sexta-feira, 1 de julho de 2011

A (con)fusão Pão de Açúcar,Carrefour

O que parecia ser uma operação de fusão de conglomerados varejistas virou assunto de prioridade nacional: a compra do Carrefour brasileiro pelo grupo Pão de Açúcar, tendo como um dos investidores o BNDESPar, a holding do BNDES que faz gestão das empresas nas quais o banco tem participação. Afinal, como avaliar esta questão? Como tudo começou

Na terça-feira, o grupo francês Carrefour anunciou ter recebido uma proposta da Companhia Brasileira de Distribuição (Pão de Açúcar) para fusão dos ativos de ambas no Brasil, agregando não apenas as bandeiras Pão de Açúcar e Carrefour, mas também Extra e Compre Bem. Na verdade, o mercado e a imprensa já especulavam sobre esta proposta desde pelo menos um mês atrás. Assim, se não chegou a ser surpresa, a notícia causou espanto porque foi feita, aparentemente sem o conhecimento e o aval do outro sócio do Pão de Açúcar, o também francês Casino, que detinha, no dia do anúncio, um pouco mais de 37% das ações do Pão de Açúcar, e pode exercer o direito de, daqui um ano, assumir o controle do grupo, indicando o nome do presidente do Conselho, que hoje é Abílio Diniz.

O anúncio da proposta de fusão agitou o pregão da Bolsa de Paris e as ações dos dois grupos variaram para cima (Carrefour) e para baixo (Casino). Aqui na Bovespa, as ações do Pão de Açúcar também tiveram alta. O Casino aproveitou para consolidar sua posição, adquirindo mais participação no Pão de Açúcar. Fechou o dia com 43% das ações.

Na quarta-feira, o BNDES anunciou apoio à operação, com o aporte de aproximadamente 3,9 bilhões de reais ao projeto, por meio do BNDESPar, o braço de investimentos do banco. Também faz parte dessa engenharia financeira o BTG-Pactual.

O Pão de Açúcar é hoje a rede líder no varejo de alimentos no Brasil e o maior empregador individual do país, com 150 mil funcionários. O Carrefour é o segundo maior grupo desse segmento no Brasil. A fusão dos dois cria, no país, uma rede que pode deter até 30% do mercado supermercadista brasileiro, com vendas estimadas em 47 bilhões de reais ao ano.

Vantagens do negócio

Para ambas as redes, a fusão representaria ganho de escala e equilíbrio das margens de lucro. A união também geraria uma economia de 1,5 bilhão de reais ao ano em custos.

O BNDES considera que sua participação gera valor ao banco e que amplia a participação de grandes empresas brasileiras no mercado internacional. O BNDES vê a nova rede como um canal de distribuição de produtos brasileiros nas gôndolas do mundo.

Reações

Se os investidores demonstraram euforia no primeiro momento, tanto que as ações das duas redes tiveram valorização nas bolsas, a indústria, os sindicatos e a sociedade estão em dúvida sobre os reais benefícios dessa fusão.

A imprensa tem discutido mais a participação do BNDES, alegando principalmente que:

- o BNDES é banco de fomento, deveria buscar setores estratégicos para incentivar inovação. O varejo já está dividido, mesmo mundialmente, e uma empresa, por maior que seja, não mudará as regras do jogo.

- o BTG Pactual é um dos maiores bancos de investimento do país, com ampla capacidade de captar recursos aqui e lá fora. Por que recorrer ao BNDES?

- Mesmo que o BNDES garanta que o dinheiro aportado nesse projeto não vem do FAT ou dos cofres públicos, o banco é público, tem objetivos voltados ao interesse da sociedade. Se vai dispor de quase 4 bilhões de reais para comprar uma participação (ou seja, transferir recursos para uma empresa francesa), quais os benefícios para a sociedade brasileira?

No caso da megarrede de varejo que será criada com esta fusão, setores da agroindústria também expressaram sua preocupação com a concentração de mercado que esta fusão vai promover. Com menos lojas independentes para destinar produtos, os fabricantes ( e suas cadeias) de leite longa vida, trigo, carnes e café, só para citar alguns, temem perder poder de barganha.

