segunda-feira, 8 de junho de 2009

Relatório do Greenpeace responsabiliza pecuária e o governo pelo desmatamento da Amazônia

Texto de Benjamin S. Gonçalves
Editor de publicações do Instituto Ethos
São Paulo, 5 de junho de 2009

De acordo com o estudo, marcas de produtos conhecidos, redes de supermercados e frigoríficos estão contribuindo involuntariamente para o agravamento do problema na região, com a colaboração do governo.

Após colher informações durante três anos, a organização não-governamental Greenpeace lançou nesta segunda-feira o relatório Farra do Boi na Amazônia. O levantamento conclui que a indústria pecuária nacional é a maior responsável pelo desmatamento da Amazônia. Invasão de terras protegidas e trabalho escravo também foram observados pelo relatório em fazendas que fornecem gado para o mundo todo.



Nos três anos de investigação, o Greenpeace rastreou o fornecimento de carne, couro e outros produtos bovinos para o mercado global por fazendas da região, estabelecendo pela primeira vez uma relação entre os danos da pecuária sobre a Floresta Amazônica e marcas famosas em todo o mundo, como Adidas/Reebok, Carrefour, Clarks, Gucci, Honda, Ikea, Kraft, Louis Vuitton, Nike, Prada, Tesco, Timberland e Wal-Mart.

O relatório acrescenta que o governo federal, responsável pela preservação da Amazônia, é um dos principais colaboradores para a destruição da floresta, ao conceder financiamentos a empresas do setor por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “No momento em que a empresa financiada pelo governo investe na região e monta uma unidade com capacidade para abater milhares de animais por dia, está sinalizando para os produtores que eles podem desmatar e ampliar a produção, porque os animais serão comprados”, comenta André Muggiati, coordenador da campanha de pecuária do Greenpeace.

De acordo com Muggiati, entre os frigoríficos implicados no desmatamento da Amazônia estão o Bertin, o JBS e o Marfrig, que receberam a maior parte dos US$ 2,65 bilhões investidos pelo BNDES em troca de ações para o governo federal, entre 2007 e 2009, em cinco grandes empresas, responsáveis por 50% das exportações de carne e couro brasileiros.

O levantamento informa ainda que a expansão da pecuária brasileira se concentra na Amazônia, onde 80% das áreas desmatadas são dedicadas à atividade. Observe-se que o país é o quarto maior emissor de gases de efeito estufa em todo o mundo, sobretudo pela destruição da floresta.

Logo após a divulgação do relatório, os frigoríficos Bertin e JBS lançaram notas oficiais rebatendo as informações e afirmando que adotam critérios sustentáveis para a compra de matéria-prima. Ambos disseram que antes de contratar os produtores consultam a lista de propriedades embargadas pelo Ibama e a "lista suja" do Ministério do Trabalho. O Bertin informou que já excluiu pelo menos 165 fornecedores que estavam em uma das duas listas. O JBS, por sua vez, citou sua adesão ao Pacto Empresarial da Pecuária estabelecido em 2008 pela iniciativa Conexões Sustentáveis São Paulo–Amazônia.Vale esclarecer que esse pacto estabelece compromissos que deverão ser acompanhados de ações concretas a serem relatadas pelos signatários. Até o momento o Comitê de Acompanhamento dos Pactos do Conexões Sustentáveis ainda não recebeu o relato de ações do JBS.

Já o Wal-Mart foi mais além e publicou seu posicionamento Repúdio à Pecuária Bovina Irregular na Amazônia, no qual informa que, em resposta aos fatos apresentados pelo relatório do Greenpeace, “já está em contato com seus fornecedores para obter explicações em relação às denúncias e, desta forma, tomar atitudes no curto prazo que sejam efetivas e sustentáveis”.

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