quarta-feira, 27 de abril de 2011

Como empreender em um mundo melhor e lucrar com isso

(Conteúdo gentilmente cedido pelo SESI – Serviço Social da Indústria)
Carolina Romano, especial para o SESI


Há mais de uma década, o acadêmico indiano Coimbatore Krishnarao Prahalad ganhou a atenção do mundo com uma estratégia de combater a pobreza por meio do lucro. Sua teoria demonstrava que a somatória de tecnologia, expertise gerencial e capacidade de investimento seriam insuficientes para sanar as questões da miséria e da desigualdade social. Para ele, a chave desta transformação estaria na criação de produtos e serviços acessíveis às camadas carentes da população.

A ideia de Prahalad, de gerar riqueza na base da pirâmide, foi levada a cabo e teve sua continuidade e execução garantida pelo professor de economia bangalês, Muhammad Yunus, fundador do banco Grameen e ganhador do Prêmio Nobel da Paz. Yunus desenvolveu o inovador programa econômico do microcrédito, que consiste em emprestar capital para pessoas de baixíssima renda que não têm crédito junto aos bancos tradicionais e querem desenvolver seus pequenos empreendimentos.

O Grameen Bank (http://www.grameen-info.org/), aberto em 2006, conta com números impressionantes em sua curta trajetória: possui hoje 2.185 agências, cerca de 20 mil funcionários e o equivalente a aproximados US$ 6 bilhões em empréstimos concedidos.

Yunus representa de forma ilustre uma classe que vem ganhando importância e reconhecimento na economia mundial: a dos empreendedores sociais, pessoas capazes de criar novos modelos de negócios para fazer empresas prosperarem a serviço de uma causa social. Longe da imagem de filantropos idealistas, estes profissionais têm planos de negócio bem traçados, fazendo uso de linhas de financiamento e parcerias estratégicas com outras empresas e governos.

Apesar do assunto ser relativamente novo, a dinâmica social do mundo de hoje vem levando à transformação de conceitos políticos e econômicos que beneficiam o desenvolvimento socioambiental. As empresas começam a notar que este é um tema inerente ao mercado e,portanto, passam a implementar políticas acerca do assunto. “Em apenas uma década não se fará distinção entre um empreendimento social e um tradicional, porque essa será uma característica intrínseca a qualquer negócio”, preveem John e Pamela Elkington, especialistas em desenvolvimento sustentável e autores do livro “Empreendedores sociais: o exemplo incomum das pessoas que estão transformando o mundo” (Editora Campus/Elsevier – 242 páginas).

Os autores estudam exemplos de sucesso de empreendimentos sociais e ambientais pelo mundo, como o da rede americana de alimentos orgânicos Whole Foods Market (http://www.wholefoodsmarket.com/), fundada no começo da
década de 80, e que conta hoje com 200 lojas nos Estados Unidos e na Inglaterra, somando um faturamento de 4,7 bilhões de dólares por ano.

Segundo os Elkingtons, os empreendedores sociais podem ser divididos em três grupos distintos: os empreendimentos sem fins lucrativos, os negócios híbridos (geridos por doações, mas capazes de gerar alguma receita) e os que funcionam como empresas tradicionais, apresentando lucro.

Quem empreende por aqui
O Brasil vem se destacando mundialmente como um pólo de negócios sociais bem sucedidos. Pode-se dizer que o sucesso deste tipo de empreendimento está, não na maximização dos lucros, mas na combinação entre sustentabilidade econômica e potencialização do impacto social positivo pretendido pelo negócio.

O projeto do empreendedor e chef de cozinha David Hertz, a Gastromotiva (http://www.gastromotiva.org/), é exemplo desta nova fórmula que já está se mostrando viável e eficiente. David lidera um programa anual que capacita jovens de baixa renda a se tornarem chefs. O programa, que conta com patrocínio do banco JPMorgan e da Universidade Anhembi Morumbi, também ensina e incentiva os participantes a abrirem negócios gastronômicos em suas comunidades, promovendo o desenvolvimento local. A gastromotiva atua ainda em duas outras frentes para garantir sua sustentabilidade econômica: um serviço bufê-escola e a venda de produtos relacionados à cozinha. “Quanto mais serviço prestamos, mais jovens de baixa renda podemos capacitar. Isso que nos traz ganho também aumenta as chances desses jovens de empreender em suas próprias comunidades”, acredita Hertz. Hoje o bufê-escola já atende demandas de grande porte, vindas de empresas como Reebok, Editora Globo e Banco do Brasil. Até mesmo a recepção de Bill Clinton na edição brasileira do Ethanol Summit, que contou com a presença de 700 pessoas, foi feita pela Gastromotiva. Agora, Hertz espera aumentar as vendas e, consequentemente, ampliar também o impacto social positivo dessa iniciativa.

A atuação de David Hertz nos negócios sociais já começa a se configurar em uma nova rede mundial. “Estamos recebendo um estagiário dos EUA e outro de Cingapura. Tive uma estagiária por seis meses que agora está replicando o modelo da Gastromotiva na Indonésia”, alegra-se ele.

