quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Dilemas e reflexões sobre a COP 16

Jorge Abrahão, direto de Cancún

Esta COP 16 está sendo um aprendizado para mim, em vários temas, não apenas sobre clima. O fluxo de informações é constante.

Uma das peculiaridades desta conferência é o choque, às vezes criativo, às vezes explosivo, entre as diferentes maneiras de abordar a realidade que os setores sociais aqui presentes têm. Vivemos os dilemas deste choque. Estes diferentes modos de pensar poderiam estar integrados, pois assim, avançaríamos mais rapidamente. Mas, a verdade é que nem mesmo o local escolhido pela ONU para a realização da COP 16 favorece a integração.

Cancún é uma extensa praia ocupada por enormes hotéis e resorts de luxo, muito afastados uns dos outros e todos bem longe do centro da cidade, onde mora a população local. É também um paraíso de consumo, e quando falamos de mudanças climáticas, precisamos pensar em mudanças de hábitos. .

A configuração geográfica da cidade parece que aprofundou as diferenças entre os diversos setores que deveriam dialogar. O Moon Palace, hotel oficial da COP 16, fica a 8 km de distância do Cancún Messe, onde as ONGs montaram sua exposição e as empresas apresentam seus projetos. Além disso, há encontros espalhados pelos hotéis da cidade. As pessoas circulam pelos diversos locais, mas não há atividades conjuntas – mesmo protestos, como em Copenhague – que ressaltem o que governos, empresas e ongs têm em comum.

Em Cancún, a distância geográfica é uma metáfora para a distância lógica entre as partes. Se quisermos sair daqui com alguns avanços em relação a Copenhague, temos realmente um longo caminho a percorrer, com os pés e com as cabeças.

Observo que os governos baseiam-se no princípio da soberania nacional para tomar decisões. Este princípio, construído ainda nos tempos de guerra fria, é francamente reativo e calcado no individualismo, na defesa e na desconfiança. Os governos estão pensando o SEU problema sem a generosidade de pensar o todo. No entanto, se os humanos dividiram a Terra em países, não temos como dividir a atmosfera que é de todos e está sendo poluída.

Empresas e ONGs respodem a este desafio global porque elas atuam globalmente; e, embora ainda não de forma integrada, têm feito pressão e provocado os governos a irem mais à frente do que poderíamos supor.

A própria ONU tem se utilizado da capacidade de pressão de ONGs e empresas para convencer governos a avançar nas negociações de alguns acordos.

É necessária a integração entre todas as partes e isto representa um desafio para empresas e ONGs que não estão habituadas a pensar e agir em grupo, de maneira coordenada.

Nesse sentido, a iniciativa brasileira do Fórum Clima torna-se cada vez mais importante e necessária. Como já comentei aqui, o Fórum Clima foi constituído por empresas que, em 2009, pouco antes da COP 15, assumiram voluntariamente metas de redução de carbono, anunciando publicamente este compromisso, por meio da Carta Aberta ao Brasil sobre Mudanças do Clima. Na mesma carta, os signatários incentivaram a que o governo brasileiro também adotasse metas de redução de emissões, dando exemplo a outros governos. Isto de fato ocorreu: o governo brasileiro anunciou metas de redução de carbono entre 36 e 38%, até 2020 e, em dezembro de 2009, sancionou a Política Nacional de Mudanças do Clima.

As empresas signatárias da Carta Aberta constituíram, então, o Fórum Clima, para monitorar suas próprias ações e contribuir com as políticas nacional e regionais do país.

Pelo que tenho verificado em Cancún, este é o único caso concreto de ação integrada sobre mudanças do clima, em que sociedade e empresas pressionam, o governo acata a pressão e o tema avança.

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