sexta-feira, 30 de setembro de 2011

O Brasil e o mundo em 2050

Entre os diversos exercícios de reflexão que são feitos mundo afora a respeito dos destinos do planeta, um dos mais profundos e completos é o documento Visão 2050, lançado em 2010 pelo Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD, sigla em inglês). Para construir essa Visão 2050, o WBCSD ouviu 29 empresas globais em 14 setores da indústria. Também realizou diálogos em 20 países com centenas de especialistas e representantes de outras empresas, governos e sociedade civil.

Durante a realização do 4ª. Congresso Internacional sobre Desenvolvimento Sustentável, no Rio de Janeiro, os participantes discutiram a elaboração de uma agenda brasileira da sustentabilidade – a Visão 2050 Brasil, que será levada à presidenta Dilma Rousseff e também à Rio + 20 pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS).

Ao contrário dos cenários comentados aqui na quarta-feira, a Visão 2050 traz uma perspectiva positiva para o planeta e exala fé no futuro da humanidade.

Mundo

 
A Visão 2050 estima que, nesse ano, o mundo terá 9 bilhões de pessoas vivendo bem dentro do limite do planeta.

O mundo sustentável de 2050 garantirá acesso universal a educação, saúde, mobilidade, alimentos básicos, água, energia, moradia e bens de consumo, sem danos à biodiversidade, ao clima e aos ecossistemas.

Para atingir esses objetivos, as empresas têm um papel fundamental, principalmente porque serão decisivas para a sociedade atingir algumas prioridades é preciso atender algumas prioridades, tais como:

- possibilitar educação e poder econômico, especialmente às mulheres

- desenvolver soluções ambientais mais eficientes

- incorporar os custos das externalidades ao planejamento estratégico

- dobrar a produção agrícola sem aumentar o consumo de água ea extensão das terras agricultáveis

- reduzir pela metade as emissões de carbono no planeta, tendo por base 2005

- potencializar de 4 a 10 vezes a utilização de recursos materiais renováveis.

Dar conta dessas prioridades significará vencer o desafio da pobreza no mundo de hoje, em que mais de 2 bilhões de pessoas vivem com menos de 2 dólares por dia. Há 1,6 bilhão sem acesso à eletricidade e 900 milhões sem acesso a transporte.

Vencer a pobreza torna-se mais urgente ainda porque as estimativas da ONU indicam que, em 2050, 70% da população mundial – 6 bilhões de pessoas - estarão vivendo em áreas urbanas.

Para o CEBDS, os números mostram o potencial do novo mundo a ser construído. As oportunidades globais de negócios associados à sustentabilidade vão de 3 trilhões a 10 trilhões de dólares em 2050. Até 2020, entre 500 bilhões e 1,5 trilhão de dólares podem ser investidos em negócios como energia, agricultura, florestas, alimentos, água, metais, saúde e educação..

A “corrida verde” já começou

Por causa das cifras mencionadas, hoje as empresas não têm dúvida de que a economia verde já se firmou. Só falta crescer e tornar-se a linha mestra do desenvolvimento. A China não demora a ser líder dessa nascente economia, pelo foco que vem dando ao tema da sustentabilidade em seu próximo plano de 5 anos, e também pelos investimentos em energia limpa. Nesse campo, ela é a líder mundial, com 21% dos 162 trilhões de dólares investidos mundialmente no setor.

Onde estará o Brasil?


Em 2050, o país terá quase 260 milhões de habitantes, 36% a mais que em 2010, uma taxa de crescimento demográfico dentro dos limites do razoável. Por isso e pelo potencial demonstrado, a previsão é de que o Brasil alcance um alto nível de desenvolvimento humano dentro dos limites do planeta, isto é, sem pressionar ecossistemas, florestas e recursos naturais.

Cumprir essa previsão implica superar alguns de nossos mais históricos desafios, como:

- emancipar social e economicamente as mulheres brasileiras;

- democratizar e melhorar substancialmente a educação no país

-melhorar o acesso aos serviços básicos como saneamento e assistência médica

- promover a igualdade social

- gerenciar as cidades de forma integrada.

