quinta-feira, 14 de julho de 2011

Mais pobres ficam para trás na corrida pelos ODM

O Relatório dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio 2011, lançado hoje pelo Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, diz que há razões para celebrar. O mundo está no caminho para alcançar a meta de redução da pobreza, teve queda na mortalidade infantil e mais de um bilhão de pessoas ganharam acesso a melhores fontes de água potável. O progresso, no entanto, permanece desigual entre e dentro dos países.

América Latina e Caribe, por exemplo, tiveram avanços no combate à fome e na sobrevivência de crianças. Em contraste, a região pode não cumprir o objetivo de oferecer educação primária universal até 2015. A matrícula na escola primária aumentou ligeiramente, de 93% em 1999 para 95% por cento em 2009.

A sustentabilidade ambiental é outra meta em atraso. A América do Sul continua mostrando a maior perda líquida de florestas, apesar do desmatamento diminuir em nível global. A região também perde para a redução na taxa de pobreza, que até 2015 deve cair para menos de 15% em todo o mundo.

Progresso desigual

“O progresso tende a ignorar aqueles que estão nos patamares mais baixos da hierarquia econômica ou são desfavorecidos de alguma maneira por causa de seu gênero, idade, deficiência ou etnia”, disse Ban. “E as disparidades entre as áreas rural e urbana permanecem assustadoras.”

Ser pobre, do sexo feminino ou viver em zonas de conflito aumenta a probabilidade de uma criança ficar fora da escola. Entre crianças com idade de escola primária que não estão matriculadas, 42% – 28 milhões – vivem em países pobres afetados por conflitos.

“Os ODM já ajudaram a retirar milhões de pessoas da pobreza, a salvar as vidas de inúmeras crianças e a assegurar que elas possam ir à escola”, disse Ban. “Ao mesmo tempo, o Relatório mostra que ainda temos um longo caminho a percorrer”.

O saneamento básico é outro motivo de preocupação. Mais de 2,6 bilhões de pessoas ainda carecem de acesso a banheiros. Na América do Sul, um residente urbano teve quase duas vezes mais probabilidade de ter acesso à infraestrutura de saneamento básico do que um residente rural, revela o documento.

Acordados na Cúpula do Milênio da ONU, em setembro de 2000, os oito ODMs estabeleceram em todo o mundo objetivos para reduzir a pobreza extrema e a fome, melhorando a saúde e a educação, o empoderamento da mulher e assegurando a sustentabilidade ambiental até 2015.

(ONU Brasil)

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quarta-feira, 13 de julho de 2011

Walmart e o programa Sustentabilidade de ponta a ponta

O Walmart Brasil apresentou hoje as dez empresas líderes em seus segmentos que participaram da segunda edição do programa Sustentabilidade de Ponta a Ponta, uma parceria entre Walmart e seus fornecedores para aplicar a visão de ciclo de vida para reduzir os impactos ambientais e melhorar os produtos.

Contexto – o que é o Programa Sustentabilidade de ponta a ponta

Desde 2005, o Walmart Brasil adotou a sustentabilidade como parte integrante do negócio e em 2008, iniciou o projeto End-to-end: Sustentabilidade de ponta a ponta, iniciativa que engloba o envolvimento de seus parceiros comerciais. Eles têm sido estimulados a buscar soluções que minimizem os impactos negativos da cadeia de valor e a promover mudanças para a sustentabilidade socioambiental da cadeia como um todo.

Para estabelecer os padrões de sustentabilidade e avaliá-los em cada inovação desenvolvida pelos parceiros, a Walmart conta com a participação do Centro de Tecnologia de Embalagem (Cetea), ligado ao Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL). O Cetea faz o acompanhamento de todas as empresas, com o objetivo de garantir a qualidade dos dados, a legitimidade do projeto e a metodologia uniforme de avaliação.