Mas quem comemora mesmo é o terceiro setor como um todo, que há tempos promove o conceito de empreendedorismo social no Brasil por meio de ONGs de atuação internacional. A Artemisia (http://www.artemisia.org.br/), por exemplo, organização não governamental que está no país desde 2004, tem como papel capacitar empreendedores e estudantes em negócios sociais. Além de facilitar o acesso ao conhecimento necessário para esse tipo de empreitada, a instituição apoia financeiramente projetos em que acredita. No Brasil, já são 19.

Segundo Fábio Santiago, diretor-executivo da Artemisia Brasil, o plano de negócio desses novos empreendimentos deve considerar a inovação no sentido de contribuir para a inclusão social e para a melhoria da qualidade de vida das pessoas. “Inovação para nós é, por exemplo, oferecer produtos e serviços já existentes a pessoas que não teriam acesso a eles, atuando na reconstrução de toda a cadeia de produção e distribuição para que o resultado se torne verdadeiramente acessível”, explica.

Esse também é o ideal da rede de distribuição de produtos orgânicos Sementes de Paz(www.sementesdepaz.org), que tem como base os princípios da Economia Solidária e do Comércio Justo. A rede aproxima os produtores dos consumidores,comercializando cestas de alimentos orgânicos produzidos nos arredores de São Paulo.

A Sementes de Paz pratica o que o movimento do Comércio Justo define como preço justo. Isso quer dizer que o produtor fica com 60% do valor final da venda. As entregas são feitas semanalmente em núcleos de distribuição geridos pelos próprios compradores que, garantem, pagam preços mais baixos que os dos supermercados. Além disso, os consumidores da rede têm o hábito de se encontrar para compartilhar ideias sobre os resultados, a expansão dos negócios e o modelo de gestão dos núcleos. Também vale se divertir e trocar uma ou outra receita.

Para a Ashoka (http://www.ashoka.org.br/), outra ONG de atuação internacional e protagonista no fomento do terceiro setor no Brasil, o empreendedorismo social é a mais poderosa força transformadora da sociedade. Os empreendedores sociais da organização fazem parte de uma rede mundial de intercâmbio de informações, colaboração e disseminação de projetos composta hoje por mais de 1.600 empreendedores, 250 deles no Brasil, que recebem capacitação e uma bolsa mensal por três anos para que possam se dedicar exclusivamente ao projeto.

Já a Plura Consultoria e Inclusão Social (http://www.plura.com.br/) nunca contou com apoio de nenhuma outra entidade. E não reclama disso. Voltada para a capacitação, colocação e retenção de profissionais com deficiências no mercado de trabalho, contribui para o aumento do índice de empregabilidade brasileiro. “Auxiliamos as empresas a se adequarem às exigências da Lei de Cotas, levando em consideração os fatores humanos do processo”, conta Julia Maggion, sócia e responsável pelo planejamento da empresa.

O desafio da Plura é fornecer, tanto aos candidatos quanto às empresas, as ferramentas necessárias para o processo de inclusão. “O verdadeiro trabalho é transformar não só a cultura interna das empresas, mas promover por meio de treinamentos e vivências a cultura da inclusão do portador de deficiência na sociedade”, completa. Segundo ela, trabalhar com o conceito de acessibilidade nas escolas é essencial para minimizar, no futuro, as dificuldades que, hoje, a Plura enfrenta.

Ao lado do sócio, Alex Vicintin, Julia desenha planos de expansão para a atuação na área. “Queremos trabalhar com Educação Inclusiva e, sob este guarda-chuva, oferecer produtos e serviços que integrem responsabilidade social e ambiental”, diz. Os sócios acreditam que o caminho seja unir atividades segmentadas numa espécie de holding “do bem”, ou seja, com objetivo de trazer benefícios para a sociedade.

O Instituo Muda (http://www.institutomuda.com.br/) é outro bom exemplo de negócio social. A instituição, em atividade na cidade de São Paulo, surgiu para mudar a relação entre moradores e moradias nos centros urbanos. As atividades da ONG têm foco na responsabilidade ambiental e já foram destaque na edição de 2009 do Programa Iam – Iniciativa Jovem Anhembi Morumbi, que identifica e apoia projetos de jovens empreendedores sociais há, no mínimo, um ano.

Resumidamente, o Muda mensura e gerencia os processos de coleta seletiva de resíduos, racionalização de água, energia elétrica e gás, entre outras reformas internas e customizadas para cada morador. O objetivo é minimizar os gastos e os impactos ambientais dos edifícios, casas e locais públicos. “Em um edifício, todos os moradores pagam pelo consumo de água total. Quando cada um passa a arcar com os seus próprios gastos, a redução é significativa”, conta Alexandre Furlan, sócio-fundador do instituto. Para isso, contam com a parceria tanto da prefeitura quanto das cooperativas de lixo, catadores de rua e empresas de reciclagem especializadas. A intenção é mostrar que lâmpadas com menor consumo são necessárias, mas que há muito mais para economizar.

