sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Sustentabilidade tem valor no mercado

A mais recente pesquisa mundial da da McKinsey mostra que a sustentabilidade está se consolidando na agenda empresarial mundial.

Chamada “Tirando valor da sustentabilidade”, a pesquisa foi lançada na semana passada em São Paulo. Realizada durante o mês de julho, online, coletou as respostas de 3 mil executivos ocupando diferentes cargos em diferentes ramos da economia. O objetivo era saber como estava a situação da gestão sustentável “da porta para dentro” da empresa.

Os resultados mostraram alguns avanços importantes.

Sem maquiagem

O primeiro resultado que chamou a atenção da McKinsey é que mudou o olhar das empresas sobre a sustentabilidade. Os motivos para adotá-la na gestão estão ligados a eficiência operacional (33% das respostas este ano, contra 19% em 2010). Já para 27% dos executivos, a sustentabilidade representa novas oportunidades de crescimento, contra 17% das respostas obtidas em 2010.

Com respeito às práticas que estão sendo efetivamente adotadas pelas empresas, 63% dos executivos responderam que estão reduzindo o uso de energia elétrica; 61% evitam o desperdício de materiais; e 43% afirmam ter diminuído as emissões de gases de efeito estufa dos processos produtivos.

Questões ligadas a marca e reputação foram muito pouco votadas, o que indica, na observação da MacKinsey, que as empresas estão cada vez mais distantes da adoção de medidas de sustentabilidade por motivos de marketing. A tendência mostrada na pesquisa de 2011 é que o tema está entrando de vez no cerne da gestão do negócio, mas apenas pelo viés ambiental. Impactos sociais e questões relativas à ética e integridade nos negócios. Esses dois eixos também fazem parte da sustentabilidade.

As respostas dos brasileiros

Noventa empresas brasileiras responderam o questionário da McKinsey. Um terço delas encara a sustentabilidade como oportunidade de negócios; 3% a considera um risco. Essa resposta destaca o Brasil dos outros países, uma vez que, lá fora, a tendência dos negócios é avaliar a sustentabilidade tanto como “oportunidade perigosa” quanto como “risco oportuno”. Ou seja, os empresários brasileiros estão menos receosos, na opinião da McKinsey. Alguns fatores podem explicar essa atitude. Um deles é a abundância de matérias-primas. Outro é o pequeno risco de faltar água do país (se comparado com outras regiões do planeta).

O fato é que as empresas brasileiras passaram a enxergar a sustentabilidade como uma alavanca para a geração de valor. Por isso, no Brasil, o movimento em prol da sustentabilidade ganha cada vez mais importância no cenário mundial.

O grande capital natural do país é uma vantagem comparativa que permite aos executivos brasileiros olhar o futuro com mais otimismo. No entanto, essa mesma abundância traz a dificuldade de tratar o tema da escassez de recursos com a necessária urgência para transformar a vantagem comparativa em vantagem competitiva.

O Brasil dorme no berço esplêndido do potencial e não lida com a escassez de recursos já próxima – 2020.

Até esse ano, mais três bilhões de pessoas vão deixar a pobreza e serem incluídos na classe média mundial, consumindo cada vez mais esses já escassos recursos. Por enquanto, o mercado tem regulado a demanda. Mas, o preço alto não será suficiente para reduzir a demanda. A atividade agrícola, por exemplo, tem pouco espaço para expandir. Hoje, há 1,6 bilhão de hectares ocupados pela agricultura. O limite de uso sem causar conseqüências negativas é de 2 bilhões de hectares.

É preciso agir

A pesquisa citada mostra que se a consciência avançou. Mas as ações de liderança, por parte das empresas e dos governo ainda estão aquém do potencial existente.

Nesse sentido, a Rio+20 apresenta-se como uma excelente oportunidade para o exercício dessa liderança. Empresas e governos podem assumir, em conjunto ou individualmente, compromissos mais fortes no rumo do desenvolvimento sustentável. Por exemplo: comprometer-se a adotar padrões mínimos de operação por parte das empresas estatais e daquelas brasileiras que também operam em outros países,

Outro exemplo de compromisso necessário para a liderança brasileira: investir pesado em inovação. E aí temos uma boa notícia: o Ministério da Ciência e da Tecnologia pretende instalar parques tecnológicos nas regiões mais biodiversas do país, para agregar valor à biodiversidade. Seria o “vale do silício da biodiversidade”. Seria ótimo poder dar a notícia do início da construção desses parques já na Rio+20.

