sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

“Que lições tirar do Fórum Social Mundial de Dacar?”

O início do ano é um momento interessante, porque ocorrem alguns encontros globais que têm por objetivo refletir sobre os desafios do futuro da sociedade. Na semana passada, nós falamos sobre as conclusões do Fórum Econômico Mundial (FEM), em Davos. E, nesta sexta-feira (11/2), terminou o Fórum Social Mundial (FSM), em Dacar.

Como ressaltamos, o fórum de Davos tem encaminhado os desafios atuais com uma visão centrada na economia. Já Dacar busca soluções que atendam as necessidades humanas, propondo que a organização da economia se dê em função dessas necessidades. Em Davos, a “visão de mundo” consolidada pede encaminhamento rápido de soluções macroeconômicas (cortes fiscais, por exemplo), pela via do mercado. Em Dacar, as discussões têm buscado mostrar os riscos de uma visão preponderantemente de mercado para problemas complexos e apontar caminhos para as crises de hoje, sempre sob o mote de que “outro mundo é possível”, diferente na política, na economia e na cultura.

Talvez por ter ocorrido no norte da África, perto do Cairo e das suas atuais grandes manifestações populares por democracia, o fórum em Dacar foi ainda mais impactado pela política. De acordo com os participantes, o “exemplo egípcio” precisa ser seguido pelo processo do FSM: realizar várias manifestações em vários lugares do mundo, para conscientizar e mobilizar as sociedades para uma verdadeira transformação – o “outro mundo possível”.

Isso tudo mostra que a África é um continente em movimento. Ainda há muito a ocorrer para se alcançar a democracia, mas o processo está iniciado. No FSM, as organizações se articularam para fortalecer esses movimentos de mudança, por meio de ações e apoios para consolidação das transformações políticas. Fazem pressão em seus países, em entidades parceiras e em organizações sociais de diversas naturezas, visando a intensificação da pressão internacional.

Um exemplo é o evento ocorrido na quarta-feira (9/2), no qual ambientalistas, intelectuais e ativistas políticos de diversas correntes se reuniram no Grupo de Reflexão e Apoio ao Processo Fórum Social Mundial para discutir como a agenda de mobilização do fórum pode apresentar, até a Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, propostas concretas para promover uma verdadeira transformação social.

Como fazer a integração das três dimensões da sustentabilidade? Esta pergunta tem sido motivo de muitas reflexões neste FSM. Um dos desafios desse processo de construção de propostas, e que diz respeito também às empresas, é distinguir iniciativas ambientalmente sustentáveis daquelas fundadas apenas em estratégias de marketing – o chamado greenwashing, ou marketing verde. Esta prática também é considerada um obstáculo pelas empresas mais comprometidas com a gestão responsável e é interessante que tenha sido abordada em Dacar, e não em Davos.

Vale como exemplo uma tecnologia que vem sendo empregada em larga escala em vários países europeus e foi citada na mesma reunião do FSM: a do “carvão verde”. Ele é assim chamado porque emite menos carbono quando queima, já que passa por uma lavagem química que diminui a quantidade emitida de carbono. O problema é que essa lavagem polui a água. Outro exemplo citado é como conciliar a ocupação de espaços pela mineração e agricultura para biocombustíveis com a segurança alimentar, via agricultura familiar, e a redução do desmatamento.

Dacar chama a atenção para o fato de que, diante da necessidade de soluções, não é mais possível fazer mais do mesmo ou adotar remédios paliativos.

Essas questões podem ser um alerta para as empresas. As mudanças efetivas podem vir de duas maneiras: a voluntária das empresas, por meio de melhorias nos processos de produção, alteração de logística e mudança da matriz de energia, ou pelas regulamentações por parte dos governos, que vão aprovar leis para tornar as mudanças compulsórias.

A combinação dessas ações é que pode dar velocidade às transformações necessárias para podermos chegar a 2050 com dignidade e qualidade de vida para todos os 9 bilhões de habitantes do planeta e sem resultar num aumento do aquecimento maior do que 2 graus Celsius.

Dacar, como Davos, deposita a esperança de que na Rio+20 possamos efetivamente criar novos marcos para as ações de governo, empresas e sociedades. A tarefa que todos temos é fazer com que essa conferência proporcione as decisões relevantes que a humanidade exige.

