quinta-feira, 28 de maio de 2009

Timão na rota da sustentabilidade

Texto comentado por Paulo Itacarambi, na Rádio CBN
27/05/2009 - São Paulo



Na última segunda-feira, dia 25 de maio, a diretoria do Sport Club Corinthians Paulista reuniu-se em grande estilo para um evento inusitado no mundo do futebol: o lançamento do Relatório de Sustentabilidade 2008 do clube. Trata-se de uma publicação única no segmento esportivo mundial, elaborada com base nas diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI), organização internacional com sede em Amsterdã, Holanda, que tem como objetivo desenvolver e disseminar diretrizes para a elaboração de relatórios de sustentabilidade, adotados voluntariamente pelas principais empresas do mundo.

Com a elaboração deste relatório, o Timão dá o primeiro passo na estrada da sustentabilidade.

Dividido em 12 capítulos, o relatório abrange temas como gestão, governança, torcida, desempenho econômico, investimentos e ativos, futebol de base, ações de marketing e públicos estratégicos, além de trazer as demonstrações financeiras do exercício de 2008.
O conteúdo completo pode ser acessado pelo site www.corinthians.com.br.


Os jornalistas esportivos não deram destaque ao evento. E a iniciativa merece apoio e reconhecimento, pois engajar diretoria e partes interessadas para pensar uma organização sob o prisma da sustentabilidade é difícil numa empresa, imagine num time de futebol e no contexto esportivo brasileiro.

O lançamento desse relatório representa um momento histórico para o futebol brasileiro, porque mostra o caminho que, se adotado por todos os clubes, dará uma robusta contribuição ao principal desafio do movimento da sustentabilidade no Brasil, que é a construção da cultura da sustentabilidade.

O presidente Andrés Sanchez destaca um dos objetivos da sua gestão, na mensagem que abre o relatório: fazer o Timão ser reconhecido como o clube com a administração mais ética e profissional do futebol brasileiro. Para atingir esse alvo, o Corinthians precisa de todos os times e de todas as torcidas, porque, parafraseando Vinícius de Moraes, não há ética sozinha.

Assim, esse objetivo de gestão põe vários desafios ao Corinthians. Um deles é contribuir para a construção de uma “cultura de sustentabilidade” a partir do esporte. No âmbito doméstico, ampliar o diálogo com as partes interessadas e aprofundar as práticas de boa governança são duas tarefas titânicas. No âmbito externo, a diretoria poderia incentivar que outros times e mesmo as entidades que dirigem o futebol brasileiro adotassem práticas como ouvidoria e código de ética, bem como franquear instalações do clube para escolas públicas e realizar campanhas de cidadania.

Estamos num momento em que o Timão poderia atuar em cooperação com os demais clubes numa mobilização nacional em prol da vitória brasileira em duas Copas: a de 2014, no campo, e a de 2015, que é a dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). É que em 2015 a ONU vai reunir os países em assembléia geral para um balanço do que foi feito em relação aos oito ODM, lembram-se?

- Acabar com a fome e a miséria
- Educação básica de qualidade para todos
- Igualdade entre sexos e valorização da mulher
- Reduzir a mortalidade infantil
- Melhorar a saúde das gestantes
- Combater a aids, a malária e outras doenças
- Qualidade de vida e respeito ao meio ambiente
- Todo mundo trabalhando pelo desenvolvimento

Que tal se o Corinthians e sua imensa Fiel entrassem na “briga” para o Brasil atingir os ODM até 2015? Uma das maneiras é incentivar as cidades que vão sediar jogos da Copa do Mundo a realizar as obras pensando nas demandas desses objetivos socioambientais. Se o Timão entrar em campo e os outros times também, fica mais fácil. E poderemos ter o orgulho de sermos campeões dentro e fora dos gramados.




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segunda-feira, 25 de maio de 2009

Direto de Copenhague, Ricardo Young comenta a Cúpula Empresarial de Mudanças Climáticas

Texto enviado por Ricardo Young
Presidente do Instituto Ethos
Copenhague, 25 de maio de 2009


Pelo menos 700 CEOs de todo mundo estão reunidos em Copenhague, capital da Dinamarca, na Cúpula Empresarial de Mudanças Climáticas, para debaterem o papel das empresas na redução das emissões de carbono. O encontro é uma tentativa de unir a agenda da crise financeira com a da crise climática para levar à mesma Copenhague, no final do ano, uma agenda do mundo corporativo para a reunião COP 15 (Conferência Mundial sobre Clima das Nações Unidas).

O objetivo é que ela possa contribuir para aproximar governos em divergências ainda importantes para que a COP 15 em Copenhagen surja como a Conferência que fundamentará as bases de um novo ciclo de desenvolvimento pautado pela baixa emissão de carbono. Foi neste encontro e com este espírito que Al Gore iniciou a sua fala, logo após a abertura do Secretário Geral da ONU, Ban-Ki Moon.

Gore pontuou a tripla crise - a climática, a econômica e a de segurança energética - como resultantes de uma mesma causa: a profunda dependência que a humanidade tem de energia fóssil ( não disse, mas deveria, daquela parte da humanidade que tem acesso a ela...). Disse que o grande imperativo é sair da dependência de energias fósseis para as infinitas fontes de energia limpa e renovável do Sol, dos ventos e da energia geotérmica. Falou dos muitos exemplos nesta mesma direção como a da Dinamarca que já tem 25% de sua energia em base éolica ou mesmo das recentes medidas do Presidente Obama que estabeleceu metas de redução de emissões para a indústria automobilística e o cancelamento literal da construção de plantas termoelétricas movidas a carvão. Disse ainda que é indispensável que se crie valor para a mitigação de CO2, pois um gás invisível e inodoro dificilmente será reduzido sem compensação econômica. Gore também pontuou a crescente coragem e determinação do governo Obama de transformar os Estados Unidos independente de energia fóssil até 2020. Comparou a recente fala de Obama quando das metas de redução das emissões a de Kennedy no início da década de 60 sobre colocar o homem na Lua até o final da década. Reiterou a necessidade de ousar e sonhar para que o desafio da energia sustentável toque o imaginário das pessoas, sem o qual, não haverá o esforço necessário.

A fala de Gore foi enfática e determinada. Também aproveitou para reiterar um dos principais temas defendidos pelos EUA para Dezembro, ou seja, mecanismos de mercado como parte da nova regulação de serviços ambientais. Mas o mercado que ele se refere, seria um novo mercado, eivado de valores éticos e humanos. Como? Finalizou dizendo que esta geração será julgada pelas próximas e se elas nos acusarem de não termos tomado as ações que nosso tempo nos convoca, teremos falhado lamentavelmente.

Neste aspecto tanto Ban Ki-moon como Al Gore deram o tom: Copenhagen terá que ser o marco zero de uma nova economia e visão de desenvolvimento. Estabelecerá as bases para as regras de mercado e de regulação governamental e multilateral para os próximos 20 anos e isso tem que ser feito este ano sob pena da coesão política conseguida até aqui fragilizar-se e tornar tudo muito mais complicado. De fato, as mudanças climáticas não tem esperado em sua perigosa escalada.

Apesar do bom início, as lideranças empresariais presentes não pareciam estar a altura do debate. Limitaram-se a expressar concordância com o imperativo da economia verde mas não conseguiam dizer qual era a agenda do mundo dos negócios. Qualidade sofrível o debate dos CEOs. Considerando-os parte da poderosa elite mundial que será determinante para a mudança, é preocupante.

Por: Ricardo Young

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