sexta-feira, 18 de março de 2011

Que aprendizado a tragédia do Japão nos proporciona?

Uma cultura que realça valores como tradição, disciplina e solidariedade ajuda a proteger vidas e a construir uma sociedade sustentável.

Pode a cultura de um povo ajudá-lo a enfrentar tragédias, aprender com elas e superar os problemas? Sim, pode. É o que podemos depreender das sucessivas catástrofes que vêm atingindo o Japão desde a última sexta-feira (11/3).

O Japão, como boa parte do Extremo Oriente, está sujeito a terremotos e tsunâmis. Só para lembrar a história recente, um terremoto de 7,2 graus na escala Richter atingiu a cidade de Kobe, importante centro econômico japonês. Foi o primeiro a atingir maciçamente uma área urbana densamente povoada no país. O abalo durou 20 segundos, destruiu a infraestrutura da cidade, moradias, hospitais e escolas, matando 6.437 pessoas e deixando 222.127 desabrigados, que precisaram se refugiar em locais provisórios por um longo período, até suas casas serem reconstruídas.

A exatidão dos números mostra o cuidado com que o Estado japonês lida com a situação. E como aprende com elas. A tragédia de Kobe passou a fazer parte dos livros escolares e das aulas de todas as matérias curriculares, do ensino fundamental aos cursos universitários. Aos alunos das escolas fundamentais, os professores de cada matéria realçam como se deve reagir quando a terra tremer, onde buscar abrigo, a quem pedir socorro e como ajudar outras pessoas, caso não seja um dos atingidos. A mensagem que se pretende incutir em cada cidadão é a seguinte: não se pode evitar esses eventos naturais, mas é possível reduzir e até zerar as mortes e a destruição.

Essa lição foi assimilada tanto pelo Estado quanto pela sociedade japonesa e, pelos relatos que chegam até nós, vem sendo posta em prática na tragédia atual. Na sexta-feira, um tremor de 8,9 graus na escala Richter – o maior já registrado em 140 anos de medição no país –, com epicentro a 125 km da costa noroeste do Japão, provocou um tsunâmi e deslocou o eixo da Terra em 10 centímetros.

As cidades de Fukushima, Miyaki, Iwate e Ibaraki foram atingidas em cheio pelas ondas de mais de 7 metros e pelos tremores. No entanto, quase 9 milhões de habitantes foram salvos pelas medidas preventivas e pela solidariedade dos habitantes que se prontificaram a receber em suas casas os concidadãos atingidos. Até agora, foram oficialmente contabilizadas 1.627 mortes, mas esse total pode chegar a 5.000. Há 450 mil desabrigados. O terremoto no Haiti, de 7 graus, matou 230 mil pessoas.

O que faz a diferença? Primeiro, instituições confiáveis aos olhos da sociedade. Assim, quando os alertas foram lançados pelos meios de comunicação, a população acreditou. Em segundo lugar, a solidariedade. De imediato, equipamentos públicos foram postos à disposição dos potenciais atingidos. E também as casas particulares de cidadãos desconhecidos, que se ofereceram para dar abrigo.

É de se notar ainda a disciplina e o planejamento. Entre o anúncio do tremor e a formação da primeira onda gigante que varreu Fukushima, passaram-se não mais do que 15 minutos. Esse tempo foi suficiente para a população ser alertada e procurar abrigo em construções de concreto ou em prédios acima de três andares. Moradores desses locais abriram suas portas a desconhecidos. Todos conhecem rotas seguras para chegar aos refúgios, as quais, prevendo-se desastres, são bem sinalizadas.

Todos os veículos de comunicação divulgam as áreas de risco e como evitá-las. E as autoridades também põem à disposição um site e um telefone (que funcionam) para pedidos de ajuda.

Ainda sobre a educação do povo, todos sabem que não podem acender fogo depois dos tremores, para não causar incêndios por causa dos vazamentos de gás, piorando a situação. Daí as notícias que lemos a respeito de pessoas que estão ao relento ou em casas sem eletricidade, num frio próximo a zero grau.

Outro dado interessante: quando o tremor ocorreu, centenas de milhares de pessoas usavam transporte público. Seguindo as orientações já conhecidas desde a escola, ficaram sentadas em seus lugares, esperando ordens de evacuação, sem ansiedade ou quebra-quebra. E, tirando o roubo de algumas centenas de bicicletas – o único meio de transporte na destruição que se verificou –, não houve outras ocorrências, como saques ou violência, a exemplo do que ocorreu durante os recentes terremotos no Haiti e no Chile.

Os desabrigados tampouco se sentem sozinhos. Passado o tremor, começam a distribuição de água, mantimentos e cobertores, e os donativos que chegam são rapidamente distribuídos por um sistema de logística específico.

Outra diferença importante no caso do Japão é a atitude dos políticos, do primeiro-ministro aos representantes municipais. Todos se preocupam em informar a população sobre a real extensão dos eventos e as medidas adotadas, ouvindo ao vivo críticas ou sugestões.
A primeira medida de reconstrução anunciada é o investimento em mais pesquisas tecnológicas para diminuir as perdas humanas e os prejuízos financeiros. A outra é rever as já rígidas normas de ocupação do solo e as regras sobre a qualidade das construções, com o intuito de deslocar as edificações (e as pessoas) para áreas consideradas mais seguras.

Nós, no Brasil, não temos terremotos, felizmente. Mas andamos sofrendo demais com as enchentes. Deveríamos ter a humildade oriental para assimilar o máximo possível dessas lições, a fim de evitar as tragédias anunciadas de todo verão.

2 comentários:

  1. muito legal a análise... importante batalhar para que percepções como essa cheguem aos cidadãos e aos dirigentes de nosso país.

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  2. Isso nos mostra que os nossos representantes políticos so iram acordar quando for massacrado internacionalmente por dicaso,despreparo e insuficiência no que diz respeito a chuvas de verão, que comparado ao Japão esse problema é mínimo quando for tratado com seriedade.

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