A idéia é desenvolver potencial de cada produto sem derrubar floresta. Na Amazônia, por exemplo, já foram identificados 300 produtos com reconhecido potencial, mas o Brasil só usa comercialmente seis: guaraná, açaí, castanha, cupuaçu, graviola e látex, conforme notícia veiculada pelo jornal Valor de 6/10/2011.

Um exemplo do que o país perde é dado pelo açaí. Aqui, é vendido como suco ou sorvete e tem algumas aplicações em cosméticos. Nos EUA, o fruto vira 20 produtos diferentes, do tradicional suco até fitoterápicos e suplementos alimentares.

Se não houver investimento em inovação, o país continuará a ser exportador de matéria-prima e só.

A idéia é que esses parques tecnológicos ajudem a desenvolver uma indústria que dê empregos, crie renda e gere desenvolvimento. Sem derrubar floresta.

O Brasil precisa inverter as suas prioridades. Por enquanto, comporta-se como um herdeiro rico que gasta a fortuna sem se preocupar com o futuro, achando que ela vai durar para sempre. Um exemplo dessa atitude é a permanência de uma a´rea totalmente desmatada e abandonada de cerca de 200 mil km2.

Empresas, governos e sociedade precisam adotar outro modo de vida: de usar a riqueza de hoje para gerar mais riqueza, lembrando que nosso maior diferencial é a economia do conhecimento natural.

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quarta-feira, 5 de outubro de 2011

“Entendendo as lacunas dos sistemas de integridade no Brasil”

O Instituto Ethos lançou ontem, em Brasília, os resultados preliminares de uma pesquisa realizada pelo Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), sobre os sistemas de integridade nos Estados brasileiros.

O lançamento fez parte do seminário “Fundamentos para a Prevenção e o Combate à Corrupção”, que marcou o encerramento do Convênio Mobilização do Setor Privado pela Integridade e pelo Combate à Corrupção, entre a Coordenadoria-Geral da União (CGU), o Instituto Ethos e o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), o qual vigorou entre abril de 2009 e julho de 2011.

Contando com a participação de representantes das três entidades e também do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea), do Ministério do Planejamento, do Ministério Público Federal, da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e da Procuradoria Geral da República, o seminário também discutiu uma nova lei para as compras públicas no Brasil. As reflexões dessa parte do seminário foram transformadas em propostas a serem encaminhadas ao projeto Jogos Limpos, a iniciativa do Instituto Ethos que visa mobilizar a sociedade por maior controle nos orçamentos e gastos públicos nos megaeventos esportivos que vão ocorrer no país entre 2014 e 2016.

O que é a pesquisa

Denominada Sistemas de Integridade nos Estados Brasileiros, a pesquisa é produto do convênio Ethos-CGU-UNODC recém-encerrado e avalia os mecanismos de proteção contra a corrupção nos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal. Ao apontar potenciais fraquezas nesses mecanismos, os realizadores esperam que a pesquisa sirva de instrumento de ação política para um planejamento dos diversos setores da sociedade e do governo que atuam como defensores da ética e da integridade em nosso país.

Há mais de duas décadas, a corrupção é assunto recorrente na vida política do país. Talvez por isso, a consciência da sociedade a respeito dessa prática vem se refinando ao longo dos anos. Aquilo que na década de 1980 era percebido como falha moral de determinados indivíduos foi sendo objeto de reflexões mais profundas por parte dos brasileiros até chegar ao estágio atual de consciência sobre o fenômeno: trata-se de um problema sistêmico que vai muito além do moralismo.

A corrupção não é somente o problema de algumas (ou muitas) pessoas mal-intencionadas. O combate a ela depende, em grande parte, dos arranjos institucionais, especificamente das leis que regem a gestão dos recursos públicos, e dos mecanismos de controle por diferentes instituições públicas, em combinação com uma mídia independente e uma sociedade civil vigilante.

