As manchetes dos principais jornais de hoje trazem a notícia de que o desmate da floresta amazônica caiu ao menor nível desde o início de sua medição, em 2004, pelo método mais rápido, em áreas acima de 6.5 hectares, via satélite em tempo real. Mesmo assim, o abate de árvores registrado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE equivale à extensão da cidade de Campinas. Há o que comemorar e o que criticar.
A comemoração vai para os compromissos públicos assumidos pelas empresas para deter o desmatamento. Como destaque, vale mencionar os pactos da soja e da carne, na iniciativa Conexões Sustentáveis, nos quais as empresas-âncora dessas cadeias produtivas não compram produtos oriundos de áreas de desmate.
Outras iniciativas que também estão surtindo efeito positivo são a Moratória da Soja, em que os grandes compradores mundiais de grãos comprometem-se a não comprar o grão cujo plantio seja feito em zonas do arco do desmatamento, e o Grupo de Trabalho pela Pecuária Sustentável, uma mesa-redonda que reúne todos os integrantes da cadeia da carne para discutir como adaptar o negócio da pecuária ao parâmetros da sustentabilidade.
Ao contrário da maioria, no entanto, encaminho minhas críticas não às obras dos governos federal e estaduais – que têm seu papel no desastre, claro – mas ao Executivo e ao Parlamento que aprovaram a MP 458 (“da Grilagem”).
Pelo relatório do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia – Imazon, as cidades críticas na derrubada da floresta são justamente aquelas que integram o chamado “arco do desmatamento” e que, até a aprovação da MP 458, tinham suas atividades estritamente vigiadas pelos fiscais do IBAMA, por agentes da Polícia Federal e até de unidades do Exército. Com a entrada em vigência da lei, houve afrouxamento do controle estatal e um surto de grilagem para obter a regularização fundiária.
Se o mecanismo de REDD – Redução de Emissões pelo Desmatamento e Degradação já estivesse operando, é bem possível que a Amazônia e nós todos já estivéssemos livres da motosserra. Por este mecanismo, que será discutido em Copenhague, na reunião do clima, no final do ano, os países com largas extensões de florestas tropicais poderão receber um fluxo contínuo de recursos de mais de 30 bilhões de dólares para preservá-las. Os recursos podem, por exemplo, virar um tipo de “bolsa-floresta” pago às comunidades que não desmatarem. Porque, é preciso dizer, as árvores são cortadas por quem mais precisa delas – as comunidades locais. E elas realizam esta atividade por necessidade extrema de sobrevivência. Interessante notar que as áreas recém-desmatadas apresentam frenética atividade econômica. A partir do momento que a madeira se esgota, a miséria de sempre volta. O desmatamento produz uma falsa noção de riqueza para os moradores locais, que vai embora bem rápido, junto com os verdadeiros agentes que lucram com a atividade.
O futuro da floresta está ameaçado, a menos que a sociedade brasileira conscientize-se e lance mobilização por um projeto consistente de desenvolvimento sustentável que inclua o desmatamento zero não como utopia, mas como motor do crescimento econômico com equilíbrio ambiental e justiça social.
Comentário feito por Ricardo Young em 2 de setembro de 2009, no boletim Responsabilidade Social, que vai ao ar no programa CBN Total, transmitido pela rádio CBN FM às segundas, quartas e sextas, às 15hs. Clique aqui para ouvir.
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
Desmatamento na Amazônia diminuiu em julho?
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Ethos na CBN
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