quarta-feira, 13 de abril de 2011

A pegada ecológica de Campo Grande

Foi realizado hoje, na Faculdade de Economia e Administração da USP, um debate sobre a pegada ecológica das cidades brasileiras, apresentando o resultado do levantamento feito em Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, pioneira neste tipo de avaliação ambiental no Brasil.

A escolha da capital sul-mato-grossense como primeira cidade brasileira a desenvolver essa metodologia se deve a alguns fatores: Campo Grande é a capital do estado que abriga a maior parte do Pantanal, região com enorme riqueza ambiental e ao mesmo tempo ameaçada pela degradação provocada por alguns modos insustentáveis de consumo. Embora Campo Grande esteja na borda do Pantanal e não dentro dele, os impactos causados pelas escolhas de consumo dos moradores da cidade, assim como de outras partes do Brasil e do mundo, têm reflexos sobre a planície pantaneira.

Qual a importância desta informação para o desenvolvimento sustentável que queremos?

A pegada ecológica é uma metodologia usada para medir os “rastros” do consumo humano no planeta. Ela pode ser aplicada a países, cidades e pessoas e corresponde ao tamanho das áreas produtivas terrestres e marinhas necessárias para sustentar determinado estilo de vida. É uma forma de traduzir, em hectares, a extensão de território que uma pessoa ou uma sociedade utiliza para morar, se alimentar, se locomover, se vestir e consumir bens de consumo em geral.

Já existem duas outras “pegadas” que são utilizadas como medidas para verificar o impacto da atividade humana na natureza. A pioneira delas é a “pegada de carbono” que analisa a emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE) a partir de uma atividade ou processo produtivo. A “pegada hídrica”, por sua vez, estabelece o impacto de determinada atividade (produto, processo, serviço, cadeia produtiva inteira ou de uma simples pessoa) sobre os recursos hídricos diretos e indiretos, das regiões onde ela se localiza (ou habita, no caso de pessoas).

Assim,quando comemos um hambúrguer, por exemplo, estamos também consumindo 2.400 litros de água utilizados no processo produtivo do hambúrguer, desde o plantio do capim, dos cuidados e do abate do boi, do transporte da carne, da produção do hambúrguer, da sua distribuição, etc.

A “pegada ecológica” tem outra abrangência. Ela reflete o que se pode chamar de “contabilidade ambiental” que avalia a pressão do consumo humano sobre os recursos naturais. Ela tem uma medida própria – hectares globais (gha) – utilizada em todas as medições, de modo que é possível comparar as pegadas de países, de cidades, de pessoas, de empresas, e verificar se elas estão dentro da capacidade de recuperação ecológica do planeta, também chamada de “biocapacidade”. A relação ideal entre pegada ecológica e biocapacidade é de equilíbrio. Atualmente, há desequilíbrio. A pegada ecológica do planeta é de 2,7 gha por pessoas ; a biocapacidade disponível para cada ser humano é de 1,8 gha. Há, portanto um déficit ecológico de 0,9 gha. Isto significa que o consumo excede a capacidade regenerativa do planeta. Se não mudarmos os padrões de consumo, não teremos mais recursos naturais disponíveis para nos sustentar. Esta informação não é nova; ela é mais uma vez confirmada por outra metodologia, que usa cálculos e parâmetros diferentes, mas chega ao mesmo lugar: o planeta está exaurido.

O Brasil possui uma pegada ecológica de 2,9 gha por habitante, um pouco acima da pegada ecológica mundial. A pegada ecológica do estado de Mato Grosso do Sul é de 2,1 gha. A de Campo Grande, de 3,14 gha. A cidade tem um pouco menos de 800 mil habitantes. Se todas as pessoas do planeta consumissem como os moradores de Campo Grande, seriam necessários quase dois planetas para sustentar este estilo de vida.

A maior parte desta pegada está associada ao consumo de alimentos (45% dos 3,14 gha) e serviços (18%). Nestes itens, é interessante destacar que o alimento mais consumido é a carne e o serviço mais utilizado é o de restaurantes. O campo-grandense consome 90 kg de carne por ano, quando o consumo mundial médio é de um pouco mais de 78kg / ano per capita.

De posse deste perfil de classe de consumo, a sociedade civil organizada, as entidades de produtores rurais e de trabalhadores, a prefeitura, o governo estadual e mesmo a instância federal podem estudar ações para agregar valor à pecuária local, de modo a reduzir os impactos. Por “agregar valor”, entenda-se não apenas tornar a atividade mais ecoficiente, com redução per capita no consumo de recursos naturais. A pegada ecológica só será efetivamente menor se o “consumo absoluto” destes recursos for reduzido. Isto é: mesmo que cresça o número de cabeças de gado, o consumo geral de recursos naturais, diretos e indiretos, da atividade continue caindo. Não é tarefa fácil, mas é o desafio de sustentabilidade que temos pela frente, inclusive as empresas.

Não haverá atividade sustentável sem a redução absoluta no uso de recursos naturais em processos, produtos e serviços. Isto exige altas taxas de criatividade e de inovação em todos os níveis. Exige também mudança individual de comportamento, abertura para aceitar outros padrões consumo. Mas, não é disso que trata o desenvolvimento sustentável?

No site wwf.org.br/pegadaecologica, você pode calcular a sua pegada ecológica e, assim, mudar alguns hábitos de consumo para ajudar a cidade, o país e o planeta. Atitudes individuais são importantes para a transição a uma nova economia, inclusiva, verde e responsável. São as pessoas que mudam a cultura e o comportamento.

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