da organização fazem parte de uma rede mundial de intercâmbio de informações, colaboração e disseminação de projetos composta hoje por mais de 1.600 empreendedores, 250 deles no Brasil, que recebem capacitação e uma bolsa mensal por três anos para que possam se dedicar exclusivamente ao projeto.

Já a Plura Consultoria e Inclusão Social (http://www.plura.com.br/) nunca contou com apoio de nenhuma outra entidade. E não reclama disso. Voltada para a capacitação, colocação e retenção de profissionais com deficiências no mercado de trabalho, contribui para o aumento do índice de empregabilidade brasileiro. “Auxiliamos as empresas a se adequarem às exigências da Lei de Cotas, levando em consideração os fatores humanos do processo”, conta Julia Maggion, sócia e responsável pelo planejamento da empresa.

O desafio da Plura é fornecer, tanto aos candidatos quanto às empresas, as ferramentas necessárias para o processo de inclusão. “O verdadeiro trabalho é transformar não só a cultura interna das empresas, mas promover por meio de treinamentos e vivências a cultura da inclusão do portador de deficiência na sociedade”, completa. Segundo ela, trabalhar com o conceito de acessibilidade nas escolas é essencial para minimizar, no futuro, as dificuldades que, hoje, a Plura enfrenta.

Ao lado do sócio, Alex Vicintin, Julia desenha planos de expansão para a atuação na área. “Queremos trabalhar com Educação Inclusiva e, sob este guarda-chuva, oferecer produtos e serviços que integrem responsabilidade social e ambiental”, diz. Os sócios acreditam que o caminho seja unir atividades segmentadas numa espécie de holding “do bem”, ou seja, com objetivo de trazer benefícios para a sociedade.

O Instituo Muda (http://www.institutomuda.com.br/) é outro bom exemplo de negócio social. A instituição, em atividade na cidade de São Paulo, surgiu para mudar a relação entre moradores e moradias nos centros urbanos. As atividades da ONG têm foco na responsabilidade ambiental e já foram destaque na edição de 2009 do Programa Iam – Iniciativa Jovem Anhembi Morumbi, que identifica e apoia projetos de jovens empreendedores sociais há, no mínimo, um ano.

Resumidamente, o Muda mensura e gerencia os processos de coleta seletiva de resíduos, racionalização de água, energia elétrica e gás, entre outras reformas internas e customizadas para cada morador. O objetivo é minimizar os gastos e os impactos ambientais dos edifícios, casas e locais públicos. “Em um edifício, todos os moradores pagam pelo consumo de água total. Quando cada um passa a arcar com os seus próprios gastos, a redução é significativa”, conta Alexandre Furlan, sócio-fundador do instituto. Para isso, contam com a parceria tanto da prefeitura quanto das cooperativas de lixo, catadores de rua e empresas de reciclagem especializadas. A intenção é mostrar que lâmpadas com menor consumo são necessárias, mas que há muito mais para economizar.

Esses empreendedores de negócios sociais, em sua maioria, trazem na bagagem outras tentativas de fazer vingar um negócio próprio e daí a percepção de que uma atividade profissional tem valor desde que vá ao encontro de seus valores e garantam satisfação pessoal. O que todos têm em comum é a convicção de que, no novo mundo que se anuncia, não existe crescimento sem que se considere os impactos socioambientais na formulação e nos custos dos produtos ou serviços oferecidos por qualquer empresa ou atividade comercial.

O revés do microcrédito
A crença de Yunus de que as microfinanças poderiam “colocar a miséria nos museus”, somada ao perfil responsável dos tomadores de microcrédito – geralmente mulheres que trabalham por conta própria, pouco afetadas pela turbulência nos mercados mundiais e que mantêm as taxas de pagamento em algo entre 95% e 98% -, jogou luz à pratica transformando-a em negócio globalizado, que liga as finanças internacionais a algumas das comunidades mais pobres do mundo.

Investidores de capital de risco, como a Sequoia, e fundos de pensão, como o TIAA-Cref, dos Estados Unidos, começaram a despejar dinheiro na atividade.