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Economia verde, limpa e inclusiva: novo paradigma de sustentabilidade

José Eustáquio Diniz Alves*, para o EcoDebate

Entre 1800 e 2010 a população mundial cresceu cerca de 7 vezes (passando, aproximadamente, de um para sete bilhões de habitantes) e a economia do mundo cresceu algo em torno de 50 vezes. As megacidades cresceram num ritmo ainda maior. A esperança de vida ao nascer da população mundial girava em torno de 30 anos e agora está próxima de 70 anos. A despeito das desigualdades sociais, na média, as pessoas estão mais ricas e vivendo mais tempo, com mais educação, melhores condições de moradia e mais acesso aos bens de consumo. Existem quase um bilhão de pessoas em situação de insegurança alimentar (ou desnutridas), mas existe um número muito maior de pessoas acima do peso ou com graves problemas de obesidade.

Isto quer dizer que o modelo de desenvolvimento industrial teve “sucesso” em promover o “progresso”, elevando o acesso a bens de consumo para a maioria dos sete bilhões de habitantes do mundo, embora as condições de vida sejam muito diferenciadas nacional e internacionalmente.

A chave do crescimento econômico foi o uso indiscrimado da energia fóssil (carvão vegetal, carvão mineral, gás e petróleo) acumulada na natureza durante milhões de anos, além do uso da riqueza vegetal de florestas e matas, do aproveitamento do manancial das nascentes de água, dos rios e lagos e da utilização da riqueza da vida marinha. Mas tudo isto às custas da degradação das condições ambientais e da pauperização do Planeta.

Nos clássicos do pensamento econômico, o meio ambiente é uma externalidade que só afeta a dinâmica econômica por meio da elevação dos preços. A ciência econômica sabe que “as necessidades e as expectativas humanas são ilimitadas e os recursos são finitos”. Por isto, existem diversos tratados sobre a lei dos rendimentos decrescentes e sobre o “estado estacionário”. Mas, em geral, a economia não se preocupa com o começo ou o fim dos tempos e sim com o fluxo de produção e consumo. Os modelos clássicos da economia trabalham com 4 preços fundamentais: salário (preço do trabalho), juro (preço do dinheiro), câmbio (preço das divisas) e inflação (preço dos bens e serviços). Estes preços ajudam na determinação da renda da terra, do lucro do capital e do aluguel de móveis e imóveis.

A ciência econômica está muito centrada no curto prazo e na maximização dos recursos produtivos do momento. Curto prazo é o período em que os fatores de produção são dados. A macroeconômia, por exemplo, se preocupa em fazer coincidir o produto real com o produto potencial, administrando as metas de inflação, o valor do salário mínimo, os juros, o câmbio, as taxas de investimento, etc. O futuro não importa muito pois é apenas o somatório de infinitos “curtos prazos”. Como dissia John Maynard Keynes: “no longo prazo todos estaremos mortos”. Só não sabia que o “longo prazo” já esta à vista no horizonte. Os limites da Terra já podem ser vistos a cada catastrófe ambiental que tem acontecido.

O modelo econômico desenvolvimentista e consumista (quer seja dos EUA, da Rússia ou da China), chegou a uma encruzilhada, pois não levou em devida consideração os custos da externalidade ambiental. O uso generalizado e indiscriminado da energia fóssil não incorporou os danos da poluição ambiental, do aquecimento global e o esgotamento das reservas. Também não levou em consideração a sobreutilização dos aquíferos, da pesca, dos minerais raros, etc.

Não há como manter o crescimento econômico no ritmo dos últimos 60 anos (desde o II pós-guerra) sem provocar um catastrófe ecológica nos próximos 60 anos, pois um crescimento anual de 3,5% ao ano significa que o PIB mundial dobraria a cada 20 anos e multiplicaria por 8 até 2070. Não há como manter a exploração predatória por tal quantidade, em tal tempo.

Também não se trata apenas de conciliar desenvolvimento com sustentabilidade ambiental. O “buraco é mais embaixo”, isto é, trata-se de eliminar o conflito entre duas dinâmicas em permanente oposição. A lógica do desenvolvimentismo é oposta à lógica da ecologia. O desenvolvimentismo utiliza as demandas dos direitos humanos e das necessidades da população para justificar os crimes ambientais. Mas os seres humanos não são os únicos habitantes da Terra e as gerações presentes não podem e nem deveriam comprometer o futuro dos seus descendentes.

