quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Novo tempo para a análise de riscos financeiros

Com o objetivo de evitar que um desastre ambiental abale a rentabilidade e a reputação das empresas e das instituições que nelas investem, o setor financeiro no Brasil está, cada vez mais, contratando biólogos, engenheiros, geólogos e profissionais afins para consultorias especializadas. Esta tendência cresce no Brasil e no mundo e indica um novo tempo para as análises de riscos. Os parâmetros de avaliação dos projetos de investimento deixam de ser meramente financeiros. Informações socioambientais passam a ser igualmente importantes.

No Brasil, os grandes bancos privados e estatais já utilizam estes critérios para verificar a viabilidade de projetos de setores como mineração, petróleo, siderurgia, movelaria, geração de energia, tratamento de resíduos, construção civil, transporte, agricultura e saúde, onde os impactos ambientais são mais evidentes e há mais pressão da sociedade civil. A imagem do investidor está diretamente relacionada ao empreendimento. Qualquer problema traz reflexos imediatos para a reputação de todas as partes envolvidas.

As instituições financeiras privadas no Brasil já vêm adotando critérios de sustentabilidade para orientar investimentos desde 2002, quando aderiram aos Princípios do Equador. Estes princípios foram estabelecidos pelo IFC, braço financeiro do Banco Mundial, e por alguns dos maiores bancos internacionais. A adesão é voluntária. Eles representam critérios mínimos para a concessão de crédito, que asseguram que os projetos financiados sejam desenvolvidos de forma socialmente e ambientalmente responsável.

Na prática, as empresas interessadas em obter recursos no mercado financeiro nacional ou internacional deverão incorporar, em suas estruturas de avaliação itens como: proteção à biodiversidade, avaliação de impactos socioeconômicos, incluindo as comunidades e povos indígenas, proteção a habitats naturais com exigência de alguma forma de compensação para populações afetadas por um projeto; eficiência na produção, distribuição e consumo de recursos hídricos e energia e uso de energias renováveis; respeito aos direitos humanos e combate ao trabalho infantil e ao trabalho análogo à escravidão.

Com o estabelecimento do Protocolo Verde, a partir de 2009, os bancos públicos e, em seguida, as instituições privadas brasileiras também se comprometeram a adotar critérios socioambientais para conceder créditos.

Com isso, as análises de risco de investimento precisaram conter outros pareceres técnicos, especializados em questões socioambientais, abrindo oportunidade para profissionais destas áreas, os chamados “profissionais verdes”.

Tudo indica que se trata de um mercado crescente, uma vez que não apenas os bancos, mas as próprias empresas começam a incorporar no negócio as variáveis socioambientais, além das metas financeiras.

Foi levando em conta esta tendência que duas ONGs internacionais que lidam com sustentabilidade, a Prince of Wales e a GRI (Global Reporting Initiative) anunciaram que estão trabalhando para formar um comitê internacional para idealizar um novo tipo de relatório de balanço empresarial: que integre, num mesmo documento aceito globalmente, as informações financeiras, sociais, ambientais e de governança.

A iniciativa das duas entidades supracitadas indica que existe, na sociedade, a necessidade imperiosa de discutir a nova dimensão dos balanços e relatórios financeiros. Temos décadas de cultura de supremacia das finanças na formulação das mais diversas equações de investimentos nas bolsas, de estratégias empresariais e até de programas de governos.

O que poderá advir se a isto forem agregadas informações sobre impactos e riscos? Certamente uma nova forma de gestão empresarial, novos parâmetros para balizar as fusões e aquisições, novas oportunidades profissionais, novas bases para o cálculo das ações nas bolsas e, sobretudo, uma redefinição na função social das empresas.

Divulgado na Rádio CBN no dia 11 de agosto de 2010.

Um comentário:

  1. Ler artigos como esse nos faz renovar o entusiasmo de que uma economia mais justa, sustentável e responsável é possível.
    A melhor informação do artigo na minha leitura é que ela coloca foco em um stakeholder relativamente ausente dessa discussão. Digo isso com foco no accountability. Por tanto, precisamos cada vez mais da participação, reconhecimento e valorização dos investidores e acionistas nessa discussão, nesse movimento que busca os melhores atributos e ideais de sustentabilidade na dinâmica de gestão dos negócios.
    Já algum tempo que estamos colocando foco no consumidor, que é sim um papel que exercemos na sociedade extremamente relevante para essa discussão, mas não apenas. Muitas vezes colocamos um peso e uma expectativa no papel do consumidor que está muito aquém das suas possibilidades, em especial se tivermos uma leitura atenta das diferentes realidades de consumidores.
    É necessário lembrar que muitos de nós também são gestores, colaboradores, acionistas e investidores das organizações empresariais. Precisamos urgentemente dessa visão integra e integrada de responsabilidades e contribuições diante de todos esses papeis que exercemos na sociedade.
    Por isso, que iniciei esse comentário dizendo que esse olhar crítico dos investidores, nos faz renovar o entusiasmo e as expectativas em busca de uma sociedade mais justa, responsável e sustentável.

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