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quarta-feira, 28 de setembro de 2011

O panorama dos dilemas e riscos globais, segundo o Fórum Econômico Mundial

As crises financeiras – e sociais – nos EUA e na Europa desenrolam-se como capítulos de uma novela, cujo fim não é previsível. Governos, empresários e investidores estão a imaginar cenários para tentar controlar os efeitos mais negativos. Um desses exercícios foi feito durante a reunião preparatória para o Fórum Econômico Mundial, ocorrida no início do mês em Genebra, e comentada aqui na CBN. Os organizadores propuseram uma reflexão aos participantes: listar os dilemas e os riscos globais para 2012. O cenário não chega a ser animador, fazendo eco àqueles que afirmam que essa crise vai ser longa.

Vamos verificar as conclusões.

Contexto

A reunião preparatória ao Fórum Econômico Mundial ocorre sempre no início de setembro em Genebra, que é onde fica a sede do Fórum. Para o encontro de janeiro de 2012 em Davos, vieram mais de 200 representantes de empresas, governos e ONGs de todas as partes do mundo. Os debates ocorrem em várias sessões e depois há uma plenária para “fechar” as propostas de temas com que a organização depois define a grade de programação. Isto quer dizer que a preparatória define a essência do Fórum. A equipe de organização então faz os convites às autoridades, palestrantes, chefes de estado, sociedade civil e trabalhadores. Algumas entidades também solicitam espaço e tempo para eventos paralelos, como cafés da manhã ou almoços com as pessoas ou grupos de interesse delas.

Uma das discussões mais profundas para definir a programação é aquela que envolve os dilemas e os riscos globais para o ano vindouro (no caso, 2012). As visões de mundo dos diversos representantes da sociedade são debatidas intensamente até se chegar a alguns temas essenciais. Em seguida, embaixo de cada dilema, são descritos os potenciais riscos globais. Por fim, os participantes escolhem aqueles dois ou três riscos de cada tema que, da visão deles, têm maior probabilidade de interferir e mudar o cenário.

Este exercício de reflexão – e de certa futurologia, é verdade – tem se provado bastante útil para orientar investidores e governos a respeito dos cenários gerais e das grandes tendências do mundo no ano. Os dilemas e riscos apontados geralmente dominam o debate e as decisões no período indicado.

O que foi previsto para 2012?

De modo geral, é possível afirmar que, para os participantes dessa preparatória do Fórum Econômico, o mundo ainda será um lugar instável, sujeito à volatilidades do mercados e dos preços, possibilidade de colapsos de Estados, aumento da poluição...enfim, um cenário de pesadelos.

A partir dessas premissas, serão organizados os debates de janeiro de 2012, nos quais os participantes, a maioria chefe de Estado, tentarão encontrar saídas.

Os maiores riscos apontados pelos participantes da reunião foram:

Economia: crises fiscais crônicas, extrema volatilidade dos preços dos alimentos; aumento da desigualdade; desemprego crônico

Geopolítica: corrupção, fracasso do sistema internacional de governança; e escalada de guerras por acesso a recursos naturais em Estados soberanos.

Meio ambiente:
Aumento exponencial da poluição, em níveis que podem ameaçar a estabilidade social, as melhorias na saúde e o crescimento econômico;
 
Perdas irreversíveis de biodiversidade, com conseqüências tanto para os ecossistemas quanto para a indústria;

Eventos meteorológicos extremos mais freqüentes e destrutivos

Sociedade:
Desemprego ou subemprego juvenil, levando a um profundo declínio da mobilidade, crescente instabilidade política e da criminalidade.

Tecnologia: Falhas críticas em sistemas levando, num efeito cascata, a falhas na infraestrutura de informação e nas redes.

Avanços na genética e na biotecnologia produzirão conseqüências imprevistas e inesperadas.

Desinformação digital massiva provocada deliberadamente ou não poderá ser disseminada rapidamente, ocasionando reações perigosas.

E o que nós temos com isso?


O cenário que emerge desses riscos deixa claro que ele foi feito por uma maioria que está vivendo as incertezas e as reviravoltas das crises dos países europeus.

Com a economia brasileira andando, podemos pensar: e nós com isso?

Temos tudo a ver com isso. Primeiro porque, como bem disse a presidente Dilma Rousseff, a capacidade brasileira de suportar a crise não é ilimitada. Segundo, porque, realmente, o mundo só vai conseguir superar os dilemas em conjunto. Não há soluções individuais para o que estamos passando.

Os remédios até agora adotados não parecem funcionar, como já ocorre na Grécia. As pessoas já estão no limite do desemprego, da carestia e da desesperança.