O setor de mercearia seca (grãos, farináceos, cereais, massas) distribui praticamente 90% de seus produtos via redes de supermercados; e representa o principal faturamento dos supermercados aqui no Brasil. Em 2010, responderam por 23% do total lucrado, segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras).

Como serão feitas as negociações daqui para a frente? Qual o critério para estabelecer preço e margem?

A preocupação é a mesma da Associação Brasileira da Industria do Café (ABIC). Os supermercados são o principal canal de distribuição do café torrado e moído. 70% da produção escoa por eles. Se a concentração aumenta, qual o poder de barganha de um setor tão dependente dessas redes?

A Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) também se preocupa com os efeitos de uma superconcentração no varejo. Para essa entidade, é grande o risco de pressão para negociar preços abaixo de um limite tolerável para o setor de carnes, que não tem margens altas.

Estas preocupações são procedentes. Conforme notícia publicada ontem na Folha de S Paulo, os analistas da Estáter, a consultoria que desenhou o projeto da fusão, consideram como uma das vantagens para as três redes envolvidas no negócio - Carrefour, Casino e Pão de Açúcar - o "aumento do poder de barganha" com os fornecedores e os consumidores. Também citou, entre as vantagens, sinergias, redução de custos e eficiência: serão essas palavras eufemismos para "demissões"?

Por isso, as organizações de defesa dos consumidores também saber se os preços finais vão começar a subir, já que a concorrência vai diminuir.

E as centrais sindicais já avisaram que querem ser incluídas nessa negociação, pois vão exigir garantia de emprego aos trabalhadores.

Analisando pela responsabilidade social empresarial

Junto com Walmart, Pão de Açúcar e Carrefour são pioneiros no monitoramento da cadeia produtiva da carne, para prevenir a ocorrência de trabalho análago à escravidão e garantir que o produto não veio de área de desmate ilegal. Esta ação exemplar vem, inclusive, contribuindo com o poder público no combate a essa prática vergonhosa.

As duas bandeiras também desenvolvem projetos junto a pequenos agricultores, cujos produtos são vendidos nas gôndolas. Há desde hortigranjeiros até peças de artesanato fabricadas por arranjos produtivos locais, Com isso, garantem trabalho, renda e inclusão produtiva a brasileiros que, sem essa "porta", não teriam oportunidade de participar do crescimento que o Brasil vem obtendo.

Ambas as redes também estão avançando na gestão dos resíduos sólidos, na ecoeficiência das lojas e no engajamento dos consumidores para questões ambientais.

POr toda essa história de militância mesmo em favor de uma nova maneira de fazer negócios é que acreditamos que a formação de um megagrupo de varejo pode ser a alavanca para uma verdadeira trnasformação do setor.

O Ethos sempre propagou que as empresas, por serem uma das forças mais organizadas da sociedade, deveriam usar sua influência para propor mudanças reais na sociedade. Assim, que ótima oportunidade terão essas duas empresas de fazer avançar a gestão responsável no próprio setor, entre os fornecedores e também consumidores.

Que grande oportunidade de trazer o empreendedor da base da pirâmide para o mercado, por meio não só da aquisição de seus produtos e serviços, mas da capacitação para incrementar seu potencial de gerar renda e trabalho para outros!

Há também uma oportunidade única de engajar consumidores na gestão dos resíduos sólidos, amplianda as campanhas e distribuindo mais pontos de coleta de recicláveis.

É preciso levar em consideração que a Casino, assumindo o controle do Pão de Açúcar, poderia vender a rede para um concorrente, aumentando a concentração. E, mesmo que não o faça, continuaria a aprofundar a gestão responsável já adotada pelo Pão de Açúcar?

Sobre o BNDES, ele é um banco público. Portanto, se ele vai participar dessa ação, ela se torna política pública. O ideal, então, é que o Banco exija contrapartidas no caminho do desenvolvimento sustentável, adotando os cormpromissos do Protocolo Verde do qual é signatário, junto com outros bancos públicos, na análise do projeto e garantindo que as empresas aprofundem e ampliem a gestão responsável nesse novo negócio.