Na primeira etapa do projeto, além da equipe de marcas próprias do Walmart, nove parceiros comerciais aceitaram o desafio. O objetivo foi demonstrar que é possível desenvolver produtos e processos mais sustentáveis em grandes, médias e pequenas empresas.

Nesta segunda edição, foi escolhido como indicador de melhoria a redução das emissões de gases de efeito estufa, tendo como base de cálculo o GHG Protocol, uma metodologia cada vez mais utilizada por empresas e governos para quantificar, entender e gerenciar as emissões de carbono de uma atividade, setor econômico e país. A origem de tudo é um “inventário” de emissões, no qual são detalhadas as etapas de cada processo e qual a quantidade de gases de efeito estufa que elas contêm.

As empresas e os produtos desta segunda edição

Além do próprio Walmart, que participou com a marca Sentir Bem, mais nove empresas líderes aceitaram o desafio de reduzir emissões em seus produtos. São elas: Ambev, Danone, Kimberli Clark, Kraft Foods, L’Oréal, Mars, Phillips, Reckitt Benckiser, Santher, Sara Lee, SC Johnson e Whirlpool

Vamos comentar alguns casos que envolvem marcas mais populares.

A Ambev trabalhou com a embalagem de dois litros do guaraná Antártica, desenvolvendo a aplicação de PET 100% reciclado pós-consumo com a resina virgem, atendendo normas da Anvisa. As garrafas são produzidas com uma parte de resina reciclada e outra de resina virgem. Aos poucos, a empresa pretende aumentar a resina reciclada. Para isso, investe na garantia do fornecimento de pet para reciclagem, por meio de capacitação de uma cadeia de cooperativas para que elas sejam as grandes fornecedoras do insumo. Assim sendo, a nova embalagem vai promover inclusão social e melhoria de renda e trabalho para populações tradicionalmente excluídas do processo produtivo. Ainda mais: vai reduzir o descarte de pet e, durante a produção, a economia de 940 mil litros de água por ano, e de 557 mil kg de carbono.

A Danone repensou o ciclo de produção do Danoninho, da produção de leite à embalagem. Na produção de leite, que representa 98% da matéria-prima, os fornecedores adotaram novo tipo de nutrição para o gado de modo que a produção de leite aumentou e as emissões de metano diminuíram proporcionalmente. No processo produtivo, a readequação das células de resfriamento diminuiu o consumo de energia e, em conseqüência, as emissões de carbono. E na embalagem, a utilização de tecnologia de expansão da chapa de plástico reduziu o peso do copinho e, em decorrência, o gasto com armazenamento e transporte, o que também traz diminuição de emissões de carbono. A redução contabilizada foi de 635,5 ton de CO2.

A Phillips participou do programa Sustentabilidade de ponta a ponta com a melhoria da eficiência energética para o consumidor da TV LED de 32 polegadas. Em dez anos, o produto promove economia equivalente a dez meses do consumo médio de uma residência. A nova TV Led 32 também promoveu redução no gasto de combustível com transporte, porque com a lâmpada Led, a tv ficou mais fina e o novo pedestal, em vidro temperado, permitiu ganho de espaço na carga. Outra mudança importante ocorreu na embalagem do produto. O isopor, de difícil reciclagem porque ocupa muito espaço sem contrapartida no peso, foi substituído por polpa de papel reciclado. A redução de CO2 equivalente foi de 822 ton.

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terça-feira, 12 de julho de 2011

Muito mais alimentos, sem reduzir a pobreza

por Washington Novaes*

Na reunião em que foi eleito diretor-geral da Organização para a Alimentação e a Agricultura (FAO), da Organização das Nações Unidas (ONU), há poucos dias, o ex-ministro brasileiro José Graziano da Silva assegurou – com sua experiência de gestor do programa de combate à fome entre nós – que esta será a sua prioridade: enfrentar esse problema no mundo, para que até 2015 o número de carentes de alimentos no planeta, hoje em torno de um bilhão, se reduza à metade. “É o desafio do nosso tempo”, disse na ocasião o ex-secretário-geral da ONU, Kofi Annan, lembrando que um dos complicadores dessa questão, “o protecionismo dos ricos” à sua produção de alimentos, só tem aumentado. E isso quando a própria FAO alerta que os preços desses produtos continuarão a subir nos próximos dez anos. E que a produção precisará crescer 70% até 2050, para alimentar os 9,2 bilhões de pessoas que estarão no mundo nessa época.