Ao mesmo tempo, bancos globalizados passaram a oferecer investimentos em microfinanças para seus clientes privados, enquanto sites da internet possibilitavam microempréstimos de pessoa física para pessoa física. No fim de 2009, as microfinanças globais registravam cerca de US$ 12 bilhões em investimentos internacionais, contra US$ 4 bilhões três anos antes, segundo o Grupo Consultivo de Ajuda aos Pobres (CGAP), uma entidade ligada ao Banco Mundial (Bird).

A Microfinance Information Exchange, empresa que fornece dados sobre esse setor, afirma que mais de 95 milhões de microtomadores de empréstimo possuem, juntos, cerca de US$ 65 bilhões em créditos – com um empréstimo médio de US$ 520 por pessoa.

Diante desse cenário, a prática foi enchendo os olhos dos que visam lucro e se distanciando de seu objetivo inicial, o de reduzir a miséria. Muitas vezes, o dinheiro é emprestado com pouco critério para pessoas que não o investem na geração de um negócio, mas o usam para pagar antigos empréstimos ou mesmo, para comprar bens de consumo, como televisores e aparelhos celulares.

Além disso, as altas taxas de juros embutidas nas cobranças dos empréstimos têm levado, na Índia, a uma onda de suicídios por parte dos tomadores de microcréditos que se encontram devendo muito dinheiro sem ter perspectiva alguma de quitar seus débitos.

Países como Marrocos, Bósnia, Nicarágua e Paquistão também foram atingidos pelas crises dos pagamentos dos microempréstimos. Na Nicarágua e no Paquistão, os problemas aumentaram quando líderes políticos e religiosos exortaram as pessoas a não pagarem os empréstimos contraídos.

“Para dimensionar as microfinanças ao seu verdadeiro potencial – tornando-as acessíveis ao maior número de pobres possível -, elas precisam ser sustentáveis,mas há um elemento de responsabilidade aí”, afirma Jennifer Meehan, da Fundação Grameen, que promove os ideais do professor Yunus. “Certas partes do setor esqueceram-se de seu propósito. As microfinanças são um meio para se atingir um fim: o fim é a redução da pobreza e a transformação do cliente, não o crescimento da instituição credora”, complementa.

Fonte: Mercado Ético

Leia Mais?

terça-feira, 26 de abril de 2011

Metas para o Brasil, para Estados e cidades

Oded Grajew
O programa de metas e o seu acompanhamento permitem à sociedade e à mídia uma avaliação objetiva do mandato dos eleitos a cargos executivos

Está sendo entregue no dia de hoje às lideranças partidárias no Congresso uma proposta de emenda constitucional, subscrita por pessoas físicas e dezenas de entidades representativas da sociedade civil, que determina que presidente(a) da República, governadores(as) e prefeitos(as) eleitos(as) apresentem um Programa de Metas e Prioridades de sua gestão até 90 dias após a respectiva posse. Esse programa de metas precisa estabelecer metas quantitativas e qualitativas para cada um dos setores da administração pública (educação, saúde, trabalho, habitação etc.), para cada uma das regiões (para visibilizar e melhor combater a desigualdade regional) e precisa conter todas as propostas e promessas da campanha eleitoral.

O programa deverá especificar metas e indicadores de meios (por exemplo, a construção de hospitais, postos de saúde, escolas, creches etc.) e metas e indicadores de resultados (por exemplo, a redução da mortalidade infantil e materna, da evasão escolar, do analfabetismo, de deficit de creches etc.).

O Poder Executivo deverá divulgar, a cada quatro meses, uma prestação de contas sobre o andamento do plano de metas.
O programa de metas deverá seguir diversos critérios, entre eles o combate à miséria, a inclusão social com redução das desigualdades regionais e sociais, a melhoria da qualidade de vida da população, a promoção e a defesa dos direitos humanos, a promoção do meio ambiente ecologicamente equilibrado e de uma economia inclusiva, verde e responsável e a universalização dos serviços públicos com eficiência e qualidade.

Essa iniciativa foi inspirada pela experiência na cidade de São Paulo, onde uma proposta semelhante, apresentada pela Rede Nossa São Paulo, apartidária e que congrega 650 organizações da sociedade civil, foi acolhida por unanimidade pela Câmara Municipal. A atual gestão apresentou 223 metas, que estão sendo acompanhadas atentamente pela população e pela mídia.