O apoio ao projeto pode estar condicionado, por exemplo, à realização, por parte do Carrefour e do Pão de Açúcar, de um processo de diálogo com as partes interessadas, para atender as demandas delas na configuração da nova superrede.

Conclusão

No estágio atual do capitalismo, principalmente numa fase que parece ser de crise estrutural e profunda, não é possível evitar fusões e as consequentes formações de grandes blocos corporativos. Mas, podemos, sim, como cidadãos, decidir quais conglomerados queremos, quais as contrapartidas que eles precisam entregar à sociedade. Deveríamos opinar também se é o caso de dar recursos públicos ou não.

Estas discussões ampliam a participação democrática da cidadania em assuntos que lhe dizem respeito. Por que não dialogar desde agora?

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quarta-feira, 29 de junho de 2011

“ONU aprova Princípios de Direitos Humanos para Empresas”


O Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou, na semana passada, o relatório Princípios Norteadores para Empresas e Direitos Humanos, elaborado por John Ruggie, professor da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e representante especial do secretário-geral da ONU para empresas e direitos humanos.

Esse documento está sendo considerado o instrumento internacional mais consistente já criado sobre responsabilidade das empresas em questões de direitos humanos, merecendo a atenção das organizações no atendimento aos seus princípios, sobretudo no aprimoramento ou na adoção de ações que tenham como objetivo a garantia e o respeito aos direitos humanos na condução de suas atividades.

Os Princípios Norteadores para Empresas e Direitos Humanos são resultado de um trabalho de seis anos do professor Ruggie, que para estabelecê-los envolveu governos, empresas, entidades associativas e a sociedade civil, além de pessoas e grupos sociais afetados por desrespeito a esses direitos, bem como investidores ao redor do mundo.

Tais princípios estabelecem, pela primeira vez, um padrão internacional para avaliar e prevenir os riscos relativos aos direitos humanos em cada ramo de atividade. Eles também vão permitir que governos, investidores e a sociedade civil verifiquem o real progresso do tema na vida cotidiana das pessoas.

A estrutura do relatório baseia-se em três pilares:
•    o dever do Estado de proteger os cidadãos contra os abusos aos direitos humanos por parte de terceiros, inclusive empresas;
•    a responsabilidade corporativa de respeitar os direitos humanos; e
•    fácil acesso das vítimas a recurso efetivo, judicial e extrajudicial.

O dever do Estado enfatiza que a conduta-padrão dos governos deve ser prevenir e solucionar os abusos, caso contrário podem ser responsabilizados por não lidar apropriadamente com a questão, inclusive em relação a abuso por parte de empresas. Por lidar apropriadamente entenda-se não apenas estabelecer marcos legais que protejam os direitos humanos e usar os instrumentos da Justiça para coibir ou punir os abusos, mas também respeitar esses direitos em seus próprios órgãos e empresas, dentro e fora do país, bem como trabalhar em conjunto para prevenir e lidar com alguns notórios abusos perpetrados por empresas.

Ruggie define a responsabilidade corporativa em relação aos direitos humanos como atuar com o devido cuidado para evitar a violação dos direitos dos outros. Esse dever vai além do cumprimento das leis nacionais. As empresas podem assumir responsabilidades adicionais voluntariamente, como, por exemplo, fazer avançar a agenda do trabalho decente nas suas operações em determinado país.

A necessidade de fácil acesso à Justiça inclui mecanismos estatais que garantam acesso ao sistema judicial e também mecanismos em nível corporativo, que operam por meio do diálogo e da mediação, como um canal para reclamações, um arquivo de acompanhamento da reclamação, o encaminhamento ao sistema judiciário, se for o caso, e informação sobre o andamento da demanda.

Levando em conta esses três pilares, Ruggie também propôs um Guia para Integração de Direitos Humanos na Gestão dos Negócios, que oferece orientações práticas para empresas que desejem assumir uma abordagem proativa em relação a direitos humanos em suas operações. Tem utilidade para negócios de qualquer porte e de qualquer natureza, sejam estatais ou privados.

