quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Biodiversidade sem fronteiras

Por Fábio de Castro, Agência Fapesp

Instituições de pesquisa de diversos países latino-americanos possuem bases de dados sobre biodiversidade, fundamentais para o avanço do conhecimento e para a orientação de políticas públicas de conservação.

Mas esses sistemas de informação, em geral, ainda não dialogam entre si – o que seria importante, tendo em vista que a biodiversidade não se atém às fronteiras nacionais. A comunidade científica do continente, no entanto, acaba de dar um primeiro passo para que suas bases de dados possam operar de forma integrada no futuro.

Representantes de institutos de pesquisa e programas de biodiversidade se reuniram entre os dias 16 e 18 de agosto, em Buenos Aires (Argentina), para um workshop cujo objetivo era facilitar o diálogo entre as bases de dados de biodiversidade nacionais, regionais e internacionais.

O evento foi uma iniciativa conjunta do Programa Biota-FAPESP, do Escritório Regional para América Latina e Caribe do Conselho Internacional para a Ciência (ICSU-LAC) e do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Tecnológicas (Conicet, na sigla em espanhol), da Argentina.

Além do Biota-FAPESP, a reunião teve participação de representantes da Comissão Nacional para o Conhecimento e Uso da Biodiversidade (Conabio), do México, do Instituto Humboldt , da Colômbia, do Sistema de Informação em Biodiversidade (SIB), da Argentina, do Instituto de Ecologia e Biodiversidade (IEB), do Chile, do Centro Nacional de Biodiversidade (CeNBio), de Cuba, além de iniciativas regionais já existentes, como a Rede Interamericana de Informação em Biodiversidade (Iabin, na sigla em inglês), responsável pela implantação de redes temáticas no continente.

De acordo com a Diretora do Escritório Regional do ICSU-LAC, Alice Abreu, as posições definidas no workshop serão consolidadas em uma conferência internacional que será organizada no Brasil, em dezembro, em iniciativa conjunta do Biota-FAPESP, da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

“O workshop em Buenos Aires foi de altíssimo nível. Apesar da origem e vinculação distintas das diversas iniciativas na América Latina e Caribe, todas as instituições envolvidas no desenvolvimento de sistemas de informação e bancos de dados em biodiversidade têm um altíssimo interesse em compartilhar experiências e promover um maior intercâmbio”, disse Alice à Agência FAPESP.

Segundo Alice, os participantes saíram da reunião com uma agenda de tarefas e consultas internas que será levada a cada uma das instituições. Os resultados desse trabalho serão discutidos em dois eventos na conferência de dezembro: o simpósio National and International Interoperability among Biodiversity Information Systems e a mesa-redonda Action plan to promote and increase interoperability among Biodiversity Information Systems, organizados conjuntamente pelo ICSU-LAC e pelo Biota-FAPESP.

“Com isso vamos poder definir um plano de trabalho e um conjunto de ações concretas para promover efetivamente uma maior integração entre as instituições e entre os sistemas de informação e bancos de dados em biodiversidade", afirmou Alice.

Retomada do diálogo

O coordenador do Biota-FAPESP, Carlos Alfredo Joly, também destacou a importância de estabelecer, em Buenos Aires, uma agenda de trabalho para definir iniciativas conjuntas que serão implementadas na conferência. “A reunião teve um saldo extremamente positivo”, disse Joly à Agência FAPESP.

De acordo com Joly, desde a década de 1980 países latino-americanos vêm desenvolvendo sistemas de informação em biodiversidade. “Consequentemente, temos diversas experiências e bons sistemas foram implantados nos últimos 25 anos.”

Entre os vários sistemas implantados, segundo o pesquisador, destaca-se o do México – o atual Conabio –, por ter sido o primeiro e por sua atual abrangência. “Apesar dessa longa experiência, há pouquíssimo intercâmbio entre as diversas iniciativas da América Latina e do Caribe”, disse Joly.

Um dos idealizadores do Biota-FAPESP, Joly disse que em 1997, quando o programa estava sendo planejado, as lideranças do Conabio, do México, e do Instituto Nacional de Biodiversidade (InBio), da Costa Rica, foram convidadas para apresentar, em um workshop em Serra Negra (SP), os erros e acertos de seus programas, a fim de auxiliar a estruturação do Sistema de Informação Ambiental (SinBiota) e do Atlas do Biota-FAPESP.

De acordo com Joly, o diálogo foi importante para que o Biota-FAPESP pudesse reproduzir as experiências de sucesso e evitar repetir os erros cometidos nas experiências do Conabio e do InBio. “Mas, desde então, o contato tem sido pequeno, geralmente em reuniões no exterior, onde nos encontramos casualmente”, afirmou.

O professor titular do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) conta que, em 2007, quando o ICSU decidiu criar um escritório regional para América Latina e Caribe, a área de Biodiversidade foi indicada como um dos campos prioritários de pesquisa para a região.

“Essa decisão levou o ICSU-LAC a criar um grupo de especialistas em biodiversidade para diagnosticar o nível atual de conhecimento, as principais ameaças e as áreas prioritárias para pesquisa em biodiversidade na região que abriga cerca de 35% das espécies do planeta”, disse Joly.

O grupo formado em 2007, segundo Joly, preparou um relatório detalhado, intitulado Biodiversity Knowledge, Research Scope and Priority Areas: An Assessment for Latin America and the Caribbean , que destacou a alta prioridade, para a região, da integração dos sistemas de informação e bancos de dados em biodiversidade.

“A partir daí, o ICSU-LAC e o Programa Biota-FAPESP decidiram organizar em conjunto uma reunião para que lideranças dos diferentes países pudessem discutir em detalhes a possibilidade e viabilidade de integração entre as diferentes iniciativas”, disse.

Joly destacou que, 12 anos após a criação do SinBiota, o Biota-FAPESP está desenvolvendo uma nova versão de seu sistema de informações.

“Estamos corrigindo falhas da primeira versão e implementando novos módulos que permitam uma melhor conexão, tanto na escala macro – gerando dados que considerem, por exemplo, a matriz de atividades agrícolas onde um determinado fragmento de vegetação nativa está inserido – como na escala micro, estabelecendo conexões, por exemplo, com o GeneBank e com dados de código de barras de DNA barcoding”, disse Joly.

“Por isso avaliamos que seria fundamental discutirmos novamente nossos planos com lideranças de outras experiências latino-americanas bem- sucedidas”, afirmou.

(Envolverde/Agência Fapesp)

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