Se os países não negociarem uma solução global, as piores tendências do capitalismo selvagem podem se manifestar de forma ainda mais perversa.

Um fato está cada vez mais evidente: as soluções tradicionais, de arrocho fiscal e corte nos investimentos sociais, não vão trazer de volta a prosperidade. E a crise não se arrefecerá com os programas de crescimento econômico propostos pelos manuais.

Estamos diante de uma crise sistêmica, cujos tentáculos invadiram todas as áreas da vida e da sociedade humanas. Só é possível superá-la com soluções novas e com uma nova concepção de modelo de desenvolvimento e de civilização.

Está mais do que na hora de se avançar em propostas em favor da adoção de uma governança global em favor da sustentabilidade, com metas e diretrizes para os países. È isso que se propõe fazer a Rio + 20. Mas ela só vai se realizar em maio do ano que vem. Será que agüentamos até lá?

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terça-feira, 27 de setembro de 2011

Rio+20 + mudança social

por Ricardo Abramovay*

O desequilíbrio metabólico da atual relação entre a sociedade e os ecossistemas muda radicalmente a natureza, o alcance e o significado da questão da desigualdade no mundo contemporâneo. O principal desafio da Rio+20 não consiste em juntar economia verde e luta contra a pobreza. Essa junção já está em curso e faz parte do business as usual, da forma corriqueira de se levar adiante os negócios públicos e privados. O desafio fundamental é associar a construção da economia verde ao combate à desigualdade. Além de seu óbvio fundamento ético e funcional, a luta contra a desigualdade adquire uma dimensão material inédita, da qual se podem citar dois exemplos vindos de importantes documentos internacionais recentes.

O primeiro refere-se ao uso dos recursos materiais necessários à reprodução social. O International Resource Panel, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), publicou, há algumas semanas, o relatório Decoupling Natural Resource Use and Environmental Impacts from Economic Growth (Descasando o uso dos recursos naturais e os impactos ambientais do crescimento econômico). Esse descasamento exprime – juntamente com a promoção do uso sustentável da biodiversidade – a essência da economia verde, ou seja, a urgência de reduzir o consumo dos materiais e da energia que se encontram na base da riqueza social. Os resultados alcançados até aqui são, no mínimo, ambíguos.

Por um lado, cada unidade de riqueza é oferecida ao mercado sobre a base do uso decrescente de materiais. Apesar desse avanço, entretanto, a extração de recursos da superfície terrestre cresceu oito vezes durante o Século 20, atingindo um total de 60 bilhões de toneladas anuais, considerando-se apenas o peso físico de quatro elementos: minérios, materiais de construção, combustíveis fósseis e biomassa.

Amplia-se o uso de recursos não bióticos e, com eles, a poluição e as emissões de gases de efeito estufa. O descasamento entre a produção de riqueza e sua base material, mesmo em economias avançadas como o Japão e a Alemanha, foi apenas relativo, pois em termos absolutos a pressão sobre os recursos aumenta. Mas a informação que mais chama a atenção refere-se à desigualdade. Um indiano que nascer hoje consumirá ao longo de sua vida o correspondente a quatro toneladas de materiais anuais. Um canadense vai consumir 25.

Achim Steiner, diretor-geral do Pnuma, que prefacia o relatório, preconiza que, nos próximos anos, o consumo médio global, num mundo com mais de nove bilhões de habitantes, terá de cair das atuais nove toneladas anuais per capita para algo entre cinco e seis toneladas. A função da economia verde é estimular inovações que permitam a estas cinco ou seis toneladas propiciar muito mais bem-estar e utilidades que as oferecidas hoje. Mas somente um mundo com recursos infinitos poderia manter este nível de desigualdade e, ao mesmo tempo, satisfazer as necessidades básicas dos que estão hoje em situação de pobreza.

O segundo exemplo, na mesma direção, vem do World Economic and Social Survey, do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais do Secretariado das Nações Unidas, e tem por título The Great Green Technological Transformation (A Grande Transformação Tecnológica Verde). O documento propõe que se estabeleça um limite para o consumo per capita de energia – 70 gigajoules por ano –, o que significaria cortar pela metade o gasto de energia do europeu médio e em três quartos o do norte-americano. Já o indiano teria amplo espaço para aumentar seu consumo primário de energia, que hoje é, em média, de 15 gigajoules. Mas esse limite proposto refere-se à energia primária (1) e pode ser em grande parte compensado pela inovação, ou seja, pelo aumento na eficiência com que se usa a energia em todas as etapas anteriores à prestação dos serviços ou à produção dos bens e serviços a que ela se destina.