Esse guia sugere cinco etapas para a integração:
•    Entender o que são direitos humanos;
•    Entender como os direitos humanos se relacionam com os negócios;
•    Identificar riscos, responsabilidades e oportunidades para o seu setor;
•    Desenvolver a integração na sua empresa; e
•    Obter comprometimento dos executivos e engajamento dos funcionários.

No Brasil, um dos exemplos de engajamento das empresas com direitos humanos é o Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo. Ele compromete as signatárias com práticas do trabalho decente por meio do monitoramento da cadeia produtiva, para prevenir a ocorrência do problema, e do relacionamento com as autoridades estatais, para punir os infratores.

A aprovação da ONU para os princípios de direitos humanos para os negócios vem mais uma vez comprovar que, no século XXI, não basta à empresa ter lucro. Ela precisa também responsabilizar-se pelos impactos de suas atividades, prevenindo sempre e remediando quando necessário.

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“Programa Madeira É Legal”

Uma visão contemporânea das questões ambientais não precisa colocar governo, setor produtivo e ambientalistas em campos opostos. Quando há vontade de se compatibilizar o desenvolvimento econômico com a preservação do meio ambiente e os interlocutores estão determinados ao entendimento, chega-se a resultados positivos.

Foi assim que nasceu, em março de 2009, o programa Madeira É Legal, uma iniciativa que reú¬ne o Sindicato da Indústria da Construção Civil de Grandes Estruturas do Estado de São Paulo (SindusCon-SP), a ¬WWF-Brasil, o Governo do Estado de São Paulo e a Prefeitura Municipal da capital paulista, além de mais 19 entidades dos meios ambientalista, governamental, produtivo e acadêmico.

Na ocasião de seu lançamento foi assinado um protocolo de entendimento para incentivar o uso de madeira legal e de madeira certificada no Estado de São Paulo. Com essa iniciativa busca-se preservar as florestas, promover o consumo sustentável de madeira pela construção civil e acabar com a exploração ilegal e o comércio clandestino do insumo.

Para comemorar os dois anos de sua criação, realizou-se um seminário em São Paulo, nesta sexta-feira (29/6), a fim de mostrar à sociedade os resultados da iniciativa. O economista e ambientalista Sérgio Besserman fez a palestra magna do evento, em que destacou a crise ambiental sem precedentes vivida pela humanidade e elogiou o programa Madeira É Legal: “É uma iniciativa extraordinária. As diferenças entre produtos certificados e não certificados estão sendo mostradas, bem como a necessidade de se pagar mais pelo que é sustentável. Trata-se de construir uma nova precificação de produtos em função de uma visão estratégica”, avaliou.

O programa busca desenvolver ações e mecanismos de controle que garantam o uso de madeira de origem legal e também certificada, entre os quais a exigência de apresentação do Documento de Origem Florestal (DOF), para identificar e monitorar a madeira que está sendo comprada, e o incentivo ao uso da madeira certificada nos departamentos de compras dos setores público e privado, como as grandes construtoras. Outro objetivo do programa é realizar pesquisas e desenvolvimento de produtos mais adequados à construção civil.

Além da adesão de entidades representativas de setores da construção civil, o programa conta com o envolvimento de atores como associações de classe, produtores e distribuidores de madeira, entre outros.

“O programa Madeira É Legal também envolve a capacitação dos compradores para que consigam identificar a origem da madeira que estão comprando, de forma a eliminar a madeira de origem ilegal e exigir cada vez mais de seus fornecedores a madeira certificada”, explica Denise Hamú, secretária geral do WWF-Brasil.

O Protocolo de Cooperação assinado voluntariamente pelas organizações participantes significa a consolidação de várias ações de diferentes atores no combate ao consumo de madeira ilegal. É também um compromisso entre as partes em implementar esses mecanismos de controle. Para Eduardo Jorge, secretário do Verde e do Meio Ambiente do Município de São Paulo, a união das iniciativas contribuiu para fortalecer as ações que já estavam em andamento.

A capital de São Paulo foi a primeira cidade a aderir ao Programa Cidade Amiga da Amazônia, já em 2005. Desde então, as obras públicas na cidade só usam madeira de origem legal. O município também foi pioneiro na exigência, desde 2007, da comprovação da origem legal da madeira utilizada em móveis fornecidos à prefeitura.