Não é a única preocupação de Annan. Ele alertou também para as crescentes compras e arrendamentos de terras em outros países, por especuladores e fundos de alto risco de países industrializados. Só em 2009 foi comprada na África uma área equivalente ao território da França (FAO, 27/6). São movimentos decorrentes das incertezas econômicas do mundo, com investidores buscando garantias reais, no momento em que os papéis financeiros chegam perto de US$ 600 trilhões, para um produto bruto mundial na casa dos US$ 60 trilhões anuais. E no momento em que Nouriel Roubini, um dos pouquíssimos economistas a prever a crise de 2008-2009, alerta (O Estado de S. Paulo, 23/6) para o forte aumento do “risco de uma parada e um duplo mergulho em economias avançadas”, em seguida a altas pronunciadas nos preços de alimentos, petróleo e commodities, que fazem “ressurgir o espectro da inflação”.

Em reunião do G-20, nos mesmos dias, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, afirmou que os mercados agrícolas, “os menos transparentes”, vão se transformando, “sem regras, em loteria, na qual a sorte sorri para os mais cínicos”. Por isso mesmo, o Brasil declarou seu apoio a um Sistema de Informações dos Mercados Agrícolas, administrado pela FAO, que possa coibir movimentos indesejáveis nessa área. Mas não aceita um mecanismo de estabilização de preços agrícolas. Para o ministro da Agricultura brasileiro, o único caminho para isso é “aumentar a produção”.

Tudo acontece num cenário paradoxal. Um relatório da própria FAO – Perdas Globais de Alimentos e Desperdício de Comida – assegura (11/5) que um terço dos alimentos produzidos no mundo, cerca de 1,3 bilhão de toneladas anuais, se perde ou é desperdiçado. São 670 milhões de toneladas nos países industrializados e 630 milhões nos demais. Os consumidores ricos, diz o documento, desperdiçam 222 milhões de toneladas de frutas e hortaliças – tanto quanto toda a produção de alimentos na África. Isso quer dizer um desperdício per capita de 95 a 115 quilos anuais nos Estados Unidos e na Europa. Nessa mesma hora, lembra o Banco Mundial, com a crise no Oriente Médio e na África, o preço dos alimentos ali já subiu 36%.

Mas o que se fará? Estender a todo o mundo o padrão de consumo de alimentos já vigente nos países mais ricos? E como? Há quase duas décadas, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) chama a atenção: para isso seriam necessários mais dois ou três planetas como a Terra. Lester Brown, diretor do Earth Policy Institute, acha (New Scientist, 5/2) que a “bolha de alimentos” vai tornando insustentável a situação da água e da terra. Na Índia, 175 milhões de pessoas são alimentadas com grãos produzidos com água retirada em maior quantidade que a reposta. Na China, são 130 milhões. Segundo Brown, metade da população mundial já vive em países com escassez de água – “e esta noite mais 219 mil pessoas se terão acrescentado à população mundial” (mais de 80 milhões por ano).

Trazendo para o Brasil a questão do combate à fome, que será preciso fazer? Segundo o IBGE, dez milhões de brasileiros vivem com até R$ 39 por mês; 4,8 milhões moram em domicílios sem renda alguma; ao todo, a população de “miseráveis” chega a 16,2 milhões (equivalente à população total do Chile); abaixo da linha da pobreza – R$ 70 por mês – estão 8,5% dos 190 milhões de habitantes; 5,7 milhões vivem com R$ 40 a R$ 70 por mês; só no Estado de São Paulo são 1.084.402 “miseráveis”. O governo federal pretende investir R$ 20 bilhões para enfrentar o problema, dos quais R$ 16 bilhões do Bolsa Família (que é a única renda de 88% dos 13 milhões de beneficiários). Mais uma vez, pode-se comparar esse investimento com os mais de R$ 150 bilhões anuais pagos em juros a bancos e investidores em papéis da dívida.