Considerando o modelo federativo do Estado brasileiro, é fundamental analisar o sistema de integridade nos poderes de administração em âmbito estadual/provincial e local/municipal. É, muitas vezes, nessas esferas institucionais que ocorre a corrupção, que não é um fato do Poder Executivo central, mas de todo o arcabouço de Estado, quando o “sistema” não funciona.

Veja a seguir as principais conclusões do estudo Sistema de Integridade nos Estados Brasileiros.

Parâmetros do estudo

Foram selecionadas oito áreas para análise: execução orçamentária; modalidades das licitações de bens, serviços e obras; institucionalização de controle interno; independência dos colegiados dos Tribunais de Contas; força da oposição nas Assembléias Legislativas; desenho legal e desempenho prático das comissões parlamentares de inquérito para investigar irregularidades; participação da sociedade civil nos conselhos de gestão; e imparcialidade da mídia local no acompanhamento de casos de corrupção nos Estados.

Sobre cada uma dessas áreas foram aplicados quatro indicadores: acesso à informação; interface público-privada nas compras e licitações; controles internos na administração estadual; e independência dos tribunais de contas estaduais.

Também foi lançado um olhar sobre a mídia e a sociedade civil. Foram comparados os desempenhos dos principais jornais de cada Estado quanto à imparcialidade na cobertura das instituições estaduais. E, no que diz respeito à sociedade civil, a institucionalização e a independência dos conselhos de gestão instalados para fiscalizar o repasse de recursos públicos federais aos Estados.

Eis algumas das principais conclusões:
• Os dados coletados da saúde e da educação revelam um quadro preocupante. Nas áreas selecionadas, as modalidades menos competitivas de contratação pelo Estado (dispensa e inexigibilidade) são responsáveis por 57% do volume de contratações, em média. No Pará, em Minas Gerais, no Espírito Santo e em São Paulo, o quadro é mais preocupante, com taxas de dispensa e inexigibilidade de 61%, 62%, 67% e 75%, respectivamente.
• Embora 85% dos órgãos estaduais de controle interno tenham sites próprios ou vinculados ao portal do governo, apenas 52% disponibilizam relatórios de atividade (on-line ou off-line).
• No controle pelos tribunais de contas, um dos resultados surpreendentes é o não cumprimento, na maioria deles, da regra constitucional de preencher duas das sete vagas com conselheiros provenientes dos quadros técnicos do próprio tribunal. Acre, Alagoas, Mato Grosso, Sergipe e São Paulo não tiveram nenhuma das duas vagas preenchidas dentro dos padrões constitucionais, enquanto Amapá, Bahia, Ceará, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Pará, Pernambuco, Rio de Janeiro, Roraima e Rio Grande do Sul cumpriram parcialmente a norma. No TCE do Amazonas, não foi possível coletar a informação sobre o cumprimento da meta.
• A força da oposição nas assembleias legislativas é bastante reduzida diante do poder de atração que o governo eleito exerce sobre os deputados estaduais. Em oito das 27 unidades federativas, a coalizão que venceu as eleições para governador obteve maioria também na assembleia legislativa. Após a formação do governo, esse grupo cresceu para 21 Estados. Desse grupo, em sete a oposição foi reduzida a menos de 30%, em dois a menos de 20% e em outros dois a menos de 10%.
• A mídia nos Estados apresenta resultados medíocres para o nível de independência de redes de comunicação (televisão e jornais) em relação a grupos políticos regionais.

O estudo permite à sociedade brasileira refletir com profundidade sobre temas que vão além da corrupção. O avanço da própria democracia depende das soluções de participação e controle social que os brasileiros consigam institucionalizar.