O que o mundo precisa no século XXI é um modelo econômico que corrija as injustiças sociais, garantindo a prosperidade e a qualidade de vida da humanidade, ao mesmo tempo que incrementa a biodiversidade, protege e recupera os recusos naturais do Planeta. A população não pode fazer simplesmente o que quer sem pensar nos demais seres vivos da Terra. O mercado não pode agir simplesmente na lei da oferta e da procura, com a lógica do curto prazo. O consumo desenfreado não é um direito que está acima do bem comum do ecossistema. O capital privado não pode estar acima do capital natural e público. O governo não deveria ser um espaço para a reeleição de políticos corruptos, mas a instância capaz de unificar os esforços para compatibilizar o presente com o futuro de maneira sustentável.

O que o mundo precisa é de um modelo econômico que incorpore população, desenvolvimento social e incremento (e não redução) das fontes de vida da Terra. Mais intuição e menos destruição. É preciso romper o choque entre economia e meio ambiente, pois não se trata de incentivar a demofobia e nem promover a consumofobia. Porém, é preciso cobrar caro pelo desrespeito ambiental e taxar os danos ao ecossistema.

O conceito de Economia Verde e Inclusiva busca pensar nesta direção. Muito falta ser feito e pensado. Mas como escrevi em outro artigo, podemos considerar um novo paradigma de sustentabilidade a partir da idéia de uma economia verde, limpa e socialmente justa:

“A economia verde e inclusiva é uma nova forma de organizar as atividades produtivas, que possibilita a melhoria do bem-estar da humanidade e a redução das desigualdades sociais, ao mesmo tempo que evita expor a bioesfera e as gerações futuras a significativos riscos ambientais e de escassez ecológica. Refere-se ao processo de reconfiguração das atividades econômicas e de infra-estrutura para oferecer melhor retorno sobre os investimentos de capital natural, humano e econômico, enquanto reduz as emissões dos gases de efeito estufa, utiliza menos recursos naturais, gera menos resíduos e possibilita a reciclagem do lixo, a universalização do saneamento básico e o reaproveitamento de matérias-primas e produtos manufaturados. Significa uma economia que faz mais com menos e utiliza menor quantidade de bens materiais e maior quantidade de bens e serviços imateriais e intangíveis. A economia verde implica a reconstituição das florestas, a defesa da biodiversidade, a promoção da agricultuta sustentável, da aquacultura e dos recursos hídricos, assim como o planejamento urbano e a promoção de transporte e prédios sustentáveis. É uma economia que incentiva e articula a sociedade do conhecimento com o desenvolvimento sustentável, a criação de empregos verdes com o decrescimento das atividades poluidoras e possibilita o crescimento de novas oportunidades de renda, menor consumismo e maior inclusão social”.

*José Eustáquio Diniz Alves, colunista do EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE;

As opiniões deste artigo são do autor e não refletem necessariamente aquelas da instituição

Fonte: Mercado Ético / EcoDebate

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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Sobre a base da pirâmide e Inovação Corporativa

Por Luiz Ros e Ana Luiza Ferreira

Ao falarmos a respeito da iniciativa Oportunidades para a Maioria do BID em palestras, ou até mesmo em reuniões com executivos, não é raro observarmos a dificuldade em distinguir estratégias para a base da pirâmide (ou BoP, por causa da expressão em inglês Base of the Pyramid) de simplesmente vender para as classes C, D, e E. Maior ainda é a confusão entre BoP e Responsabilidade Social Corporativa. Depois de alguns minutos de conversa, no entanto, os rostos estão invariavelmente iluminados e cheios de expectativas e idéias, especialmente quando demonstramos o potencial dos modelos de negócios BoP para a promoção da inovação e alavancagem do crescimento das organizações.

A iniciativa Oportunidades para a Maioria foi lançada pelo BID em julho de 2007, com o objetivo de aumentar a qualidade de vida de comunidades de baixa renda de forma sustentável. O seu mandato prevê a promoção e financiamento de soluções de mercado que envolvam o desenvolvimento e provisão de produtos e serviços de qualidade para a maioria na América Latina, através de modelos e parcerias de longo prazo.