Não há dúvida de que já somos o segundo maior produtor de alimentos no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. E o Ministério da Agricultura espera aumentar a produção em 23% em uma década. Mas, como observa o ex-ministro Rubens Ricupero (Folha de S.Paulo, 26/6), esse desenvolvimento só se sustentará se formos capazes de encontrar soluções para “os desafios do meio ambiente”. Para justificar a preocupação, lembra ele números citados pelo também ex-ministro José Carlos Carvalho: “No Vale do Rio Doce, um hectare sustentava 2,8 cabeças de gado; hoje, mal chega a 0,6″.

E assim vamos no mundo dos paradoxos. A produção de alimentos cresce, sobem os preços, commodities transformam-se em garantia para investimentos, juntamente com a compra de terras em países mais pobres. Mas não se consegue sair de perto do número terrível de um bilhão de famintos no planeta, 40% da humanidade vivendo abaixo da linha da pobreza. A China caminhando para se tornar grande potência, mas Xangai, sua cidade mais populosa (acima de 20 milhões de habitantes), baixando legislação para proibir que cada família tenha mais de um cachorro – a política do “cachorro único” (ainda assim, mais de cinco milhões de cachorros; de quanto se precisará para alimentá-los?).

* Washington Novaes é jornalista.

** Publicado originalmente no jornal O Estado de S. Paulo e retirado do site IHU On-Line.

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segunda-feira, 11 de julho de 2011

Paulo Itacarambi comenta: “Como estão as condições de trabalho nos supermercados”

As três maiores redes do país informam que cumprem a legislação trabalhista e vão além. Mas estão com o desafio de combater o assédio moral.

As três grandes redes supermercadistas que atuam no Brasil – Pão de Açúcar, Carrefour e Walmart – são protagonistas do movimento da responsabilidade social empresarial em casos exemplares no país. Como exemplo, temos o monitoramento da cadeia da carne para prevenir e evitar a compra do produto cuja origem seja fazendas ilegais, que desmatam e utilizam trabalho análogo à escravidão.


Por meio do rastreamento dos fornecedores, via CNPJ das notas fiscais, os grandes supermercados podem garantir a seus clientes a origem da carne de suas gôndolas. Se conseguem combater o desmatamento e promover o trabalho decente na cadeia produtiva, como eles se comportam em relação aos seus próprios funcionários? 

Esta pergunta foi proposta pelo Piotto há algumas semanas. Como saí em férias e a resposta exigia pesquisa extensa, o assunto ficou numa espécie de quarentena. Agora, voltando do descanso, retomo a pauta. 

Perguntamos aos três grandes supermercados como eles se comportam em relação aos seguintes temas: jornada de trabalho, horas extras, descanso semanal remunerado, licença-maternidade e relacionamento com sindicatos da categoria. As respostas foram as seguintes:



Jornada de trabalho/horas extras – Pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e acordos coletivos, a jornada de trabalho é de 44 horas semanais, incluindo sábados e domingos. Os funcionários podem agregar mais duas horas extras por dia. Os acordos preveem pagamento dessas horas, com 60% de acréscimo sobre a hora normal, ou compensação em dias de folga.

O funcionamento durante o final de semana também está fixado em acordo coletivo. De modo geral, a jornada e as horas extras são as mesmas, mas, em algumas regiões (São Paulo, por exemplo), as horas extras trabalhadas aos domingos não podem ser incluídas no banco de horas geral da empresa.

