Por Fabiano Ávila, da Carbono Brasil
Conferência das Partes (COP 10) da Convenção sobre Diversidade Biológica reúne mais de 190 nações que têm duas semanas para chegar a um acordo sobre políticas internacionais para frear a perda das espécies nos próximos 10 anos.
A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) foi um tratado firmado em 1992 no Rio de janeiro e que traçou uma série de metas com a intenção de conservar a biodiversidade e promover a distribuição justa e igualitária de seus recursos.
Praticamente nenhuma das 193 nações que assinaram o documento conseguiu cumprir os objetivos traçados.
Novas metas internacionais foram então firmadas em 2002 na África do Sul, com 2010 como o ano final para alcançar seus objetivos. Novamente nenhum país respeitou por completo o acordo o que resultou em outro fracasso.
“Devemos ter a coragem de olhar nos olhos de nossas crianças e admitir que falhamos, individualmente e coletivamente, para cumprir as promessas de reduzir as perdas da biodiversidade. ‘Os problemas da natureza sempre afetaram a vida humana. Hoje, infelizmente, a vida humana é o problema da natureza’ ”, alertou Ahmed Djoghlaf, secretário-executivo da CDB, citando uma frase do famoso autor japonês Daisetsu Teitaro Suzuki.
O principal objetivo da COP 10 de Nagoya que começou nesta segunda-feira (18) será chegar a um consenso sobre o novo plano estratégico para a próxima década (2011-2020).
Este plano deve estabelecer metas para a conservação e uso sustentável da biodiversidade além de traçar políticas de longo prazo para 2050.
Os delegados terão ainda que buscar finalizar um protocolo de acesso e distribuição de benefícios (Access and Benefit-sharing - ABS) dos recursos genéticos do planeta.
A COP 10 também será marcada pela divulgação do relatório The Economics of Ecosystems and Biodiversity (TEEB) em sua versão integral, que irá mostrar que o impacto da perda de biodiversidade anualmente é da ordem de US$ 2 trilhões a até US$ 4,5 trilhões.
“Nós estamos destruindo as próprias fundações da vida neste planeta e mesmo assim a sociedade tem dificuldade de entender o que fazemos nessas reuniões e porque as decisões aqui realmente importam”, afirmou Achim Steiner, diretor-executivo do Programa da ONU para o Meio Ambiente.
Momento sem volta
Em maio a ONU publicou a terceira edição do o Global Biodiversity Outlook (GBO), que analisou mais de 110 estudos e diversos indicadores e mostrou, por exemplo, que a abundância de vertebrados, como mamíferos, pássaros e peixes, caiu um terço entre 1970 e 2006. O relatório também deixou claro como essas perdas e a degradação das florestas, corais, rios e outros ecossistemas já estão tendo impacto na vida das pessoas.
A ONG WWF reforçou essa mensagem na semana passada publicando o relatório "Living Planet Report". O documento é uma das maiores auditorias já realizadas sobre a situação de quase oito mil populações de mais de 3500 espécies diferentes.
Ele contém descrições de como o atual padrão de consumo já resultou na perda de quase 60% da biodiversidade nos países mais pobres nos últimos 40 anos.
O WWF alerta que se os atuais padrões de crescimento e consumo persistirem serão necessários dois planetas Terra para suprir a demanda anual de toda a população mundial em 20 anos.
A Agência de Análise Ambiental dos Países Baixos (Netherlands Environmental Assessment Agency - PBL) também contribuiu para o debate trazendo para Nagoya o estudo "Rethinking Global Biodiversity Strategies".
Nele, a agência mostra como o crescimento da população e do consumo irá criar uma pressão tão grande sobre os ecossistemas que as atuais políticas de proteção do meio ambiente através de reservas de conservação serão ineficientes para reduzir as perdas da biodiversidade. Por isso, tão importante que criar áreas de preservação é pensar em políticas que alterem a postura e os hábitos da população.
“Toda a vida na Terra existe graças aos benefícios da biodiversidade, como solo fértil, água potável e ar limpo. Nós agora estamos perto de um ponto crucial, se passarmos, as perdas da biodiversidade serão irreversíveis”, resumiu Ryo Matsumoto, ministro do Meio Ambiente japonês.
Para mostrar que ainda é possível reverter a situação crítica da biodiversidade, o Global Canopy Programme publicou na sexta-feira (15) o "The Litle Biodiversity Finance Book", que apresenta análises sobre as opções de políticas e novas fontes de financiamento para auxiliar no cumprimento da meta de zerar a perda global de espécies.
Esse livro deixa claro que ainda podemos fazer muita coisa pela biodiversidade e que o tal momento sem volta pode sim ser evitado com esforços conjuntos dos diferentes fóruns de discussão.
(Envolverde/Carbono Brasil)
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