Já prevíamos, naquela época, os desafios que nos esperavam, uma vez que, para promover a inovação, era necessário também inovar. Três anos depois, ficamos orgulhosos ao notar as necessárias transformações internas promovidas para o adequado cumprimento do nosso mandato. Processos de aprovação de projetos redesenhados e uma nova metodologia de análise de risco são dois exemplos das transformações catalisadas internamente.

Os nossos maiores exemplos de inovação, no entanto, estão nos clientes e parceiros da iniciativa. Eles enxergaram que mais valioso que insistir na briga por cada fatia do já saturado mercado das classes média e alta é descobrir formas eficientes de servir com qualidade e alto valor agregado aos 70% da população da América Latina que permanecem com acesso limitado a produtos e serviços básicos.

O processo de enxergar a baixa renda como mercado está avançando a passos rápidos no Brasil. Há, no entanto, distinções a serem feitas. Entender a realidade e necessidades de produtos e serviços da maioria requer um alto grau de esforço. Oferecer produtos de má qualidade ou com condições inaceitáveis para as classes baixas não tem nada a ver com BoP. Estratégias de base da pirâmide estão relacionadas, por exemplo, com inovação para diminuir custos e lucrar no volume, não na margem. São necessárias novas maneiras de operar.

Ao falar em volume, nos vem à cabeça o conceito de plataformas. Percebemos cedo que escala é uma peça essencial para decifrar o código do sucesso na base da pirâmide. Assim, analisamos vários modelos, identificando as plataformas envolvidas. Percebemos que essas plataformas tomam os mais diversos formatos. De sistemas de distribuição de serviços de utilidade pública a armazéns de construção. De redes de vendedoras porta-a-porta a programas governamentais de transferência condicional de renda. Todas essas plataformas tem potencial para viabilizar alcançar os indivíduos de baixa renda com alto volume e custos reduzidos.

Um belo exemplo é o projeto "Financiamento Social", das Empresas Públicas de Medellín (EPM), uma das maiores corporações da Colômbia que oferece serviços de gás, água e eletricidade, entre outros. A maioria dos clientes da EPM vive em áreas de muito baixa renda, sem acesso a oportunidades. Na Colômbia, 45% da população adulta não tem acesso a quaisquer serviços financeiros formais. Em Medellín, menos de 25% dos moradores tem acesso a cartões de crédito ou empréstimos. Os bancos comerciais não atendem a essa população pela percepção de que é altamente arriscado emprestar para a baixa renda. Como eles não têm histórico creditício comprovado, é muito caro emprestar através dos sistemas financeiros tradicionais. A EPM percebeu, então, que os registros das contas desses clientes tem um alto potencial transformador. Eles apontam para a capacidade financeira e evidenciam os clientes que pagam suas contas em dia. Dessa forma, resolveu montar uma operação para fornecer também crédito, de maneira responsável. O crédito não pode ser utilizado para qualquer fim, está vinculado à compra de bens que elevarão o padrão de qualidade de vida das famílias, como materiais de construção, refrigeradores, aquecedores, lavadoras, etc. O melhor: os registros de crédito desses indivíduos de baixa renda são repassados ao bureau de crédito nacional. Eles passam, assim, a construir seu histórico creditício e a poder acessar, num futuro próximo, canais formais de crédito com condições mais vantajosas.

A exemplo do crédito, precisamos inovar em outras áreas. Ainda não há, por exemplo, a opção de educação básica de alta qualidade amplamente acessível às camadas mais baixas. Atenção, aqui não nos referimos, de maneira alguma, à substituição do governo pelo setor privado. A questão é que os desafios para o desenvolvimento integral das comunidades de baixa renda são tão amplos e complexos que demandam as características de alto dinamismo e apetite constante para a inovação, tornando valiosa a parceria com o setor privado. Há uma grande oportunidade para a construção de parcerias público-privadas.

O BID, Banco Interamericano de Desenvolvimento, está numa posição estratégica para apoiar empresas que almejam servir aos mercados da maioria, por combinar expertise na área de produtos financeiros e de assistência técnica e atuar em pesquisa, políticas públicas e junto ao setor privado. A grande aposta desta iniciativa está na busca de soluções para os graves problemas sociais a partir das ferramentas de um setor privado criativo, inovador e sustentável. Todos saem ganhando.