O Carrefour estabeleceu prazo de 90 dias para os funcionários “zerarem” as horas extras com folgas. Caso isso não ocorra, a empresa paga as horas extras. A cobertura de folgas e férias é feita por funcionários contratados para essa finalidade.

O Pão de Açúcar segue a convenção para as horas extras, que é compensação (quando for possível) ou pagamento com acréscimo de 60% sobre a hora normal trabalhada.

O Walmart também segue a CLT e a convenção no que diz respeito à jornada de trabalho e ao pagamento de horas extras. Recentemente, introduziu a jornada flexível de trabalho para todos os funcionários das 483 lojas espalhadas por 18 Estados brasileiros. Dentro de uma grade de horários para início e término do expediente, o profissional pode definir uma jornada de trabalho que deixe tempo livre para compromissos pessoais. O horário flexível no Walmart é a única experiência do gênero no varejo.

Descanso semanal – O descanso semanal remunerado está regulamentado pela Lei 605/1949, pelo Decreto 27.048/1949 e pela Lei 11.603/2007. Pela lei de 1949, estabeleceu-se que o descanso semanal deveria recair preferencialmente no domingo. O decreto, também de 1949, estabelece os casos nos quais é possível trabalhar aos domingos – motivo de força maior ou realização/conclusão de serviços inadiáveis.

Como a CLT exige autorização prévia para o trabalho dominical, a Lei 11.603/2007 regulamenta o trabalho aos domingos para o comércio. As três redes seguem a legislação.

Licença-maternidade – Até o momento, a licença-maternidade de 180 dias só é obrigatória no serviço público e opcional na iniciativa privada. O INSS paga quatro meses de salário; os outros dois meses ficam por conta da empresa, que, no entanto, pode deduzir integralmente a despesa do imposto de renda devido.

O Walmart Brasil e o Grupo Pão de Açúcar estão entre as empresas privadas que estenderam o benefício a suas funcionárias por mais dois meses. O Walmart informa que já faz isso desde 2008. No Carrefour, a licença-maternidade é de 4 meses.

Relacionamento com sindicatos –
As três redes informam também que mantêm um constante e bom relacionamento com os sindicatos de trabalhadores de várias categorias representativas dos funcionários. Outra informação importante é que essas redes buscam fazer valer o acordo coletivo mesmo nas lojas mais afastadas. Ou seja, não esperam que um sindicalista ou um fiscal do trabalho denuncie uma irregularidade. A própria administração monitora as lojas e corrige os possíveis desvios do acordo coletivo. Vale lembrar que, embora as cláusulas principais sejam iguais em todo o país, cada região pode apresentar alguma particularidade.

O que oferecem a mais

Planos de carreira - Há, nas três redes, planos de desenvolvimento de carreira e capacitação para ocupar novos postos. Os grupos dão ênfase a esse desenvolvimento porque os supermercados têm sido a porta de entrada para o mundo do trabalho de centenas de milhares de jovens, principalmente jovens pobres, pois a exigência para os cargos iniciais é o ensino fundamental completo. Como o ramo se torna cada vez mais especializado, é importante preparar e reter os talentos. Além do treinamento interno, há apoio para completar a escola e até a universidade.

Valorização da diversidade – As redes também vêm desenvolvendo políticas de diversidade, com foco na valorização de gênero, capacitando mulheres para ocupar cargos de liderança nas lojas e na estrutura administrativa das empresas. Isso se deve ao fato de 80% da clientela ser constituída por mulheres de todas as idades. De acordo com o Carrefour Brasil, 23% dos cargos de liderança da rede são ocupados por mulheres. O Walmart Brasil relatou que possui um Comitê de Mulheres, ligado diretamente à presidência, como instância para desenvolver iniciativas que permitam acelerar a liderança feminina na empresa. O Pão de Açúcar não informou nenhuma ação específica para gênero. Busca, no entanto, contratar pessoas da terceira idade para trabalhar no atendimento das lojas.

