A escolha das 500 maiores empresas do país não é algo casual. Os padrões adotados por elas têm forte poder indutor de transformações e servem como referência para todo o meio empresarial brasileiro. Este estudo contabilizou respostas de 109 empresas que empregam 620 mil pessoas e têm faturamento médio entre 1 bilhão e 3 bilhões de reais por ano.
O Ethos e o Ibope realizam esta pesquisa há quase dez anos para estimular as empresas a mudar. E qual o balanço do período? Em que pesem os avanços verificados ao longo da série histórica, iniciada em 2001, os resultados demonstram que é muito lento o ritmo das mudanças ocorridas no perfil social das empresas.
A participação dos negros e das mulheres aumentou, mas não o suficiente para representar uma diminuição expressiva na desigualdade verificada em anos anteriores.
A proporção de negros nas companhias aumentou de 25%, em 2007, para 31%. Os funcionários brancos passaram de 73% para 67%. No cargos de direção, 5,3% dos executivos são negros, diante de 3,5% verificados em 2007. No entanto, os diretores brancos ainda são 93,3%. Nos cargos de gerência e de supervisão, a proporção de negros é de 13,2% e de 25,6%, respectivamente.
A desigualdade aumenta quando se trata da mulher negra. 9,3% no quadro funcional, 5,6% na supervisão, 2,1% na gerência e 0,5% no quadro executivo mostram uma disparidade abissal entre a participação delas na composição da população brasileira: elas são 50,1% do total de mulheres presentes na população brasileira, ou 25,6% de toda a população do país.
Em outra categoria, apenas 1,5% do quadro de funcionários das empresas é compostos por pessoas com deficiência
Em relação às mulheres, a presença feminina aumentou nos cargos de diretoria, passando de 11,5% para 13,7%, mas diminuiu no quadro funcional geral, de 35% para 33,1%.
Ainda na questão de gênero, se cruzarmos estas informações com os dados sobre escolaridade, verificamos que as mulheres estão mais bem preparadas que os homens. De acordo com o IBGE, as mulheres acumulam, na média, 7,4 anos de estudo, contra 7 anos dos homens. No levantamento deste Perfil, 99% das mulheres que ocupam cargos diretivos possuem nível superior, contra 96% dos homens nas mesmas posições. Nos níveis de comando menos elevados, o contingente feminino mantém a superioridade, com proporções sempre superiores a 90%, enquanto 87% dos homens em cargo de gerência têm formação superior e 60,4% nos cargos de supervisão.
Com relação às pessoas com deficiência, a participação no quadro funcional das empresas não é superior a 1,5%, quando o Censo de 2000, do IBGE calcula que 14,5% da população brasileiras são constituídos por pessoas com deficiência. Em números absolutos, temos que dos 612.462 funcionários representados pelo conjunto de empresas que responderam a pesquisa, apenas 9080 são pessoas com deficiência.
De um modo geral, as empresas ainda não estão cumprindo a porcentagem prevista na lei 8213/ 91 – de destinar até 5% dos cargos para pessoas com deficiência. A sub-representação ocorre, a exemplo das outras categorias, conforme se ascende na hierarquia.
Com os aprendizes, é expressiva a parcela de empresas que afirma contratá-los para seus quadros: 93% da mostra do atual estudo. No entanto, 43% de empresas possuem um número de aprendizes menor do que o mínimo exigido pela lei 10 097, de 2000. 54% estão na faixa mínima exigida pela lei, que é de 5%.
Adotar a promoção da diversidade e da equidade nos quadros funcionais é um caminho para reduzir as desigualdades não apenas no mercado de trabalho, mas na sociedade. As empresas também ganham com isso, pois diminuem a vulnerabilidade legal, valorizam a imagem corporativa e incrementam a produtividade Por que, então, os avanços têm sido tão lentos?
O estabelecimento de políticas e ações com metas objetivas e prazos determinados é um caminho possível e efetivo para reduzir estas desigualdades. E, como se trata das 500 maiores empresas do país, os padrões adotados forte poder indutor em todo o meio empresarial brasileiro, com força para transformar não só o mercado de trabalho como também a própria sociedade.
O “Perfil Social, Racial e de Gênero” mostra que a diversidade da gente brasileira, uma das maiores vantagens competitivas do país, ainda não é considerada fator estratégico pelas empresas. Até quando?
O Brasil, que caminha para ser a quinta economia do mundo, não pode permanecer como uma das mais desiguais. Os direitos humanos precisam adquirir o mesmo status de prioridade da economia. A promoção da diversidade e da equidade nas empresas é um passo importante e decisivo para isso.