segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Fórum de Davos começa com olhos voltados para a Europa e EUA

Crise econômica que ainda afeta parte do mundo rico se contrapõe a realidade de crescimento dos países emergentes
A 41ª Edição do Fórum Econômico Mundial teve início na última quarta-feira, 26/01, como sempre na cidade de Davos, na Suíça. E o clima é de muitas incertezas diante de problemas, que não são de hoje, mas persistem em preocupar os mais importantes países do mundo, ou seja, dívidas impagáveis, desequilíbrio e guerra cambial, futuro da zona do euro e a desaceleração econômica dos Estados Unidos.

SINAIS OPOSTOS
Quanto à crise mundial alguns dos economistas mais conhecidos e com papéis importantes no cenário da análise econômica mundial inverteram sua percepção sobre o momento atual. O eterno pessimista, Nouriel Roubini, afirmou em Davos que o mundo está saindo da crise, mas chamou a atenção para futuros problemas na produção de alimentos. Enquanto o, se assim podemos chamar, otimista, Joseph Stiglitz, expôs sua preocupação quanto a um recrudescimento da crise econômica.

OTIMISMO EM 2011
O temor de Stiglitz economista detentor do Prêmio Nobel não encontra abrigo na visão dos executivos mundiais. Na véspera da abertura da conferência, a PricewaterhouseCoopers divulgou pesquisa anual sobre a confiança de executivos no futuro da economia. 48% dos 1.201 CEOs consultados em 69 países declararam estar "muito confiantes" sobre crescimento de receitas nos próximos 12 meses --perto do nível de 50% atingido em janeiro de 2008 e bem acima da taxa de 31% vista há um ano. Os brasileiros estão entre os mais otimistas com índice de 68% entre aqueles que esperam contratar mais funcionários neste ano. Por outro lado, 63% dos executivos nacionais disseram temer o aumento de impostos.

EMERGENTES E A NOVA ORDEM MUNDIAL
O otimismo que reina nos países emergentes faz coro com o tema oficial da reunião deste ano, "Normas Compartilhadas para a Nova Realidade", que procura refletir um pouco a nova configuração do mundo com a inserção das potências econômicas emergentes em um lugar de destaque junto aos países desenvolvidos e que tradicionalmente ocupam uma posição de protagonismo nas relações internacionais.

Enquanto o chamado bloco de países ricos, tenta encontrar saídas para os seus sérios problemas econômicos, os países emergentes continuam a desenhar uma nova ordem mundial e a consolidar-se como protagonistas, com o óbvio destaque para o desempenho econômico dos BRICs, nos últimos anos.

Em Davos, os emergentes têm sua própria agenda. Entre elas, querem soluções para suavizar a política monetária dos países desenvolvidos que prejudicam as exportações do bloco e buscam o definitivo reconhecimento como potências econômicas.

MIOPIA PERSISTENTE
Todas essas questões e outras que ainda irão surgir nos debates e encontros das lideranças, apesar de lidarem com problemas reais, ainda tem como base uma ordem antiga e ultrapassada que a cada dia se mostra mais desconectada dos novos tempos.

Podemos considerar como a principal delas, uma visão estanque que considera a solução para problemas nacionais ou na melhor das hipóteses, a busca pelo atendimento pontual de questões ligadas a blocos econômicos.

O anseado protagonismo dos emergentes é apenas um dos muitos sinais de que o mundo vem passando por um processo acelerado de mudanças. A interdependência do planeta deveria ser levada em conta num cenário tão importante quanto o do Fórum de Davos. Pensar que o atendimento de reivindicações de alguns será benéfico para todo o conjunto de países do mundo é parte de uma visão que, no fim das contas, compromete toda a economia do planeta, inclusive, daqueles que se acharam contemplados a priore.

Um momento importante no qual esperamos que os participantes do fórum aproveitem para discutir e refletir a fundo, será o lançamento de uma rede de risco global para que empresas, governos e organizações sejam capazes de enfrentar em conjunto ameaças complexas. A criação dessa rede pode dar origem a um processo de tomada de decisões que envolvam soluções mais globais e menos regionais em todas as esferas das relações entre os países, inclusive, no enfrentamento das questões climáticas.

INSTABILIDADE SOCIAL E CRISE DE ALIMENTOS
Sem uma certeza de ter se livrado da pior crise desde o pós-guerra, o mundo e suas lideranças, ainda demonstram estarem caminhando sem uma direção certa e consistente. Em alguns aspectos, essa indefinição mostra-se perigosa, pois apresenta até mesmo uma tentativa de volta ao discurso neoliberal. O frouxo controle sobre o setor financeiro foi um dos principais pilares da crise que atingiu o mundo nos 3 últimos anos com as graves e conhecidas conseqüências.

Assim como é séria a discussão sobre crises que atingem países do bloco europeu incapazes de pagar suas dívidas, não se podem desconsiderar as crises provocadas pelo aumento no preço dos alimentos e o descontrole inflacionário, como já vem ocorrendo em vários países do mundo. O exemplo mais recente é o da Tunísia que graças a uma revolta geral provocou a queda de um regime que perdurava há 23 anos. Também não devem estar fora da agenda econômica dos países uma séria discussão sobre as mudanças climáticas, o uso racional da água e o investimento em energias limpas.

Ninguém espera do encontro de Davos a solução de todos os problemas atuais, mas que se dêem passos consistentes na direção de um cenário menos caótico e insustentável.

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