quarta-feira, 4 de agosto de 2010

“A mandioca e o desenvolvimento sustentável”

or séculos, a mandioca foi associada à agricultura de subsistência nas regiões mais pobres do país. Esse cenário começa a mudar, com a decisiva participação de empresas, fundações e bancos públicos.

O motivo para esse interesse é negócio: a fécula da mandioca (amido ou polvilho) tem sido apontada como uma das alternativas para a substituição de insumos industriais escassos ou cuja obtenção vem sendo posta sob escrutínio, pelo impacto socioambiental que produzem. Há uma centena de aplicações para a fécula: em remédios, na indústria de papel, na indústria de alimentos e até na indústria petrolífera, para lubrificação de brocas.

A Bahia, por ser o segundo maior produtor nacional de mandioca (o primeiro é São Paulo), tem sido palco dessas iniciativas inovadoras. Em 2009, a Cooperativa Mista Agropecuária de Pequenos Agricultores do Sudoeste da Bahia (Coopasub) lançou, em Vitória da Conquista, a primeira fábrica de fécula de mandioca autogerida do país. O empreendimento conta com o apoio da Fundação Banco do Brasil, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da prefeitura da cidade.

Quando estiver em operação plena, a indústria terá capacidade para processar 100 toneladas de mandioca por dia. E vai beneficiar 2.200 agricultores familiares associados à Coopasub, os quais se espalham por 16 municípios da região de Vitória da Conquista. A produção não precisará mais ser vendida a atravessadores e o agricultor ainda ficará com a renda gerada pela comercialização da fécula, considerada o derivado mais nobre da mandioca. A fábrica vai garantir também a inclusão do produto, de maneira constante, num vasto mercado que vai de pequenas fábricas de doces e biscoitos até grandes indústrias dos ramos têxtil, farmacêutico e petrolífero.

A instalação dessa fábrica representa uma das etapas mais importantes do programa da Fundação Banco do Brasil denominado “Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Agricultura Familiar na Cadeia Produtiva da Mandioca no Sudoeste da Bahia”. O projeto já recebeu investimentos sociais de R$ 11 milhões.

Também buscando o desenvolvimento sustentável, o Grupo Odebrecht investiu numa fábrica de amido de mandioca – a Bahiamido –, que está sendo instalada na cidade de Laje, na região do Baixo Sul, também na Bahia. A fábrica será inaugurada em outubro e absorverá a produção de pequenos agricultores organizados na Aliança Cooperativa do Amido. O BNDES e o Banco do Brasil participam do empreendimento, que deve consumir recursos da ordem de R$ 30 milhões.

Nos primeiros dois anos, a Bahiamido processará 200 toneladas por dia de mandioca, mas a previsão é de dobrar a produção e, com isso, elevar a renda mensal do produtor dos atuais R$ 300 para mais de R$ 1.000.

Os dois projetos mencionados ainda fornecem assistência técnica aos produtores, que são orientados a adotar práticas agrícolas ambientalmente corretas, como manutenção de reservas e reflorestamento com espécimes da Mata Atlântica. Se render mais ao agricultor, a mandioca pode ser uma alternativa à pecuária, maior causa do desmatamento da região.

O mercado de amido no Brasil é calculado em R$ 3,5 bilhões. Para atender à demanda industrial atual, o país tem importado o amido derivado do milho. No que tange ao amido de mandioca, Tailândia e Indonésia possuem as maiores produções mundiais. Estes dois países já desenvolveram, inclusive, amidos modificados específicos para cada aplicação industrial. Uma ironia, já que a mandioca foi levada daqui para lá, ainda no século 16, pelos navegadores portugueses. Enquanto no Brasil a lavoura nunca saiu do estágio de subsistência, na Ásia e na Àfrica tornou-se lavoura estratégica, associada ao agronegócio. O desafio, para nosso país, é desenvolver as potencialidades industriais dessa raiz, sem prejudicar sua função de produto estrutural da agricultura familiar brasileira.


Divulgado na Rádio CBN no dia 04 de agosto de 2010.

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