segunda-feira, 13 de abril de 2009

Por um PAC Agropecuário

Em nenhum outro lugar do país como na região rural há tantos contrastes e desigualdades. Este é o resultado de um estudo feito pelo geógrafo Eduardo Girardi, tema de sua tese de doutorado na Universidade Estadual Paulista - Unesp. Ele elaborou o “Atlas da Questão Agrária Brasileira”, no Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária (Nera), da Unesp.

O que esta publicação mostra?


- O “Brasil agrário” que inspirou escritores e poetas, e fomentou toda uma série de personagens do nosso imaginário, diminuiu em número de pessoas. Há trinta anos, 44% dos brasileiros viviam e trabalhavam na zona rural. Hoje, são apenas 8,2%, ou um pouco menos que 17 milhões de pessoas, que vivem na faixa da costa brasileira, especialmente nas regiões sul e nordeste.

- Destes 17 milhões, 76% se ocupam da chamada agricultura familiar.

- se usar melhor as terras já disponíveis, o Brasil não precisa desmatar para aumentar a produção agropecuária, a taxas de 4% ao ano, por pelo menos 20 anos.

- Sobre os conflitos agrários, o mapeamento feito por Girardi mostra que eles ocorrem no centro-sul e no nordeste. No entanto, os assentamentos rurais oficiais estão na região norte.

- Em dez anos, foram assentadas 3,2 milhões de pessoas. No mesmo período, no entanto, 1,5 milhão perdeu seu trabalho na zona rural.

- O trabalho escravo na zona rural ocorre no Norte e no Centro-Oeste. Mas a maior parte dos trabalhadores é aliciada no Nordeste.

A rapidez no processo de migração campo-cidade (um dos mais velozes da história da humanidade, só perdendo para o chinês, ainda em andamento) transformou a região rural brasileira numa chaga aberta.

O avanço tecnológico dos grandes empreendimentos do agronegócio não representou melhoria de via para a população rural, que vive do trabalho na terra. Eles ainda precisam migrar para as cidades por conta de desemprego, disputas territoriais. A alta tecnologia também não promoveu o equilíbrio ambiental. Pelo contrário, a degradação aumentou, bem como as desigualdades e as injustiças.

Curupira ainda precisa proteger as matas, andando com os pés virados para trás, na tentativa de enganar os predadores cada vez mais bem equipados. Curupira resiste bravamente, mas até quando? Da solução harmoniosa para os problemas agrários (seculares) do Brasil depende o futuro das cidades e do próprio país. Queremos acabar com as favelas das cidades e com as choças do campo? Buscamos mesmo um desenvolvimento sustentável? Almejamos influenciar de fato as grandes decisões internacionais? Então, precisamos resolver os problemas agrários sem subterfúgios os meias-soluções.

Precisamos de um PAC Agropecuário, um programa de aceleração do desenvolvimento rural que estabeleça um conjunto de políticas públicas indutoras da desconcentração fundiária, da valorização das atividades rurais, da renda e do trabalho no campo.

Sem estas medidas, qualquer ação na cidade vai promover mais migração, mais concentração de terra, mais conflitos, mais miséria e violência urbanas, enfim, mais do mesmo.

O empresariado comprometido com a responsabilidade social e com a sustentabilidade precisa olhar para a zona rural sem preconceitos. Um modelo de desenvolvimento agropecuário que promove a renda e o trabalho decente no campo, o equilíbrio ambiental e a produtividade só ajuda os negócios de qualquer empresa.

Comentado por Ricardo Young

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