*A opinião dos autores não reflete, necessariamente, a posição do Banco Interamericano de Desenvolvimento.

Fonte: Next Billion Brasil

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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

As universidades estão preparando líderes para a sustentabilidade?

Não estão. E explico por quê.
Antes de mais nada, para saber qual gestor a empresa precisa, é necessário compreender os desafios que estão colocados pela realidade atual.

Vivemos um momento de reposicionamento das empresas frente a uma série de dilemas. Quais são estes dilemas?

Aqueles decorrentes da crise de modelo de civilização que se manifesta de várias formas. Mudanças climáticas, desigualdades sociais e crise financeira são algumas destas manifestações.

Estas questões têm impactos nas empresas, nos governos e nos cidadãos e exigem abordagens inovadoras por parte dos líderes.

Assim, no que diz respeito às empresas, elas terão que elevar sua capacidade de diálogo com as partes interessadas.

Por isso, as empresas devem desenvolver uma nova cultura, a cultura do diálogo, com maior escuta de informações essenciais para a definição da estratégias.

A maior dificuldade das empresas, neste início de século 21, é fazer a transição entre a cultura da eficiência e da produtividade (baixo diálogo e engajamento) para uma cultura de produtividade e eficiência adequadas às expectativas das partes interessadas e, portanto, lastreada em valores como a ética e o compromisso no longo prazo.

Neste novo cenário, os governos serão mais presentes, mas menos intervencionistas; as empresas mais inovadoras e mais responsáveis pelos seus impactos; e os cidadãos mais conscientes, exercendo, por meio de organizações civis, controle maior sobre a ação do Estado e das empresas.

A credibilidade e a legitimidade de uma empresa passa a ser, então, o resultado da capacidade de responder às demandas da sociedade, tanto no que concerne ao seu comportamento socioeompresarial, quanto na implementação e comunicação de suas políticas. Esse processo, portanto, implica a criação de balanços sociais e relatórios de sustentabilidade, que dêem visibilidade aos impactos causados por sua atividade. Além de prestar contas à sociedade, essas avaliações sistemáticas são instrumentos de gestão que facilitam a observação de possíveis vulnerabilidades e oportunidades de negócios para a empresa.

Chegamos, então, ao cerne da questão, que vai definir a empresa no século 21: como deve ser o novo líder?

Ainda não há um perfil definido, mas, pelo que está delineado, é possível reconhecer ao menos que, este novo líder não será corporativo; ele terá dimensão multissetorial e será capaz de ouvir todas partes envolvidas, catalisando os desejos coletivos e transformando-os em ações de engajamento do grupo. Este líder vai balizar suas ações por valores compartilhados pelo grupo. Seu compromisso será com estes valores, por isso, vai irradiar confiança e credibilidade imprescindíveis para impulsionar a colaboração interpessoal e atingir os resultados esperados. A legitimidade deste líder será diretamente proporcional a sua capacidade de operar em redes e em comunidades de aprendizagem, respeitando a neutralidade e a diversidade dos interlocutores.

Que tipo de formação ele deve ter?

As escolas de negócio ainda não entenderam que o padrão de liderança “controla e comanda” não funciona mais frente aos desafios deste século.
Sem visão sistêmica e integradora, não será possível ao líder enfrentar estes desafios.

O combate à pobreza, o meio ambiente e a inovação tecnológica são temas supranacionais que vieram para ficar e gradualmente se equiparam à proeminência da economia e dos mercados nas discussões dos principais tomadores de decisão do mundo.

O caminho do desenvolvimento sustentável já aponta para as novas condicionantes que o capital deve ter: ele só poderá circular livremente e se multiplicar se produzir neste processo valor social e segurança ambiental. Ele não precisa ser criativo no sentido de criar algo que não existe; ele precisa ser inovador nas suas condições primárias de reprodução, isto é, toda equação de mercado precisa contabilizar agora as dimensões socioambientais e, ao buscar esta equação, viabilizar a sustentabilidade.

A formação das novas gerações de líderes passa por valorizar a interdisciplinaridade e construir uma visão mais integrada da sociedade, sensibilizando-os e oferecendo formação na áreas social, ética, filosófica e ambiental, entre outras, para que possam ter um repertório mais amplo para tomarem decisões.