Participação nos lucros – Pão de Açúcar, Carrefour e Walmart informam que concedem participação nos lucros e resultados (PLR) a seus funcionários.

Redução da informalidade – A informalidade – ainda uma característica predominante no setor de comércio e serviços – nessas grandes redes foi bastante reduzida, mesmo nos serviços terceirizados, o que garante a capilarização dos direitos trabalhistas para um número cada vez maior de trabalhadores.

Assédio moral, o desafio

O bom relacionamento com sindicatos, o cumprimento da legislação trabalhista e das convenções coletivas e as ações de valorização profissional adotadas pelas grandes redes têm se refletido na diminuição de processos na Justiça trabalhista ocasionados por desrespeito à CLT ou aos acordos coletivos. De acordo com a revista Supemercado Moderno, em 2008, das mais de 1 milhão de ações trabalhistas em andamento em São Paulo por não cumprimento da CLT, apenas cinqüenta eram de supermercados.

No entanto, as redes supermercadistas estão enfrentando um problema crescente: os processos por assédio moral. E trata-se de um desafio e tanto, porque o problema tem mais a ver com comportamento de determinados funcionários (chefes, na maioria) difícil de ser monitorado em grupos com tantos empregados espalhados por uma vasta extensão geográfica. As três redes já foram condenadas a pagar indenizações que variam de R$ 20 mil a R$ 2 milhões.

O Pão de Açúcar é o maior empregador privado do país, com 160 mil funcionários. O Walmart informa que tem 90 mil empregados e o Carrefour, 80 mil.

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) trata o assédio moral como problema de saúde pública, reconhecendo não haver um só setor profissional que esteja livre do problema. A OIT define assédio moral como violência moral no trabalho: o uso de xingamentos, palavras depreciativas, piadas e atitudes que humilhem o trabalhador, atingindo sua dignidade e auto-estima. Não é um fenômeno novo no mundo do trabalho. Novidade é que ele passou a ser tratado como algo que não é “inerente” ao trabalho. Ou seja, ninguém deve ser humilhado em situação nenhuma, inclusive no escritório ou na fábrica.

Aqui no Brasil, a legislação sobre o tema ainda está sendo construída, à medida que as denúncias viram processos e processos viram decisões que criam jurisprudência.

Hoje, além dos comerciários (grupo em que se inserem os trabalhadores dos supermercados), bancários e petroquímicos são os que mais procuram a Justiça clamando por indenização em virtude de assédio moral. Isso demonstra que, mais do que dinheiro, o assédio faz com que as empresas percam reputação, algo difícil de recuperar.

Para acabar com esse problema, é preciso mudar o comportamento das pessoas. Como? Não há uma receita pronta, mas a gestão responsável sugere alguns caminhos:
•    O primeiro deles é estabelecer um código de conduta em que fique muito claro o que pode e o que não pode ser feito ao tratar os funcionários no ambiente de trabalho;
•    O passo seguinte é treinar todos os funcionários, mostrando na prática como aplicar os princípios do código de conduta. É importante repetir o treinamento periodicamente, para reforçar a mensagem e verificar como o código vem sendo assimilado por chefias e subordinados.
•    Por último, a liderança precisa dar o exemplo.

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"É possível dar escola a todas as crianças do mundo imediatamente"

Relatório divulgado no início da semana pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) mostra que tem havido avanços na universalização do acesso ao ensino fundamental no mundo todo, mas eles são lentos. E que, se houver vontade política, em pouco tempo todas as crianças do mundo podem ir à escola.

Em abril de 2000, os governos de 160 países que integram o sistema da Organizações das Nações Unidas (ONU) reuniram-se em Dacar, capital do Senegal, no Fórum Mundial de Educação, organizado pela Unesco, e criaram a iniciativa Educação para Todos, que estabeleceu seis metas a serem atingidas até 2015 e o monitoramento delas, com a publicação de relatórios periódicos.

