Desde o início do processo de globalização, nos anos 1990, governos, empresas e sociedade demandam uma regulação do mercado estabelecida pelos órgãos de governança multilateral. O assunto, que nem mesmo entrou na pauta de muitas reuniões, voltou à ordem do dia com a crise financeira de 2008. O evento que levou à bancarrota alguns dos mais tradicionais ícones do capitalismo, também provou que o mercado, por si, não dá conta de se autorregular. Desde então, aumentaram as pressões de governos e sociedades para o estabelecimento de mecanismos controladores do sistema financeiro internacional e para a adoção de regras para o fluxo de capitais.
Esta semana, o G-20, grupo das 20 maiores economias do mundo, está reunido em Seul, na Coréia do Sul, para tentar aprovar algumas medidas que garantam relações comerciais mais equilibradas. No fundo, o que se discute é até que ponto cada um pode produzir, vender, ter lucros, sem por em risco a sobrevivência do outro. Esta é também a questão de fundo do desenvolvimento sustentável. A possibilidade de bancarrota geral produzida pela decisão unilateral do FED de desvalorizar o dólar mostra que o mundo pós-globalização é interdependente. Não há solução individual que dure.
O G-20 deveria discutir a regulação do sistema financeiro internacional, mas, passou a se dedicar ao tema do reequilíbrio das relações internacionais de comércio, bastante abaladas pelas artificiais desvalorizações cambiais perpetradas por EUA e China em suas respectivas moedas.
É improvável que se cheque a um consenso sobre qualquer dos temas em discussão. Menos por incompetência ou divergências irreconciliáveis e mais porque os governos lá presentes querem continuar com “mais do mesmo”: usar recursos para alavancar especulações planetárias com moedas e outras mercadorias. O negócio é vender muito, lucrar muito.
Desde a crise de 2008, os bancos e instituições à beira da falência foram “salvos” com dinheiro público e ninguém sabe ao certo a quantia despendida com estas operações. Fala-se em 3 trilhões de dólares. Por causa desta crise, a ONU calcula que mais de 50 milhões de pessoas tornaram-se pobres, desde 2008.
O G-20 está perdendo a oportunidade de devolver ao sistema financeiro o seu real objetivo na sociedade: financiar investimentos produtivos e gerar empregos. Mais do que isso, de direcionar estes investimentos para setores da economia que podem contribuir para a emergência de um modelo mais sustentável de investimento, com equilíbrio ambiental, justiça social e progresso econômico.
Antes mesmo do final da 2ª. Guerra, em 1944, 45 países aliados reuniram-se numa fazendo nos EUA, chamada Bretton Woods, e definiram uma nova política financeira mundial. Segundo o acordo de Bretton Woods as moedas dos países membros passariam a estar ligadas ao dólar, variando numa estreita banda de +/- 1%, e a moeda norte-americana estaria ligada ao ouro a 35 dólares. Para que tudo funcionasse sem grandes sobressaltos foram criadas duas entidades de supervisão, o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Banco Mundial. Tudo funcionou bem por vinte anos, até que, em 1973, pressionados pelo déficit interno, os EUA declararam unilateralmente a desvinculação do dólar ao padrão ouro.
A decisão anunciou o que veio a se chamar “globalização” de capitais, com as conseqüências que conhecemos. Precisamos de um novo acordo financeiro internacional, que ponha fim ao vale-tudo do mercado, mas que o G-20 parece longe de conseguir.
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
A regulação dos mercados e a sustentabilidade
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Ethos na CBN
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"o início do processo de globalização, nos anos 1990"?? o processo é bem mais antigo e a demanda por regulação não se deve ao fato de os mercados não darem conta de se auto regular, a questão é que o mercado é ótimo em alocar recursos, mas lento ou insuficiente na disposição de justiça social. O estado ao contrário, é péssimo em alocar recursos, mas deve (não que seja bom nisso tambem), prezar pela justiça social. Só há um grande problema para mim, o mercado, tente a se autoregular (seja por exigências da demanda ou por cumprimento de leis de regulação), contudo, não a tendência inversa nos orgãos de regulação, o aumento da eficiência e uso racional dos recursos.
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