terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Sustentabilidade e os modos à mesa

Para o sociólogo Claude Fischler, do Centro Edgard Morin da École de Hautes Etudes en Sciences Sociales, de Paris, não é por acaso que, durante milênios, comemos em grupo, seja como iguais ou como parte de uma hierarquia.

Esses encontros cumprem uma série de funções sociais, como a definição de quem pode ou não participar da refeição, a parte que cabe a cada comensal, a posição à mesa, a ordem em que cada um é servido. Essas funções estão presentes tanto em refeições mais elaboradas e rituais, como a cerimônia do chá japonesa, ou numa roda de amigos beliscando petiscos num boteco. As refeições também definem a passagem do tempo (as coisas acontecem antes ou depois do jantar) e o posicionamento de um indivíduo na sociedade (o uso dos talheres indica o grau de educação e o extrato social de origem).

Foto de Chris Makarsky via Flickr
Em contraste, quem come sozinho geralmente é visto como alguém solitário e incapaz de se relacionar. Para Fischler, que é assessor do Ministério Francês da Agricultura, é como se ele tivesse negada a sua condição humana. Quem come em restaurantes de fast food, na frente do computador ou com a orelha grudada ao celular não presta atenção ao que põe no prato. Também não está sujeito à pressão social que impõe uma boa dieta e modos à mesa. Tem mais chances de comer inadequadamente e, em decorrência, está mais propenso à obesidade e ao diabetes.

Fischler declarou recentemente, numa conferência, que o ato de comer sem reflexão ou rituais tira do alimento o seu sentido. “Somos o que comemos – o que somos se não sabemos o que comemos?”, pergunta o pesquisador. Não é de surpreender que um sociólogo francês, nascido na pátria do Slow Food, pense nesses termos. Mas suas idéias fazem eco em outras paragens.

A norte-americana Laurie David, produtora do filme “Uma Verdade Inconveniente”, que ganhou o Oscar em 2007, e uma militante conhecida pela luta anti-aquecimento global, tem levantado essas mesmas questões. Ela acaba de lançar “The Family Dinner: Great Ways to Connect With Your Kids, One Meal at a Time” (O Jantar de Família: Grandes Soluções para se Conectar com seus Filhos a cada Refeição), um livro que discute, justamente, a sustentabilidade da comensalidade.

Assim como Claude Fischler, ela insiste no papel civilizatório das refeições. Ela lembra, por exemplo, que à mesa melhoramos o nosso vocabulário e desenvolvemos a nossa capacidade de debater. “Tudo no nosso modo de vida atual dificulta a interação com o outro”, disse Laurie, recentemente, ao website Grist. “Por isso é essencial recriar o ritual de colocar a mesa. É assim que aprendemos a ouvir e a conversar. E, quem sabe, talvez você use esse espaço para discutir questões internacionais e para aprender a ter consciência social”.

Você está cansado de saber que uma dieta local, orgânica e vegetariana é mais sustentável para o planeta. Mas o que dizer dos seus hábitos à mesa? Será que o almoço improvisado em frente à televisão é pior do que a macarronada familiar de domingo de um ponto de vista socioambiental? Muita gente acha que sim.
Fonte: Página 22

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