As seis metas do programa, assumidas como compromisso de Estado pelos 160 países participantes do fórum (inclusive o Brasil), são as seguintes:
• ampliar a educação para a primeira infância;
• universalizar o acesso à educação básica;
• garantir o atendimento de jovens em programas de aprendizagem;
• reduzir em 50% a taxa de analfabetismo;
• eliminar as disparidades de genêro no acesso ao ensino; e
• melhorar a qualidade da educação.

O monitoramento é feito a cada ano. No último dia 4 de julho, foi lançado um estudo específico sobre a situação educacional das crianças em países em conflito. O trabalho se chama A Crise Oculta: Conflitos Armados e Educação e traz números bastante dramáticos sobre infância e escolarização, principalmente nos países envolvidos em guerras. Este recorte específico foi feito para alertar e inspirar os governos e a sociedade civil no resgate dos valores sobre os quais a Unesco (e a própria ONU) foi criada: libertar o mundo do flagelo da guerra, por meio da educação, da cultura e da difusão do conhecimento científico, tendo como diretriz a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Como o próprio relatório concluiu, infelizmente o mundo ainda está bem longe desse ideal preconizado pelos arquitetos do sistema multilateral. Mas não é uma distância tão grande que impeça a vontade política de superar os conflitos e atingir as metas do programa.

Hoje, mais do que em qualquer outra época, a humanidade tem conhecimento e recursos para resolver os graves problemas que sempre a afligiram. Por que não o fazemos?

Os resultados do relatório


A Crise Oculta destaca que o mundo não está no caminho certo para atingir as metas do programa Educação para Todos em 2015. Enfatiza que houve avanços importantes, como a paridade de gênero nas matrículas da educação primária, a redução pela metade do número de crianças fora da escola, principalmente na Ásia e na África subsaariana, e o avanço da educação pré-escolar na América Latina, onde 62% das crianças até 5 anos estão na escola.

Todavia, ainda há 67 milhões de crianças fora da escola. Metade delas se concentram em 15 países, entre os quais o Brasil (a Unesco contabiliza 700 mil crianças brasileiras ainda fora da escola).

Se os entraves à educação universal não forem superados, o mundo não conseguirá dar um futuro bom para as crianças de hoje. Entre os obstáculos a superar, a Unesco destaca:
• a fome. Nos países em desenvolvimento, 195 milhões de crianças de até 5 anos de idade (uma em cada três) sofrem desnutrição que causa danos irreparáveis ao seu desenvolvimento cognitivo e ao seu processo educacional, no longo prazo;
• o abandono da escola antes de completar o ensino fundamental;
• as disparidades de gênero, que continuam a dificultar o progresso da educação. Se o mundo tivesse alcançado a paridade de gênero no nível primário em 2008, teria havido um adicional de 3,6 milhões de meninas na escola primária;
• a desvantagem de gênero, que custa vidas. Se a taxa média de mortalidade infantil da África subsaariana caísse para o nível associado às mulheres que têm alguma educação secundária, haveria 1,8 milhão de mortes a menos;
• a qualidade da educação, muito baixa em vários países. Milhões de crianças saem da escola primária com níveis de leitura, escrita e competências matemáticas muito abaixo do esperado;
• a falta de professores. Serão necessários mais de 1,9 milhão de professores até 2015 para que a educação primária universal seja atingida;
• o analfabetismo de adultos. Há 796 milhões de adultos analfabetos no mundo, a maioria deles vivendo em dez países, entre os quais o Brasil. Para a Unesco, nosso país ainda possui 14 milhões de analfabetos.

Essas lacunas exigem investimento dos próprios países e, no caso das nações mais pobres, de ajuda internacional. A Unesco calculou o quanto a sociedade global precisa investir por ano para garantir as metas do programa Educação para Todos até 2015: US$ 16 bilhões por ano. É muito? Certamente não. Essa quantia corresponde a 6 dias de gastos militares dos países ricos.