Jorge Abrahão

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terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

É preciso mudar as cabeças para mudar a maneira de fazer negócios

Dois dos desafios mais importantes que precisamos superar para construir o desenvolvimento sustentável é mudar a maneira de pensar e, com isso, elaborar novos conhecimentos. Não se trata de um esforço restrito apenas a cientistas; é preciso o engajamento de todos os cidadãos para que esta transformação ocorra. O Estado tem um papel decisivo nesta “virada”, com a definição de políticas educacionais, de pesquisa e de inovação voltadas para a sustentabilidade. Mas as empresas também têm e podem desempenhar um papel fundamental na transformação.

Ok, todo mundo sabe disso. Mas, concretamente, o que uma empresa pode fazer para ajudar a mudar corações e mentes? O Grupo HSBC adotou um programa internacional chamado “HSBC Climate Partnership” ou Parceria do Clima HSBC. Com a ajuda de três organizações de pesquisa ambiental e climática internacionais, o banco criou cinco centros climáticos no mundo, que são bases de pesquisas científicas. Eles ficam localizados em florestas da China, Brasil, Índia, Reino Unido e Estados Unidos. Todos os meses, para cada um destes locais, são encaminhados grupos de 12 funcionários que passam 15 dias em um trabalho científico de coleta de informações das florestas. Este material será, depois, analisado por cientistas e darão origem à maior experiência de campo do setor privado sobre o impacto das mudanças do clima em florestas temperadas e tropicais.

O centro brasileiro desta iniciativa do HSBC fica na reserva do rio Cachoeira, na cidade de Antonina, no Paraná, que abriga floresta de Mata Atlântica, um dos biomas mais ricos em biodiversidade e dos mais ameaçados pela ação humana. Este centro é base da experiência para a América Latina, já tendo recebido 308 funcionários do HSBC, 92 dos quais brasileiros. Durante estes quinze dias, os funcionários convivem sem hierarquias diferenciadas, dividindo o mesmo alojamento, dividindo as tarefas domésticas e aprendendo juntos. Medem árvores, recolhem frutos e folhas, levam amostras ao laboratório e os catalogam. A turma seguinte continua o trabalho do ponto em que a anterior deixou. O monitoramento vai seguir até 2012. Ao final do trabalho de campo, o grupo tem aulas noturnas de sustentabilidade, nas quais são discutidos casos reais e hipotéticos de riscos.

A partir da experiência na floresta, o funcionário muda a “visão de mundo” e, por extensão, da maneira de trabalhar. Com isso, dá outra qualidade às decisões sobre gerenciamento de riscos e sobre identificação de novas oportunidades de negócio, de práticas sustentáveis e de engajamento de clientes e fornecedores, entre outros assuntos. A iniciativa, que merece todo o apoio, desperta, no entanto, algumas questões:

- esta experiência impacta a análise da carteira de clientes?
- os clientes do banco promovem que tipo de impacto ambiental negativo nos biomas brasileiros?
- o banco está adotando (ou estudando adotar) políticas de incentivo à inovação entre seus clientes e no mercado?
- como o banco está ligando este programa com os Princípios do Equador, iniciativa da qual é signatário? Os princípios do Equador estabelecem compromissos socioambientais voluntários que as instituições signatárias comprometem-se a adotar em seus negócios.
- o HSBC também participa de diversos índices de sustentabilidade internacionais. Qual o efeito do programa no desempenho da companhia nestes índices?

O programa mundial tem investimento garantido de 100 milhões de dólares e duração de cinco anos. Quer engajar os 312 mil funcionários do grupo em todo o mundo.

Um dado interessante é que, numa pesquisa interna do banco, os funcionários revelaram que têm mais interesse em participar desta vivência no centro brasileiro. E que o potencial de engajamento dos funcionários com a sustentabilidade é mais alto na América Latina. O poder transformador da experiência foi mais alto no Brasil. Os funcionários brasileiros se sentem mais satisfeitos com os projetos que desenvolveram depois que voltaram da vivência. Também percebem que suas ações estão fazendo a diferença.