O grande desafio do Século 21, assim, está na construção de um metabolismo social capaz de garantir a permanência e a regeneração dos serviços que os ecossistemas prestam às sociedades. Mais precisamente, trata-se de chegar a um metabolismo industrial que reduza drasticamente o uso de carbono na base material e energética da sociedade e, ao mesmo tempo, ofereça oportunidades para que as necessidades básicas dos seres humanos sejam preenchidas. Sem objetivos claros na redução da desigualdade, é forte o risco de que a própria legitimidade da economia verde seja colocada em questão.

É difícil imaginar tema mais importante para ocupar o centro da Rio+20.

Nota

(1) Aquela que está disponível na natureza em estado bruto, tal como carvão, petróleo, gás natural, urânio, ventos, recursos hídricos e energia solar.

* Ricardo Abramovay é professor titular do departamento de economia da FEA-USP, do Instituto de Relações Internacionais da USP, pesquisador do CNP e da Fapesp (www.abramovay.pro.br).

** Publicado originalmente no site EcoD.
(EcoD)

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segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A educação dos negócios e os negócios da educação

Na semana passada, foi anunciada a aquisição da Uniban - Universidade Bandeirante pelo Grupo Anhanguera, por 510 milhões de reais. Com essa compra, o Grupo Anhanguera Educacional tornou-se o segundo maior do mundo no segmento, em número de alunos, perdendo apenas para o Apollo Group, dos EUA, que controla a Universidade de Phoenix (EUA) e mais duas instituições de ensino na América Latina, uma no Chile e outra no México.

Hoje, a Folha traz notícia de que pagam intermediários que buscam candidatos entre trabalhadores de menor renda. As faculdades mais agressivas recorrem a associações de moradores de comunidades carentes, prometendo financiamento do governo federal pelo Fies, por outras fontes de financiamento do governo de São Paulo ou de entidades privadas.

Desde 2009, há um movimento forte de incorporações na área da educação superior privada no país, envolvendo alguns milhões de reais e concentrando o setor nas mãos de quatro ou cinco grupos, de maioria estrangeira. Isso é bom para os brasileiros? Ajuda a elevar o nível educacional e de conhecimento da população? Essas faculdades, afinal, estão formando profissionais competentes? Mais do que isso: estão formando profissionais capazes de “educarem” os negócios para os desafios da sustentabilidade?

Contexto

Um dos dois maiores desafios do país para tornar-se uma nação mais justa e sustentável é garantir o acesso de todos os brasileiros, independente de renda, idade, cor da pele ou gênero, a uma educação de qualidade e ao conhecimento científico. A este junte-se outro que se refere ao “conteúdo” desta educação e deste conhecimento: o da disseminação de valores capazes de sustentar o convívio social em bases diferentes das atuais, em que “ter” é mais importante do que “ser”.

Com o ensino fundamental e médio de baixa qualidade (mesmo na esfera privada), tem sido tarefa da universidade não só superar a defasagem dos ciclos anteriores, como incutir valores e dar formação para uma carreira profissional vitoriosa. As universidades públicas cumprem em parte esta tarefa. Mas e as universidades privadas, o que têm feito? O negócio da educação tem ajudado de fato o Brasil a superar seus problemas?

O cenário não é animador

Dados do MEC de 2010 indicam que o país possui 5,9 milhões de jovens cursando universidades, dos quais 4,43 milhões estão na rede privada de ensino superior. Desses, 750 mil recebem auxílio do ProUni, Programa Universidade Para Todos, que oferece bolsas integrais ou parciais para alunos de baixa renda. Em 2010, outros 74 mil alunos fizeram uso do Fies, Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies). O Fies é um programa do governo federal criado em 1999 para financiar a graduação de alunos em faculdades particulares, em parceria com a Caixa Econômica Federal (CEF). Para se candidatar o estudante deve estar regularmente matriculado em um curso com avaliação positiva pelo governo, de uma instituição que participe do programa. Em troca do financiamento ao aluno, as faculdades recebem do governo títulos que podem ser usados para abater impostos. Ao contrário do ProUni, que não precisa ser devolvido, o aluno do Fies precisa pagar de volta à CEF o crédito que tomou. Este começa a ser quitado 18 meses após a formatura em prazos que variam de cinco a quinze anos.

