segunda-feira, 14 de março de 2011

Erradicação da pobreza e vontade política das empresas

Por Sérgio Mindlin*

O governo federal tem como objetivo expresso erradicar a miséria do país e, por meio do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, está construindo um plano com políticas públicas especiais voltadas para mulheres e crianças. O foco será a ampliação da renda feminina, o aumento da oferta de serviços de públicos, como creches, pré-escola e postos de saúde, e a qualificação profissional e capacitação para o empreendedorismo.

O Executivo reconhece nas mães, mais do que nos pais, a disposição e o compromisso de zelar pela educação dos filhos e pela manutenção da estrutura familiar. Assim, desde o governo Lula a mulher vem sendo a principal destinatária das políticas sociais e assistenciais. O dinheiro do Bolsa Família, o imóvel do Minha Casa, Minha Vida e o crédito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) ficam com as mulheres e ajudam a criar um ambiente mais favorável à mudança da condição feminina na sociedade brasileira.

Os programas especiais para erradicação da pobreza que o governo federal deve anunciar até maio vão aprofundar essa mudança e, certamente, terão efeitos também entre as camadas sociais que não são diretamente beneficiadas por essas políticas.

Na verdade, trata-se de reconhecer o que as estatísticas já apontam: nas últimas décadas, aumentou a participação da mulher em todos os âmbitos da sociedade. Ela vem ocupando mais espaço na política e na economia, tem mais anos de estudo que os homens, é maioria entre os universitários e, cada vez mais, tem a função de “chefe de família”. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 35% dos lares brasileiros, ou 21 milhões de famílias, são chefiados por mulheres, mesmo estando casadas. Aliás, 14% dos casais com ou sem filhos têm na mulher a principal referência, afirma o Ipea.

No mercado de trabalho, a participação feminina chegou a 56,2% em 2010, de acordo com dados divulgados no final de fevereiro pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Elas também possuem escolaridade maior que a dos homens. Entre a população economicamente ativa, 17,1% das mulheres possuem curso superior completo, contra 13% dos homens.

No entanto, como também revela a pesquisa do Dieese, as mulheres continuam ganhando menos do que os homens. Em média, elas recebem 75,7% do valor pago aos homens para exercerem as mesmas funções. Para os cargos que exigem nível superior, a diferença é ainda maior: elas ganham apenas 63,8% do salário pago a eles para as mesmas funções.

Se analisarmos o perfil hierárquico das 500 maiores empresas do país, vamos verificar outro paradoxo: o Brasil que elegeu uma mulher para o mais alto cargo executivo da República não tem representação feminina significativa no alto escalão de nenhuma grande empresa do país. De acordo com a edição de 2010 da pesquisa “Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas do Brasil e Suas Ações Afirmativas”, realizada pelo Instituto Ethos e pelo Ibope, as mulheres têm 31% de representação no quadro funcional, 26,8% em nível de supervisão, 22,1% na gerência e 13,7% no quadro executivo das grandes empresas.

Entre as 500 maiores, encontram-se algumas dezenas de empresas fortemente engajadas no movimento da responsabilidade social, com ações concretas para tornar os negócios parceiros do desenvolvimento sustentável no país. Mas a representação das mulheres em nível de comando ainda é mínima.

Tanto isso é verdade que, se pedirem para alguém citar uma mulher na presidência de uma grande empresa brasileira, quem seria lembrada? Talvez Luíza Helena Trajano, do Magazine Luíza, ou Maria Fernanda Ramos Coelho, da Caixa Econômica Federal. Há também Dilma Pena, da Sabesp, Anita Harley, das Casas Pernambucanas, e Anna Christina Ramos Saicali, da B2W, atualmente a maior empresa de comércio varejista on-line da América Latina, fruto da fusão entre a Americanas.com e a Submarino.com.

Como vimos, a agenda que o governo federal está estabelecendo para erradicar a pobreza será fundamentalmente feminina, com foco na transferência de renda e ampliação de oportunidades para as mulheres. Esta é a hora, então, de as empresas fazerem sua parte e, de uma vez por todas, terem como meta a equidade de gênero. Adotar esse princípio como fator crítico de sucesso é questão de vontade política da gestão, bem como de estabelecer metas e não se desviar delas.

O Brasil caminha para ser a quinta economia global. Não pode permanecer como uma das sociedades mais desiguais do mundo. A promoção da equidade nas empresas é um passo decisivo para o desenvolvimento econômico andar junto com o progresso social.

* Sérgio Mindlin é diretor-presidente da Fundação Telefônica e presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos.

Um comentário:

  1. Caro Mindlin,

    Plagiando um de nossos maiores poetas: "se todos (os empresários) fossem iguais a você... que maravilha seria..." trabalhar! As mulheres 'suando', mas também ganhando o mesmo que os homens. Já seria ótimo, mesmo com a dupla jornada de trabalho, pois ainda somos as responsáveis por, no mínimo, comandar as tarefas de todos os lares.
    Abraços,

    Juliana Avona
    jornalista e analista de Responsabilidade Social
    CORES - Comitê de Responsabilidade Social da Fiesp

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