O Brasil e os desafios da educação


Em relação ao cumprimento das metas, o relatório de 2011 do Educação para Todos coloca o Brasil em 88º. lugar entre os 160 signatários do programa. Japão, Reino Unido e Noruega lideram o ranking. Na América Latina, Argentina, Chile e Uruguai são os países mais bem classificados, acima do Brasil.

Estamos vivendo um novo ciclo de crescimento econômico, mas nossos indicadores sociais avançam pouco, em que pesem os progressos (modestos) registrados em alguns setores, como redução da pobreza e da desigualdade.

Na educação, avançamos lentamente. Pior do que isso, estamos muito aquém das necessidades impostas pelo recente ciclo de prosperidade. Falta mão de obra capacitada, tanto que a estamos buscando até mesmo em países vizinhos.

A falta de uma educação pública de qualidade para todos pode comprometer também o desenvolvimento dos negócios. Por isso, em 2006, algumas das maiores empresas brasileiras organizaram e financiam o movimento Todos pela Educação, que congrega, além da iniciativa privada, organizações da sociedade civil, educadores e gestores públicos e tem como objetivo contribuir para que o Brasil garanta a todas as crianças e jovens o direito à educação básica de qualidade.

Esse grande objetivo foi traduzido em 5 metas, com prazo de cumprimento até 2022, ano do bicentenário da independência do Brasil. As metas são as seguintes:
Meta 1: Toda criança e jovem de 4 a 17 anos na escola;
Meta 2: Toda criança plenamente alfabetizada até os 8 anos;
Meta 3: Todo aluno com aprendizado adequado à sua série;
Meta 4: Todo jovem com o ensino médio concluído até os 19 anos;
Meta 5: Investimento em educação ampliado e bem gerido.

A idéia não é substituir o Estado, mas apoiá-lo em ações de valorização e capacitação dos professores, melhoria nos processos de gestão escolar e organização de eventos que tornem a escola e a aprendizagem o foco das atenções da sociedade.

Para monitorar essas metas, o movimento reúne, no site, uma área de acompanhamento, na qual podem ser acessados os dados das pesquisas oficiais (IBGE, Ipea etc.). O conhecimento dos dados permite que os integrantes do movimento elaborem planos para melhorar o desempenho e mobilizem a sociedade para cobrar dos poderes públicos as medidas necessárias.

Para saber como o Brasil anda em relação às cinco metas da educação, basta acessar o site www.todospelaeducacao.org.br e, na barra de menu, clicar em “Educação no Brasil”. Ao acessar a página, é possível verificar, por exemplo, que a Meta 3 – “Todo aluno com aprendizado adequado à sua série” – é a que impõe mais desafios para a sociedade brasileira.

Em 2022, espera-se que pelo menos 70% dos alunos do ensino fundamental e médio das escolas públicas e privadas tenham desempenhos em português e matemática superiores ao mínimo estabelecido pela escala do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), que mede as competências do aluno para cada matéria específica.

Hoje, nenhuma das séries avaliadas (o 5º. e o 9º. anos do ensino fundamental e o 3º. ano do ensino médio) possui 35% dos alunos com aprendizado adequado, seja em língua portuguesa, seja em matemática. Temos 11 anos para chegar aos 70%.

O que fazer?

O movimento Todos pela Educação tem atuado diretamente nos municípios, por meio da mobilização do empresariado local, das escolas públicas, das entidades e dos órgãos públicos de educação, buscando integrar mais as famílias com as escolas, melhorar a gestão dos recursos, capacitar os professores e monitorar o uso dos recursos públicos pelas escolas.

Mais importante do que as ações desse movimento é o papel que ele está desempenhando na conscientização da sociedade sobre a importância do investimento público na educação. O cidadão e a cidadã precisam entrar “na briga” por uma educação pública de alta qualidade para garantir um futuro mais tranqüilo para seus filhos.

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