segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

As mudanças do clima, os governos, as empresas e a sociedade

Mais uma Conferência das Partes sobre Mudanças do Clima está em andamento. Esta é a 16ª. e realiza-se em Cancún, no México. Estou participando pela primeira vez, como presidente do Instituto Ethos, cargo que assumi em 8 de novembro último. Cheguei no sábado, dia 4, e após fazer minha inscrição, fui dar um giro pelos locais dos eventos. Estive primeiro na Cancún Messe, um grande parque de exposições onde centenas de ONGs do mundo inteiro literalmente montam suas tendas e mostram suas ações e suas lutas. Em seguida, fui ao Moon Palace, o majestoso hotel onde está ocorrendo a COP 16 propriamente, ou seja, as plenárias com representantes de governos. Cheguei no exato momento da concorrida entrevista do embaixador Luiz Figueiredo, chefe da delegação brasileira. Ele reafirmou o compromisso do país em reduzir suas emissões, independente de metas internacionais. Mesmo assim, não conseguiu desfazer a impressão geral da imprensa de que a COP 16 não produzirá nenhum acordo de envergadura.

Ontem, junto com outros representantes do Ethos, participei do encontro de grandes empresas, chamado Encontro dos Negócios na COP 16. Companhias internacionais, inclusive brasileiras, se reuniram para mostrar ações em avanços em vários temas cruciais para as mudanças do clima, como logística, inovação e racionalização no uso de recursos naturais.

Com apenas este dia, pude tirar algumas conclusões: os governos não vão mesmo conseguir fechar um acordo mais amplo sobre o enfrentamento às mudanças climáticas. O álibi tem sido a crise econômica. A verdade é que os representantes de governos não conseguem pensar para além de suas fronteiras e no longo prazo. A visão continua imediatista e de curto prazo. Ainda não “caiu a ficha” de que os problemas do aquecimento global não vão respeitar a geografia. Sem esta consciência não haverá acordo possível.

Por outro lado, verifiquei a criatividade e o engajamento das iniciativas das ONGs, que mobilizam milhões de pessoas no mundo inteiro em favor da mudança no modelo de nossa civilização. Constatei também a pujança dos projetos empresariais que, embora busquem velocidade na aplicação das soluções encontradas, visam o longo prazo. Todavia, percebi que tanto ONGs quanto empresas apresentam o mesmo problema: suas ações ainda são individuais, não convergem para um mesmo ponto coletivo: a necessidade de mudar o padrão de produzir e consumir e de construir uma nova sociedade.

Este cenário, ao contrário do que possa parecer, não me faz pessimista em relação às perspectivas de avanço de uma economia focada no enfrentamento das conseqüências das mudanças do clima, chamada genericamente de “economia de baixo carbono”, mas que o Ethos prefere dar nome mais abrangente: “economia verde, inclusiva e responsável.

Sou otimista porque, em primeiro lugar, em que pese o imediatismo dos governos, sociedade civil e empresas avançam a passos largos em mobilização e inovação. Em segundo lugar, porque o Brasil cada vez mais se firma como o palco das ações mais importantes e decisivas para a tomada de decisões sobre o aquecimento global.

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