Esses empreendedores de negócios sociais, em sua maioria, trazem na bagagem outras tentativas de fazer vingar um negócio próprio e daí a percepção de que uma atividade profissional tem valor desde que vá ao encontro de seus valores e garantam satisfação pessoal. O que todos têm em comum é a convicção de que, no novo mundo que se anuncia, não existe crescimento sem que se considere os impactos socioambientais na formulação e nos custos dos produtos ou serviços oferecidos por qualquer empresa ou atividade comercial.

O revés do microcrédito
A crença de Yunus de que as microfinanças poderiam “colocar a miséria nos museus”, somada ao perfil responsável dos tomadores de microcrédito – geralmente mulheres que trabalham por conta própria, pouco afetadas pela turbulência nos mercados mundiais e que mantêm as taxas de pagamento em algo entre 95% e 98% -, jogou luz à pratica transformando-a em negócio globalizado, que liga as finanças internacionais a algumas das comunidades mais pobres do mundo.

Investidores de capital de risco, como a Sequoia, e fundos de pensão, como o TIAA-Cref, dos Estados Unidos, começaram a despejar dinheiro na atividade.

Ao mesmo tempo, bancos globalizados passaram a oferecer investimentos em microfinanças para seus clientes privados, enquanto sites da internet possibilitavam microempréstimos de pessoa física para pessoa física. No fim de 2009, as microfinanças globais registravam cerca de US$ 12 bilhões em investimentos internacionais, contra US$ 4 bilhões três anos antes, segundo o Grupo Consultivo de Ajuda aos Pobres (CGAP), uma entidade ligada ao Banco Mundial (Bird).

A Microfinance Information Exchange, empresa que fornece dados sobre esse setor, afirma que mais de 95 milhões de microtomadores de empréstimo possuem, juntos, cerca de US$ 65 bilhões em créditos – com um empréstimo médio de US$ 520 por pessoa.

Diante desse cenário, a prática foi enchendo os olhos dos que visam lucro e se distanciando de seu objetivo inicial, o de reduzir a miséria. Muitas vezes, o dinheiro é emprestado com pouco critério para pessoas que não o investem na geração de um negócio, mas o usam para pagar antigos empréstimos ou mesmo, para comprar bens de consumo, como televisores e aparelhos celulares.

Além disso, as altas taxas de juros embutidas nas cobranças dos empréstimos têm levado, na Índia, a uma onda de suicídios por parte dos tomadores de microcréditos que se encontram devendo muito dinheiro sem ter perspectiva alguma de quitar seus débitos.

Países como Marrocos, Bósnia, Nicarágua e Paquistão também foram atingidos pelas crises dos pagamentos dos microempréstimos. Na Nicarágua e no Paquistão, os problemas aumentaram quando líderes políticos e religiosos exortaram as pessoas a não pagarem os empréstimos contraídos.

“Para dimensionar as microfinanças ao seu verdadeiro potencial – tornando-as acessíveis ao maior número de pobres possível -, elas precisam ser sustentáveis,mas há um elemento de responsabilidade aí”, afirma Jennifer Meehan, da Fundação Grameen, que promove os ideais do professor Yunus. “Certas partes do setor esqueceram-se de seu propósito. As microfinanças são um meio para se atingir um fim: o fim é a redução da pobreza e a transformação do cliente, não o crescimento da instituição credora”, complementa.

Fonte: Mercado Ético

2 comentários:

  1. Ameiiiiiiiiiiii a reportagem, vou visitar todos os sites sitados, aliás o site da Plura ta errado!

    Obrigada, quero mto iniciar meu negócio sustentável...estou lendo mto sobre pequenas empresas e sustentabilidade, mas ainda tenho receios do meu nicho de mercado por ser vulgarizado por muitos...E claro ser muito exigente no quesito qualidade e estudos cientificos... Enfim vou lermais e sempre visitar a pagina de vcs para me dar uma iluminada! Grata!

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  2. Programa habitacional social já entregou mais de R$ 18 milhões em créditos para casa própria

    Sobre a AFTB:
    A AFTB – Associação Frutos da Terra Brasil – é uma organização sem fins lucrativos, oficialmente reconhecida pelo Ministério da Justiça como uma Organização da Sociedade Civil
    de Interesse Público (OSCIP) que incorpora a responsabilidade social em todas suas ações.
    Fundada em março de 2007, a Associação Frutos da Terra Brasil trabalha em prol do desenvolvimento social e econômico, para combater o déficit habitacional no Brasil e viabilizar o crédito imobiliário através da isenção de juros, financiamentos em até 30 anos, sem entrada e sem comprovação de renda. O objetivo é a inclusão social e a garantia do Direito Constitucional de moradia para o cidadão brasileiro.

    Outras informações pelo portal da
    entidade www.aftb-oscip.org ou na nossa REDE SOCIAL (http://ong-aftb.ning.com/)


    Att.

    Associado e Orientador
    Eraldo Nazário

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