quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Amor ou poder: qual você quer mais?

Semana passada, o GRES (Grupo Referencial de Empresas em Sustentabilidade), promoveu uma palestra com Adam Kahane*, sócio da Reos Partners, uma organização internacional dedicada a apoiar e desenvolver capacidade para ações inovadoras em sistemas sociais complexos.

Em uma conversa permeada por responsabilidade social, problemas complexos e até questões filosóficas, Kahane falou surpreendentemente bem de Copenhague. Contou que, na sua impressão, o ambiente inevitavelmente causava um sentimento de vitória em seus participantes. Para ele, toda a mobilização para um fim tão importante é o mais valioso e era bonito ver tanta gente reunida por amor ao planeta e ao futuro dele.

Kahane falou também sobre seu último livro: Power and Love: A Theory and Practice of Social Change. A discussão gerada foi em torno da tentativa de equilíbrio entre esses dois grandes sentimentos mobilizadores da humanidade. Quando o poder começa a machucar outras pessoas? Quando o amor começa a machucar você? Como fazer para ter poder e amor na medida certa?

Obviamente essas questões valem para a nossa vida pessoal, mas vai muito além quando o assunto é sustentabilidade. Copenhague, por exemplo, talvez tenha sido tão interessante porque misturou de forma intensa amor e poder. As pessoas estavam lá por isso: algumas por amor a sua própria existência e a do planeta, outras pelo poder de decidir qualquer coisa por toda a sociedade.

A recomendação de Kahane para alcançarmos o equilíbrio e, desta maneira, possamos agir positivamente em nossas vidas e para o mundo, é que façamos uma primeira análise para identificar qual dos impulsos está se sobressaindo ao outro. Feito isso, medicar o excesso com atitudes contrárias. Isto é, se há exagero de poder, o ideal é adotar movimentos e atividades de conexão e exercitar a capacidade de se importar com as pessoas. Se há exagero de amor, tentar separar o que alimentar e o que destruir, analisando com racionalidade. O amor em excesso também pode ser muito ruim porque dificulta a ação.

Kahane disse que “o segredo é trabalhar com os dois como se fossem duas pernas. Sem uma delas, fica difícil caminhar.” Enquanto isso, nossa sociedade caminha com dificuldade, em decisões e atitudes que ora demonstram excesso de amor, ora de poder. E esse desquilíbrio entre as “pernas” anda ameaçando a sobrevivência de pessoas, do meio ambiente, do planeta.

Providencialmente, ao final do encontro, o presidente do Ethos, Ricardo Young, deixou uma questão para refletirmos. “Quão próximo a humanidade terá que estar de uma sobrevivência ameaçada para gerarmos um novo padrão de civilização?”

Quem se arrisca a responder esta pergunta?



*Adam Kahane é também é um dos associados do Instituto para a Ciência, Inovação e Sociedade da Saïd Business School, da Universidade de Oxford. Em 1991 e 1992, Adam facilitou o Projeto de Cenários Mont Fleur, no qual um grupo diverso de Sul-africanos trabalhou junto para uma transição para a democracia. Desde então, tem liderado processos de diálogos e ação intersetoriais ao redor do mundo.

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