quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

As universidades estão preparando líderes para a sustentabilidade?

Não estão. E explico por quê.
Antes de mais nada, para saber qual gestor a empresa precisa, é necessário compreender os desafios que estão colocados pela realidade atual.

Vivemos um momento de reposicionamento das empresas frente a uma série de dilemas. Quais são estes dilemas?

Aqueles decorrentes da crise de modelo de civilização que se manifesta de várias formas. Mudanças climáticas, desigualdades sociais e crise financeira são algumas destas manifestações.

Estas questões têm impactos nas empresas, nos governos e nos cidadãos e exigem abordagens inovadoras por parte dos líderes.

Assim, no que diz respeito às empresas, elas terão que elevar sua capacidade de diálogo com as partes interessadas.

Por isso, as empresas devem desenvolver uma nova cultura, a cultura do diálogo, com maior escuta de informações essenciais para a definição da estratégias.

A maior dificuldade das empresas, neste início de século 21, é fazer a transição entre a cultura da eficiência e da produtividade (baixo diálogo e engajamento) para uma cultura de produtividade e eficiência adequadas às expectativas das partes interessadas e, portanto, lastreada em valores como a ética e o compromisso no longo prazo.

Neste novo cenário, os governos serão mais presentes, mas menos intervencionistas; as empresas mais inovadoras e mais responsáveis pelos seus impactos; e os cidadãos mais conscientes, exercendo, por meio de organizações civis, controle maior sobre a ação do Estado e das empresas.

A credibilidade e a legitimidade de uma empresa passa a ser, então, o resultado da capacidade de responder às demandas da sociedade, tanto no que concerne ao seu comportamento socioeompresarial, quanto na implementação e comunicação de suas políticas. Esse processo, portanto, implica a criação de balanços sociais e relatórios de sustentabilidade, que dêem visibilidade aos impactos causados por sua atividade. Além de prestar contas à sociedade, essas avaliações sistemáticas são instrumentos de gestão que facilitam a observação de possíveis vulnerabilidades e oportunidades de negócios para a empresa.

Chegamos, então, ao cerne da questão, que vai definir a empresa no século 21: como deve ser o novo líder?

Ainda não há um perfil definido, mas, pelo que está delineado, é possível reconhecer ao menos que, este novo líder não será corporativo; ele terá dimensão multissetorial e será capaz de ouvir todas partes envolvidas, catalisando os desejos coletivos e transformando-os em ações de engajamento do grupo. Este líder vai balizar suas ações por valores compartilhados pelo grupo. Seu compromisso será com estes valores, por isso, vai irradiar confiança e credibilidade imprescindíveis para impulsionar a colaboração interpessoal e atingir os resultados esperados. A legitimidade deste líder será diretamente proporcional a sua capacidade de operar em redes e em comunidades de aprendizagem, respeitando a neutralidade e a diversidade dos interlocutores.

Que tipo de formação ele deve ter?

As escolas de negócio ainda não entenderam que o padrão de liderança “controla e comanda” não funciona mais frente aos desafios deste século.
Sem visão sistêmica e integradora, não será possível ao líder enfrentar estes desafios.

O combate à pobreza, o meio ambiente e a inovação tecnológica são temas supranacionais que vieram para ficar e gradualmente se equiparam à proeminência da economia e dos mercados nas discussões dos principais tomadores de decisão do mundo.

O caminho do desenvolvimento sustentável já aponta para as novas condicionantes que o capital deve ter: ele só poderá circular livremente e se multiplicar se produzir neste processo valor social e segurança ambiental. Ele não precisa ser criativo no sentido de criar algo que não existe; ele precisa ser inovador nas suas condições primárias de reprodução, isto é, toda equação de mercado precisa contabilizar agora as dimensões socioambientais e, ao buscar esta equação, viabilizar a sustentabilidade.

A formação das novas gerações de líderes passa por valorizar a interdisciplinaridade e construir uma visão mais integrada da sociedade, sensibilizando-os e oferecendo formação na áreas social, ética, filosófica e ambiental, entre outras, para que possam ter um repertório mais amplo para tomarem decisões.

Jorge Abrahão

3 comentários:

  1. Oi,
    Excelente reflexión. Me gustaría compartir su traducción al español en mi blog. Qué les parece?.

    Saludos,

    J

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  2. Muito bom artigo, você precisa de uma educação universitária adaptados para o desenvolvimento socioeconômico

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  3. Muito boa a reflexão!
    Muitos estudos vêm pensando as mudanças no trabalho a partir das perspectivas do seu caráter (Sennett), da sua simbiose com outras áreas como o entretenimento ou o consumo (Campbell, Boltanski&Chiapello) e até questionando a sua própria centralidade (De Masi). Mas realmente falta pensar a fundo o trabalho como atividade inserida num mundo crescentemente conectado e, ao mesmo tempo, limitado em seus recursos.
    Parabéns, Jorge!

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