O levantamento interno apontou que 92% dos funcionários brasileiros disseram que passaram a considerar mais as questões ambientais na tomada de decisões cotidiana. 76% mudaram a maneira de pensar sobre a vida.

O Grupo Positivo, a Alcoa, a Shell e a Souza Cruz estão planejando programas vivenciais semelhantes no país. A vivência na floresta trouxe a convicção de que é possível mudar e que a mudança pode, de fato, começar agora, em nós e nas pequenas coisas.

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segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O que une o Cairo, Davos e Dakar?

A certeza de que não alcançaremos a sustentabilidade de uma sociedade se não olharmos também para a dimensão política e social.

O desafio que se coloca para os governos, as empresas e a sociedade civil é integrar e equilibrar ações nas áreas política, social e ambiental. Será um erro se houver a prevalência de uma destas áreas sobre as demais.

Há o risco de termos um olhar mais voltado para o ambiental e chegarmos a utilizar muitas vezes sustentabilidade como sinônimo de ações ambientais.

Na verdade as políticas de mitigação das mudanças climáticas devem estar integradas com a geração de emprego, redução da pobreza e desigualdade social e ao mesmo tempo evidenciar a necessária participação política da sociedade, reforçando desta maneira os mecanismos democráticos.

No caso do Egito, de nada adiantaria ser um exemplo em ações ambientais se abriga um regime autoritário e sem liberdade de expressão e uma condição social deplorável de seus cidadãos com altas taxas de desemprego e elevado custo de vida, dificultando a sobrevivência das pessoas e a esperança por um futuro melhor para as gerações.

Por isso é importante que espaços de debate como Davos e Dakar, que tem por objetivo a construção de uma visão de futuro da sociedade, estejam cada vez mais atentos a esta abordagem integrada.

O encontro de Davos acabou no último final de semana. Lá o foco esteve dirigido às questões econômicas e ao final passou a mensagem de um certo alívio para 2011 devido a perspectiva de recuperação da economia americana e a pujança dos paises emergentes.

Se não forem incluídos neste cenário considerações de natureza social e ambiental, muitos governos e empresas podem errar em suas tomadas de decisões, por desconsiderarem seus efeitos na sociedade.

Se quisermos limitar a análise a uma ótica puramente econômica os problemas sociais e ambientais são responsáveis cada vez mais por demandar crescentes fatias do PIB dos paises.

Qual o custo gerado pelos problemas sociais que vive hoje o Egito ? O aumento do petróleo, o impacto na economia de vários paises, a redução do turismo e o intangível sofrimento das pessoas, que é o maior dos problemas.

Qual o custo dos problemas ambientais nos paises? Há estudos que apontam para o investimento de recursos da ordem de 10% do PIB.

Qual o custo da crise política gerada pela ditadura? O ambiente de guerra civil que vive hoje por exemplo o Egito.

Qual o custo da crise financeira? A crise de 2008, teve um custo que mudou a vida de muitos paises e pessoas devido as recessões que provocou.

Davos acabou no ultimo final de semana e neste teve inicio seu contraponto; o Fórum Social Mundial que ocorre em Dakar.

No FSM o desafio é propor modelos de organização da sociedade que tenham como objetivo central o atendimento das necessidades humanas.

A partir desta premissa surgem uma série de propostas para os governos, empresas e sociedade que podem contribuir para evitar problemas que temos vivenciado.

Como exemplo, poderíamos citar:

Na área financeira a proposta que surgiu há muitos anos para criação de um imposto sobre transações financeira globais denominada taxa Tobin, que além de criar um grande fundo para soluções de problemas sociais permitiria o mapeamento da movimentação financeira o que poderia ter evitado a especulação que deu origem à crise de 2008.

Na dimensão política as ditaduras são sempre objeto de protestos e propostas de ações que induzam seu fim.

Na questão da governança global, a idéia de um maior equilíbrio entre os paises sempre ocupa grande espaço da agenda.

E na questão ambiental surgem assunto instigantes como a revolução azul (no mar), a revolução verde (na terra) e as nova forma de geração de energia.

O importante é podermos extrair destes fóruns o que de melhor oferecem, estarmos abertos às suas provocações e tratar sem preconceitos as idéias que ali surgem.

Podem servir como inspiração para governos, empresas e sociedade civil a prevenir e evitar problemas como os que temos vivenciado.

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