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terça-feira, 4 de outubro de 2011

A importância da arborização urbana

por Laerte Scanavaca Júnior*

No Brasil, 87% da população vive em centros urbanos. O clima urbano difere consideravelmente do ambiente natural. As cidades distanciam-se cada vez mais da natureza, utilizando materiais como ferro, aço, amianto, vidro, piche, entre outros. Estes materiais geralmente são refletores e contribuem para a criação de ilhas ou bolsões de calor nas cidades. Em função disso, o clima é semelhante ao do deserto, quente e seco durante o dia e frio durante a noite. A impermeabilização dos solos causa grandes problemas também na medida em que evitam ou impedem a infiltração da água, forçando-a para a calha dos rios, muitas vezes criando enchentes, já que os rios não conseguem absorver um volume tão grande de água num curto espaço de tempo.

Os benefícios advindos da arborização urbana promovem a melhoria da qualidade de vida e o embelezamento da cidade. Essa arborização depende do clima, tipo de solo, do espaço livre e do porte da árvore para se obter sucesso nas cidades. Além da função paisagística, a arborização proporciona à população proteção contra ventos, diminuição da poluição sonora, absorção de parte dos raios solares, sombreamento, atração e ambientação de pássaros, absorção da poluição atmosférica, neutralizando os seus efeitos na população, valorização da propriedade pela beleza cênica, higienização mental e reorientação do vento. A floresta, quando em equilíbrio, reduz ao mínimo a saída de nutrientes do ecossistema. O solo pode manter o mesmo nível de fertilidade ou até melhorá-lo ao longo do tempo.

Uma floresta não perturbada apresenta grande estabilidade, isto é, os nutrientes introduzidos no ecossistema pela chuva e o intemperismo geológico estão em equilíbrio com os nutrientes perdidos por lixiviação para os rios ou lençol freático. Os nutrientes, uma vez introduzidos no ecossistema, podem se reciclar por um longo tempo, função da eficiência biogeoquímica e bioquímica das espécies florestais do sistema.

O entendimento da relação das florestas implantadas com a água é uma questão muito complexa e deve levar em consideração as múltiplas atividades antrópicas, tendo como unidade a microbacia. Deste modo, a floresta deve ser apreciada como uma atividade agrícola qualquer, que visa à produção de biomassa com intenção de obter algum lucro. Assim, além do consumo de água, devemos contabilizar a sua qualidade, o regime de vazão e a saúde do ecossistema aquático. Possibilita também uma visão mais abrangente sobre a relação do uso da terra, seja na produção florestal, agrícola, pecuária, abertura de estradas, urbanização, enfim, toda e qualquer alteração antrópica na paisagem e a conservação dos recursos hídricos. Quem sabe assim, a sociedade perceba que uma possível diminuição na quantidade de água, deterioração de sua qualidade ou a degradação hidrológica não estão somente nas florestas implantadas, mas numa infinidade de outras atividades antrópicas de práticas de manejo.

As florestas per se não melhoram a qualidade da água, porém alguns de seus atributos, como a cor aparente, estão relacionados com a quantidade de matéria orgânica e sedimentos na água. Estudos compararam a cor aparente da água de microbacias com florestas nativas, reflorestadas com eucaliptos e com pastagem. Nas florestas nativas, a variabilidade natural só é alterada com as chuvas em grandes quantidades. Os eucaliptais, mesmo com operações drásticas como construção de estradas ou exploração florestal, tendem a voltar ao equilíbrio dinâmico rapidamente. Para a pastagem, entretanto, a concentração de sedimentos suspensos na água é exageradamente elevada o tempo todo.

O custo específico com produtos químicos nas Estações de Tratamento de Água (ETAs) eleva-se com a redução do percentual de cobertura florestal da bacia de abastecimento. Nos Estados Unidos, o Estado de Nova York investiu em áreas de preservação permanente (APPs), e os responsáveis garantem que para cada dólar investido, economizam sete dólares no tratamento de água. Pelos resultados das pesquisas, percebe-se que as florestas são importantes por vários fatores, mas principalmente em relação aos recursos hídricos, pois interceptam a água das chuvas, reduzindo o risco de erosão, aumentam a capacidade de infiltração da água no solo tornando-o mais poroso e a estabilidade do sistema ou microssistema funcionando com tampão, isto é, liberando ou retendo água.

* Laerte Scanavaca Júnior é engenheiro florestal, mestre em Ciências Florestais, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente.

** Publicado originalmente no site da revista Eco21.

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