sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Para botar em dia a leitura sobre sustentabilidade

Por Ricardo Voltolini, da Ideia Sustentável

Janeiro é sempre uma espécie de teste de fogo para o cumprimento daquelas promessas que, culposos, nos fazemos na virada de ano. Se você, caro leitor, assumiu para si o encargo de pôr em dia a leitura de livros de sustentabilidade que atolaram em sua mesa ou que pensou em comprar na última circulada por uma livraria, faço aqui as minhas recomendações de bibliografia básica.

São quatro livros distintos que vão atualizar seu arsenal de ideias, inspirar e provocar boas reflexões.


O primeiro é O Que os Economistas Pensam Sobre Sustentabilidade (Editora 34, 285 páginas). Devorei a obra em duas viagens de avião. Para ser mais preciso, em cinco horas. No começo da leitura, moveu-me uma curiosidade jornalística por conhecer as ideias de economistas de campos ideológicos antagônicos, como Antonio Delfim Netto e Aloizio Mercadante. Mas logo – confesso –estava lendo uma a uma das quinze entrevistas em busca de comparar semelhanças e divergências de pontos de vista entre pensadores cujas teses conheço de longa data, como Edmar Bacha e Maílson da Nóbrega, com outros cuja obra aprendi a admirar, mais recentemente – casos de Eduardo Gianetti e Sérgio Besserman.

Não sendo um economista, muito menos um estudioso da Ciência, peguei-me especialmente interessado em me aprofundar nos conceitos, investigando melhor os pensadores e teses citados. O livro, organizado pelo jornalista Ricardo Arnt – que soube tirar o melhor dos entrevistados – ampliou meu repertório. E certamente ampliará o seu também.

Há muitas razões para recomendar vivamente sua leitura. A principal delas é que, concorde-se ou não com as opiniões apresentadas, elas ajudam a formar um quadro sobre os dilemas da sustentabilidade que ainda reclamam análise mais profunda.

Conversas com os Mestres da Sustentabilidade (editora Gente, 298 páginas), de Laura Mazur e Louella Miles, é outro livro que se pode ler de uma tacada só como quem lê uma série de entrevistas de jornal, ou aos pedaços, capítulo a capítulo, procurando degustar o melhor de seus 15 personagens. Fiz as duas coisas, empolgado em desvendar livres pensadores como o cineasta ativista James “Avatar” Cameron e o físico Amory Lovins. Depois, retornei a algumas páginas, escolhendo trechos de conversas com experts já perfilados na revista Ideia Sustentável, como Ray Anderson (IterfaceFlor), Paul Dickinson (CDP) e John Elkington (Volans).

Na releitura seletiva, facilitada pelo formato de entrevistas do tipo pingue-pongue, os detalhes ganham nova textura. Esta é, sobretudo, uma obra cujo interesse se encontra justamente nos detalhes biográficos — erros, aprendizados e caminhos escolhidos.

Sobre Conversas, podem-se questionar os critérios de seleção de um ou outro entrevistado, o rigor esquemático de perguntas que se repetem e até mesmo a menor inspiração de uma ou mais respostas. O que não se discute é que os mestres têm o que ensinar. Aprende-se em três horas de leitura o equivalente a 15 vidas.

Uma Trajetória Ambientalista - Diário de Paulo Nogueira-Neto (editora Empresa das Artes, 879 páginas) ganhou lugar de destaque na minha estante. E que lugar. Suas 879 páginas encadernadas com capa dura impõem tanto respeito quanto a biografia do autor, o PNN, como ficou conhecido entre os pares o Professor Emérito do Instituto de Biologia da USP.

É desses títulos que encantam pela combinação de simplicidade e ousadia. Simplicidade porque nasce das anotações do diário escrito por um ecologista de primeira hora, que nunca o concebeu, nem remotamente, para ser um livro. E ousadia porque ao se transformar em livro, por insistência de editores sensíveis e corajosos, oferece ao público interessado na causa ambiental um rico manancial de ideias e reflexões, cuidadosa e disciplinadamente apontadas entre 1972 e 2004.

Das pérolas do diário desse homem de 88 anos, apaixonado por abelhas, que, de 1974 a 1986, dirigiu a Secretaria do Meio Ambiente do Ministério do Interior, recomendo particularmente a leitura das que tratam de sua visão sobre a atuação das ONGs, dos biomas brasileiros e das contribuições acadêmicas.

A sustentabilidade, quem diria, virou assunto dos gurus do management. Primeiro foi Michael Porter, célebre mestre da estratégia. Depois, vieram outros dois gênios da raça: Peter Senge, da gestão de conhecimento (de quem recomendo ler a Revolução Decisiva), e C.K. Prahlad, da inovação. Em 2010, foi a vez do não menos estelar Philip Kotler, cujo nome está definitivamente associado ao pensamento do marketing contemporâneo. Em seu novo livro, Marketing 3.0 (editora Campus Elsevier, 256 páginas), Kotler aborda um tema que certamente produzirá urticária entre os que crêem – e não são poucos— que sustentabilidade e marketing são como água e óleo. Para entender o título, é preciso recorrer à teoria do autor, uma espécie de decodificador da doutrina. O Marketing 1.0, segundo ele, focou-se em produtos. O 2.0 enfatizou a satisfação do consumidor via estratégia de segmentação de mercado. E o 3.0 reconhece no consumidor, mais do que um comprador, um sujeito inquieto, preocupado com a sociedade, o meio ambiente e um mundo melhor. Daniel Goleman, em seu imperdível Inteligência Ecológica (editora Campus, 245 páginas), chegou à mesma conclusão com argumentos da psicologia comportamental.

Na opinião de Kotler, companhias que praticam o Marketing 3.0 possuem uma visão que excede o simples ganhar dinheiro. Entre os exemplos citados, o autor destaca a The Body Shop (cosméticos) e a Timberland (calçados) como empresas “com valores”, que promovem as questões socioambientais na relação com seus consumidores – ou, como sugere o subtítulo da obra, descobriram “as forças que estão definindo o novo marketing centrado no ser humano“. O pragmatismo do autor vai incomodar os mais puristas. Mas as boas ideias valem a leitura.

*Ricardo Voltolini é diretor de Ideia Sustentável: Estratégia e Inteligência em Sustentabilidade e publisher da revista de mesmo nome
ricardo@ideiasustentavel.com.br
http://www.ideiasustentavel.com.br/
http://www.topblog.com.br/2010/blogs/sustentabilidade/
twitter: @ricvoltolini


Fonte: Envolverde/Idéia Sustentável

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