segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Obesidade, civilização e sustentabilidade

Uma das conseqüências mais emblemáticas da insustentabilidade do nosso modo de vida é a obesidade que vem atingindo indiscriminadamente os seres humanos, sejam eles ricos e pobres, de todas as idades e gêneros, de países emergentes ou industrializados. Tão devastadora para a humanidade quanto à degradação ambiental, esta degradação “corporal” já é considerada pela Organização Mundial da Saúde uma doença que se espalha rapidamente por todos os cantos do planeta. A obesidade já “pulou” também para os animais de estimação. Hoje, cães, gatos e até hamsters criados por seus donos em espaços fechados, rodeados de concreto, com pouca natureza e muita comida engordam e morrem de doenças causadas pelo excesso de peso.
Esta doença já está atingindo o Brasil em cheio. Pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgada na última sexta-feira mostra que 49% da população adulta (com mais de 20 anos) estão acima do peso. Entre os adolescentes (entre 10 e 19 anos), 21% dos meninos e 19% das meninas apresentam sobrepeso. E 34,8% das crianças entre cinco e nove anos também estão obesas.

O que chama a atenção do Brasil, em relação ao mesmo problema nos outros países, é que aqui as pessoas estão engordando mais rápido. Em trinta anos, a obesidade triplicou em todas as faixas de idade. E o IBGE alerta que, se nada for feito desde já, em dez anos o Brasil terá a mesma população de obesos que os EUA, onde 2/3 sofrem com sobrepeso.

Lá, órgãos públicos calculam que 10% de todos os gastos com saúde no país ocorrem por doenças associadas à obesidade, representando uma cifra de 147 bilhões de dólares. Com relação ao Brasil, em 2003, um estudo foi elaborado pela Força Tarefa Latino-Americana de Obesidade, uma entidade que reúne as principais sociedades de obesidade da América Latina. De acordo com o estudo, naquele ano, quando 40% dos adultos eram obesos (hoje, são 49%), o Brasil gastava um bilhão e cem milhões de reais por ano com internações para tratar de males causados pelo excesso de peso, como diabetes, derrames, doenças cardíacas, problemas ortopédicos e de coluna, entre outros. Como nosso índice de obesidade ainda é crescente, estes custos tendem a aumentar ainda mais, com reflexos também na produtividade do trabalho e na vida social.

As causas da obesidade no Brasil são conhecidas: mudança no padrão alimentar, com a troca do arroz e feijão por comida industrializada, menos nutritiva e mais calórica. Come-se mais fora de casa e, mesmo no lar, as pessoas usam muito mais industrializados, do prato principal aos ingredientes (molhos, temperos e outros itens). Os brasileiros também se tornaram mais sedentários, entre outros motivos porque não há espaços públicos de lazer. Faltam parques, praças, incentivo a caminhadas, etc.

Reverter este problema representa um caminho para construir uma sociedade sustentável. Emagrecer, como afirmam os especialistas, significa mudar padrões de consumo, hábitos alimentares e estilo de vida. Mas o esforço para encontrar o peso ideal não depende só do indivíduo. Há desafios para governos, empresas e sociedade.

A sociedade precisa se organizar para retomar o direito ao espaço público, demandando mais parques e áreas verdes, bem como alternativas gratuitas de atividade física e alimentos saudáveis e saborosos a preços acessíveis em escolas, restaurantes e pontos de venda.

As empresas têm um papel fundamental neste processo, pois podem induzir a mudança mais rapidamente. Mudança de padrão de consumo significa mudança no padrão da produção, que precisa ir além dos cuidados ambientais. È preciso levar em conta na estratégia, por exemplo: o “tempo” necessário para uma vida saudável por parte do público interno, dos consumidores, das comunidades e de todas as partes interessadas; incrementar as pesquisas e ampliar a oferta das alternativas saudáveis e saborosas aos produtos de hoje; realizar campanhas educativas, incentivando o consumo de uma dieta balanceada.

Os órgãos públicos, por sua vez, podem adotar políticas para mudar a oferta de alimentos nas escolas, hospitais e outras instituições, valorizando a culinária regional e incentivando a produção local.

Empresas, governos e sociedade precisam, acima de tudo, ter consciência de que obesidade é sinal de que algo vai muito mal no modo de vida, cada vez mais urbano, do país. Não estamos falando de uma volta a um possível “estilo rural”, mas da criação de outra maneira de viver, em que as pessoas vivam em harmonia com o meio ambiente e os negócios sirvam para oferecer alternativas de bem estar, sem pôr em risco a saúde e a natureza.

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