segunda-feira, 1 de março de 2010

Para José Mindlin, um grande brasileiro.

Todos os elogios a José Mindlin não farão jus ao tamanho de sua obra como empreendedor, divulgador da cultura, principalmente do hábito de ler, e democrata. Por mais pacato que fosse, nunca se esquivou de nenhum embate, seja no mundo dos negócios, seja na vida cultural e política do país. Sempre mantendo um alto comportamento ético, nunca negociando princípios e valores.

Homem da iniciativa privada, demonstrava alto espírito público, no sentido mais nobre que esta expressão pode ter.

Foi este espírito público que o fez doar parte de sua imensa e valiosa biblioteca para a Universidade de São Paulo, USP. Colecionador de livros raros desde os 13 anos de idade, ele recebeu o apoio e a contribuição da esposa Guita para organizar e guardar este “tesouro” antes de repassá-la aos cidadãos deste País.

José e Guita formaram uma das mais importantes bibliotecas particulares do mundo, composta em sua maior parte por livros, documentos, cartas e mapas sobre o Brasil. Acervo que, se eles não tivessem reunido, estaria espalhado ou perdido, fragmentando ainda mais nossa precária memória nacional.

Esta coleção foi doada à Universidade de São Paulo em 2006, constituindo a Biblioteca Brasiliana José e Guita Mindlin, num prédio construído especialmente para receber esta coleção. Ao mesmo tempo, as obras foram todas digitalizadas e estarão disponíveis a qualquer pessoa via internet.

Num país que, segundo os jornais noticiam, está sofrendo “apagão de mão de obra” por falta de boa formação escolar para seus cidadãos, um tesouro destes deveria ser recebido de braços abertos pelos órgãos públicos.

Mas, na verdade, a doação passou por dificuldades inimagináveis!

Só um batalhador como Mindlin, cuja vontade férrea não se dobrava às mesquinharias das máquinas burocráticas, teve persistência para realizar seu objetivo: tornar seus livros disponíveis aos brasileiros.

Outros potenciais doadores, que também querem deixar para o público parte dos bens que acumularam durante a vida, nem sempre conseguem.

Na maioria dos países do G20 – onde o Brasil vem ocupando uma posição de destaque – as pessoas mais ricas costumam doar para fundações ou para o Estado parte de seu patrimônio, mesmo em vida. Podem fazê-lo na forma de fundação, instituto ou financiamento de alguma ação voltada para a comunidade. Sobre o que fica para o sucessores recaem pesados impostos, depois da morte do titular. Na Inglaterra, tudo o que está acima de um milhão de reais (bens móveis e imóveis) paga 40% ao Fisco. Nos EUA, o imposto é progressivo para os sucessores, podendo chegar até a 45% para quantias acima de dois milhões de dólares. No entanto, não incidem impostos sobre doações para projetos de filantropia.

Não seria melhor que o Brasil estabelecesse alíquotas mais altas sobre heranças a sucessores particulares e facilitar a vida de quem deseja doar parte do patrimônio para usufruto da sociedade?

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