A proposta, caso aprovada, será um enorme avanço no aperfeiçoamento da democracia participativa e estimulará a melhoria da qualidade da gestão pública.

Não conheço nenhuma organização, pública ou privada, bem-sucedida que não trabalhe com metas, acompanhamento e avaliação regular dos resultados. Esse não é o caso da maioria das nossas políticas públicas. Não é por acaso que, no Brasil, que tem uma carga tributária equivalente àquela da maioria dos países do Primeiro Mundo, os serviços públicos são, em geral, de baixíssima qualidade.

A obrigatoriedade de colocar as promessas de campanha no programa de metas torna o processo e as campanhas eleitorais mais responsáveis e estimula a elaboração mais qualificada dos programas.

O programa de metas e o seu acompanhamento permitem à sociedade e à mídia uma avaliação muito mais objetiva do mandato dos eleitos a cargos executivos. O governante será avaliado de forma mais objetiva, e o eleitor poderá estar mais informado para votar de forma mais consciente.

O estabelecimento de metas e a regular prestação de contas aumentam a transparência na gestão pública e inibem a corrupção. Queremos que essa proposta, ao tratar dos interesses e dos anseios de todos os brasileiros, seja abraçada pelo governo e pela oposição.

Todos os partidos políticos, sem exceção, advogam, em seus programas, todos os itens contemplados nessa proposta. Terão, assim, a oportunidade de provar a coerência entre seu discurso e ação. A aprovação dessa emenda constitucional dará um enorme salto de qualidade ao processo político brasileiro.

Oded Grajew, 66, empresário, é coordenador-geral da secretaria-executiva da Rede Nossa São Paulo e presidente emérito do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social. É idealizador do Fórum Social Mundial e idealizador e ex-presidente da Fundação Abrinq. É integrante do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Foi assessor especial do presidente da República (2003).
Fonte: Folha de São Paulo

Leia Mais?

segunda-feira, 25 de abril de 2011

A Rio + 20 e o protagonismo brasileiro

Quando mencionamos os grandes eventos que o Brasil vai sediar nos próximos anos, lembramos da Copa do Mundo de futebol e das Olimpíadas. Mas, já no ano que vem, vai se realizar no Rio de Janeiro a mais importante Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável dos últimos tempos. Também conhecida como Rio + 20, a conferência será fundamental para acelerar e dar escala global à transição para uma economia inclusiva, verde e responsável, onde o Brasil tem papel estratégico e decisivo.

Esta é a avaliação de Achim Steiner, diretor-executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e sub-secretário geral da Organização das Nações Unidas que está no Brasil para reunir-se com representantes de governos, da sociedade e do setor privado. Num artigo publicado ontem na Folha, Achim afirma: “O engajamento do Brasil será crucial para moldar a ambição internacional para a Rio + 20, ao mesmo tempo em que destacará a experiência do próprio país, desde sua economia à base de etanol até a gestão aprimorada dos patrimônios baseados na natureza, incluindo a Amazônia”.

Em fevereiro deste ano, o Pnuma publicou um relatório denominado “Rumo a uma economia verde: caminhos para o desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza”, com dados e análises de economistas sobre políticas públicas que podem alavancar a transição para outra economia. O documento foi lançado em Nairobi, capital do Quênia, para servir de base ás discussões sobre desenvolvimento sustentável, rumo à Rio + 20.

Em resumo, o relatório conclui que a economia verde já está aí mas, para tirar do papel as idéias que podem fazer o modelo atual transitar de fato para outro paradigma, mais sustentável, o mundo precisaria investir o equivalente a 2% do PIB mundial por ano. Em 2010, o FMI calculou este PIB em 62 trilhões de dólares. Este investimento também precisa ser feito em dez setores estratégicos como construção civil, energia, água, florestas, agricultura, pesca, transportes, resíduos, turismo e indústria.

