segunda-feira, 19 de julho de 2010

“Crescimento econômico, educação e sustentabilidade”

Vivemos um período de crescimento do emprego formal, comprovam todas as estatísticas de pesquisa do Ministério do Trabalho às entidades acadêmicas dedicadas ao tema. No entanto, há algum tempo, nota-se a presença cada vez maior de profissionais estrangeiros nas empresas brasileiras, desempenhando as mais variadas funções, de operadores a executivos, todas as funções altamente qualificadas e com salários tentadores.

Esta presença aumenta na mesma medida em que os dados do crescimento econômico tornam-se mais animadores. A verdade é que o atual ciclo de prosperidade, mesmo que ainda baseado em segmentos tradicionais da economia, como siderurgia e petróleo, precisa incorporar as tecnologias de ponta para ser competitivo. E aí, o país esbarra nas conseqüências de um de seus seculares problemas: o descaso com a educação dos cidadãos e também com a capacitação adequada para adaptar-se constantemente às transformações do mundo do trabalho.

O fato é que estamos vivendo o mesmo círculo vicioso de outras épocas: embora o emprego formal cresça, alguns dos melhores cargos (e salários) precisam ser ocupados por estrangeiros, pois faltam profissionais capacitados. Com isso, o trabalhador brasileiro acaba por não ser o principal beneficiário do progresso.

A mão de obra que tem sido importada é constituída por profissionais com curso superior ou, no mínimo, com ensino técnico altamente especializado em tecnologias avançadas. De acordo com levantamento da Coordenação Geral de Imigração do Ministério do Trabalho e Emprego, entre 2005 e 2010, entraram no país 177.500 trabalhadores estrangeiros, 45% deles contratados pelo setor petrolífero. Destes, 155.900 possuem diploma superior e / ou ensino médio / técnico; e 16.900 têm funções como marinheiro de navio petrolífero, soldador naval, profissional da construção civil especialista em edificações industriais, e assim por diante. A maior parte ainda vem dos EUA e da Europa. Mas cresce o contingente de asiáticos, vindos da Índia, da China e até das Filipinas.

O caso dos imigrantes da Ásia é emblemático. O sistema educacional foi planejado há pelo menos meio século para dar suporte ao desenvolvimento econômico dos países. Assim, à medida que cresciam e incorporavam novas tecnologias, podiam buscar os profissionais capacitados entre os cidadãos nativos. Os estrangeiros eram necessários temporariamente para ocupar determinadas funções referentes à transferência de tecnologia.

O Brasil, que nunca tratou a educação com o devido respeito, também não se preparou para o recente ciclo de crescimento, não investiu em pesquisa, em centros de excelência, e agora paga o preço do descaso. Há vagas, mas não há profissionais brasileiros capacitados. Esta carência pode, segundo o Sindicato da Construção Civil de Alagoas, atrasar inclusive a reconstrução das cidades atingidas pelas enchentes.

O problema é de governos que, em todos os âmbitos, não consegue fazer o sistema educacional reagir na velocidade exigida pelo mercado. É preciso investir mais. De acordo com pesquisa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgada em 2009, o Brasil é o país que menos gasta com educação, dos 34 estudados pela entidade. Enquanto nós investimos cerca de 1303 dólares por ano por estudante, desde o primário até a universidade, os países europeus investem mais de 7 mil dólares. No Chile, o outro país latino-americano mencionado na pesquisa, o investimento é maior que 2 mil dólares / ano por aluno. O total do PIB que vai para a educação, de 3,9%, só é maior que o da Rússia e o da Grécia, entre os 34 pesquisados. Os EUA gastam 7,9% do PIB com educação.

No que tange às empresas, um levantamento feito pela Associação Brasileira de Treinamento & Desenvolvimento revelou que as empresas brasileiras gastam 37 horas / ano por funcionário em treinamento, investindo, em média, R$ 1527,00 por ano, por funcionário. A média está até um pouco acima daquela praticada internacionalmente. Mesmo assim, os profissionais brasileiros ainda estão defasados em relação aos colegas estrangeiros.

Encontrar a solução para este problema é um dos desafios mais urgentes para os governos e as empresas, principalmente aquelas comprometidas com a responsabilidade social empresarial. Não haverá desenvolvimento sustentável sem profissionais bem formados e capacitados para desempenhar suas funções com excelência.


Divulgado na Rádio CBN no dia 19 de julho de 2010.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Este é um blog para todos! Deixe o seu comentário aqui e ele se tornará um post após a categorização do moderador.
Obrigada.