A adesão do setor da construção paulista é primordial para incentivar o uso da madeira legal ou certificada, já que o Estado consome 15% da madeira amazônica e, desse total, 70% são utilizados na construção civil.

“Estamos cumprindo com a nossa parte na preservação sustentável do meio ambiente, divulgando a legislação ambiental e as orientações para o consumo responsável da madeira junto às construtoras e aos seus fornecedores”, afirma o presidente do SindusCon-SP, Sérgio Watanabe.

Publicações

Durante o seminário de comemoração de dois anos do programa foram apresentadas duas publicações. A primeira é o guia Aquisição Responsável de Madeira na Construção Civil, assinado pelo SindusCon-SP e pelo WWF-Brasil, que mostra com números e informações técnicas a importância da utilização de madeira de origem legal ou, idealmente, certificada, no setor da construção. As experiências positivas do Madeira É Legal também são relatadas no guia pelos representantes das instituições envolvidas no programa.

A segunda publicação apresentada durante o evento foi o livro Madeira de Ponta a Ponta: o Caminho desde a Floresta até o Consumo, produzido pela Rede Amigos da Amazônia, uma iniciativa da Fundação Getulio Vargas (FGV). Segundo Malu Villela, do Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV (GVces), o objetivo da publicação é apresentar um diagnóstico do segmento madeireiro no Brasil. “O livro revela a diversidade de fraudes na cadeia de produção, transporte e comercialização da madeira, bem como iniciativas e boas práticas que se disseminam”, afirmou.

Assinam o Protocolo de Cooperação do programa Madeira É Legal as seguintes organizações:
• Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (Asbea);
• Associação das Empresas de Loteamento e Desenvolvimento Urbano (Aelo);
• Associação de Pequenas e Médias Empresas de Construção Civil do Estado de São Paulo (Apemecc);
• Associação de Produtores Florestais Certificados na Amazônia (PFCA);
• Associação Nacional dos Produtores de Pisos de Madeira (ANPM);
• Associação Paulista de Empresários de Obras Públicas (Apeop);
• Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas;
• Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS);
• Conselho Brasileiro de Manejo Florestal (FSC Brasil)
• Governo do Estado de São Paulo;
• Governos Locais pela Sustentabilidade (Iclei);
• Instituto de Engenharia;
• Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT); e
• Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social;
• Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro);
• Prefeitura Municipal de São Paulo;
• Rede Nossa São Paulo;
• Sindicato da Indústria da Construção Civil de Grandes Estruturas do Estado de São Paulo (SindusCon–SP), representando o setor da construção civil;
• Sindicato da Indústria do Mobiliário de São Paulo (Sindimov);
• Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de São Paulo (Secovi-SP);
• Sindicato do Comércio Atacadista de Madeiras do Estado de São Paulo (Sindimasp);
• Sociedade Brasileira de Silvicultura (SBS); e
• WWF-Brasil.

Está aí um belo exemplo de como iniciativa privada, poder público e ONGs podem se articular na defesa da sustentabilidade.

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terça-feira, 28 de junho de 2011

Cuba: alguns apontamentos

Temas de "Ethos na CBN" de 27/06/2011

O sociólogo Florestan Fernades comentou numa entrevista dada nos anos 1980 que o continente americano (norte e sul) ainda não superara, como um todo,  a herança colonial. E baseava seu raciocínio no fato de o estupendo crescimento econômico havido em praticamente todos os países durante o século 20 ter resultado em mais desigualdade social. As instituições políticas e sociais criadas ainda nos tempos do domínio espanhol e português não haviam sido superadas por formas mais democráticas e justas que garantiriam a distribuição mais equitativa da riqueza gerada. Florestan ressaltou duas únicas exceções a este quadro: Estados Unidos e Cuba. Cada um a sua maneira, realizaram revoluções no sentido estrito do termo e “fundaram” nações independentes, que, mesmo emulando alguns modelos “de fora”, como parlamentos, partidos políticos, etc, “inventaram” as próprias receitas de se apropriar e de distribuir poder e riqueza entre os cidadãos.
 