Enquanto nos EUA 80% dos concluintes do ensino médio ingressam em uma faculdade, no Brasil esta porcentagem é de 26%. Com o aumento da renda e o apoio do governo federal aos estudos superiores, as universidades particulares esperam que a demanda por vagas aumente e vão atrás dos estudantes com ofertas às vezes pouco éticas.

Fora das universidades públicas, o aluno é olhado pelo dinheiro que pode trazer para a faculdade.

Com a melhoria da renda e de opções de financiamento, o número de alunos mais pobres quase triplicou nas instituições particulares na década passada, segundo o IBGE. Isto ajuda a explicar por que algumas instituições adotam estratégias mais pró-ativas para atrair esse público.

Uma vez matriculados, no entanto, o desafio é mantê-los. Prova disso é que houve aumento da evasão. Nas particulares, em 2009, o total dos que se formavam representava 47% dos que iniciaram o curso quatro anos antes. Em 2005, eram 56%, o que indica que a evasão cresceu.

Por um lado há falta de alunos e, por outro, o estudante está se endividando.

A mensalidade é de R$ 632 e o valor do financiamento previsto para todo o curso, pelo crédito estudantil, chega a quase R$ 40 mil.

O aluno começa a pagar o crédito educativo um ano e meio após a conclusão do curso. No caso de Lindinalva, significará uma mensalidade de R$ 296 por 15 anos.

Um receio comum dos alunos ouvidos pela reportagem é não conseguir quitar o crédito educativo. A dívida é o que mais os assusta.

O negócio da educação garante qualidade?

Um levantamento divulgado pelo próprio ProUni indica que Administração, Pedagogia e Direito são os cursos que mais formaram jovens nesse programa. Das áreas estratégicas já citadas, só aparece Ciências Biológicas, em nono lugar.

Sobre a qualidade dos profissionais formados, duas informações reveladoras:

1 – No último exame da OAB, cujos resultados foram divulgados na semana passada, das dez universidades com melhor desempenho, oito eram federais e duas estaduais – USP e Unesp. As universidades particulares não tradicionais aparecem em classificações abaixo do 50º. Lugar.

2 – No Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes) 2010, o Ministério da Educação chegou a abrir processos administrativos e a cortar vagas em 11 faculdades. Mas os 127 cursos em universidades particulares com as piores notas, continuaram a receber bolsistas do ProUni.

Educação x negócio

O lance mais recente foi este da aquisição da Uniban pelo grupo Anhanguera. Antes de ser adquirida, a Uniban fazia parte das quatro universidades paulistas independentes de grupos incorporadores. Além dela, temos FMU, Unip (Universidade Paulista) e Uninove. Fundada nos anos 1970 como “universidade premium”, chegou a ter alguns cursos entre os vinte melhores do país, nos anos 1990. Mas, resolveu atrair a “nova classe média” e baixou os preços. Perdeu alunos e reputação. Em 2008, o jornal Valor informa, a Uniban tinha 70 mil estudantes. Em março deste ano, 55 mil. À evasão de alunos agregou-se o “episódio Geisy Arruda” – a ex-aluna vítima de preconceito por usar vestidos curtos – e a reputação esfarelou-se.

O caso da Uniban resume o dilema dos grupos educacionais que querem crescer como negócio, de olho no grande público brasileiro ávido por melhores salários, mais conhecimento e vida digna.

O que se vê é uma “corrida” atrás do “consumidor” que pode pagar pelo curso, seja via ProUni, seja via financiamento do Fies. A concorrência está tão grande que a Folha de hoje traz notícia dando conta de que há uma verdadeira rede de intermediários espalhada pelos bairros da periferia de São Paulo a caça de potenciais “interessados”.

A qualidade dos cursos ainda não está em pauta, Nem os valores que estão disseminando.

Os desafios do Brasil são enormes. Superar a pobreza e construir um país mais igualitário com uma economia sustentável exige esforço hercúleo e o melhor da inteligência (que não nasce pronta).

Fica a pergunta do início: com foco nos números, sem buscar a qualidade e a formação humanista e técnica com excelência, estarão estas universidades preparando os profissionais adequados aos desafios que temos?

Vamos repetir no ensino superior a trajetória do ensino fundamental? Garantir o acesso para depois pensar na qualidade? Não é possível resolver em conjunto esses desafios?

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