segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Relatório do Banco Mundial confirma: progresso para as mulheres é progresso para o mundo

O Relatório de Desenvolvimento Mundial 2012: Igualdade de Gênero e Desenvolvimento, divulgado pelo Banco Mundial (Bird) na semana passada, destaca avanços e gargalos da condição feminina no mundo.

Entre suas conclusões, duas chamam a atenção:

- aumentou a participação das mulheres em governos, no mundo todo. Entre 1998, havia 13 países com mulheres ocupando cargos ministeriais. Em 2008, esse número saltou para 63.

- ainda há distância entre a média de salários pagos para homens e mulheres.

As mulheres também têm mais probabilidade de ter um trabalho não remunerado do que os homens, além de maior chance de, na agricultura, trabalhar em terrenos menores e em cultivos menos lucrativos e, na indústria, de dirigir empresas menores e em setores com menos remuneração.

A conclusão do Relatório do Banco Mundial, todavia, afirma com todas as letras os países poderiam progredir muitos mais com maior igualdade entre os sexos. A produtividade poderia crescer 25%.

O exemplo da Walmart

As empresas têm um grande e importante papel a cumprir para mudar este cenário. Afinal, são elas que geram tanto os empregos quanto as oportunidades de negócio, via cadeia produtiva. E, tendo vontade política, é possível encontrar soluções criativas. Como esse exemplo do Walmart.

Por lidar com um público eminentemente feminino em todos os lugares onde possui lojas, a Walmart mundial está lançando um plano global de empoderamento econômico das mulheres que pode dar uma contribuição decisiva para a mudança no cenário.

A meta é comprar 20 bilhões de dólares de fornecedoras (mulheres) nos EUA até o final de 2016. Há cinco metas a atingir no mesmo prazo, nos EUA e no mundo:

1 – Dobrar o abastecimento de fornecedoras mulheres no mundo;

2 - Empoderar 60 mil mulheres que trabalham das fábricas fornecedoras do Walmart, através de treinamentos, acesso ao mercado e oportunidade de carreira. A iniciativa também irá ajudar as mulheres que trabalham na agricultura a participar mais plenamente da cadeia de abastecimento

3.Dar formação profissional e educação de varejo a 200 mil mulheres no mundo e a 200 mil de famílias de baixa renda nos EUA.

4. Aumentar a diversidade de gênero entre os principais fornecedores. A empresa vai trabalhar com os grandes fornecedores de mercadorias e de serviços com mais de US $ 1 bilhão em vendas para estimular o aumento de mulheres e das minorias.

5. Fazer filantropia significativa para dar capacitação econômica às mulheres. O Walmart vai apoiar esses programas com mais de US $ 100 milhões em doações.

Convidamos as empresas a também estipularem metas para o empoderamento feminino. Afinal a situação ainda é grave e programas como esse do Walmart ajudam a reverter a situação.

Mais dados


O documento do Banco Mundial destaca que, em 45 países, nas escolas de ensino médio, as meninas já ultrapassam os meninos e há mais jovens do sexo feminino do que do sexo masculino nas universidades de 60 países, um deles o Brasil. Mesmo assim, ainda há dificuldades de as mulheres ascenderem nas empresas.

As conclusões do relatório do Banco Mundial confirmam as pesquisas de entidades brasileiras como o IBGE e o Ipea. Desde pelo menos o ano 2000, as pesquisas indicam que a escolaridade feminina progride mais que a masculina, que a participação das mulheres no mercado de trabalho hoje é praticamente igual à dos homens e que, todavia, as médias salariais continuam diferentes.

O relatório citado também corrobora, em níveis mundiais, os resultados do Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas Brasileiras, uma pesquisa feita pelo Ethos e pelo Instituto Ibope sobre composição dos quadros funcionais, gerenciais e executivos das 500 maiores empresas brasileiras.

Em 2010, as mulheres ocupavam 13, 7% dos cargos executivos; 22,1% dos cargos de gerência; 26,8% da supervisão; e 33,1% do quadro funcional.

A desigualdade, portanto, é grande, e há um afunilamento hierárquico constatado nos perfis anteriores.

Se levarmos em conta a participação feminina na sociedade brasileira, constatamos que mais do que desigualdade, há subrepresentação das mulheres em todos os cargos das maiores empresas: de acordo com o IBGE, 51,3% do total da população, 43,9% da população economicamente ativa (PEA) e 42,6% da ocupada.

A importância do empoderamento feminino


Para enfrentar essa desigualdade, que o Banco Mundial constatou existir em todos os países, a ONU Mulheres propõe alguns princípios de empoderamento, sob o lema de “Igualdade significa negócios”.

São sete princípios que governos, empresas, escolas e sociedade civil precisam conhecer e aplicar:

Estabelecer liderança corporativa sensível à igualdade de gênero, no mais alto nível.

Tratar todas as mulheres e homens de forma justa no trabalho, respeitando e apoiando os direitos humanos e a não-discriminação.

Garantir a saúde, segurança e bem-estar de todas as mulheres e homens que trabalham na empresa.

Promover educação, capacitação e desenvolvimento profissional para as mulheres.

Apoiar empreendedorismo de mulheres e promover políticas de empoderamento das mulheres através das cadeias de suprimentos e marketing.

Promover a igualdade de gênero através de iniciativas voltadas à comunidade e ao ativismo social.

Medir, documentar e publicar os progressos da empresa na promoção da igualdade de gênero.

Se as empresas decidirem aplicar esses princípios aos seus planejamentos estratégicos, estarão contribuindo para a valorização da mulher. Como o Walmart mostrou com sua nova orientação mundial, a mudança depende mais de vontade política do que de orçamentos grandiosos.

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