Florestan também apontou a fraqueza dos dois modelos: no caso americano, a dependência excessiva ao mercado financeiro e à indústria bélica para reproduzir o capital necessário ao seu crescimento. E em Cuba, a dependência à antiga URSS. Cuba, no entanto, logrou atingir índices de desenvolvimento humano para toda a população que os EUA, com todo o seu poder e dinheiro, ainda não conseguiu.

Mudando 

A fraqueza do sistema cubano tornou-se mais evidente ainda nos anos 1990, quando o regime soviético se desfez: o grande comprador do açúcar,praticamente único produto de exportação de Cuba, deixou de comprar. E pior, comprou (como URSS) e não pagou, porque no vencimento da fatura, não existia mais URSS. A dos EUA está cada vez mais profunda desde 2008.
 

Ambos os países, no entanto, estão na mesma encruzilhada: precisam mudar a economia e a sociedade, sem perder a identidade e os valores construídos ao longo de processos revolucionários que, de fato, tiveram impacto no mundo e nos cidadãos, individualmente.
 

O processo cubano de mudança vem sendo pouco comentado no Brasil e quando isso ocorre, os comentários são atravessados por preconceitos e desconhecimento, à esquerda e à direita.
As mudanças começaram a tornar-se mais visíveis a partir de 2006, quando Raul Castro substituiu Fidel. 

Desde então, a preocupação do mandatário da nação tem sido obter números confiáveis sobre a economia cubana para tomar decisões. Ele admite que não é “tão bom” quanto o irmão e que precisa de dados para se sentir seguro do que precisa fazer.

Situação atual

Não há mais recursos para seguir dando gratuitamente a 12 milhões de pessoas educação, saúde, habitação, eletricidade, água, almoço no trabalho e uma carteira para alguns alimentos. Cuba não tem indústrias significativas; 50% das terras férteis estão ociosas e o único mineral, o níquel, já foi vendido ao Canadá, graças a um péssimo acordo feito há muito tempo. Descobriu-se petróleo, mas não há recursos para explorá-lo imediatamente. O embargo norte-americano tem impacto real sobre o turismo. Cuba exporta serviços, sobretudo médicos, em troca de petróleo venezuelano.
 

O que vai mudar: desde os chamados “tempos heróicos” da Revolução, os cubanos nunca debateram tanto um plano qüinqüenal como o último, aprovado em abril pelo parlamento. As discussões foram profundas e dramáticas, pois não poucos cubanos consideram que mexer da velha ordem socialista é “trair” o processo revolucionário. Outros, no entanto, crêem que é preciso abrir a economia aos empreendedores para que o país consiga superar a sua crônica falta de bens e serviços que cheguem a toda a população.

Três decisões foram adotadas:
 

- o Partido Comunista Cubano deixa a direção da economia, que será responsabilidade do Estado. Isso tem impacto político. Cuba abandona o “centralismo democrático” característico dos regimes pautados pela URSS, e passa a construir um caminho próprio, no qual os cidadãos passam a ser mais ouvidos e decisões locais não precisam mais do aval do comitê central ou de algum representante do partido para serem adotadas.
 

- o Estado vai descentralizar as decisões em todos os níveis possíveis e, com isso, corrigir desperdícios e cortar custos. Haverá um planejamento central que dará as linhas-mestras para investimentos estatais e iniciativas individuais.
 

- o cidadão será o “motor” do desenvolvimento e, para isso, haverá forte estímulo ao empreendedorismo e à constituição de “negócios próprios”
 

Assim, como grande novidade dessa transformação, Cuba vai conviver com o trabalhador autônomo que poderá abrir pequenos negócios (não empresas) e associar-se com outros trabalhadores autônomos em cooperativas ou arranjos produtivos, para compra e venda de serviços comuns (mecânicos, encanadores, eletricistas, manicures, costureiras, seguranças, faxineiros, garçons, etc).
 

Está prevista a demissão de um milhão e trezentos mil funcionários públicos. Desse total, 500 mil já foram demitidos e receberam concessão comercial do Estado para exercerem essas funções por acordo direto com o comprador dos serviços.

