quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Davos termina em clima de otimismo moderado

Fórum Global segue baseando análises com as lentes do século XX, mas China chama atenção de líderes para a produção de energias limpas

Instabilidade no Oriente Médio, eventos climáticos extremos e ameaças a produção de alimentos. Nada disso pareceu incomodar profundamente os líderes participantes da edição do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suiça.

O evento encerrado no domingo terminou com a certeza de que a economia já passou pelo seu pior momento e agora entrou num processo de retomada de crescimento global. O otimismo veio, principalmente, dos sinais positivos para a atividade econômica dos Estados Unidos e, claro, do desempenho dos emergentes que acumularam um crescimento de 45% nos últimos 5 anos, enquanto os países ricos tiveram um crescimento na ordem de 5% no mesmo período.

Sustentabilidade ainda em 2º plano

O otimismo das lideranças mundiais ofuscou as preocupações que levariam a uma discussão mais aprofundada sobre sustentabilidade. Apesar de citadas, questões como: esgotamento de recursos, crise na produção de alimentos e mudanças climáticas, estiveram sempre a margem nos principais encontros em Davos.

Os mais cautelosos quanto ao otimismo geral fizeram maiores referências a turbulência egípcia e ao atentado no metrô russo. Tais fatos foram considerados mais desestabilizadores à economia do que fatores ligados ao desenvolvimento sustentável, ou melhor, do desenvolvimento insustentável que ainda prevalece na visão econômica tradicional.

China líder da economia verde

Se as questões ligadas à sustentabilidade ainda não ocupam o lugar que merecem chamou muito a atenção de todos, o papel protagonista que a China vem exercendo em relação a economia verde. Christiana Figueres, presidente da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (UNFCCC) afirmou que a China está deixando todos os outros países do mundo para trás quando se fala em investimentos na área.

O país asiático investiu em energias limpas em 2010 o montante de US$ 5,11 bilhões. Segundo a Bloomberg New Energy Finance, essa quantia é de longe a maior entre todos os países. Hoje a China já é o maior receptor de recursos para projetos de energia renovável, tendo ultrapassado os Estados Unidos desde setembro do ano passado, segundo a empresa de consultoria Ernst & Young.

A atitude chinesa deve ser entendida, não como ações relacionadas pura e simplesmente ao enfrentamento do aquecimento global e mudanças climáticas, mas como estratégia necessária para evitar a escassez de energia e a manutenção de seu crescimento.

Atento a essa perspectiva impulso ao investimento em energias limpas, o secretário-geral da ONU Ban Ki-moon, anunciou que vai mudar a sua política de apoio ao combate às mudanças climáticas. A decisão noticiada pelo jornal inglês The Guardian revela o desgaste nos últimos tempos do secretário das Nações Unidas em buscar um acordo climático. Ele continuará apoiando um acordo global, mas vai concentrar esforços no suporte a ações que visem aumentar os investimentos em energias renováveis.

Se o Fórum foi capaz de discutir investimentos em energia renovável também é verdade que não se avançou muito no caminho do desenvolvimento sustentável. Mas haverá uma nova chance para se discutir o tema sustentabilidade. Em abril, será realizada a reunião latino-americana do Fórum, na cidade do Rio de Janeiro.

Quem sabe longe do frio, no país que ainda detêm o título de campeão no uso de energias limpas e a maior floresta tropical do planeta, sejam reunidas as condições para uma abordagem menos marginal e mais efetiva sobre os rumos para uma economia menos insustentável.

Um comentário:

  1. Vêm e vão encontros mundiais e as questões ligadas ao meio ambiente e sustentabilidade são deixados de lado. Parece que o desenvolvimento econômico é sempre mais importante que a preservação. O que as forças políticas parecem ainda não ter entendido é que é perfeitamente possível aliar desenvolvimento e preservação ambiental, é preciso investir em sustentabilidade. E o país que conseguir fazer isso, esse sim, será desenvolvido.

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