sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Consumo, responsabilidade social empresarial e direitos humanos

Os resultados de algumas pesquisas sobre desenvolvimento sustentável, consumo consciente e direitos humanos divulgadas durante o ano permitem desenhar um cenário interessante a respeito do comportamento das empresas e dos cidadãos brasileiros.

Uma pesquisa feita pelo Ministério do Meio Ambiente e pela Walmart constatou que o cidadão brasileiro quer conhecer mais sobre sustentabilidade, mas ainda está pouco disponível para mudar o comportamento. Preocupa-se com questões como o desperdício de água e outros recursos naturais, mas ainda não consegue relacioná-las com os problemas do bairro ou da cidade onde mora. Este mesmo estudo informa, no entanto, que para 59% das pessoas ouvidas, a preservação dos recursos naturais deve estar acima das preocupações com a economia.

No último dia 14, foi lançada a pesquisa Ethos-Akatu sobre “Responsabilidade Social Empresarial: Percepção do Consumidor Brasileiro – 2010” confirma alguns dados do estudo do Ministério do Meio Ambiente.

Os comportamentos considerados sustentáveis que têm mais adesão do consumidor são aqueles que mexem diretamente no orçamento doméstico: apagar a luz em ambientes vazios, fechar a torneira enquanto escova os dentes e o chuveiro, enquanto toma banho, e assim por diante. Este consumidor tem alta expectativa na ação do Estado e também na atuação das empresas. Ele quer que o Estado obrigue as empresas a atuar de maneira a ajudar a construir uma sociedade melhor e que as empresas adotem ações responsáveis que beneficiem a sociedade, mesmo que elas não estejam previstas em lei.

A pesquisa Ethos-Akatu mostrou também que existe uma diferença entre as prioridades dos consumidores e as práticas das empresas. Por exemplo: 80% dos consumidores valorizam as práticas relativas às relações do trabalho, principalmente àquelas que promovam a diversidade de gênero e raça, bem como a igualdade de oportunidades e de salários. Estas práticas são prioritárias para 44% das empresas ouvidas no levantamento Ethos-Akatu. Há, neste ponto, uma falta de sintonia entre o consumidor e a empresa que pode ser mais profunda do que mostram os números citados. O consumo ainda não se integrou à cidadania. Ou seja, a empresa tem uma estratégia para “vender” seus produtos, que tem mudado para ir ao encontro da “nova classe média”. Para este consumidor é também cidadão e trabalhador que não se sente “identificado” com os valores e princípios da empresa.

Por quê?

Citando outra pesquisa, poderíamos tentar esboçar uma explicação para esta falta de sintonia entre consumidor e empresa. O “Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas do Brasil – 2010”, mostra que a inclusão de negros, mulheres e pessoas com deficiência no quadro funcional das empresas progride lentamente. O cenário ainda é de desigualdade nas grandes empresas do país que, teoricamente, detêm os melhores empregos.

A proporção de negros nas companhias aumentou de 25%, em 2007, para 31%. Os funcionários brancos passaram de 73% para 67%. No cargos de direção, 5,3% dos executivos são negros, diante de 3,5% verificados em 2007. No entanto, os diretores brancos ainda são 93,3%. Nos cargos de gerência e de supervisão, a proporção de negros é de 13,2% e de 25,6%, respectivamente.

A desigualdade aumenta quando se trata da mulher negra. 9,3% no quadro funcional, 5,6% na supervisão, 2,1% na gerência e 0,5% no quadro executivo mostram uma disparidade abissal entre a participação delas na composição da população brasileira: elas são 50,1% do total de mulheres presentes na população brasileira, ou 25,6% de toda a população do país.

Em outra categoria, apenas 1,5% do quadro de funcionários das empresas é compostos por pessoas com deficiência

Em relação às mulheres, a presença feminina aumentou nos cargos de diretoria, passando de 11,5% para 13,7%, mas diminuiu no quadro funcional geral, de 35% para 33,1%.

De acordo com o Instituto Norberto Bobbio, entidade promotora dos direitos humanos nas empresas, atos de racismo e de discriminação contra mulheres e pessoas com deficiência ainda fazem parte do cotidiano de muitas empresas. Num levantamento realizado pela entidade, 31% de funcionários de médias e grandes empresas do Rio e de São Paulo declararam que há chefes de que tratam os funcionários de maneira desrespeitosa; 11% sabem de casos de preconceito contra negros, mulheres, homossexuais e idosos no ambiente de trabalho. O desrespeito ocorre mais com funcionários de menor remuneração, justamente aqueles que compõem a “nova classe média” emergente, que está dominando o consumo no Brasil, atualmente. Estas atitudes também mostram que a desigualdade da sociedade é reproduzida no ambiente de trabalho.

A gestão socialmente responsável não pode mais separar consumo de cidadania, se quiser realmente contribuir para o desenvolvimento sustentável.

Adotar a diversidade como fator crítico de sucesso é questão de vontade política. Quem já fez ensina: estabeleça metas para cada segmento. Não se distraia. Em cinco anos, as disparidades diminuirão muito e até podem acabar.

O Brasil caminha para ser a quinta economia global. Não pode permanecer como uma das sociedades mais desiguais do mundo. A promoção da diversidade nas empresas é um passo decisivo para o desenvolvimento econômico andar junto com o progresso social.

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