Algumas conclusões:
- A discussão sobre as mudanças na economia está impulsionando a transformação também na esfera política e social. Ainda não se contesta o partido único, mas é provável que novas correntes de pensamento queiram garantir expressão maior e se organizem em partidos para disputar o poder.
 

- Não se está “regredindo” ao capitalismo, mas construindo um modelo novo de socialismo, mais adequado à realidade cubana. Isto significa o seguinte: Cuba não permitiu a volta da propriedade privada dos meios de produção. O Estado continua sendo “dono” das terras, dos recursos naturais, das fábricas, etc. Ocorre que as demandas da população por bens e serviços (e até por certo consumo mais “sofisticado”) andaram mais rápido do que o do planejamento estatal. E a falta de recursos financeiros também impede maiores inversões do Estado em setores de consumo de massa.

Este projeto pode naufragar por dois fatores:
 

- a luta interna no partido comunista, que opõe a ala “conservadora” que apóia o sistema tal como foi constituído ainda na primeira fase da revolução cubana, e a ala mais jovem, modernizante, que quer “arejar” a política e a economia cubanas.
 

- estes mais de um milhão de trabalhadores que estão sendo guindados à condição de “autônomos” não poderão contar com crédito (o país não tem dinheiro para isso), nem acesso a matérias-primas e mesmo ferramentas simples. Cuba não possui quase nenhuma indústria de transformação e precisaria importar tudo, de cereais a pregos e martelos, sem falar nos computadores, para dar competitividade a este setor que nasce no país.
 

Se abrir para importar (da China?), terá de fazer a moeda variar conforme o câmbio internacional, correndo o risco de gerar uma inflação altíssima.
Ainda concluindo: De qualquer forma, o processo é irreversível. Cuba está criando um tipo de “socialismo com mercado” e espera atrair investimentos, principalmente do Brasil.
 

Os cubanos não querem um capitalismo ultrasselvagem, como o que domina a antiga URSS. Querem os livros a 25 centavos de dólar. O cinema a dez centavos de dólar, assim como o balê, os museus, os concertos e todas as manifestações artísticas, educação e saúde de alto nível, oferecidas a todos praticamente de graça. Os cubanos querem manter isso.
 

No entanto, é preciso mudar. Em 1932, sem automóveis e com carros de boi como meio de transporte e quatro milhões de habitantes, Cuba produzia oito milhões de toneladas de açúcar. Hoje, com 12 milhões de habitantes e infraestrutura moderna, só chegam a um milhão e meio. Antes da revolução, havia seis milhões de pessoas e 12 milhões de vacas. Hoje é o contrário. Oitenta por cento do material de construção é importado, assim como 32% dos alimentos.

O que o Instituto Ethos foi fazer na ilha?
Como já dissemos, os cubanos precisam mudar para melhorarem de vida, mas não querem reproduzir a miséria e a degradação ambiental do capitalismo selvagem. Por isso, ao se abrirem ao “mercado”, querem fazê-lo do jeito que eles consideram “certo”, com responsabilidade social, buscando o desenvolvimento sustentável.

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segunda-feira, 27 de junho de 2011

PMEs, inovação e desenvolvimento sustentável

Temas de "Ethos na CBN" de 27/06/2011

Bancos querem financiar projetos inovadores e sustentáveis de Pequenas e Médias Empresas (PMEs) até mesmo sem juros. Muitos projetos, no entanto, carecem de consistência e de boa análise de mercado, segundo os investidores.
As pequenas e micro empresas são a coluna vertebral de qualquer economia. São elas que geram a maior parte dos empregos e também introduzem inovações depois assimiladas pelo mercado.
No Brasil, os pequenos negócios são de fundamental importância para fomentar o desenvolvimento e contribuir com o avanço do Brasil em 2010. A expectativa do BNDES é que a economia cresça acima de 5% nos próximos cinco anos, que a geração de empregos formais dobre em 2010 e que os investimentos internos cresçam a uma taxa de 9,6% ao ano até 2013.
Os resultados positivos alcançados pelo Brasil nos últimos anos tiveram a participação decisiva das PMEs: em 2010, elas geraram 2,2 milhões de empregos formais, contra 990 mil em 2009.
Em termos gerais, as PMEs respondem por 52% dos empregos formais do país, o que equivale a 13 milhões de trabalhadores. Em 2010, a massa salarial paga por este segmento atingiu 1,38 trilhão de reais.
O aumento do poder aquisitivo das classes C e D tem impulsionado os negócios das PMEs. Ainda de acordo com o BNDES, em 2002, o consumo dessas camadas representava 36% do total. Em 2010, C e D são responsáveis por 59% do consumo, atendido basicamente pelas PMEs.
Hoje, existem no país mais de 12 milhões de estabelecimentos classificados como micro e pequenos. Para continuar a exercer o papel fundamental que possuem, eles precisam superar dois grandes desafios:
- a informalidade
- crédito


