A Conferência Ethos 2011 terminou nesta terça-feira (10/8), em São Paulo, com uma plenária para discutir o documento que a Comissão Nacional pela Rio+20 deverá entregar à Organização das Nações Unidas (ONU) até 1º de novembro, com propostas brasileiras sobre desenvolvimento sustentável. Muitas delas poderão ter surgido durante a conferência, que ofereceu aos participantes a possibilidade de fazer propostas tanto ao governo quanto à Rio + 20, por meio de um sistema desenvolvido pela SAP Brasil.
As propostas ainda estão sendo lidas e selecionadas. Mas, fazendo um balanço das atividades e das discussões que elas promoveram entre os participantes, é possível afirmar que já está estabelecida a consciência sobre a necessidade de se construir outro modelo de desenvolvimento para o Brasil e para o mundo. Os caminhos e prioridades desse modelo são as questões que precisam de respostas.
E as respostas devem surgir de processos de participação, como foi a Conferência Ethos. Embora os potenciais “gurus” e especialistas sejam importantíssimos, a construção coletiva de uma nova sociedade é, de fato, o cerne da questão. Como está a percepção das empresas em relação a esta perspectiva de mudança? Afinal, foi disso que tratou a Conferência Ethos deste ano.
Mais de 1.000 pessoas circularam nos dois dias de conferência. Houve a presença de 30 CEOs de empresas e 182 jornalistas. Isso ajuda a multiplicar as idéias, os avanços e os desafios nas empresas e na sociedade.
Como os desafios da sustentabilidade ficam cada vez maiores e mais prementes e como não há muitos fóruns de discussão coletiva e multissetorial sobre os temas, a Conferência Ethos tem cada vez mais o papel de pôr em discussão, com diversos interlocutores, temas controversos para um público cada vez mais exigente. Isso aumenta a responsabilidade do Instituto Ethos como realizador deste evento. Afinal, o que mais sobressaiu, além dos debates, é que a Conferência Ethos tornou-se um ponto de encontro entre os vários segmentos da sociedade que postulam uma nova economia para um país mais justo.
É durante as atividades da conferência que sindicalistas, CEOs, ambientalistas, órgãos públicos, academia e sociedade civil em geral sentam juntos para discutir assuntos estratégicos e prioritários tanto para os negócios quanto para a vida cotidiana do cidadão comum. Na conferência de 2011, esse fato tornou-se ainda mais evidente, porque a própria organização do evento contou com a participação de 36 organizações, além do Ethos, representando diferentes interesses na sociedade.
Este ano também estiveram presentes três ministros e representantes do alto escalão do governo. Eles vieram dialogar e abrir espaço para o debate sobre políticas públicas que podem ajudar ou atrapalhar o caminho da sustentabilidade.
No balanço final de todas as atividades, ficou a certeza de que, mesmo não tendo respostas para todas as perguntas, as “partes interessadas” presentes à Conferência Ethos sabem que possuem a capacidade de mobilização necessária para chegar às soluções. Do ponto de vista empresarial, constatou-se que há empresas atuantes, pensando não só nos problemas do seu negócio, mas também nos problemas de toda a coletividade.
Destaques
O ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, participou da mesa-redonda “Governança na nova economia”, da qual saiu uma polêmica que chegou aos jornais. Numa de suas intervenções, o ministro disse que a mídia não faz muito para aumentar a consciência cidadã. Como em cada sala existia um sistema que permite ao moderador perguntar e à platéia responder imediatamente, Oded Grajew, presidente emérito do Ethos e moderador da atividade, lançou a questão “A mídia brasileira não contribui para a ampliação da consciência cidadã”, à qual se seguiam as opções “Concordo totalmente”, “Concordo parcialmente”, “Discordo totalmente” e “Discordo parcialmente”. Metade da platéia, constituída por 200 pessoas entre executivos, quadros gerenciais de empresas e representantes de diversas ONGs, votou em “Concordo totalmente”.
A pergunta e a resposta ganharam as páginas do jornal O Globo e depois foram destaque em diversos blogs, causando uma polêmica que, no fundo, traz uma dúvida da sociedade brasileira: qual é o papel da mídia hoje no país?
Outra participação importante de ministro ocorreu no painel “Mudanças climáticas e os impactos na nova economia”. Estiveram presentes a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, além de Luiz Pinguelli Rosa, do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, e de Tasso Azevedo, consultor em questões de clima, florestas e sustentabilidade. São dele os números mais assustadores do painel e que exigirão reflexão profunda da sociedade. Em resumo, Azevedo informa o seguinte: cada brasileiro emite, em média, atualmente, 5 toneladas de carbono por ano. Para chegar na média de redução que o Brasil propõe a si próprio e que ajudaria a elevar a temperatura do mundo em apenas 1 grau Celsius, cada brasileiro precisaria emitir não mais do que 1 tonelada por ano, volume que representa uma viagem à Europa ou o que uma vaca emite de metano no pasto. Estamos conscientes das restrições que precisaremos adotar na nossa vida para colaborar com a meta mundial? Estamos dispostos a esse sacrifício? Qual contrapartida exigiríamos dos cidadãos de outros países?
A ministra Tereza Campello, do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, que participou do painel “Erradicação da miséria”, explicou o que espera das empresas para ajudar o país a resgatar 16 milhões de pessoas da miséria absoluta. Ela ressaltou que são brasileiros que estão longe não só da renda, mas fora do acesso do próprio Estado, de organizações sociais, de cooperativas, enfim, de tudo o que se pode chamar de “bem-estar”. E não procuram avançar na melhoria das condições. O que se espera, e isso foi ressaltado por Carlos Alberto dos Santos, representante do Sebrae no painel, é que as empresas, com o poder de penetração de mercado de possuem, ajudem a organizar o empreendedorismo na base da pirâmide.
O ministro Jorge Hage não participou do painel de “Integridade e transparência”, por conta do vendaval que se abateu sobre o Ministério do Turismo. Em seu lugar, compareceu Vânia Vieira, que manteve o debate em alto nível e polêmico. Diante dos recentes acontecimentos e de outros que se vêm somando ao longo do semestre, ficou claro que é preciso não só aumentar o controle social sobre os gastos públicos como também colocar em prática critérios mais rígidos nas relações público-privadas. A sociedade não agüenta mais tanta corrupção.
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