O Brasil, sob a presidência de Lula, ganhou, em 2009, o direito de sediar a conferência internacional da ONU sobre desenvolvimento sustentável. E conseguiu pelo destaque que já vinha obtendo com relação ao controle do desmatamento da Amazônia e das políticas publicas de redução da miséria. Contou também o fato de a conferência sobre meio ambiente realizada no Rio em 1992 completar 20 anos. “Rio + 20” é a maneira de informar que 2012, no Rio, será um balanço do que o mundo fez em relação aos compromissos de 1992 e do que fará nos próximos 20 anos. Há dois temas centrais nesta conferência: economia verde e combate à pobreza, com a proposta de criação de uma governança global que alie as três vertentes da sustentabilidade: progresso econômico, equilíbrio ambiental e desenvolvimento humano.

Vale lembrar que a Rio 92 foi o nome da II Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e teve como principal tema a discussão sobre desenvolvimento sustentável. Estiveram presentes 117 chefes de Estado, o maior número já reunido por uma conferência internacional de qualquer natureza, tentando encontrar soluções para os problemas ambientais e sociais do planeta.

De lá saíram o primeiro acordo sobre clima, o primeiro sobre biodiversidade e a resolução de se fazer anualmente a “conferência das partes” sobre estes temas- as Cops. Também é resultado da Rio 92 a Agenda 21, que comprometia as nações signatárias com a adoção de métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica.

A Rio + 20 quer que o desenvolvimento sustentável saia do papel e entre nas práticas dos governos e das empresas. Por isso, trabalha para haver um acordo que garanta o investimento necessário para a transição da economia, por meio de políticas públicas que facilitem o financiamento da inovação; e que transfira subsídios da “economia marrom” para os dez setores estratégicos da economia verde.

Uma das medidas mais eficazes para acelerar este processo é mudar as contas nacionais, incluindo o capital natural como ativo e estabelecendo diretrizes para calcular a sua depreciação.

As empresas brasileiras também assumiram posições avançadas em relação aos temas da sustentabilidade, principalmente em mudanças do clima e na preservação da biodiversidade. No primeiro caso, em 2009, adotando metas voluntárias de redução das próprias emissões de carbono e propondo ao governo federal que também fizesse o mesmo em relação ao país. Isto foi feito. O presidente Lula anunciou publicamente, durante a COP 15, em Copenhague, que o Brasil iria reduzir suas emissões independentemente de acordos internacionais. E, no final do ano, o Congresso aprovou a Política Nacional de Mudanças do Clima, regulamentada no final de 2010, que estabelece redução das emissões de carbono em 38% até 2020. As empresas também lançaram o Fórum Clima – Ação Empresarial sobre Mudanças Climáticas, um grupo de trabalho formado para acompanhar os compromissos de redução de carbono promover diálogos entre empresas e governos em favor dos melhores resultados para as políticas de mudanças climáticas do país.

As empresas brasileiras ainda lançaram em 2010 o Movimento Empresarial pela Biodiversidade (MEB), assumindo compromissos voluntários pela conservação e uso sustentável da biodiversidade e entregando ao governo propostas no mesmo sentido.

Por isso, elas precisam encarar a conferência como uma oportunidade de serem protagonistas da mudança global. Como fazer isso? Uma idéia é contribuir na mobilização da sociedade para os temas do desenvolvimento sustentável.

As empresas podem também fazer propostas que contribuam com o governo na missão de ampliar o debate democrático para toda a sociedade, por meio de consultas a ONGs, sindicatos, outras empresas e entidades de classe sobre o posicionamento oficial do país em relação aos temas centrais da Rio + 20.

Esta conferência também pode ser uma excelente oportunidade para os governos mostrarem os critérios de sustentabilidade adotados para financiar as grandes obras que estão sendo feitas para a Copa e as Olimpíadas.

É importante deixar bem evidente para as centenas de milhares de pessoas que virão ao Rio e para os outros milhões que acompanharão os trabalhos pelas redes sociais ou veículos de comunicação que o Brasil – e nele, as empresas – entendem que a economia, para transformar a realidade e construir o desenvolvimento sustentável para um mundo melhor, precisa ser mais do que verde. Precisa ser inclusiva, verde e responsável. E que nós já estamos nesse caminho.

Leia Mais?