quinta-feira, 25 de agosto de 2011

As empresas e a vida saudável

Desde o início da semana, os planos de saúde brasileiros estão autorizados a dar descontos e oferecer outros prêmios a segurados que adotem hábitos de uma vida saudável. Trata-se de uma orientação da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), portanto não é norma obrigatória. Mesmo assim, já vem causando discussões entre as empresas e a população. Para se ter uma ideia, a notícia veiculada no sítio da Folha de S Paulo ontem está entre as mais enviadas. As pessoas também ligaram para a ANS e para o SAC de vários convênios em busca de mais informações.

É uma boa mudança? E o que essa orientação tem a ver com sustentabilidade?

É uma boa mudança que a ANS sugere, porque não se trata de uma imposição aos planos de saúde e porque induz a mudanças de hábitos de alimentação, de consumo e de vida que também estão na base de um desenvolvimento sustentável. O interesse dos internautas em repassar a notícia e ligar para as empresas de saúde demonstra o acerto dessa orientação: o próprio cidadão vai pressionar para adotar novos hábitos e impulsionar a mudança na economia e na vida social.

COMO VAI FUNCIONAR

De acordo com a medida, os planos de saúde podem dar descontos de até 30% na mensalidade se os usuários adotarem hábitos de alimentação saudável, exames preventivos ou mudanças de hábitos contra doenças crônicas. A resolução também permite alteração para um plano com maior cobertura, desconto em remédios e até prêmios em bens materiais. Só não é permitida a vinculação dos novos hábitos a metas ou resultados como perda de peso ou menos solicitação de serviços do plano de saúde.

Como não se trata de obrigatoriedade, as empresas poderão estabelecer quais incentivos querem oferecer e a quais práticas estarão vinculados.

É possível imaginar uma grande campanha preventiva para controle da pressão arterial, por exemplo. Ela é em parte decorrência de uma tendência genética. Mas, de modo geral, ela é o mal emblemático do estilo de vida pouco sustentável que adotamos. 30% dos brasileiros adultos e 50% daqueles com mais de 50 anos sofrem com pressão alta, segundo o Ministério da Saúde. Ela é responsável por 80% dos acidentes vasculares, 40% dos infartos e 25% dos casos de mal funcionamento dos rins. A pressão alta já afeta também 3 milhões de crianças ou 5% da população infantil do país.

Todos os anos, 200 mil brasileiros morrem de infarto.

Outros males associados ao estilo de vida e que afetam milhões de brasileiros: diabetes e obesidade. Pesquisa do IBGE revelou que 60% dos brasileiros estão acima do peso ou são obesos. Desses, metade pode desenvolver diabetes.

A obesidade já atinge 11% das meninas e 16% dos meninos brasileiros entre 5 e 9 anos.

Nas crianças, além dos males dos adultos, como pressão alta, a obesidade também pode acarretar problemas na coluna e nos joelhos, comprometer o crescimento e trazer problemas emocionais.

Outro dado: 20% dos brasileiros (1 em cada cinco) sofrem com asma e outras doenças respiratórias, o que resulta em 350 mil internações por ano.

Por esses poucos dados dá para verificar que a situação geral de saúde dos brasileiros e brasileiras não é das melhores. Se não se tomar nenhuma atitude, logo seremos um povo com doenças crônicas, cujo sistema de saúde estará ainda mais onerado pelos altos custos dos tratamentos.

Outro aspecto que esta orientação da ANS pode incentivar é o aumento do consumo de alimentos orgânicos. Ora, de nada adianta mudar a alimentação, tirar frituras, enlatados e salgadinhos, se os alimentos frescos estiverem contaminados por agrotóxicos, como ocorre com o tomate, a uva,o pimentão, o pepino, o morango, a alface, o mamão, a beterraba, a couve e o abacaxi, os dez alimentos mais contaminados por agrotóxico no Brasil, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária. A busca por vida saudável pode tornar a agricultura ecológica, orgânica, que não usa defensivos ou adubos químicos, a preferida dos consumidores. O consumo no Brasil é crescente e os produtores só esperam incentivos e políticas públicas voltadas ao setor para ampliar a produção.

Campanhas educativas e motivacionais já existem há décadas, mas os resultados não foram suficentes para reverter a situação.

Será que agora, com essa orientação da ANS, o sucesso será maior?

Ainda é cedo para se concluir. No entanto, é possível indicar algumas vantagens sobre as outras campanhas. Primeiro, essa medida mexe direto no bolso do consumidor. Ele, assim, passa a ser, digamos, o maior acionista da sua própria saúde, ganhando dividendo palpáveis para todo o progresso que obtiver.

Por isso, vai procurar mudar de vida, com alimentação saudável, prática de exercícios e menos estresse.

As próprias empresas terão mais interesse em incentivar essa mudança de hábito, já que diminuirão os gastos com planos de saúde e terão funcionários mais motivados.

Outros setores poderão ser pressionados a mudar, como o de alimentos. E os administradores municipais também precisarão adotar medidas que garantam a qualidade do ar, com áreas verdes e controle de poluição.

Tudo isso ocorre a partir de uma medida facultativa da ANS que, no entanto, parece que veio ao encontro das demandas dos cidadãos e das preocupações das empresas e dos gestores públicos.

Sustentabilidade é também e principalmente mudança de hábitos, mas por meio do consenso e da democracia. Se esta medida da ANS, que é facultativa, for entendida e adotada por todas as partes interessadas, o país poderá realmente iniciar um ciclo de transformações que leve a uma vida mais sustentável para todos.

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