Informalidade
Pesquisa divulgada pelo Sebrae, ainda em 2009, revelou que para cada empresa formal no país, existem duas informais.  Este dado revela a extensão de um problema que perdura na economia brasileira: a informalidade. Ela vem travando o crescimento, a arrecadação do Estado e a disponibilidade de produtos e serviços para todos os segmentos da população. E na atividade informal que também ocorrem os casos mais agudos de trabalho infantil e análogo à escravidão.
Em 2010, o Sebrae registrou mais de um milhão de novos empreendedores que formalizaram suas atividades por meio do Simples. No entanto, ainda existem mais de dez milhões de PMEs – 98% do total - que precisam sair da informalidade. Esse universo informal é composto por vendedores, manicures, costureiras, pintores, eletricistas, empregados domésticos e todos os tipos de profissionais sem definição específica. Estes profissionais geram um PIB equivalente a de países como a Colômbia e o Egito – 102 bilhões de dólares, de acordo com levantamento da FGV feito em 2006. Mas, ao atuarem na informalidade, travam o seu próprio crescimento e o da economia em geral também. 


Crédito
De um modo geral, as PMEs têm mais dificuldade de obter crédito do que empresas maiores. No entanto, isso vem mudando na mesma medida em que o pequeno negócio mostra-se disposto a não só formalizar-se, mas profissionalizar a gestão.
Hoje, bancos oficiais e privados, bem como fundos de investimentos mostram-se dispostos a apoiar pequenos e micros empreendedores, principalmente em projetos que busquem inovação para a sustentabilidade.
Essa é uma boa notícia para a própria economia brasileira, que precisa de muita criatividade para fazer transição a outro modelo de desenvolvimento, mais sustentável e justo.
Inovação, todavia, não tem sido o mote das PMEs. Estudo realizado pelo Sebrae de São Paulo em 2008, mostra que 47% das PMEs paulistas raramente introduzem  inovação ou melhoria em seus negócios. O estudo mostra ainda que somente 14% dos empreendimentos realizam inovações freqüentemente, sendo que 52% das empresas que passaram por processos de inovação tiveram crescimento no volume de produção, 46% aumentaram o faturamento, 39% registraram maior produtividade da mão-de-obra e 24% ampliaram quadros de pessoal.
Contudo, o  Sebrae avalia que as PMEs não veem a inovação como um instrumento para a competitividade e para avançar em novos mercados. E que este “espírito inovador” precisa ser incentivado e direcionado para a sustentabilidade.
Por isso, até 2013, a entidade reservou 122 milhões de reais para investir em projetos inovadores de micro e pequenas empresas.
O BNDES conseguiu com o BID três bilhões de dólares para investir em pequenos e micronegócios no Brasil.
Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal e bancos privados também têm linhas especiais para PMEs. Nâo já informação de quanto têm disponível para o segmento, mas só o Santander liberou, em março de 2011, 39 milhões de reais, de acordo com notícia do Jornal da Tarde.
O importante é notar que existe no mercado e no âmbito dos governos a vontade de incentivar as PMEs, seja para estruturá-las melhor, seja para que elas sejam o elo mais importante para a inovação visando a sustentabilidade. No entanto, as PMEs precisam atender algumas condições para terem acesso ao crédito:
- Ter os documentos em dia
- Ter a contabilidade do negócio separada da familiar
- Ter um projeto de negócio bem estruturado, com análise de mercado e visão de futuro.

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